Covardia

Seguranças de supermercado em São Paulo torturam jovem com fios elétricos

Adolescente de 17 anos confirma ter sido amordaçado e chicoteado como mostram imagens, que teriam sido gravadas pelos próprios agressores, após o jovem furtar uma barra de chocolate

Google Street View/Reprodução
Google Street View/Reprodução
"Estamos pedindo providências urgentes para que essas pessoas sejam indiciadas pelo crime de tortura, é um crime hediondo", destaca advogado e conselheiro do Condepe

São Paulo – Um jovem de 17 anos foi vítima de tortura com fios elétricos chicoteados em seu corpo por furtar uma barra de chocolate em loja da rede de supermercado Ricoy, na região de Cidade Ademar, zona sul de São Paulo. Um dos agressores, dois seguranças do estabelecimento, teria gravado e divulgado imagens do adolescente sendo torturado para humilhar e constrangê-lo.

As cenas, no entanto, chegaram ao conhecimento de policiais civis do 80º Distrito Policial da Vila Joaniza, na zona sul da capital paulista, que na tarde desta segunda-feira (2) localizaram o jovem, que confirmou as agressões.

O caso, que virou alvo de inquérito policial, ocorreu em julho, mas não foi denunciado à época pelo adolescente por medo de retaliações. De acordo com o advogado e conselheiro do Conselho Estadual do Direito da Pessoa Humana (Condepe), Ariel de Castro Alves, que acompanha as investigações, o adolescente teria sido ameaçado de morte pelo principal agressor, identificado como Santos. A vítima também reconheceu o segundo segurança como Neto.

“Vimos as imagens e temos cenas terríveis de tortura. O rapaz foi amordaçado, amarrado, tiraram a roupa dele, e ele foi brutalmente torturado com chicotada de fios elétricos, isso teria ocorrido no próprio depósito do supermercado, numa sala do fundo”, descreve o conselheiro do Condepe em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual, sobre as agressões que teriam durado 40 minutos. “Estamos pedindo providências urgentes para que essas pessoas sejam indiciadas pelo crime de tortura, é um crime hediondo, previsto na Lei 9.455/97, com pena de dois a oito anos de prisão”.

A polícia agora aguarda que o supermercado encaminhe os dados completos dos agressores para indiciá-los. A gerência do estabelecimento alega ter afastado os dois funcionários.

Esse não é o primeiro caso de violência, discriminação e agressão praticados por seguranças de estabelecimentos comerciais no ano. Um jovem que foi morto, em fevereiro, após ser imobilizado por vigilante da rede de supermercado Extra, no Rio de Janeiro. Em comum, a vítima do extremo sul de São Paulo guarda a cor da pele, negra. O adolescente vive ainda em condição de vulnerabilidade, segundo informações do conselheiro do Condepe. Catador de materiais recicláveis, o jovem foi abandonado pelos pais e mora numa comunidade próxima ao supermercado com ajuda de um homem de 42 anos.

“É inaceitável que a propriedade esteja acima da vida. Se alguém está cometendo algum tipo de crime, seja um furto inclusive deve ser encaminhado a uma delegacia de polícia. Agora, um chocolate, é algo tão pequeno, tão pouco, que é inaceitável qualquer tipo de atitude, até levar para a delegacia, o mercado deveria ter algum tipo de finalidade social, então não poderia reivindicar uma barra de chocolate e acabar agredindo, torturando uma pessoa por causa disso”, critica Ariel de Castro Alves.

Líder do movimento de moradia consegue liberdade em São Paulo 

Na Rádio Brasil Atual, o advogado e conselheiro do Condepe, Ariel de Castro Alves, também comentou o alvará de soltura concedido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) a uma das lideranças dos movimentos de moradia, Angélica dos Santos Lima, que estava presa desde o dia 24 de junho, e agora deve cumprir medidas cautelares.

De acordo com o advogado, foi uma “decisão importante que deve beneficiar os outros acusados que estão presos injustamente”, como Sidnei Ferreira da Silva, Janice Ferreira da Silva, a Preta Ferreira, e Ednalva Silva Franco.

“Estamos entrando no Superior Tribunal de Justiça (com pedido de habeas corpus) e devemos ter um resultado ainda nessa semana”, explica o conselheiro do Condepe acrescentando que a defesa das outras nove lideranças ou ativistas, que tiveram prisões decretadas em agosto, ainda continuam trabalhando para a revogação dos pedidos que buscam “criminalizar os movimentos por moradia”.

“Nós sabemos que muitas dessas pessoas que se dizem testemunha, vítimas, na verdade são dissidentes do movimento de moradia, são pessoas que querem tomar o movimento dessas lideranças e fazem acusações mentirosas”, afirma Ariel.

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