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Taxa básica de juros do Brasil ainda é uma das mais altas do mundo

Segundo levantamento, juros nominal e real do País estão na 10ª e 8ª colocação, respectivamente

Taxa básica de juros do Brasil ainda é uma das mais altas do mundo
(Foto: Envato Elements)
  • Mesmo no menor patamar da história, taxa básica de juros nominal e real brasileira continua uma das mais altas do mundo
  • Cortes na taxa básica de juros têm acontecido em diversos países do mundo com o objetivo de impulsionar a economia
  • Selic em baixa obriga investidores a reverem suas estratégias e ajuda o dólar a subir

O último corte na taxa básica de juros brasileira (Selic) de 0,75 ponto percentual, em maio, levou os juros brasileiros a nova mínima histórica de 3% ao ano. Além do menor valor nominal, o juros real do País também se encontra no menor patamar da história, de 0,26% a.a. Em fevereiro deste ano, o juros nominal estava em 4,25% a.a e o real em 0,91% a.a.

Apesar disso, as duas taxas ainda são uma das mais altas do mundo, segundo um ranking divulgado pela Infinity Asset e a Money You no dia 22 de maio. Dentre os 40 países que o compõem, o Brasil ocupa a 10ª colocação no juros nominal e a 8ª no juros real. (Vejo o ranking mais abaixo)

Vale lembrar que desde a Selic tem sofrido seguidos cortes desde a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central no dia 31 de julho de 2019. De lá para cá, a taxa caiu de 6,5% a.a para os atuais 3% a.a.

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Com a inflação baixa e controlada, a redução tem o objetivo de estimular a economia, algo que se tornou ainda mais necessário depois da pandemia de covid-19.

De modo geral, quando a inflação está alta, o BC sobe os juros para reduzir o consumo e forçar os preços para baixo. Com IPCA mais fraco, o BC corta os juros para estimular o consumo.

Assim, quando os juros caem, o valor do crédito também segue a mesma trajetória e isso leva as pessoas e as empresas a buscarem empréstimos, movimentando a economia.

O levantamento da Infinity Asset e da Money You, divulgado mensalmente, leva em conta a taxa de juros do contrato de swap DI pré-fixado de um ano descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses.

Confira o ranking:

Juros nominal

Posição País Juro Nominal
1 Argentina 38,00%
2 Turquia 8,75%
3 México 6,00%
4 Rússia 5,50%
5 Índia 4,80%
6 Indonésia 4,50%
7 China 4,35%
8 África do Sul 4,25%
9 Colômbia 3,25%
10 Brasil 3,00%
11 Filipinas 2,75%
12 Malásia 2,00%
16 República Checa 1,75%
14 Cingapura 1,26%
15 Taiwan 1,13%
16 Nova Zelândia 1,00%
17 Hungria 0,90%
18 Hong Kong 0,86%
19 Coreia do Sul 0,75%
20 Tailândia 0,64%
21 Chile 0,50%
22 Polônia 0,50%
23 Canadá 0,25%
24 Austrália 0,25%
25 Estados Unidos 0,25%
26 Reino Unido 0,10%
27 Israel 0,10%
28 Alemanha 0,00%
29 Áustria 0,00%
30 Bélgica 0,00%
31 Espanha 0,00%
32 França 0,00%
33 Grécia 0,00%
34 Holanda 0,00%
35 Itália 0,00%
36 Portugal 0,00%
37 Suécia 0,00%
38 Japão -0,10%
39 Dinamarca -0,60%
40 Suíça -0,75%

Fonte: Infinity Asset e Money You

Juros real

Posição País Juro Real
1 Indonésia 2,77%
2 Argentina 2,07%
3 Russia 2,04%
4 México 1,71%
5 Turquia 1,71%
6 Malásia 1,14%
7 Cingapura 0,57%
8 Brasil 0,26%
9 Tailândia 0,24%
10 Índia -0,02%
11 Japão -0,02%
12 Israel -0,02%
16 Grécia -0,24%
14 Itália -0,24%
15 Colômbia -0,31%
16 Suiça -0,33%
17 Canadá 0,35%
18 Espanha -0,44%
19 Filipinas -0,44%
20 Portugal -0,53%
21 África do Sul -0,59%
22 França -0,63%
23 Suécia -0,78%
24 Dinamarca -0,85%
25 Hong Kong 0,88%
26 Coreia do Sul -1,00%
27 Alemanha -1,03%
28 Bélgica -1,13%
29 Austrália 1,21%
30 Holanda -1,22%
31 Áutria -1,42%
32 Chile -1,61%
33 Nova Zelândia -1,64%
34 China -1,69%
35 República Checa -2,12%
36 Hungria -2,12%
37 Estados Unidos -2,30%
38 Reino Unido -2,46%
39 Polônia -2,62%
40 Tawian -3,98%

Fonte: Infinity Asset e Money You

 

Não é só no Brasil que o juros caiu

Com a pandemia de covid-19, que paralisou a economia global, diversos países além do Brasil cortaram suas taxas de juros. Em comparação com o levantamento de abril, 52,5% deles optaram por manter o mesmo patamar do juros, 45,8% pelo corte e 2,5% (somente um) pela elevação, a Dinamarca.

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Para Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset, isso ocorreu devido à tentativa dos países em impulsionar a economia. “As pessoas estão deixando de consumir e a engrenagem trava. A economia mundial desacelerou de uma maneira tão brutal que esses juros se tornaram necessários para que as pessoas voltem a consumir.”

Neste contexto, ele diz que provavelmente deve acontecer uma nova redução da Selic na próxima reunião do Copom, marcada para 17 de junho. “Ao que tudo indica terá um novo corte para continuar estimulando a economia”, afirma Spyer.

Na quinta feira (21), Roberto Campos Neto, presidente do BC, disse durante reunião com representantes do Ministério da Economia e da indústria que o Copom considera um “último ajuste” para a Selic.

Em live da Ágora Investimentos, logo após o corte da Selic para 3% a.a, Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, disse que a casa prevê que a Selic fechará o ano em 2,25%, com risco de ser ainda mais baixa.

Estimulação do mercado não está acontecendo

Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, acredita que só a redução de juros não estão será suficiente para estimular a economia.

Segundo ele, as taxas mais baixas não estão contribuindo paro o acesso ao crédito das pequenas empresas. “As ações não estão funcionando para os que mais precisam”, afirma Vieira.

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De acordo com pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), desde o início da pandemia, 60% dos pedidos de financiamento feitos por pequenos negócios foram negados pelos bancos.

E os investidores?

Como já é sabido, a Selic é um indexador para diversos investimentos em renda fixa. Assim, saber o juros real é uma importante referência ao investidor na hora de escolher onde aplicar. Afinal, para um investimento dar lucro, ele tem que render mais que a inflação.

Com o retorno cada vez mais achatado devido a Selic a 3% a.a, o investidor que não fizer correções de rumo pode acabar tendo ganhos reais próximos de zero. Ou até mesmo negativos, se lembrarmos que em vários tipos de investimento há ainda a incidência de Imposto de Renda.

“Ainda tem prêmios na renda fixa, mas eles estão ficando cada vez menores com a Selic em queda”, afirma Viera.

Segundo o diretor da Mirae Asset, as pessoas estão atentas ao cenário e já estão mudando suas estratégias. “Estão saindo da renda fixa dada a baixíssima produtividade e por isso a Bolsa cresceu tanto”, diz Spyer.

Segundo dados da B3, mesmo em meio à forte volatilidade do mês de março que derrubou o Ibovespa em mais de 30%, houve o cadastro de 223 mil CPFs na Bolsa brasileira.

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Os números mostram que 1,9 milhão de pessoas investiram na Bolsa em março, com um total de 2,4 milhões de contas – um investidor pode ter conta em mais de uma corretora.

Efeito colateral da Selic baixa

Dentre os diversos elementos que ajudaram na desvalorização do real, a Selic a 3% a.a é um deles. Com os juros baixos, a atratividade do País diminuiu para o investidor estrangeiro devido aos baixos retornos.

Sem mais o benefício do diferencial de juros do Brasil com relação a outros países, há saída de recursos dos estrangeiros pelo canal financeiro e, consecutivamente, um aumento do preço da moeda norte-americana.

Neste cenário, o dólar disparou no ano e chegou ao seu maior valor nominal da história: R$ 5,90, no dia 13 de maio.

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