quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Comentando Planeta dos Macacos: A Origem




Quando vi o anúncio de um novo filme revisitando a série Planeta dos Macacos, eu esperava o pior. Eu amo os três primeiros filmes, adoro a Dr.ª Zira e o Cornelius, o Dr. Zaius, a cena final com o grito do Charlton Heston no primeiro Planeta dos Macacos é uma das cenas mais lembradas do cinema. E eu não me importaria em rever com a dublagem brasileira que, naquela época, era, sim, a melhor do mundo. Enfim, para quem não lembra, e muitas vezes eu esqueço, deve ser alguma defesa que meu cérebro criou, o filme original teve um remake em 2001 feito por Tim Burton. Eu vi no cinema e é, definitivamente, um dos piores filmes que eu assisti na minha vida. Mas eis que os trailers e os comentários que eu lia aqui e ali, me fizeram desejar assistir esse novo Planeta dos Macacos. O medo continuava lá, mas foi, com certeza, um dos melhores filmes que assisti no cinema este ano. Na verdade, preciso ser justa, foi o melhor filme que vi no cinema este ano pelo conjunto de emoções que me despertou.

Planeta dos Macacos: A Origem me emocionou, o drama dos macacos e do pai do cientista - interpretado de forma excepcional por John Lithgow - me tocaram profundamente. Não houve como durante o filme não trazer a memória as discussões da semana passada sobre os rodeios e como os animais são usados das formas mais cruéis por nós humanos... os supostos racionais. Também, sempre que vejo certos animais – grandes símios, cetáceos, elefantes, etc. – não consigo não pensar em como é cômodo para os seres humanos negarem que estes animais tenham consciência, cultura, e capacidades que nós egoisticamente julgamos somente nossas. Imagina se admitirmos que eles têm características que julgamos humanas? Quantos genocídios já não teríamos provocado? E ainda que não tiverem, que direito temos de tratar os animais como tratamos? E, claro, não sei se foi intencional, algo planejado pelos realizadores do filme, mas durante a revolta dos macacos me pareceu muito clara a referência ao primeiro Spartacus. E, como meu marido (*milagre, ele foi comigo ao cinema outra vez*) pontuou, somos muito mais solidários com os revolucionários oprimidos.

O novo Planeta dos Macacos pontuou alto, também, em ficção científica. Ao contrário do original, onde Cesar é filho de Zira e Cornelius e nunca nos é explicado como os humanos involuíram e os símios se tornaram os seres racionais deste nosso planetinha, o novo filme explica de forma coerente o salto evolutivo dos chimpanzés, gorilas e orangotangos. A personagem de James Franco, o Dr. Will, está pesquisando uma droga cujo objetivo final é curar o Mal de Alzheimer, suas cobaias são chimpanzés. Ainda que Will seja ético e boa gente, ele não vê os chimpanzés como seus “iguais” no direito à vida e auto-determinação, são inferiores e podem, claro, ser utilizados como cobaia. Já seu chefe não tem pudor nenhum em relação ao uso dos animais, os donos do abrigo de símios (*na verdade, uma prisão*), também, não. Voltando ao ponto, as pesquisas de Will não conseguem curar o Alzheimer – e conseqüentemente o próprio pai do moço – mas são responsáveis pelo salto evolutivo dos macacos, a começar com Cesar, e por algo que também não estava no filme original e que foi uma sacada brilhante. Assistam! Esse filme merece ser visto. Foi a melhor ficção científica que me lembro de assistir talvez desde Gattaca.

Falando dos macacos, Cesar é uma personagem das mais interessantes. Acompanhamos seu crescimento, ele é adotado por Will e seu pai, sua tomada de consciência, sua crise e as torturas que sofre no abrigo de animais. Também é bem dolorosa a parte que ele percebe que, sim, embora Will negue, ele é um “animal de estimação”, não é de forma alguma um filho, como o cientista diz, porque ninguém jamais deixaria um filho em um abrigo como aquele. É esse estranhamento, e daí eu lembro dos textos das marxistas feministas – um escravo não é membro da classe social do senhor por pertencer a ele, da mesma forma que uma esposa não é igual a seu marido por estar casada com ele – que produz a identificação com seres que antes não lhe pareciam “iguais”. É notável as estratégias utilizadas por Cesar para conseguir subjugar o macho dominante do abrigo, sem destruí-lo, tornando-o um aliado. Ou como consegue mobilizar e fazer aliança com o orangotango e o gorila que estão no abrigo. Estratégias de liderança. E quando Cesar fala a primeira vez, que cena de arrepiar!

As seqüências da fuga e da revolta. O confronto com as forças de segurança, tudo foi muito bem feito. Cenas de batalha com efeitos especiais que foram de tirar o fôlego. Se eram atores representando alguns dos símios – Cesar é interpretado por Andy Serkis, o mesmo ator que fez o Gollum de Senhor dos Anéis – eles fizeram um trabalho de primeira. Aliás, há quem defenda que Andy Serkis receba uma indicação ao Oscar de Coadjuvante pelo menos. Eu apoio. O trabalho dele foi brilhante... outra vez.

Claro, que o filme tem problemas. Poderia apontar uma série deles. O primeiro, mais óbvio, é que ninguém manteria um funcionário depressivo e pouco produtivo por anos empregado. É isso que Will se torna depois do primeiro fracasso com a droga para o Alzheimer e a morte da mãe de Cesar. Segundo, é de onde vieram tantos gorilas e orangotangos no momento da revolta? Do zoológico? A coisa não ficou tão clara, afinal, no abrigo só havia um exemplar de cada um desses animais. Poderiam ter mostrado em detalhes, ou eu perdi? Só vi chimpanzés sendo libertados do zoológico e do laboratório, claro!

E, como não poderia deixar de ser, Planeta dos Macacos não preenche a Bechdel Rule. Temos uma personagem feminina com nome, a veterinária interpretada pela bela Freida Pinto, se eu forçar a barra, há ainda a mãe de Cesar “Olhos Brilhantes”. Peraí, não era assim que Zira chamava a personagem de Charlton Heston no primeiro Planeta dos Macacos? Acho que, sim. Há uma chimpanzé chamada Cornelia, outra referência ao filme original. Mas ela não tem função no filme, ou interage com outras fêmeas ou machos, mesmo. As fêmeas de chimpanzé que aparecem bajulando Rocket – o macho dominante do abrigo – não têm nome ou personalidade. A enfermeira, a passante no parque, a esposa e a filha do vizinho, a cientista do laboratório, não têm nome ou falas relevantes. Enfim, Planeta dos Macacos é um filme de homens ou machos. Se Freida Pinto, Caroline, não estivesse lá, faria diferença? Creio que, não... aliás, sua função é lembrar o quanto certas pesquisas são perigosas. Um papel clichê, em todo filme de ficção científica há semrpe alguém que desconfia da ciência ou lembra ao cientista que ele (*sempre é ele*), não pode "brincar" de deus. Não há mulheres entre os policiais na batalha contra os símios; não há fêmeas entre os macacos líderes... nem entre os liderados elas aparecem. Ou seja, mesmo o futuro será um lugar dos machos. Com as coisas que sabemos hoje, não custaria introduzir os bonobos que são sabidamente uma espécie matriarcal e tão – ou mais – inteligente que os chimpanzés. Mas para quê? Status quo garantido mesmo na ficção.

De resto, o filme pontua sua narrativa com referências a primeira nave para Marte. Trata-se da mesma do filme original. Somente por este detalhe é que sabemos que estamos em um futuro próximo, não no nosso presente. E é uma infelicidade perceber que em 2011 as previsões da ficção científica dos anos 1960 sobre conquista espacial fracassaram totalmente. Peguem a série Planeta dos Macacos original ou a série clássica de Jornada nas Estrelas e lamentem. Ninguém naquela época poderia imaginar que hoje estamos disputando não para ver quem chega primeiro à Júpiter, mas quem é mais fundamentalista em termos religiosos. Só temos a lamentar.

Enfim, quando termina Planeta dos Macacos: A Origem temos todos os elementos para um segundo filme. Tudo está solidamente estruturado, explicações científicas para a evolução dos símios e o colapso da humanidade estão dadas para a audiência. É tipo “se colar, colou”. Como o filme aparentemente fez sucesso nos EUA, e vai assim no resto do mundo, eu acredito que para 2013 ou 2014 teremos um novo remake do primeiro filme. Confesso que nunca desejei tão intensamente uma releitura de um filme original que eu goste muito como desejo um novo Planeta dos Macacos.

4 pessoas comentaram:

Eu também gostei muito desse filme. Eu nunca vi nada relacionado à franquia "Planeta dos Macacos", "A Origem" foi minha primeira experiência. E eu adorei. Realmente o filme me proporcionou sensações que um filme de ficção não conseguia há algum tempo. A cena em que o Cesar fala pela primeira vez é realmente muito empolgante. Já estou procurando o filme original de 1968 e também anseio por uma continuação, remake, que seja. É triste enxergar a falta do papel feminino no filme, através de pequenas atitudes (as vezes imperceptíveis para muitos) como essa que o machismo continua se consolidando. No entanto é um ótimo filme que deve ser apreciado :)

Eu amei esse filme! Eu sou fã da série de 1968 (embora não goste do segundo filme, o 1 e o 3 estão entre os meus filmes favoritos!). E o de 2001, assim como você, eu prefiro fingir que não existiu.
Eu achei a explicação da órigem dos símios super desenvolvidos suerior à original (que mostra que o filho de Zira e Cornelius dará origem à nova espécie, o que gera um looping temporal... eles só existem no futuro porque vieram ao passado e o filho ficou). A nova é assustadoramente plausível (embora não tenha o charme do casal de símios, que estão entre os meus personagens mais amados de todos os tempos).
É uma explicação totalmente lógica que, na minha opinião, constrói as melhores ficções científicas (gênero que eu adoro).
Uma ótima resenha, como sempre!
xoxo
Gabi N.

Eu gostava muito do filme original e fiquei decepcionado com o remake de Burton.


Por isso mesmo não tava dando bola para esse filme, mas como vejos bons comentarios de pessoas que confio, então vou dar uma chance.

Pena que não há como fazer um final com o impacto do original.

Lembro muito vagamente do filme original (a cena mais marcante que tenho da série é uma em que um general símio agarra um homem e abre a boca dele, perguntando: "Tem uma alma aí dentro?". Mas acho que foi do filme de 2001...).
Gostei de "A Origem", acho que explicou bem. Só pensava que as referências à expedição à Marte que aparece no novo filme fossem relacionadas ao filme de 2001.
Será q vai ter continuação?!

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