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Os erros mais comuns em estrutura de capital

Paulo Sérgio Dortas
Paulo Sérgio Dortas

Membro Comitês no JBS e RiHappy (Carlyle) e Consultor Independente.

Na hora de buscar financiamento para expandir seu negócio o empreendedor precisa tomar alguns cuidados para não comprometer seu caixa. Conheça os erros mais comuns e descubra como evitá-los.

Após termos avaliado as fontes de financiamento no último artigo, vamos abordar agora os erros mais comuns neste processo. A regra básica é a de que o custo e o prazo da dívida devem estar alinhados com a destinação dos recursos. Outro aspecto a ser observado é o de que a Empresa deve estar preparada, principalmente em relação a seus livros contábeis e fiscais, para a opção de financiamento selecionada. Apesar de parecerem bastante óbvias, estas máximas nem sempre são respeitadas. Nestes mais 30 anos de vida profissional, 2 casos ficaram gravados na minha memória. Vou descrevê-los como forma de ilustrar os cuidados a serem tomados.

O mais recente ocorreu em uma indústria farmacêutica. Era um empreendimento de altíssimo retorno e pioneira, atuava na área de genéricos, mas com um volume de produção bastante reduzido devido ao tamanho da área fabril. O empreendedor tomou então a decisão de ampliar a fábrica, só que não contava com recursos próprios para a expansão. Decidiu então recorrer ao financiamento bancário. Inicialmente identificou uma fonte de financiamento de custo baixo e prazo longo, em princípio compatível com seu projeto. No afã de agilizar a expansão o projeto não foi bem detalhado e ao final de alguns meses os recursos obtidos se revelaram insuficientes. Além disso, por decisão do empreendedor as instalações fabris foram alteradas e as mesmas ganharam mais sofisticação e luxo dos que as que constavam do projeto inicial.

Com o estouro no orçamento não restou outra opção a não ser recorrer ao financiamento bancário tradicional, com custos bancários maiores e com prazos menores, totalmente incompatível com a ampliação ou construção de uma indústria. Outro fator que pesou bastante no estouro do orçamento foi a não inclusão do capital de giro no financiamento inicial.  Este capital de giro foi destinado a aquisição de estoques, folha de pagamentos, insumos dentre outros e ao financiamento da venda, ou seja o ciclo de produção e recebimento não foi considerado. Ao final do processo, a empresa foi vendida para um Global Player por um valor bastante pequeno, já que o empreendimento se encontrava com alto endividamento e em fase pré-falimentar.

Outro caso que também me marcou foi o de uma empresa no ramo de construção civil, com um produto extremamente lucrativo e replicável, que decidiu expandir suas operações. Apesar do assédio de fundos de Privaty Equity, o empreendedor decidiu tocar a expansão com recursos próprios e empréstimos de curto prazo e caros. Aparentemente a sua leitura foi de que sendo o negócio tão bom que não fazia sentido dividir com outro acionista, no caso o Private Equity, toda aquela rentabilidade. Sua expectativa era a de concluir a expansão e somente após a entrada em operação passar a conversar com potenciais investidores. Por outro lado, seus controles contábeis e fiscais eram bastante frágeis, e como ele não entendia a dinâmica da entrada de um investidor, não priorizou a regularização dos livros. Aqui foram cometidos dois erros básicos, a incompatibilidade dos encargos e prazo do financiamento com a expansão, e o fato de ter sido subestimada a complexidade da entrada de um acionista, com a realização de Due Diligence, investigação de compra contábil, fiscal e legal, elaboração de projeções confiáveis, etc.

Estas histórias apesar de parecerem bastante óbvias ajudam a ilustrar os cuidados que você deve observar ao tomar a decisão de expandir seus negócios.

Paulo Sérgio Dortas foi sócio de Strategic Growth Markets (SGM) da EY. Conta com mais de 25 anos de experiência em auditoria financeira e em revisão e avaliação de procedimentos de controles internos para companhias globais.


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