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24/05/2011 - 22h03

Livro relata passado judeu e de resistência ao Nazismo do Bayern de Munique

Rodrigo Zuleta.

Berlim, 24 mai (EFE).- O Bayern de Munique poderia ter uma história a contar: a de ter sido o clube alemão que mais se resistiu aos nazistas e ter tido atitudes entre 1933 e 1945 que poderiam ser classificadas como ações de resistência.

No entanto, paradoxalmente, o clube parece ter problemas para falar disso, de forma similar a outras instituições que, ao contrário do Bayern, têm coisas a serem ocultadas sobre aquela época.

É o que relata o livro recentemente publicado pelo historiador Dietrich Schulze-Marmeling e intitulado "FC Bayern und seine Juden - Aufstieg und Zerschlagung einer liberalen Fussballkultur" ("Bayern e seus judeus - Ascensão e destruição de uma cultura liberal do futebol", em livre tradução).

A obra, como o indica o título, aborda antes de tudo a relação do clube de Munique com seus integrantes judeus, entre os quais estão pelo menos dois dos fundadores, Joseph Pollack e Benno Elkan, e, especialmente, com um de seus ex-presidentes, Kurt Landauer, que esteve no cargo de 1911 a 1933, quando teve que renunciar pela chegada dos nazistas ao poder.

No entanto, Landauer seguiu exercendo influência sobre a instituição, diretamente de seu exílio em Genebra, após ter tido que suportar a desapropriação e a detenção no campo de concentração de Dachau, até o final da década de 30.

Em 1940, em um episódio raro, todo o elenco do Bayern visitou Landauer na cidade suíça, aproveitando um amistoso contra o Servette, desprezando temores sobre possíveis represálias por manter contato com o dirigente judeu.

Além do ex-presidente, o clube teve, antes de 1933, quatro técnicos judeus, entre eles Richard Dombio, que comandou a equipe na conquista do Campeonato Alemão de 1932, o primeiro da história do Bayern.

"Nesses anos, o Bayern parecia uma fortaleza de liberalidade no meio de uma onda de antiliberalismo e antissemitismo", escreveu Schulze-Marmeling no livro, referindo-se aos anos da República de Weimar, que antecedeu a chegada dos nazistas ao poder.

Após 1933 e a renúncia forçada de Landauer, os nazistas convictos, normalmente pertencentes ao departamento de esqui do clube, seguiram sendo minoria dentro do Bayern e tendiam a ser, na medida do possível, ignorados pelos dirigentes.

Boa parte desses dados foram já tinham sido publicados em 2005, no livro "Futebol sob a suástica", de Nils Havemann, no qual se mostra, entre outras muitas coisas, o contraste entre a posição assumida pelo Bayern entre 1933 e 1945 e a que assumiram muitos outros clubes.

A obra de Havemann foi escrita por encomenda da Federação Alemã de Futebol (DFB) como resposta às exigências de muitos críticos que pediam à organização que encarasse a função que desempenhou durante a época nazista.

Além disso, em 2005, a DFB criou o Prêmio Julius Hirsch, pela tolerância e contra o extremismo, que foi dado ao Bayern, justamente pelo papel que teve durante o regime nacional-socialista.

No entanto, e isso é o mais curioso da abordagem do livro de Schulze-Marmeling, o clube de Munique foi tímido no momento de reivindicar a tradição e em algumas ocasiões até se mostrou reticente a isso.

Assim, por exemplo, segundo conta o historiador, em 1961, quando Landauer morreu, o obituário oficial do clube evita toda alusão a sua condição de judeu e de perseguido pelo regime nazista.

Quase 40 anos mais tarde, quando uma jornalista da revista "Totally Jewish" entrou em contato com o departamento de imprensa do Bayern pedindo dados sobre o ex-presidente, um funcionário lhe respondeu que por enquanto ninguém pensava "nesta m... de passado", pouco depois de uma derrota para o Lyon, pela Liga dos Campeões da temporada 2000/2001.

Posteriormente, o clube começou a ser mais aberto a respeito dessa parte de sua história, em parte devido à pressão de um grupo de torcedores chamado "Schickeria". Em 2009, o então vice-presidente do clube, Fritz Scherer, e o presidente executivo-chefe, Karl-Heinz Rummenigge, assistiram a uma homenagem a Landauer em Dachau.

Scherer, no entanto, evitou destacar muito o passado judeu do Bayern e falou de um suposto risco de surgirem manifestações contrárias.

Agora, há algo que faz pensar que as coisas mudarão. Pelo menos o presidente do clube, Uli Höness, prometeu que Landauer terá um posto digno em um museu que está sendo planejado pelo Bayern.

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