Resenha: Sandstorm – Medjay

ilustração de um tanque de guerra cercado de manifestantes, com um deles sobre o veículo segurando uma bandeira. Há pirâmides egípcias ao fundo. O nome da banda aparece no topo, ao centro, e o nome do disco aparece em letras de estilo árabe também ao centro, mas na parte de baixo

Reprodução da capa do álbum (© Samuel Vilaça Martins)

O Oriente Médio é aqui. Esta é a impressão que paira após percebermos que, num período de um ano, duas bandas brasileiras de metal oriental estrearam, e estrearam bem. Primeiro, os cariocas do Vikram com o estupendo Behind the Mask: Part I, de 2019 (clique aqui para conferir minha resenha a respeito). E em 2020, foi a vez dos mineiros do Medjay, com Sandstorm, tema desta resenha. E não nos esqueçamos do já bem rodado Kattah, do Paraná, na ativa desde 2006.

O trabalho foi, se me permitem o trocadilho com o seu nome (“tempestade de areia” em inglês), corajosamente lançado em meio à tempestuosa pandemia da COVID-19. Mais precisamente em novembro. Sim, esta resenha está um bocado atrasada, mas veio.

A abertura instrumental toda orgânica “Egyptian Beast” dá o clima egípcio do disco, mas as faixas seguintes mostram que o som é calcado mesmo no power metal com aromas de thrash, progressivo e heavy tradicional. A própria sequência da abertura, “Medjay”, não traz quase nada além das guitarras, vocais, baixo e bateria.

As coisas ficam mais interessantes na agitada “Death in the House of Horus”, peça dinâmica que resgata os elementos árabes e configura, sem dúvida, um ponto alto.

Esse dinamismo se repete em “Revenge of Horus”, pudera, é a mais longa, com seis minutos e meio. Puxando o nível ainda mais para cima, temos a participação da cantora lírica carioca Marília Zangrandi.

“Rise for Glory” é uma das mais típicas de power metal, o que pode ser explicado pelo nome de quem ajudou a compô-la: Rafael Bittencourt, do Angra. Apesar da presença dessa lenda, a canção ainda ficou entre as menos empolgantes.

A faixa-título, que considero a melhor, foi selecionada como single e recebeu um clipe. Foi uma manobra louvável, pois é uma música de pouco apelo comercial, mesmo para os padrões do grupo. Homenagem aos milhões de egípcios que marcharam contra Hosni Mubarak em 2011, ela recebeu um clipe bem sofisticado – dentro dos limites que a pandemia impõe e o orçamento presumivelmente modesto do quarteto – que valoriza a inquietude da letra.

Como não poderia faltar, temos uma balada: “Lady of the Nile”, com a participação da paulista May Undead, do Torture Squad. Colocados quase em segundo plano, os instrumentos deixam muito espaço para a convidada e o vocalista Phil Lima (que também empunha uma das guitarras) desenvolverem um belo dueto.

May reaparece no encerramento “Violate” (cover do Iced Earh), que não consta em todas as versões digitais do álbum, o que me leva a deduzir que é uma faixa bônus – o que faz bastante sentido, pois ela adiciona uma dose cavalar de agressividade ao som outrora relativamente polido do grupo, destoando das companheiras.

Como Sandstorm foi lançado em novembro, eu não vou reclamar do fato deles terem homenageado um grupo cujo líder foi flagrado no início deste mês em meio aos terroristas que ocuparam o Capitólio dos EUA para intimidar os congressistas que se preparavam para validar a vitória de Joe Biden nas eleições.

Todos os membros estão de parabéns, mas fiquei particularmente satisfeito com a ala rítmica (Samuka Vilaça no baixo e Riccardo Linassi na bateria), que carrega as oito faixas com admirável destreza. Completa a formação Freddy Daniels na outra guitarra.

Engrossando o caldo de bandas brasileiras que se arriscam no improvável metal oriental, o Medjay estreou com firmeza e mostrando que provavelmente ainda tem munição para muitos outros lançamentos.

Avaliação: 5/5

Abaixo, o clipe da faixa-título:

3 Respostas para “Resenha: Sandstorm – Medjay

  1. Pingback: Resenha: Cleopatra VII – Medjay | Sinfonia de Ideias

  2. Resenha maravilhosa e faz jus ao trabalho da Medjay, o qual tive o prazer de criar toda a concepção de arte do disco.
    Convido vocês a conhecerem também o trabalho da Heretic, banda brasileira também com um som oriental e que lançou o excelente Entity em 2020.

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