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CENTENÁRIO DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO

Em meados da década de 1970 eu era ainda bem criança, tinha cerca de 10 anos de idade, quando fui assistir a apresentação da peça teatral baseada no poema "Morte e vida severina" de João Cabral de Melo Neto (com música de Chico Buarque), encenada no espaço do Cine Atlanta de Ouro Fino. Embora não tivesse plena compreensão do conteúdo da peça, nem estivesse intelectualmente apto para desfrutar todas as nuances do espetáculo, pude sentir a pujança e a representatividade simbólica daquela obra artística, especialmente pelo sentido pungente da letra da canção "Funeral de um lavrador". Acredito que este foi um momento muito marcante na minha inserção no mundo cultural. Não conheço a fundo a obra de João Cabral, mas ele é muito reverenciado pelos grandes poetas e pensadores e sempre requisitado nos meios acadêmicos. Seu nome se impõem por si mesmo, independente se você o lê, se você gosta ou não. João Cabral é concreto existencial, é pedra. As vezes sua poesia sai de moda, fica longe dos holofotes, mas quando reaparece é como se fosse a explosão de um míssil. Transcrevo a seguir um poema que relembro agora, bastante conhecido e engenhoso, muito citado no meu tempo de vestibular.

TECENDO A MANHÃ (João Cabral de Melo Neto)

Um galo sozinho não tece uma manhã Ele precisará sempre de outros galos De um outro que apanhe esse grito E o lance a outro; de um outro galo Que apanhe o grito de um galo antes E o lance a outro; e de outros galos Que com muitos outros galos cruzam Os fios de Sol de seus gritos de galo Para que a manhã, desde uma teia tênue Se vá tecendo, entre todos os galos

E se encorpando em tela, entre todos Se erguendo tenda, onde entrem todos Se entre-tendendo para todos, no toldo (A manhã) que plana livre de armação A manhã, toldo de um tecido tão aéreo Que, tecido, se eleva por si: luz balão.

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O mosaico Chico Buarque em revista

Para celebrar o Prêmio Camões que Chico Buarque recebeu pelo conjunto de sua obra, relembremos o número da Aletria: Revista de Estudos de Literatura dedicada à produção do músico/compositor/escritor brasileiro.

Publicado em 2016, o segundo número do v. 26 da Aletria, organizado pelos professores Ana Maria Clark Peres e Georg Otte, da UFMG, bem como por Mariza Werneck, da PUC-SP, traz o dossiê "Chico Buarque: mosaicos", que reúne artigos que apresentam toda a miscelânea que compõe o artista. Usando os termos dos próprios organizadores em seu texto de apresentação, encontram-se ali o Chico-compositor, em análises que envolvem canções como "Cotidiano", "Funeral de um lavrador" e "Geni e o zepelim"; o Chico-teatrólogo de Ópera do malandro, e, enfim, o Chico-romancista – já três vezes laureado pelo Prêmio Jabuti e agora pelo Prêmio Camões – de obras como Budapeste e Leite derramado.

Além dos artigos, o compositor e intérprete de "A banda" aparece também nas palavras do jornalista e escritor belorizontino Humberto Werneck, autor da matéria biográfica “Gol de letras”. Werneck concedeu uma entrevista a Ana Clark na qual revelou um pouco de sua relação com o músico brasileiro. Fechando o número, Georg Otte apresenta uma resenha sobre o romance O irmão alemão, em que, ao comentar a obra, reflete também sobre a relação de Chico com seu pai, o sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda.

Se ainda não viu este número da Aletria, fica o convite.

Parabéns a Chico Buarque pelo merecido prêmio!

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A luta pela reforma agrária no Brasil é uma das bandeiras do Movimento Social. O poeta retrata de forma  triste e melancólica, em que momento o agricultor consegue seu pedaço de terra.

Funeral de um Lavrador

(Composição: João Cabral de Melo Neto e Chico Buarque/1966)

Intérprete: Chico Buarque

Esta cova em que estás com palmos medida

É a conta menor que tiraste em vida

É a conta menor que tiraste em vida

É de bom tamanho nem largo nem fundo

É a parte que te cabe deste latifúndio

É a parte que te cabe deste latifúndio

Não é cova grande, é cova medida

É a terra que querias ver dividida

É a terra que querias ver dividida

É uma cova grande pra teu pouco defunto

Mas estarás mais ancho que estavas no mundo

estarás mais ancho que estavas no mundo

É uma cova grande pra teu defunto parco

Porém mais que no mundo te sentirás largo

Porém mais que no mundo te sentirás largo

É uma cova grande pra tua carne pouca

Mas a terra dada, não se abre a boca

É a conta menor que tiraste em vida

É a parte que te cabe deste latifúndio

É a terra que querias ver dividida

Estarás mais ancho que estavas no mundo

Mas a terra dada, não se abre a boca.

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09 de setembro

Bom dia a todos!...

Neste dia:

Nasceu, em 1887, o importante poeta e político português António Maria de Sousa Sardinha.

Nasceu, em 1960, o grande ator britânico Hugh Grant.

Nasceu, em 1975, o fabuloso cantor canadense Michael Bublé.

Michael Steven Bublé nasceu em Burnaby no dia 9 de setembro de 1975. É um cantor, compositor e ator canadense. Ele ganhou vários prêmios, incluindo quatro Grammy e dez Juno Awards. Seu álbum homônimo de estreia, de 2003, alcançou o Top 10 no Canadá, Reino Unido e Austrália. Ele obteve sucesso comercial nos EUA com o álbum It's Time, impulsionado pelo hit "Home". Seu terceiro álbum Call Me Irresponsible chegou a número um da Billboard, assim como o álbum posterior Crazy Love. Daí para frente, só sucessos...

Hugh Grant (Hugh John Mungo Grant) nasceu em Londres no dia 9 de setembro de 1960. É um ator britânico. Foi o filme Four Weddings and a Funeral, de 1994, que fez dele uma estrela. O ano seguinte foi extremamente cheio para Grant. Ele co-estrelou com Alan Rickman em An Awfully Big Adventure, participou da comédia romântica Nine Months com Julianne Moore, foi o objeto de afeição de Emma Thompson em Sense and Sensibility e apareceu em Restoration, com Meg Ryan, Ian McKellen, Sam Neill e Robert Downey Jr.. Em 1999, ele estrelou, com Julia Roberts, o filme Notting Hill.

António Maria de Sousa Sardinha (Monforte, 9 de setembro de 1887 — Elvas, 10 de janeiro de 1925) foi um político, historiador e poeta português. Destacou-se como ensaísta, polemista e doutrinador, produzindo uma obra que se afirmou como a principal referência doutrinária do Integralismo Lusitano.

É seu o soneto:

“Tudo o que sou o sou por obra e graça 

da comoção rural que está comigo. 

Foi a virtude lírica da Raça 

a herança que eu herdei do sangue antigo.

 Foi esta voz que em minhas veias passa 

e atrás da qual, maravilhado eu sigo. 

Como um licor de encanto numa taça, 

assim se quer esse condão comigo.

 Olhai-me: – Eu vim de honrados lavradores. 

De avós e netos, sempre os meus Maiores 

fitaram o horizonte que hoje eu fito.

 «O que estaria além da curva estreita?» 

– E da pergunta, a cada instante feita. 

nasceu em mim a ânsia prò Infinito.”

De A Epopeia da Planície.

A seguir os vídeos de hoje:

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