bs-3

O show da turnê de despedida do Black Sabbath praticamente lotou a Pedreira Paulo Leminski

Hoje, o Heavy Metal é o estilo musical mais popular do planeta, pois arrasta multidões a shows em todo o mundo. Mas para chegar a esse cenário fantástico que liga músicos e fãs, atualmente, algumas bandas tiveram que construir os primeiros alicerces. Era necessário que alguém abrisse as portas desse mundo obscuro, pesado e tentador.

Nessa quarta-feira (30), na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, o público brasileiro teve uma das últimas oportunidades para ver ao vivo o Black Sabbath.  Foi o quarteto inglês que, no início da década de 1970, se tornou o grande arquiteto do que depois seria chamado de Heavy Metal.

rival

Foto do Rival Sons em um show no México

Uma grande e boa surpresa

O show de abertura foi da banda californiana Rival Sons. Com um som forte e pesado, o grupo surpreendeu positivamente o público que não conhecia o seu trabalho. Jay Buchanan (vocal), Scott Holiday (guitarra), Michael Miley (bateria) e Dave Beste (baixo) fizeram um show cheio de energia e atitude.

A banda abriu a apresentação com “Eletric man”, seguida por “Secret” e “Pressure and time”. As composições do Rival Sons apresentam várias influências, como o The Cult e o The Black Crowes, mas a principal delas parece ser o Led Zeppelin.

Logo após a primeira música, já foi possível perceber que o público rapidamente “abraçou” a banda. Aplausos e gritos de “Rival Sons” demonstravam de forma clara que a plateia estava gostando do som dos californianos.

Destaque para os riffs sujos e pesados de Scott, para a bateria cheia de variações rítmicas de Michael e para o vocal potente de Buchanan. Aliás, fisicamente e na sua postura de palco, ele lembra muito o ex-vocalista do INXS, Michael Hutchence, falecido em 1997.

O grupo tem apenas sete anos de carreira, mas já lançou cinco álbuns. O mais recente é “Hollow Bones” (2016). “Keep on swinging” encerrou o show. Sem dúvidas, o Rival Sons ganhou muitos fãs em sua passagem por Curitiba.

Confira os vídeos da músicas “Eletric man” e “Torture”, gravados no show na Pedreira Paulo Leminski.

Já usou o desconto de 5% que o Cwb Live e a Editora Belas Letras estão dando para você? Ele é válido em qualquer item do site www.belasletras.com.br, menos no projeto “Som na Caixa”.

Basta usar o código CWBLIVE. Aproveite porque a Belas Letras possui o catálogo de biografias e livros relacionados ao mundo da música mais completo do Brasil!

Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).

Assim, você ajuda o site a se manter na ativa, fazendo um jornalismo independente e com conteúdos exclusivos (entrevistas em texto e vídeo, coberturas de shows, fotos, vídeos e matérias).

Inscreva-se no nosso canal no YouTube para assistir aos vídeos de shows e entrevistas exclusivas e siga as nossas redes sociais no TwitterInstagram e Facebook.

bs-1

Godfathers of Metal

Às 21h, o telão posicionado atrás do palco começou a exibir um vídeo que mostrava um grande demônio “nascendo” e despejando fogo sobre o mundo. Do fogo, surgiu a logo do Black Sabbath, em chamas.

Atônito e emocionado, o público que praticamente lotou a Pedreira viu Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo), Ozzy Osbourne (vocal) e Tommy Clufetos (bateria) pisarem no palco. O show foi o penúltimo no Brasil da turnê “The End” que, infelizmente, está pondo um fim aos quase 50 anos de história do grupo.

A banda abriu a apresentação com “Black Sabbath”, uma das músicas mais emblemáticas do Heavy Metal. Ela é a primeira faixa do álbum de estreia do grupo, “Black Sabbath” (1970), considerado como a pedra fundamental do estilo. “Uma grande forma negra com olhos de fogo dizendo às pessoas seus desejos. Satã está ali sentando, ele está sorrindo. Olhe aquelas chamas crescerem cada vez mais”, diz a letra.

Usando climas soturnos e obscuros, com a guitarra e o baixo sendo tocados de forma grave e cadenciada, Iommi e Geezer criaram um estilo único em seu primeiro disco. Ritmicamente, Bill Ward dava o peso que as composições pediam, usando tons e surdos para acrescentar ainda mais ferocidade às canções.

Por sua vez, as letras do Sabbath destruíam, literalmente, todo o cenário “paz e amor” que os hippies ainda tentavam pintar. Nas ideias transformadas em textos por Ozzy e Geezer, não existia espaço para flores e alegria. Eles mostravam de forma nua e real todas as mazelas que, já naquela época, a raça humana impunha a si mesma.

O setlist do show em Curitiba teve “apenas” 13 músicas, incluindo o bis. Entre elas estavam “After forever”, “Fairies wear boots” e a belíssima “Snowblind”. Um dos momentos mais marcantes foi “N.I.B”. Quando Geezer tocou o riff de baixo que inicia a música, era nítida a emoção que tomava conta dos fãs. Afinal, que fã de Heavy Metal não sabe de cor a parte em que Ozzy canta “My name is Lucifer, please take my hand” de forma irônica e macabra?

O palco do show foi montado de forma propositadamente simples, usando poucas luzes e sem nenhum recurso tecnológico. Os únicos “elementos” estranhos eram dois aquecedores posicionados dos lados do palco. Nada tirava a atenção do foco principal do Black Sabbath: a música.

Atrás de Geezer, um anjo caído (que é o símbolo do Sabbath) e uma cruz estavam grafitados dentro de seus amplificadores. Já Iommi tinha posicionado atrás de si alguns amplificadores Laney, companheiros de décadas de estrada e responsáveis por potencializar o som inigualável de suas SGs.

Tommy Clufetos usou uma bateria de dois bumbos com a logo da banda pintada na frente deles. Sua performance demonstrava nitidamente o quanto ele estava aproveitando essa oportunidade única. Afinal, participar do encerramento da carreira de uma das bandas mais importantes da história seria uma honra para qualquer músico.

Já Ozzy Osbourne se divertiu durante todo o show andando de um lado para o outro e pedindo para o público gritar e levantar as mãos. O momento mais inusitado do vocalista aconteceu quando ele quis brincar com a plateia e acabou abaixando a sua calça. Nesse momento, Tony Iommi estava solando e não viu a cena.

Ele só percebeu que algo havia acontecido quando ouviu os gritos do público e viu Ozzy ajeitando sua roupa e gargalhando. Então, Iommi olhou para a plateia com um sorriso amarelo, como se estivesse perguntando: “o que esse cara fez?”.

A falta de uma engrenagem

A grande ausência dessa turnê de despedida é o baterista original do Sabbath, Bill Ward. Nos últimos anos, desde a volta do grupo em 2011 para a gravação do álbum “13”, isso gerou muita controvérsia.

Na época, a banda declarou que seu ex-baterista não aguentaria fisicamente uma turnê. Bill, por sua parte, manifestou em várias ocasiões o seu desejo de tocar e alegou que a questão financeira impediu esse reencontro. Isso porque, de acordo com ele, seus ex-companheiros só aceitavam a sua presença nessa reunião se o seu cachê fosse menor.

Para resolver o impasse, nessa turnê de despedida o Sabbath recrutou Tommy Clufetos, baterista da banda que acompanha Ozzy Osbourne em sua carreira solo. Tommy vem desempenhando o seu papel de forma precisa e competente.

Tommy teve direito até a um solo em “Rat salad”, quando a banda se retirou do palco durante alguns instantes. Em seguida, Ozzy apresentou os integrantes. Geezer e, principalmente, Tony Iommi, foram ovacionados pelo público. O “quinto elemento”, escondido em um dos cantos do palco, era o tecladista Adam Wakeman, filho de Rick Wakeman do Yes.

bs-4

Sergio Jacomeli (segundo à esquerda) e seu filho Guilherme (penúltimo à direita), 12 horas de viagem para ver o Black Sabbath

Gênios

Para boa parte dos fãs, principalmente os mais novos, Ozzy Osbourne é o centro das atenções no Sabbath. Isso é compreensível. Além de ser um bom vocalista, de ter um estilo próprio e de ser extremamente carismático, Ozzy é uma figura muito mais “midiática”, em uma comparação com os outros integrantes da banda.

Porém, a grande força motriz do grupo estava ao lado de Ozzy no palco. Juntos, Tony Iommi e Geezer Butler construíram toda a musicalidade do Black Sabbath. Iommi é uma espécie de entidade dentro do Heavy Metal. Isso lhe confere o apelido de riff master, o mestre dos riffs.

A alcunha se justifica, afinal, Tony compôs algumas das frases de guitarra mais icônicas e conhecidas da história do Heavy Metal. No palco, ele se comporta de forma extremamente tranquila. Em várias ocasiões, Iommi se dirigia para a beira do palco, bem perto do público, e olhava nos olhos das pessoas. Sorrindo e balançando a cabeça educadamente, ele agradecia o carinho que estava recebendo.

Entre os fãs que foram especialmente para ver Tony Iommi, estava o professor de educação física Sergio Jacomeli, 53. Ele, seu filho Guilherme e alguns amigos vieram juntos da cidade de Naviraí, no Mato Grosso do Sul.

O grupo viajou durante 12 horas, entre avião e carro, para vir até Curitiba assistir ao show do Black Sabbath. “Nós gostamos e acompanhamos o Rock‘n’roll. Eles são ícones do Heavy Metal. Nada é igual ao Sabbath”, disse antes do show.

Em Naviraí, Sergio é vocalista na banda Karavos, que ainda tem em sua formação Fábio Bonicontro (vocal), Guilherme Jacomeli (bateria), Gustavo Shinji Urano (guitarra) e Pedro Yokoro (baixo). “Karavos é tupi-guarani e significa ‘marreta, martelo’. Nós tocamos Punk rock. Nossa intenção é tomar cerveja e fazer um Rock‘n’roll!”, diz.

Sergio Jacomeli acompanha os grandes shows que acontecem no Brasil desde a década de 1980. Agora, sua paixão está sendo passada para a nova geração dos Jacomeli. “Eu sou do Rock in Rio de 1985. Estou colocando o meu filho nessa vida porque em shows assim não se encontra gente ruim. Só gente boa. Nós precisamos estar aqui, mantendo vivo o Heavy Metal e o Rock‘n’Roll. Não vamos nos entregar à caretice e à babaquice”, complementa.

bs-2

O grand finale

Após “Rat salad”, um som tribal tomou conta da Pedreira com a marcação de bumbo feita por Tommy Clufetos. Em seguida, Iommi desferiu os acordes cheios de bend do início de “Iron man”. Vendo o delírio da plateia, Ozzy chegou perto de Tony e disse: “Ele é o homem de ferro!”.

A parte final do show ainda teve “Dirty women” e a pesadíssima “Children of the grave”. Após uma breve saída do palco, o grupo voltou para encerrar a apresentação com “Paranoid”. Comandado por Ozzy Osbourne, todo o público que estava na Pedreira pulou e cantou a música com toda a força possível, tentando aproveitar ao máximo os últimos momentos com seus ídolos.

No final, a banda se despediu carinhosamente enquanto o telão exibia a palavra “The End”. Mesmo sabendo que o show tinha acabado, o público não queria ir embora e parecia ainda não ter assimilado o que viu. Diante desse clima de despedida, era impossível não se emocionar e pensar: o que será da música sem o Black Sabbath?

Confira os vídeos das músicas “War pigs” e “Iron man”, gravados no show na Pedreira Paulo Leminski.

Já usou o desconto de 5% que o Cwb Live e a Editora Belas Letras estão dando para você? Ele é válido em qualquer item do site www.belasletras.com.br, menos no projeto “Som na Caixa”.

Basta usar o código CWBLIVE. Aproveite porque a Belas Letras possui o catálogo de biografias e livros relacionados ao mundo da música mais completo do Brasil!

Aproveite para assinar o Cwb Live, pagando a quantia que você achar justa. É só clicar no link da plataforma Catarse que está abaixo (campanha “Eu Apoio o Cwb Live”).

Assim, você ajuda o site a se manter na ativa, fazendo um jornalismo independente e com conteúdos exclusivos (entrevistas em texto e vídeo, coberturas de shows, fotos, vídeos e matérias).

Inscreva-se no nosso canal no YouTube para assistir aos vídeos de shows e entrevistas exclusivas e siga as nossas redes sociais no TwitterInstagram e Facebook.