domingo, 6 de junho de 2010

Comentando Emma de Kaoru Mori



Decidi escrever sobre Emma (エマ) de Kaoru Mori, série publicada de 2002 até 2006 na revista Comic Beam, porque preciso sanar uma grande injustiça que cometi e que vai, como castigo, me custar caro. Eu fui empurrando para depois a leitura do mangá, apesar da propaganda que meu marido ficava fazendo, e agora que decidi ler a série a CMX (*maldita DC Comics*) fechou as portas. De imediato, pelo menos dois volumes, o 5 e o 8, estão esgotados. Quem tem para vender em “sebo” está cobrando em média 150 dólares. Só completarei a série com muita sorte.

Emma é o nome da protagonista da série. A ação se passa nos últimos anos da Inglaterra Vitoriana, li até o volume 3 e chuto entre 1893 e 1896, não mais que isso, eu diria. Emma é uma menina miserável e órfã que escapou por pouco de ser prostituída. Sobrevivendo nas ruas fazendo pequenos biscates, ela é acolhida pela da Sr.ª Stownar, uma governanta aposentada e viúva, que lhe ensina como ser uma perfeita empregada doméstica, uma maid, mas, também, com seu jeito rígido, a trata um pouco como uma espécie de filha que nunca teve.

Um belo dia, um antigo pupilo da Sr.ª Stownar, William Jones, vai visitá-la. Ele e Emma se apaixonam, mas a distância social entre eles parece intransponível. Ainda que a Sr.ª Stownar torça pelos dois, o destino de William já havia sido traçado pelo pai, e ele já tinha uma noiva em vista para ele, a doce e aristocrática Eleanor. Afinal, os Jones não eram nobres, e sua riqueza vinha do comércio, era necessário se ligar a uma família da aristocracia. Com a morte de sua patroa e mestra, Emma ainda tenta falar com William, mas tudo conspira contra os dois e ela decide se sacrificar para o bem do rapaz, abandonando Londres e indo para o interior do país.

Emma tem um ritmo lento, não porque a história em si não caminhe, mas porque a autora vai tecendo sua trama enfatizando o quanto a sociedade vitoriana poderia ser repressora e impedir a livre expressão dos sentimentos e pensamentos. Se eu tivesse que definir a série, diria que é como ler uma série da BBC, o que é redundante, porque elas geralmente são inspiradas em livro, ou assistir/ler A Era da Inocência ou mesmo ler o original de Edith Wharton, só que mostrando os dois lados, e não só os cômodos ocupados pelas elites. Há também algo de Jane Austen, com o desprezo que a aristocracia demonstrava pelos comerciantes, mas nem tanto pelo seu dinheiro, ou o jogo dos casamentos.

Além da história ser bem tocante e da angústia das personagens ser bem palpável, a arte de Kaoru Mori é uma atração à parte. Ela é detalhista, minimalista, sem descuidar de cenários e roupas, ela não perde de foco as personagens. Isso é notável, porque uma das minhas mangá-kas favoritas, Ryoko Ikeda, parece ter desistido de cuidar bem das duas áreas. Ela tem se esmerado nos cenários e no vestuário, enquanto o traço das suas personagens se torna cada vez mais pobre e feio. Kaoru Mori não descuida de nada. E, o mais surpreendente, é que ela continua melhorando o seu traço.

Quando pensamos nas personagens, para além de Emma, que recebe simpatia imediata, e de William, que consegue ser decidido e contido na medida certa, há todo um elenco de apoio que é muito bem construído. Desde o pai ultra-conservador e calculista de William, até Eleanor, a noiva que não é amada. Aliás, Eleanor é uma personagem tão simpática que não é possível desgostar dela. Eu falei em A Era da Inocência, mas não pensem que estou dizendo que a Eleanor parece em qualquer coisa com a noiva do protagonista do livro/filme que só se finge de inocente, para poder fisgar o sujeito, afastando-o da mulher que ele ama, mas que não é socialmente aceitável. Dito isso, compreende-se a sinuca em que William fica, pois ele não quer abrir mão de Emma, mas não quer ferir Eleanor, tampouco ser deserdado por seu pai. Talvez a única personagem chatinha seja a irmã caçula de William, a garotinha mimada por excelência. E nem vou falar da mãe de William, porque ela só aparece no fim do volume 3. Se comentar outros volumes de Emma, falo sobre ela, pois merece uma atenção especial.

Emma parece uma minissérie da BBC, como eu já frisei, mas Kaoru Mori não esquece que está fazendo um mangá. Então, há alguns momentos em que aparecem características típicas de shoujo mangá (*apesar de Emma ser um seinen*), como o akogare (あこがれ) que as amigas dedicam à irmã mais velha de William, a sóbria Grace. É tudo tão não-Inglaterra Vitoriana, com as moças lamentando que Grace não seja um homem, porque seria “o marido ideal” que vira uma gag. Hakim, o príncipe indiano amigo de William, também parece uma inclusão exótica, mas ele é tão simpático que a gente acaba não se importando. E ela abre mão de Emma por causa de sua amizade, e fica estimulando William a não abrir mão de seu amor.


Não vou me prolongar mais. Li três volumes e já olhei a série até o volume #5. Sei como tudo termina, porque meu marido já me contou a série de cabo a rabo, só que não tinha assistido o anime. Baixei tudo e estou no capítulo três da primeira temporada. Acredito que a forma como a primeira temporada foi construída foi bem equivocada. Ao invés de contar a história do mangá, que não época em que o anime estreou já tinha 5 volumes lançados, a série animada fica criando situações pequenos incidentes e cenas que não estavam no mangá, além de fazer pequenas alterações na trama original. São muitos fillers que, se não são inúteis ou chatos, atrasam o andamento da história. Em 11 capítulos eles cobrem somente 2 volumes. A segunda temporada então precisou cobrir 8! Por que fizeram isso?! Agora entendo o motivo de achar o anime muito lento. Ele é lento, já que praticamente tudo o que acontece nos 11 capítulos não contibui em nada para que a história ande de verdade, o ritmo do mangá é outro.

Eu vejo alguns problemas no mangá até agora, mas nada que desqualifique a obra. Primeiro, a autora comete uma anacronismo muito feio, ao incluir uma maquete de avião logo no início do primeiro volume. E avião da época da I Grande Guerra. O anime corrigiu isso. Acho que ela também mostra pouco da violência que alguém como Emma poderia estar sujeita, especialmente, quando menina sobrevivendo nas ruas. É tudo muito leve, ela poderia ter se inspirado um pouco nos livros de Charles Dickens ou mesmo em Jane Eyre para compor algumas situações. E aquilo que me deixou encucada: quando a ama de Emma morre, quem fica com a casa? Por que ela não deixou para Emma já que a via como filha? E se Emma não ficou com nada, para quem foi a herança? Foi um deslize da Kaoru Mori, mas como Emma foi seu mangá de estréia, ela já começou pontuando muito alto. Muito alto mesmo! E vale a pena ler os freetalks da autora, porque é uma graça. ^___^

Parando para pensar, não sei por que não pedi Emma antes. Por que não comecei a ler antes?! Por que tentei forçar a barra com séries como Kimi ni Todoke (*da qual não consigo gostar*)? Foi o fator “maid”? Foi o medo de, por ser seinen, encontrar um monte de clichês, fanservices e fetiches com empregadinhas de uniforme (*e óculos!*)? Sei lá... Lembro de ter começado a assistir o primeiro episódio da série animada muito tempo atrás, mas achei tão lento, que deixei para lá. Só peguei o mangá para ler, porque meu marido gostou tanto, tanto, que me contava ansiosamente cada volume (*e eu deixando para depois*) e porque o traço de Kaoru Mori é, por assim dizer, soberbo. E está melhor agora em Otoyomegatari. Emma precisava sair no Brasil e com seus 10 volumes, não seria nenhum problema. Como as editoras podem ser tão cegas? Ah, se quiser ouvir o micro(pod)cast que gravei comentando Emma, ele está aqui.

7 pessoas comentaram:

Emma é um mangá impressionante. Recomendaram-me que o lesse em um foro e que eu nao ia me arrepender, e nao me arrependo. Uma história preciosa, de princípio a fim. Ah, e sinto dizer que eu detesto a Eleanor (e toda sua família) XD.

Falando em sebo, eu procurei Zettai Kareshi na web que você me passou, e achei muito caro também (80 reais = uns 35€). Acho que comprarei esse número que me falta em inglés (7.88€ = 17 reais). E sobre Emma, se você entende espanhol você pode encontrar por aqui ^^ (Planeta publicou até o volume 8): http://www.planetacomic.net/
Eles enviam ao exterior, mas os gastos dependerao do país.

Também há scanlations em inglês do mangá inteiro. Mas é verdade que nada se compara a ter a obra em mãos. >_<

http://www.mangatraders.com/manga/series/553
http://www.mangatraders.com/manga/series/1691

PaGe, eu recomendaria comprar em inglês, mas posso procurar aqui para você. Quem sabe eu encontro? Você quer toda a série?

A Planeta de Agostini não envia mangás para o Brasil.

Helena, scanlations não é o problema. Eu tenho tudo aqui. Eu quero o mangá impresso.

Acho que você deve ter visto, mas por via das dúvidas: O maximum cosmo publicou uma vez vários videos da Kaoru Mori desenhando. A arte dela é incrível: http://www.interney.net/blogs/maximumcosmo/2009/10/14/a_arte_de_kaoru_mori/

Eu costumava comprar mangás em inglês na amazon, até que achei este site: www.justmanga.com
não sei se vc conhece, mas é mto bom e acho q é mais barato q a amazon. quem sabe eles conseguem Emma lá.

Valéria, esse site ainda está vendendo o mangá. Você pode fazer o pedido que eles só cobram quando acharem os itens.

Volume 5:
http://www.rightstuf.com/cgi-bin/catalogmgr/g6xQOK3YeTZih-GF-L/browse/item/74285/4/0/0
Volume 8:
http://www.rightstuf.com/cgi-bin/catalogmgr/g6xQOK3YeTZih-GF-L/browse/item/81134/4/0/0

Qualquer dúvida sobre a compra pode me perguntar, sou cliente assíduo da Rightstuf.

Acabei de ler o manga, via scan.
Compraria sem nem pensar duas vezes, se alguém lançasse no Brasil.
Mas a julgar pelas coisas que andam rondando nossas bancas, tenho pouca esperança.
Emma é uma aula de como se contar uma história em manga.

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