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Toque com afeto por Amanda Antunes

Auxiliar crianças a desenvolver suas potencialidades é um trabalho que exige muita dedicação dos profissionais envolvidos. No contexto de doenças raras a exigência é grande e, em muitos casos, as crianças realizam sessões de terapia mesmo sonolentas, chorosas ou em diversas condições não ideais.

Diagnosticadas com doenças severas como hidrocefalia, paralisia cerebral, Síndrome Congênita do Zika (SCZV), entre outras, acredita-se que cada momento é precioso no aprimoramento de suas habilidades. Em setembro de 2018, pude observar e registrar sessões de terapias no CERVAC (Centro de Reabilitação e Valorização da Criança), localizado no Morro da Conceição, em Recife-PE, onde são atendidas crianças de vários bairros da cidade.

Na sala de estimulação precoce, as crianças são levadas até o seu próprio limite e o toque tem função primordial. A cada melhora, as terapeutas vibram com as crianças. Nesse contexto, tocar significa massagear, alongar, forçar a criança a ampliar suas competências, orientar na experimentação de sensações e sentidos. As mãos das terapeutas manipulam corpos pequenos e frágeis, elas os massageiam e fazem exercícios diversos. O toque é feito de maneira firme, precisa e forte, mas também deve ser gentil, suave e afetuoso. Para além desse toque mais instrumental, que demanda esforço, foco e concentração das crianças, há também o toque carinhoso, um abraço ou um beijo que acolhe, protege e relaxa. Ambos são fundamentais na criação de uma relação que é profissional e afetuosa.

Esse ensaio fotográfico trata do toque e da relação que é construída através dele entre crianças e terapeutas. As imagens expressam os elementos não verbais dessa relação, tais como: expressões, gestos, posturas, olhares, entre outros. Os dados apresentados nesse ensaio fazem parte do projeto de pesquisa coletivo intitulado: “Zika e microcefalia: Um estudo antropológico sobre os impactos dos diagnósticos das malformações fetais no cotidiano de mulheres e suas famílias no estado de Pernambuco”, coordenado pela profa. Soraya Fleischer (DAN/UnB) e financiado pelo CNPq. Para conhecer mais sobre o projeto, clique aqui.

No chão da sala de estimulação precoce, as sessões de terapia se iniciam na presença das crianças, das mães (e/ou) avós e das terapeutas. O ambiente é acolhedor e confortável.
Há sessões que exigem duas profissionais atuando conjuntamente. Kauan, uma das crianças afetadas pela SCZV, é acompanhado pela fonoaudióloga e pela fisioterapeuta, que juntas fazem um treino de deglutição.
Coluna ereta e olhar atento. Com precisão e certa firmeza, as terapeutas massageavam a coluna, pescoço e queixo de Kauan. Tudo isso em busca de melhorar a deglutição e mastigação da criança. Os sinais dessa melhoria eram claros e a avó orgulhosa dizia que Kauan é o menino mais lindo de seu bairro.
Com dedicação e paciência, a fisioterapeuta, Magna, guia os movimentos de Heitor. A criança pode estar sonolenta devido às altas doses de remédios necessários para controlar crises convulsivas e outras complicações.
Cada momento é aproveitado. Depois do esforço no alongamento, Heitor é acolhido com um abraço afetuoso de Magna.
Foco, concentração e força. Grazi, também afetada pela SCZV, usava um coletinho que ajudava a manter a postura juntamente com as massagens da terapeuta ocupacional, Cibele.
O sorriso e a alegria contagiam o ambiente. Grazi também já apresentava melhor controle de pescoço e coluna, um sinal de que as terapias vinham ajudando a melhorar sua qualidade de vida. Cibele vibra com os avanços de Grazi, além de se divertir com a criança.
Explorando texturas. Tocar, sentir, experimentar. De maneira suave, as profissionais envolvem e orientam as crianças nessas experimentações.

Ciclo de Ensaios Fotográficos

O ensaio exposto é um dos 13 trabalhos selecionados em 2020 para o Ciclo de Ensaios Fotográficos promovido pelo IRIS - Laboratório de Imagem e Registro de Interações Sociais.

Através de oficinas, ciclos de mostras, apoio a projetos de pesquisas, atividades de ensino e empréstimo de equipamentos a professores, pesquisadores e estudantes vinculados ao Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, o IRIS estimula a capacitação e a produção de conhecimento acerca da relação entre a prática antropológica e o uso da linguagem audiovisual e fotográfica em várias dimensões.

Se você faz parte da comunidade do DAN e deseja empregar os recursos técnicos e a linguagem fotográfica ou audiovisual em sua pesquisa, venha nos conhecer.

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Ficha Técnica