segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Mais Orgulho e Paixão: Quem me surpreendeu positivamente na novela


Estou devendo mais textos sobre Orgulho e Paixão e vou escrevê-los.   Não estivesse tão resfriada esses dias, já teria publicado uns dois.  E tem o calor, também, Brasília está quente e seca como raramente vi.  Daí, é complicado organizar as ideias.  E sábado teve o #ELENÃO (*relato aqui*) e eu fui, resultado, mais atraso... Enfim, gostei da novela no geral e acho que há muito a comentar e, como eu escrevo sobre o que me der na telha e estou em depressão pós-novela e no meu estado fangirl alterado, vamos lá!  Este texto é para elogiar quem se destacou na novela.  Personagens menores, ou que ganharam projeção e foram ficando.  De cara, vocês já devem imaginar quem vem primeiro, o barão de Ouro Verde, o avô de Ema, interpretado magistralmente por Ary Fontoura.

Ary Fontoura marcou minha infância como o terrível e simpático, apesar dos pesares, Seu Nonô, um sovina que controlava com mão de ferro os gastos de sua família, queria comprar uma esposa jovem (*o pai dela estava endividado*) que amava e era amada por seu filho (Edson Celulari), mas, perto do fim, se redimia por amor a um menino que termina adotando e termina se casando com a empregada.  Mas não é dessa novela, claro, que vou falar.  Só estou ressaltando as nuances que o ator é capaz de imprimir a uma personagem e de como ele pode ganhar nossa empatia mesmo fazendo um cara desagradável.  Ou pode ser um sujeito detestável mesmo, caso do coronel pedófilo abusador de Tieta. Outra personagem marcante em telenovelas.


Eu não dava nada pelo Barão de Ouro Verde no início da trama.
O fato é que o Barão de Ouro Verde tornou-se, graças ao talento do ator, uma personagem tão interessante que teve sua presença na trama esticada até o antepenúltimo capítulo.  Conservador  e monarquista, ele tinha um amor sem limites pela única neta, Ema, e tratava o filho, Aurélio, como incapaz.  Fracassado nos negócios, escondia a falência da família até que a desgraça se abateu sobre todos.  O contato com Ernesto o humanizou um tanto, mas ele preferia Ema com um noivo rico e de família tradicional.  A interação de Ary Fontoura com Rodrigo Simas era excelente, e esse ator foi outro que me surpreendeu, também; já com Agatha Moreira nem se fala, as últimas cenas dos dois foram das melhores da reta final da trama. 

Mais tarde, usando o Barão, discutiu-se os casamentos de interesse e os afetos verdadeiros ao se revelar que ele tivera uma filha com uma escrava.  Quer dizer, como a mulher estava morta, quero crer que foi afeto, mas relações entre senhores e escravas via de regra não era pautadas por sentimentos recíprocos, ou eles não eram necessários, mas não vou discutir isso. A trama da filha distante poderia ter sido forçada, não fosse o tratamento cuidadoso dado pelo autor.  Algo importante é que Tenória (Polly Marinho), a filha abandonada, não se joga nos braços do pai, nem foi transformada em uma má pessoa ou apresentada como orgulhosa por conta sua resistência, ele precisa conquistá-la.  Bem, para quem morreria no capítulo 40, morrer no antepenúltimo da novela com direito a uma série de cenas muito bem boladas e emocionantes, foi um grande lucro.  Para o ator, para a novela, e para nós, que assistimos.


E foi linda a despedida do Barão da história.
Como pontuei em outros textos, a novela oscilava entre uma abordagem  realista e fantasiosa do Brasil de 1910-12 (*Acho que foi está a cobertura geral da trama*).  Só assim para explicar como o velho Barão foi passando de casa em casa, quando se viu destituído, ou se locomovendo para quase todo lugar como se sua cadeira de rodas fosse mágica.  Mas só por conta disso, a personagem pode interagir com quase todos, ou todos, os núcleos da trama e Ary Fontoura esteve presente em sequências cômicas foram inesquecíveis.  Destaque para a primeira cantoria da novela (*a minha favorita e aconteceu no final do capítulo do dia 1 de junho*) na qual Randolfo e Otávio cortejam Lydia e o Barão fica chocadíssimo ao perceber como a moça era "dada", por assim dizer. Revi a cena anteontem, continuou parecendo deliciosa.

Muito bons foram, também, os confrontos do Barão foi com Julieta, a Rainha do Café, que ele odiava e respeitava ao mesmo tempo, ou, talvez, não tão ao mesmo tempo assim.  A personagem foi outra que se destacou graças ao desempenho de Gabriela Duarte.  A atriz, lembrada por suas personagens chatas e mimadas em novelas de Manuel Carlos, foi outro dos destaques da novela.  Começou no lado dos vilões, como comentei em outro texto, sempre vestindo um preto indefectível.  Fazia visitas regulares ao padre, se confessava, mas não se arrependia de seus ódios, terminava o dia colocando espinhos de rosas no túmulo do marido.  Parecia feita de gelo, mas teve o coração derretido pelo filho do Barão.


Química imediata.
A interação entre Marcelo Farias e Gabriela Duarte produziu um dos casais mais interessantes da novela, porque teve que vencer obstáculos, enquanto os protagonistas se entenderam logo de saída.  Aurieta, como os fãs chamavam, foi se desenvolvendo aos poucos.  Algumas cenas foram clichê, outras muito bem construídas na sua mistura de romantismo e sensualidade (*como quando Aurélio vai ajeitar a fivela do sapato da amada que ainda não se aceitava como tal*). Aliás, era isso, havia romance e havia tensão sexual e como os dois demoraram a se entregar, afinal, através de Julieta se discutiu o abuso doméstico e ela tinha uma série de traumas a vencer, a gente ficava na torcida.

Mas Gabriela Duarte não se destacou na novela somente por suas cenas românticas.  Especialmente na primeira fase, quando a transição para o lado do bem não estava completa, ela teve ótimas cenas como mãe que odeia, que ama, que sofre, enfim.  E aí, é curioso.  Eu não acompanhei a transição da Gabriela Duarte de mocinha de novela, odiada, chatinha, para a mulher madura, a mãe de um homem adulto.  Pelo menos para mim, que não vi várias das novela se programas que ela fez, ficou uma lacuna.  A gente via nela ecos de Regina Duarte, o que é bom e é ruim, porque filhos e filhas de grandes astros podem termina sempre sob a sombra de seus pais, mas ela era acima de tudo, uma atriz plena.  Espero que receba melhores papéis daqui para sempre.  Não vou falar mais de Aurélio e Julieta, porque voltarei a eles mais tarde.


Julieta nunca se mostrou vulnerável diante dos adversários.
Agora, uma coisa que quero pontuar é que as mudanças de Julieta envolveram, claro, o abandono do cabelo preso e do preto.  Eu sei que o autor associou cabelo solto à liberdade.  É uma simbologia comum, só que a personagem de Gabriela Duarte era uma matrona, quer queira, quer não queira, ela deveria ter tido um tratamento diferenciado.  Deu pena ver a atriz no último capítulo, cinco anos depois da trama e, claro, ainda mais velha, com aquela roupa branca de fantasma e os cabelos completamente soltos em um estilo estranho, parecia descabelada.  Nem uma menina pequena sairia com o cabelo daquele jeito na década de 1910.  Já na sua última cena, o lançamento do livro de Elisabeta, colocaram a atriz com um vestido vermelho que parecia uma camisola e, obviamente, os cabelos soltos.  Deu pena, ela merecia mais, até para fechar com chave de ouro a novela.

E chegou a vez de Vera Holtz, cujas cenas cômicas eram, junto com as de Ary Fontoura, as melhores da novela.  Gosto bastante da atriz já de longa data e logo de saída digo que ela interpretou uma das melhores versões da Senhora Bennet que eu já vi.  Sim, porque a personagem original na qual a Dona Ofélia era inspirada tinha como único objetivo na vida, casar as filhas.  E não acredite quando alguma fã puritana de Austen acuse a personagem de Holtz de ser complacente com o mau comportamento sexual das filhas.  Pegue o livro para checar, ou uma boa adaptação, como a de 1995 da BBC e observe.


Casar as filhas era o principal objetivo de sua vida.
A Sr.ª Bennet não teve problemas em arriscar a vida é a virtude de Jane para que ela pudesse ter que dormir na casa do Sr. Bingley, algo que apareceu na novela, aliás, e não se importava de Lídia e Kitty (*que não existia na novela e virou Cecília, ou Mariana*) corressem atrás dos soldados, algo escandaloso aos olhos de Mr. Darcy e que comprometeu a imagem que ele tinha da família de sua amada, desde que acabassem arrumando um marido.  Quando Lídia "se perdeu" com míseros 15 anos, mas conseguiu terminar bem casada, para a mamãe Bennet foi como se o casamento e tudo mais tivesse sido perfeito.  Pouco importava.  Então, o tom afobado de Vera Holtz foi mais que adequado e ela oscilava mais que a original entre a negligência e o cuidado.

O que quero dizer é que a negligencia de Ofélia veio temperada de uma preocupação com o bem estar das filhas que no original não vai além do fazer um bom casamento.  Fora que sempre que via Vera Holtz em cena, seja interagindo com  Bruna Griphão, que fazia sua filha favorita, ou com o marido, Tato Gabus Mendes, ela sempre parecia estar se divertindo.  Imaginava mesmo que tivesse colocado vários cacos no texto original.  Carola, exagerada, vingativa (*lembram do que ela fez com Lady Margareth?*), um tanto moralista quando lhe convinha... Houve várias cenas em que ela tentou parecer modelo de moral e bons costumes, mas nunca colou.  Lembram quando ela pega a Mariana pelas orelhas na sua festa de casamento por causa das calças compridas e tudo mais?  Ou quando finge ser toda prudência com a filha Lídia para apressar o casamento com Otávio?  Enfim... 


Ofelia podia ser vingativa.  Ai, de quem
mexesse com sua família!
E Ofélia protagonizou uma das melhores cenas do último capítulo ao se desculpar com a filha mais velha, Elisabeta, por tê-la castrado.  Essa foi uma daquelas cenas em que o autor dialogou com o passado para falar ao presente, porque, bem, quantas meninas são tolhidas de seus sonhos e obrigadas a se conformar aos papéis de gênero pelas mães?  As mães, aliás, são fundamentais para a manutenção do patriarcado, ainda que, na maioria dos casos, claro, elas só queiram o nosso bem, mas desejar o bem nem sempre é executá-lo de forma competente.  Daí, no caso das moças Benedito, salvo Lídia, a caçula mimada pela mãe, o pai teve um papel preponderante em torná-las mulheres independentes, críticas e, pelo menos duas delas, libertárias.

E precisamos lembrar que no livro original, o casamento dos Bennet era muito desigual, entre uma mulher simples, vulgar até, e um homem culto, mas negligente.  Essa negligência, o pior defeito do Sr. Bennet original, não foi colocada na personagem de Tato Gabus Mendes.  E eu não o vejo como subaproveitado, ele não era personagem central, nem secundária, era, simplesmente, o pai que deveria servir de esteio moral e intelectual para a família.  E foi.  Algumas das suas cenas, desde o início da trama foram preciosas e o colocaram como um pai melhor do que o original de Austen.


Felisberto era bem mais atento e responsável que o original.
Querem ver?  Lá no comecinho, ele tira satisfações com Darcy por ter magoado Jane.  No livro, como a personagem mesmo diz, não se nega nada a um homem como Mr. Darcy ("He is the kind of man, indeed, to whom I should never dare refuse anything, which he condescended to ask".), mas o Sr. Benedito da novela, talvez por estarmos em um ambiente republicano, negaria, sim.  Ele não tinha a fleuma britânica e meteria a mão na cara de quem fizesse mal para suas filhas, ainda que, no caso Uirapuru-Mariana, tenha sido negligente, é verdade.  Mas continuo defendendo que aquela passagem da história foi mal construída mesmo, daí, nem Chandelly Braz, nem Tato Gabus Mendes renderam o suficiente.  Foi tudo corrido e mal cuidado, por assim dizer.  Um dos poucos erros da novela.

Mas já que falei de Mariana, e passei a gostar mais dela do que de Elisabeta conforme a trama foi avançando, uma das minhas sequências favoritas da novela foi exatamente entre o pai e a filha, uma cena preciosa quando ele conversa com Mariana e admite que nunca se enganara com a tal farsa sobre Mário, a quem ele disse gostar como um filho.  Houve gente reclamando dele ser um pai tolo, quando, na verdade, era discreto e confiava em suas filhas.  E foi fundamental a interpretação de um ator como Tato Gabus Mendes para dar credibilidade para a personagem.  


Um pai amoroso.
É isso, gostei do tom que o autor imprimiu ao Sr. Benedito e da interação dele com as filhas e com a esposa.  Aliás, a maioria das cenas dele eram com Ofélia, eu acredito, e ele e Vera Holtz também pareciam se divertir bastante.  E é legal assistir a uma novela na qual os atores e atrizes parecem se divertir trabalhando.  Afinal, quem não gosta de ver as pessoas felizes?

Terminando esse texto de destaques, vou ter que falar de Pedro Henrique Müller, o Capitão/Major Otávio, porque não dava um tostão furado por ele no início da novela.  e não dava, porque ele estava sempre metido em cenas idiotas, mas eis que o romance dele com Luccino aconteceu e eu sou membro desse fandom Lutávio da internet.  Uma pessoa do grupo catou todas as cenas relevantes das duas personagens e as está organizando (*Se quiserem baixar a parte 1 e parte 2*).  Isso posto, revi cenas lá no começo, que tinham me passado batidas e vi como esse moço trabalhou bem e como eu fui tapada.


Otávio é o primeiro a acudir Mariana
depois que ela é atacada por Xavier.
Não estou falando da homossexualidade somente, ou de Luccino, estou falando de como o autor criou um texto, que nas mãos de um incompetente daria em nada, possibilitando que víssemos um sujeito conseguir aprender a expressar sentimentos e deixar de fingir o tempo inteiro.  Quando houve o rolo com Lídia, eu imaginei que ele quisesse mostrar-se melhor que Randolfo e, depois, tenha ficado com medo da voracidade (*sexual*) da moça.  Há inclusive uma cena de fracasso na cama da parte dele, mas não era isso, claro, e até o olhar e a postura do do ator foram mudando ao longo do tempo, mostrando as transformações da personagem.  

Uma das melhores cenas de Otávio que revi, e que nem me lembrava, foi dele se desculpando com Randolfo por ter disputado Lídia com ele.  Foi uma cena tocante de quem sofre, mas não sabe ainda o motivo, que reconhece que foi um mau amigo, mas não consegue sair de uma armadilha que armou para si mesmo.  Ou seja, ele não ganhou densidade repentinamente, a personagem veio sendo trabalhada por longo tempo.  Enfim,  Pedro Henrique Müller está de parabéns, por ser estreante em novelas, por ter aceitado um papel tão exigente.  Espero mesmo que continue tendo boas oportunidades. 


Otávio parecia ser somente uma personagem cômica qualquer.
É isso.  Acho que comecei a escrever este texto na quinta-feira.  Ainda pretendo escrever mais dois pelo menos.  Um deles, claro, sobre os casais que mais gostei na novela.  Luccino e Otávio estão na lista, mas como já escrevi sobre eles (1 - 2), talvez só os cite de passagem.  Estou com saudade de Orgulho e Paixão.  Faz uma semana que terminou e eu sem outra novela que me agrade para assistir.  E, bem, essa novela livremente baseada em Jane Austen já se tornou a que mais atenção minha recebeu na história desse blog.

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