sábado, 28 de junho de 2014

Como se aprende a ser menina: Dois Vídeos Interessantes


Dois comerciais norte americanos, um da P&G e outro da Verizon, foram direto ao ponto e ilustraram bem como os gêneros são criados.  Como se constrói uma menina?  Será que meninas são naturalmente assim ou assado?  O que significa fazer alguma coisa “como uma garota”?  Será que a expressão tem caráter positivo, neutro ou pejorativo?  

Ambos os comerciais têm como objetivo promover a reflexão, o da P&G traz aquele gostinho de vitória, afinal, chegamos ao final e percebemos que meninas são criadas, social e culturalmente construídas, assim como meninos, claro.  O comercial aponta que é na transição da infância para a puberdade que somos mais vulneráveis e que, depois, consertar o estrago é mais difícil.  Já o comercial da Verizon mostra como as meninas são moldadas para serem objetos bonitinhos, serem vistas e que algumas atividades – desde o se sujar em uma brincadeira até o uso de ferramentas em trabalhos manuais – é desestimulado.  


Para ser bonita, elogiada, meninas são constrangidas a serem menos criativas, independentes, e inteligentes.  E quando crescem desinteressadas ou inseguras nas ciências exatas, reafirma-se que aquilo é “natural”.  Tive um professor de matemática no 3º ano que dizia sem pudor “Cabelos longos, idéias curtas”.  Como estudei em uma escola na qual os meninos não podiam usar cabelos longos, a mensagem era muito clara.

Não há nada de natural no fato de termos menos mulheres engenheiras, ou que as mulheres busquem empregos com horários mais flexíveis – e de pior remuneração – por causa dos filhos.  Espera-se que seja assim.  Acreditar-se fisicamente débil, incapaz de lutar, correr ou se defender de um agressor não é natural.  É algo ensinado e fundamental para a manutenção do sistema patriarcal.  É adestramento que muitas vezes começa lá atrás ainda na infância, ou mesmo no ventre.  Ser mãe de primeira viagem convivendo com outras mães com bebês da mesma idade me permite ver como certos comportamentos gendrados são impostos aos pequenos sem que as pessoas pensem muito sobre isso.  



“Meninas, isso... Meninos, aquilo...”  ou quando Júlia é confundida com menino, afinal, basta vesti-la de azul (*às vezes, nem precisa...*) e observar o comportamento dos desconhecidos.  Como ela não tem brincos, as pessoas interagem com ela como se um menino fosse na maior tranqüilidade.  E eu deixo. ^_^ Quando descobrem que trata-se de uma menina, ficam constrangidas e mudam a forma de falar e interagir com a minha bebê, passam a usar diminutivos ou associar comportamentos (*ela olhou para a boneca na loja de brinquedos...*) que passaram despercebidos ao fato de ela ser uma menina.  Já houve quem se desculpasse “Ah, seria pior se fosse um menino e eu dissesse que era uma menina!”. Por quê?  Exatamente, porque ser menina, fazer alguma coisa como menina, é evidência de menor valor social.  Imagina a ofensa?

Enfim, assista aos dois vídeos.  Acho que vale a pena parar para refletir sobre a questão.  é triste ver grandes atletas ou mulheres de destaque no mundo da ciência, negócios ou política tendo que se justificar, mostrar que são femininas e fazem ou gostam de "coisas de mulherzinha". Assim, sempre atividades vistas como fúteis ou de menor importância, mas associadas diretamente às representações sociais do feminino em nossa  sociedade.  Para quê?  Por qual motivo?  Para serem aceitas não como são, mas como o modelo que é vendido como ideal.  Será que precisamos realmente disso?



P.S.: Pena que não achei outro vídeo, um experimento de uma universidade espanhola, mostrando como as pessoas se comportavam frente um bebê – o mesmo bebezinho – ora, vestido de rosa, ora, vestido de azul.  Se alguém souber onde encontrá-lo, deixe o link nos comentários para que eu o coloque aqui.  Desde já, agradeço!

2 pessoas comentaram:

A-D-O-R-E-I. Ler teu texto e ver os videos. Sempre levo comigo esses questionamentos sobre as imposições aos gêneros... Às vezes se defende um discurso de que a sociedade já é igualitária, mas nós mulheres sabemos na pele que não é bem assim. Somos podadas o tempo todo (e isso vale pros homens também. Pois não são apenas as mulheres que sofrem com o machismo). Ainda tem outra coisa, muitas vezes não podemos levantar esses questionamentos sem sermos chamadas de "feminazi", etc. Gosto muito das questões que levantas no teu blog. Beijos.

Uau, simplesmente adorei o texto e os videos, principalmente esse último, nós remamos contra a maré, mas ainda tenho esperanças quando vejo uma representante feminina no meio "masculino", em áreas de trabalhos que eram só deles, e tipo, um dia tudo foi só deles, estamos tomando nosso espaço e o que as mulheres conquistaram e conquistam a cada dia é só o começo.

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