M.A.L.O.C.A.: Artesanato Gerando Saúde Mental, Renda e Empoderamento Feminino em Caxias #RedeFavelaSustentável [PERFIL]

Perfil da Rede Favela Sustentável*

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Iniciativa: M.A.L.O.C.A. (Movimento Alternativo Libertário e Organizado em prol da Cidadania)
Contato: Facebook | Instagram | Email
Ano de Fundação: 2018
Comunidade: Pantanal, Duque de Caxias
Missão: Criar uma rede de apoio social à saúde mental e ao exercício da cidadania através do acolhimento, arte, geração de renda e independência.
Eventos Públicos: Feiras e eventos públicos. Confira a página no Facebook para obter mais informações.
Como Contribuir: Participe de eventos públicos, compre produtos Maloca, faça doações de materiais.

Ana Felix teve a ideia da Maloca em 2018, em uma reunião de velhas amigas em uma loja no Pantanal, um bairro na periferia de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O grupo de mulheres tinha se encontrado para costurar juntas peças artesanais, e Ana, de 42 anos, moradora do Pantanal mas de origem nordestina, notou um problema. Suas amigas tinham começado a sofrer de depressão e ansiedade.

“Não ter dinheiro, não ter oportunidades e depender [economicamente] do meu marido me faz mal, e prejudica a [minha] saúde mental”, disse uma amiga. Muitas estavam desempregadas. Algumas estavam tomando medicação. Todas viviam no Pantanal—um bairro com pouca integração com a cidade do Rio, que sofre com a falta de transporte público, com o alto desemprego e a escassez de serviços de saúde. O hospital mais próximo fica a 30 minutos, “daqui tem que pegar dois ônibus para ir no hospital, ou tem que ter R$16 para ir e R$16 para voltar de Uber”, diz Ana.

A sessão de artesanato daquele dia pareceu ajudar e o grupo começou a se reunir regularmente. Logo, o número de mulheres presentes cresceu para muito além do círculo de amigas de Ana. Enquanto costuravam e bordavam, mais e mais mulheres começaram a chegar, dizendo que também sofriam de depressão e ansiedade. Na época, Ana, assistente social com mestrado em promoção da saúde e desenvolvimento social, estava realizando um estágio em uma ONG sediada no Morro do Turano, na Zona Norte do Rio. A experiência ensinou a ela que ela não precisava viajar para fazer serviço social: o Pantanal precisava dela também. Assim, a Maloca (M.A.L.O.C.A.) nasceu.


A Maloca, ou Movimento Alternativo Libertário e Organizado em prol da Cidadania, oferece apoio social às mulheres que vivem no Pantanal, promovendo a saúde mental e o exercício da cidadania em um ambiente acolhedor centrado na arte, geração de renda e independência. O grupo tem como objetivo conscientizar acerca da saúde mental das mulheres indiretamente, usando oficinas de artesanato para promover o debate e trocas entre as mulheres. As aulas ministradas por voluntários acontecem três vezes por semana e ensinam as participantes a produzir tudo, desde panos de prato a saquinhos de chá até móveis e decorações de Natal.

Uma parte central da missão da Maloca é criar profissionais independentes e qualificadas, permitindo a geração de renda em um “mercado muito competitivo”, diz Ana. As participantes podem vender seu trabalho e, exceto no caso de peças da marca Maloca, ficar com o lucro. Algumas chegaram a organizar feiras independentes para vender suas próprias peças feitas à mão. Ao adquirir uma profissão, muitas mulheres recuperaram sua identidade na sociedade.

Os produtos da Maloca também são feitos de materiais reciclados, contribuindo para a conscientização ambiental na região. “Aqui na Baixada Fluminense, se você olha, em todos os lugares têm lixo… Existe uma questão de educação ambiental, de educação dos moradores… Vamos contratar os próprios moradores para recolher lixo”, diz Ana.

Enquanto as mulheres da Maloca já começaram a gerar renda, a associação Maloca, por enquanto, se sustenta alugando seu espaço—a antiga casa de Ana—para eventos e recebendo materiais doados e pequenas doações de mulheres que frequentam as aulas da Maloca.

Mas dinheiro não é a única dificuldade. Ana, que passou a conhecer a comunidade particularmente bem depois de trabalhar para o censo de 2000, teve que lidar com o medo de algumas mães de deixar seus filhos em casa sozinhos enquanto assistem as oficinas da Maloca. “Uma mãe que tem um filho e vem aqui para fazer artesanato, sabe que o filho está fora da escola e fica preocupada: ela está cuidando da saúde mental dela mas e o filho? Não tem um reforço escolar, uma área de lazer”, diz ela. Para resolver o problema, ela criou a Biblioteca Itinerante, um projeto que reúne crianças para brincar e aprender na praça local, a poucos minutos da casa Maloca.

Fiel às raízes nordestinas—o pai de Ana era de Campina Grande e a mãe de João Pessoa, ambos na Paraíba—todos são bem-vindos nos eventos da Maloca. No Nordeste, uma “maloca” é uma casa antiga, humilde, cheia e hospitaleira, e Ana trabalhou para transformar a Maloca em um ambiente semelhante: “Onde fui criada era uma casa simples, mas era acolhedora”, diz ela.

Nascida e criada em Duque de Caxias, Ana ficou órfã aos quatro anos e foi criada por sua tia. Enquanto a família viajava para o Nordeste, a casa de sua tia permanecia aberta a todos. “Eu não fui criada em uma família tradicional. Eu fui criada com uma tia, uma mulher negra, periférica e solteira. Tinha espaço e alimentos para todo mundo e todo mundo chegava [lá em casa]. Tinha homossexual, tinha doente mental e tinha prostitutas”, diz ela. A Maloca, por sua vez, permanece livre de preconceitos e das influências evangélicas e políticas que estão dominando a área.

A visão da Maloca para 2020 é melhorar as aulas, integrando-as aos cursos de comunicação, vendas e fotografia de produtos para ensinar as participantes a promoverem suas artes em feiras pela cidade e online. Ana também gostaria de reformar um novo espaço no alto do morro para hospedar atividades musicais, teatro e jogos para crianças pequenas.

A Maloca busca causar impacto em seu pequeno bairro do Pantanal, sendo ali o único coletivo. Como Ana gosta de dizer: “Eu falo que nosso trabalho é um trabalho de formiguinha com impacto de pata de elefante… Na Zona Sul, ter cursos e crianças brincando é normal. Aqui não é”.

*Maloca é um dos mais de 100 projetos comunitários mapeados pela Comunidades Catalisadoras (ComCat)—a organização que publica o RioOnWatch—como parte do nosso programa paralelo ‘Rede Favela Sustentável‘ lançado em 2017 para reconhecer, apoiar, fortalecer e expandir as qualidades sustentáveis e movimentos comunitários inerentes às favelas do Rio de Janeiro. Siga a Rede Favela Sustentável no Facebook. Leia outros perfis dos projetos da Rede Favela Sustentável aqui. Participe da Rede se inscrevendo aqui.

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