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28/05/2010 05h26 - Atualizado em 28/05/2010 05h26

Perfil: Juan Manuel Santos, o herdeiro de Uribe

Candidato conservador é o favorito das pesquisas para o pleito presidencial colombiano.

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O candidato conservador Juan Manuel Santos, apontado pelas pesquisas como um dos favoritos na corrida presidencial deste domingo, é considerado um dos principais aliados e herdeiro do presidente colombiano Álvaro Uribe, no poder há oito anos.

De líder absoluto na intenção de voto dos colombianos no início da disputa eleitoral, Santos passou a ter que alternar o primeiro e segundo lugar nas pesquisas com seu adversário do partido Verde Antanas Mockus, ex-prefeito de Bogotá.

Ao mesmo tempo que Uribe - que termina o mandato com cerca de 70% de popularidade - transfere votos a seu sucessor, Santos é também penalizado pelas deficiências do governo, na avaliação do analista político Alejo Vargas, professor de ciências políticas da Universidade Nacional da Colômbia.

"Santos é visto como o candidato que realmente continuará as políticas do atual governo e neste sentido também recebe a herança negativa do governo Uribe", afirmou Vargas à BBC Brasil.

"O presidente ainda mantêm uma espécie de proteção, com a qual o aspecto negativo da sua gestão não afeta a ele e sim a seus colaboradores", disse.

Impedido pela lei eleitoral de favorecer a seu candidato, Uribe se baseou em metáforas para indicar aos colombianos sua preferência.

"Isso necessita continuidade, isso não é flor de um dia (...) é uma tarefa de muita convicção, disciplina", afirmou Uribe em um ato público no final de abril, em alusão a seu virtual sucessor.

Em seus discursos, Santos, por sua vez, promete manter os frutos da herança de Uribe.

"A continuidade das políticas do presidente Uribe está em jogo. Não podemos reelegê-lo outra vez, mas vamos reeleger a segurança democrática, a confiança de investidores e a coesão social", afirmou Santos, imediatamente após a Corte Constitucional barrar a possibilidade de Uribe concorrer a um terceiro mandato.

"Continuamos por onde vamos ou mudamos a um rumo incerto", repetiu Santos em diferentes atos de campanha.

Economista e jornalista, de 58 anos, Santos conta com amplo apoio do Congresso Nacional recém eleito, controlado maioritariamente por partidos da ala conservadora, ligada ao uribismo.

Durante a campanha eleitoral, acompanhando o comportamento dos colombianos que já não vêm o conflito armado como a principal prioridade, Santos adotou como lema de campanha a frase "Vamos trabalhar, para que a Colômbia trabalhe". Se for eleito, Santos promete reduzir a 9% o índice de desemprego que atualmente afeta a 13% dos colombianos.

Segurança Democrática

Santos foi ministro de Defesa de Uribe de 2006 a 2009, período marcado pelo incremento da militarização do país e pelo endurecimento no combate às guerrilhas, ações características da política de Segurança Democrática, carro-chefe do governo Uribe.

Foi durante sua gestão à frente da pasta de Defesa, que o atual governo deu um dos piores golpes à Farc, quando o Exército colombiano bombardeou um acampamento da guerrilha no Equador, operação que resultou na morte de Raúl Reyes, o número dois na linha de mando do grupo.

A invasão à território equatoriano levou à uma crise regional e levou o Equador a romper relações com o vizinho. Na reta final da campanha eleitoral, Santos foi acusado pela Justiça equatoriana de ter sido o "autor intelectual" da invasão.

Santos também esteve à frente da chamada "Operação Xeque", resgate militar que permitiu a libertação da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, em cativeiro havia seis anos e de outros 14 reféns.

Falsos positivos

Foi também durante sua gestão no ministério de Defesa que veio à tona em 2008 o escândalo de execuções extrajudiciais de jovens inocentes, que eram utilizados para inflar os números de guerrilheiros mortos pelo Exército. Na época, o caso conhecido como falsos-positivos levou à destituição de ao menos 40 militares, entre eles, três generais.

Estima-se que ao menos 62 promotores estão à frente de mais de 1,2 mil processos, com os quais se pretende investigar a morte de mais de 2 mil colombianos que poderiam ter sido vítimas desta política.

O candidato oficialista também foi o principal negociador junto ao governo de George W. Bush do controvertido acordo militar que prevê o uso de bases militares colombianas por tropas norte-americanas.

O acordo desatou uma crise na região. Na época o Brasil disse estar "preocupado" com a presença de norte-americana na região. Para o presidente da Venezuela Hugo Chávez, o acordo representa "uma ameaça à região" e a seu governo. Desde então as relações comerciais com a Colômbia foram "congeladas", elemento que agravou a crise econômica colombiana.

Durante um debate entre os candidatos presidenciais, Santos voltou a defender o acordo e disse não estar disposto a renegociá-lo.

"Ali não há nada, absolutamente nada que possa levar a um terceiro país a pensar que isso é um acordo para agredi-lo", afirmou.

O candidato uribista é descendente de um ex-presidente, primo do atual vice-presidente e membro de uma das famílias mais influentes da Colômbia, proprietária do jornal El Tiempo.

Nos últimos 20 anos, Santos exerceu cargos em outros dois governos. Foi ministro de Comércio Exterior do governo César Gaviria (1990-1994) e da Fazenda no governo Andrés Pastrana (1998-2002). Essa é a primeira vez que Santos concorre a um cargo de eleição popular.

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