22 de jul. de 2015

Saindo do Limbo em direção à Conquista – Entrevista com o ANIMAL HOUSE


Por Marcos “Big Daddy” Garcia



Cada vez mais, a necessidade de ir adiante tem feito com que as bandas de Metal evoluam. Não há como viver preso ao passado. E uma das bandas que melhor evoca o conceito de evolução é o paranaense ANIMAL HOUSE, que soltou há pouco tempo seu novo trabalho, o EP “Limbo”.

Aproveitando o momento, lá fomos nós bater um papo com Mutle¥, baterista e vocalista do grupo, e saber das novidades.


BD: Bem, antes de tudo, agradeço demais pela oportunidade. A primeira pergunta é emblemática: na época do CD de estréia, “First Blood” vocês tinham uma sonoridade mais voltada ao Hard Rock clássico. Já em “Limbo”, mesmo mantendo a identidade, vocês ganharam uma roupagem mais pesada e moderna. Como foi que chegaram a esta sonoridade? Mudança de integrantes ou pura evolução?

Mutle¥: Um pouco dos dois, mas com certeza o lado da evolução pesou mais. 


BD: Em “Limbo”, percebe-se não só esta sonoridade mais moderna, mas ao mesmo tempo, se percebe que o lado musical da banda como um todo deu uma bela amadurecida. Novamente: isso vem das mudanças de formação, do amadurecimento de vocês como músicos, ou uma combinação dos dois fatores?

Mutle¥: Muitas pessoas, principalmente na cena nacional atual, torcem o nariz para bandas com abordagem mais contemporâneas. Eu nunca pensei em focar o trabalho em Hard Rock, ou Heavy Metal, ou qualquer outro gênero em específico. O coração do trabalho da ANIMAL HOUSE baseia-se em experimentalismo. Queremos criar um som que seja só nosso, sem fugir das nossas raízes. Conseguimos passar isso muito nas músicas, mostrar exatamente quais são nossas influências musicais e ainda assim imprimir um som único, algo que é só nosso. Em relação ao “Limbo”, eu queria que ele refletisse isso, deixasse bem claro as impressões que a banda passou no “First Blood”, e mostrar que conseguimos ir além, mas mesmo assim, sem perder aquilo que tomamos por referência. Eu sempre vi o “Limbo” como uma sequência direta do “First Blood”. Tudo o que caracterizou a banda no disco de abertura ainda está lá, nossa essência ainda está lá. O disco acaba sendo uma evolução natural. Limbo é mesmo um disco de transição, o elo entre “First Blood” e nosso segundo Full Lenght, o qual já estamos trabalhando. Pode parecer meio estranho falar isso assim, sem nenhuma referência, mas quando lançarmos o segundo disco, e algumas músicas que lançaremos como teaser, o público vai entender exatamente o que essa transição de um disco pra outro significa. 


BD: Antes, o ANIMAL HOUSE era um quarteto. Agora, formam uma dupla. O que andou acontecendo nesses três anos entre “First Blood” e “Limbo”? E por um acaso, as gravações foram assim somente porque não havia mais ninguém até o momento?

Mutle¥: Aconteceram muitas coisas, nenhuma delas boas infelizmente. Pouco depois do lançamento do “First Blood” eu e o Arion tivemos uma briga bem feia, e ficamos anos sem nos falar. Também tive vários problemas com os músicos que encontrei em santa Catarina. Desde falta de qualidade musical à total falta de profissionalismo. Foi um período bem difícil, onde pensei muito em abandonar o projeto, daí o nome do disco. Outro problema foi o financeiro. Levei quase 2 anos para fazer as pazes com minha conta bancária depois do lançamento do “First Blood”. Como já havia dito, banquei o disco 100% do meu bolso. “Limbo” a mesma coisa. Eu não queria passar por isso de novo. Então sempre que a coisa apertava, eu parava as produções até conseguir um dinheirinho extra. Quanto à dupla, eu conhecia o Paulo On há alguns anos, eu e ele somos da mesma cidade no Paraná e já tocamos algumas vezes em eventos locais. Fiz a proposta e ele topou. Demorou mas conseguimos dar conta e executar um ótimo trabalho.


BD: Já que falamos nisso, o ANIMAL HOUSE vai ficar sendo apenas uma dupla mesmo? Isso não será um problema em termos de shows... E a pergunta nasce justamente porque no EP temos “Middle Finger Blues”, gravada ao vivo e em acústico. Para apresentações nesse formato, tudo bem, mas e quando tiver que ser elétrico? 

Mutle¥: Podem ficar tranquilos, que a banda já está totalmente reformulada e completa, com 4 integrantes, cada um nos seus respectivos instrumentos.


BD: Outro ponto em “Limbo” que parece ser muito interessante são as letras. Poderia nos dar uma idéia do que diz em cada uma delas?

Mutle¥: Uma das coisas que eu mais gosto e me orgulho nas músicas da ANIMAL HOUSE é que cada música é única. Não existe uma música nem ao menos ligeiramente parecida com a outra. Cada música é singular, com sua identidade própria, e isso é claro se estende às letras. E pra ser bem sincero, mesmo correndo o risco de parecer presunçoso, não há muitas bandas hoje, tanto nacionais quanto internacionais, com essa característica. Estão todos muito bem acomodados com seus paradigmas e zonas de conforto, protegidos por seus rótulos e sub-rótulos do gênero. Em “Last Great Hero”, eu tirei inspiração de obras como “Triste Fim” de Poliquarpo Quaresma, de Lima Barreto. Este livro conta a história de um homem altruísta, que vê suas virtudes e sonhos serem esmagados pelo meio social em que habita, repleto de falsidade. Também me inspirei muito em “Watchmen” de Alan Moore, que retrata super heróis que caíram em desgraça. Basicamente a letra fala sobre isso, sobre ideais corrompidos. Eu tentei imaginar, por exemplo, se caso o Superman, que é a epítome do herói altruísta todo certinho, abandonasse a Terra, e voltasse anos depois, como ele reagiria ao ver que tudo aquilo pelo qual ele tanto lutou e defendeu caiu por terra, com valores morais totalmente corrompidos e virados do avesso. Como ele reagiria a isso. E basicamente, se formos analisar a curto e grosso, essa é a realidade de nosso país hoje. Canalhices, violência, mentira, viraram algo culturalmente aceitável, enquanto a pessoa que se mantém honesta é vista como trouxa, como perdedor, como alguém que merece mais ser feito de otário meso.

“Monochromatic” é uma música que deveria estar ainda no “Fisrt Blood”, mas devido à questões de tempo e dinheiro, não foi possível, o que acabou sendo uma cosia boa, pois a música foi reorganizada e ficou muito melhor do que originalmente seria. Eu a escrevi em um momento muito ruim na minha vida. A letra dela fala sobre superação, sobre estar sozinho no fundo do poço e encontrar forças para subir de volta. Vencer adversidades, nunca parar de lutar e nunca deixar de acreditar em você mesmo ou naquilo que você busca para si.

“New Age Messiah” remonta à histeria da virada do século XX para o XXI, com o ano 2000, o famigerado bug do milênio, superstições e a histeria religiosa coletiva, com pessoas de cultos nefastos praticando suicídio em massa e outras bizarrices que aconteceram. E claro, uma das mais famosas que eu ouvia falar perto da virada do século, a tal da Nova Era, tanto é que o título da música. Tudo que era cultura pop de repente virou símbolo da nova era, coisa do diabo, a vinda do anticristo e essas bobagens. Basicamente a letra fala sobre isso. Sobre como seria o mundo quando esse messias da nova era chegasse, expurgando de mundo de tudo aquilo considerado errado pelos fanáticos religiosos, uma distopia religiosa. È uma crítica à visão de mundo ideal propagada pelo fanatismo religioso, não é um ataque à nenhuma religião específica, mas sim à essa visão deturpada extremista que todas as religiões possuem em comum.


BD: “Limbo” tem algum tempo de lançamento. Como tem sido a resposta de público e crítica ao trabalho? Já possuem um feedback nesse sentido?

Mutle¥: A resposta do público e crítica tem sido excelentes. Sinto-me muito orgulhoso com isso. Mais ainda quando penso em todos os sapos que fui forçado a engolir. Tal qual aconteceu com “First Blood”, houve uma verdadeira montanha russa financeira e emocional em minha vida envolvendo a banda (não consigo separar minha vida da banda), mas mesmo assim a ANIMAL HOUSE mostrou que não importa o que venha para nos prejudicar, nós sempre vamos superar, e nos superar. Confesso que as vendas do disco estão mais lentas do que eu gostaria que estivessem, mas a receptividade está sendo excelente.


BD: Há um tempinho, vocês estão com a Heavy and Hell Press. E aí, estão gostando de trabalhar com eles? Pelo que vemos sempre, o ANIMAL HOUSE tem tido uma divulgação ótima. 

Mutle¥: Sim, em termos de divulgação e exposição, a banda cresceu muito desde que fechamos com a Heavy and Hell. Não há dúvida que se não fosse essa parceria “Limbo” não teria toda a boa repercussão que está tendo. Só tenho a agradecer ao profissionalismo da assessoria.


BD: Mais uma vez: se “First Blood” foi o início, e “Limbo” é o presente, o que podemos esperar da música de vocês para o futuro? E já existe algo de concreto para um próximo trabalho?

Mutle¥: Já respondi isso em uma pergunta anterior, mas vamos de novo, pra não ficar dúvidas: estamos sim trabalhando em músicas novas para nosso próximo álbum, embora eu ainda prefira manter informações como título do disco, quantidade de músicas, entre outras coisas ainda sigilosas. Quem acompanha a banda nas redes sociais já pôde ter um gostinho de uma das nossas novas músicas, chamada “I Am the Sea”. Podem esperar músicas ainda mais bem trabalhadas, com peso, e principalmente originalidade.


BD: O Metal como um todo tem passado maus bocados no Brasil. Shows vazios, pouca presença do público em vários eventos... Na visão de vocês, quais seriam as causas desses problemas, e como poderíamos solucioná-los?

Mutle¥: A sempre polêmica pergunta sobre a cena nacional. Estava me perguntando quando ela iria dar o ar da graça... Olha, é tanta coisa errada na cena nacional que fica difícil saber por onde começar. Desde uma grande mídia viciada, bandas maiores que monopolizam shows, conchavos, bajulação... Mas acho que vou me focar nas questões que eu acho mais urgentes, e que estão bastante interligadas. Acho que um desses pontos é a questão de produtores de eventos e casas de show que pagam cachê para bandas de fora virem tocar cover enquanto colocam as bandas locais de som autoral para abrir o evento, com repertório reduzido e muitas vezes tocando de graça. Isso aconteceu algumas vezes com a ANIMAL HOUSE e eu sempre dizia não. Por isso eu digo que minha cabeça está a prêmio em Maringá/PR, onde eu fundei a banda. O público tem que entender que isso não valoriza a cena, e essa história de dar espaço para as bandas locais mostrarem seu trabalho é uma mentira que não engana mais ninguém. São apenas um bando de parasitas usando o trabalho das bandas para se promover. Uma produtora de shows na referida cidade fez muito isso. Trazia bandas covers de fora, pagando cachê, e colocando bandas locais para tocar de graça, enquanto ela usava esses eventos para se promover e promover sua banda. As pessoas tem que começar a boicotar esse tipo de picaretagem. Isso não ajuda a cena, muito pelo contrário, é humilhante para as bandas. Quando um lugar assim fecha, é lucro para a cena. Pois picaretas tem mais é que quebrar. Agora temos outro ponto interessante, que é o público. Muitos produtores e casas de show fazem esse tipo de picaretagem por que o público local não prestigia as bandas de som autoral. Há o absurdo de o pessoal fretar uma van para ir à outra cidade ver o show de uma banda cover, enquanto a banda autoral se contenta em tocar por cerveja choca. O público precisa aprender a ser menos cuzão e criar vergonha na cara. Banda cover não movimenta a cena. E também há o lado das bandas, e é aqui que vou ser bem sincero: há muito pouca qualidade nas bandas do cenário atual. Eu digo sem receio nenhum, que pelo menos metade das bandas que temos hoje em atividade, não me cativam para ir aos seus shows. Há muitas bandas autorais, porém há poucas bandas originais. Como disse em uma resposta anterior, se protegem com seus gêneros e sub-gêneros, se manter dentro de um padrão pré estabelecido se tornou mais importante do que ser original, de querer mostrar algo novo, pensar fora da caixa. Então, acho que antes das bandas ficarem chorando que tem que se humilhar tocando por cerveja quente em botecos semi falidos, elas precisam pensar em diferentes maneiras de cativar seu público, que vai ficar fretando van pra ver banda cover em outra cidade, por que é isso que os produtores picaretas ficam fazendo tantos shows com bandas cover. Conseguem perceber onde quero chegar? Isso se tornou um ciclo vicioso, que não beneficia ninguém, nem público, nem banda, só produtores mal intencionados. Acredito que esse seja o maior problema da cena, justamente por estar interligado, e cada um desses 3 fatores tem 2 lados da mesma moeda, todo mundo tem sua parcela de culpa.


BD: E os downloads ilegais? Isso chega a afetar vocês? Existe uma solução para este problema em sua opinião?

Mutle¥: Não diria que chega a afetar. Até por que o “First Blood” está disponível gratuitamente para download. E ilegal ou não, gostando ou não, é uma forma de levar seu trabalho a um público maior, que por questões geográficas, por exemplo, não teria acesso ao seu trabalho. Downloads ilegais se tornaram inevitáveis. Todos que trabalham com música, independentemente do estilo tem que se conformar com isso. É um caminho sem volta, lutar contra isso é besteira. Cabe aos artistas tentar descobrir as melhores maneiras de tirar vantagem desta divulgação, que, diga-se de passagem, é uma divulgação gratuita para a banda. 


BD: Bem, já falamos sobre shows. Existe algum confirmado? Se sim, o espaço é de vocês!

Mutle¥: Estamos negociando algumas datas, mas ainda não temos nada fechado. Quando conseguirmos, estaremos divulgando em nossas mídias sociais, então quem ainda não acompanha a Animal House nas redes sociais vai ficar de fora. No momento estamos fechando algumas datas no Paraná, pretendemos fazer uma mini-tour Homecoming, mas é claro que sempre estamos abertos a convites a tocar em qualquer lugar que seja. Desde que não seja pra abrir show de banda cover de graça em um cabaré semi-falido que paga as bandas com cerveja oxidada.


BD: Agradecemos mais uma vez pela entrevista, e deixem seu espaço para nossos leitores e seus fãs.

Mutle¥: Eu agradeço ao espaço cedido pelo portal Metal Samsara, que sempre deu espaço para a banda, desde o “First Blood”, podem ter certeza que isso não será esquecido. Agradeço a todos que apreciam o trabalho da ANIMAL HOUSE, a todos que sempre estiveram do lado da banda, mesmo em períodos de dificuldade, que sempre me perguntavam como estava a banda, quando iríamos fazer shows, isso sempre me motivava a continuar, saber que minha arte inspirava algo nas pessoas, é uma satisfação muito grande que não pode ser explicada, apenas sentida, e que me mostra que apesar de difíceis, as escolhas que fiz para minha vida são certas. Quero agradecer a paciência de todos que leram até aqui, eu sei muito bem que por vezes me alongo demais nas respostas, mas isso é reflexo inevitável da paixão que eu tenho pelo que eu faço. Forte abraços a todos, e aguardem muito mais ANIMAL HOUSE em breve.


Contatos:

https://www.facebook.com/ahouseofficial
http://heavyandhellpress.blogspot.com.br/


Ouça “Monochromatic”, faixa do EP “Limbo”:

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