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DUELO DE TITÃS
Joseph Stiglitz diz que Brasil deve se inspirar em emergentes de sucesso, e Douglas North afirma que se basear na história não faz sentido
Desenvolvimento vira divergência entre Prêmios Nobel
MARCELO BILLI
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
Joseph Stiglitz, 63, Prêmio Nobel de Economia, diz acreditar
que o Brasil devia se inspirar na
experiência de países emergentes
que aparentemente encontraram
o caminho para o crescimento
-e desenvolvimento- sustentável. Douglas North, 86, outro
ganhador do Nobel, diz que os
economistas nem sequer conseguiram descobrir como o desenvolvimento "acontece" e que basear-se na história para escolher
as políticas econômicas do presente não faz sentido.
Ambos estão no Brasil. Ontem,
debateram temas como crescimento e desenvolvimento em
conferências organizadas pelo
Banco Interamericano de Desenvolvimento. Fora o fato de serem
ganhadores do Nobel, os dois
têm pouco em comum e protagonizaram o debate mais acalorado dos dois primeiros dias de
seminários em Belo Horizonte,
onde ocorre a reunião da instituição.
Stiglitz é crítico das políticas de
liberalização promovidas nos
anos 90 em toda a América Latina. Diz, por exemplo, que países
como o Brasil deveriam olhar para a Ásia, que se desenvolveu, na
visão dele, com um modelo econômico que incluía participação
ativa do Estado, juros baixos,
controle de câmbio e incentivo às
exportações.
Ele, claro, não diz que a experiência é completamente replicável na América Latina ou no Brasil, dentre outros motivos, porque ela fazia sentido no final dos
anos 80. Bonde perdido. "Mas há
evidência de que países que crescem o fazem com juros baixos e
câmbio competitivo", insiste.
North, que debateu com Stiglitz e o economista John Williamson, o "pai" do Consenso de
Washington, nem sequer conseguia disfarçar seu desconforto
enquanto os demais debatedores
defendiam "políticas adequadas
ao crescimento". Separado de
Stiglitz por outros quatro membros da mesa de debates, ele se
revirava na cadeira, fazia caretas,
quase bufava.
E soltou, com vitalidade, em
sua primeira intervenção: "O que
nós aprendemos sobre desenvolvimento?". Ele mesmo responde:
"nada". Tirando os exageros exigidos pela retórica própria do debate, mais tarde, em entrevista
concedida a um grupo de jornalistas, ele insistia em seu ponto.
Processo complexo
O desenvolvimento econômico, diz ele, é um processo complexo. "Nós não temos um corpo
de teoria econômica para entender completamente o desenvolvimento." Mas, como todo economista, ele tem sua obsessão.
North construiu sua carreira demonstrando o quão importante
as instituições são para garantir o
crescimento sustentável.
Uma economia de mercado
precisa de um sistema de "trocas
impessoais" para funcionar.
Quanto menos pessoais forem as
relações econômicas, quanto
menos sujeitas à intervenção de
pessoas, políticos, governo,
maior a capacidade de crescer
sem grandes sustos. Essa "impessoalidade" é conseguida justamente com a criação de instituições. Instituições que garantem que os mercados funcionem
o mais perto possível daquele
mercado perfeito idealizado por
Adam Smith, diz North.
Copiar o Fed
Os conselhos dele param mais
ou menos por ai. Há um modelo
perfeito de banco central? O Brasil, por exemplo, poderia copiar
o Federal Reserve, como tantas
vezes parecem querer economistas do próprio BC brasileiro. Para
North, não. Tentar copiar experiências passadas ou de outros
lugares tende a levar ao fracasso.
Primeiro, porque o mundo de
hoje é muito diferente do de ontem. "As políticas de ontem podem até funcionar hoje, mas provavelmente não funcionarão
amanhã", diz. Segundo, porque
os economistas ainda não aprenderam a identificar o que move
as pessoas a fazer suas escolhas,
ou melhor, o que faz com que
certas crenças surjam em uma
determinada população, e não
em outra. Motivo pelo qual uma
instituição pode fazer sentido
para um país e ser desastrosa para outra. "Vocês não podem
crescer como a China. Vocês não
querem crescer como a China,
que é uma ditadura autoritária",
provoca.
Stiglitz insiste. Como os indivíduos, os países podem aprender
com os erros e acertos dos seus
pares. Ou, nos termos do economista, "adotar políticas em função das histórias de sucesso ou
fracasso, compartilhando experiências", diz o Prêmio Nobel,
que zomba da noção de mercado
perfeito.
"A única razão de chamarmos
a mão invisível [dos mercados
competitivos] de invisível é o fato de ela não estar lá."
North não arreda o pé. E enumera os fracassos de economistas que desde a 2ª Guerra têm
aconselhado os países em desenvolvimento. "Primeiro achamos
que essas economias funcionavam como a economia dos Estados Unidos ou qualquer outra
desenvolvida, depois que o Estado era a solução. Depois de US$
100 bilhões de empréstimos desperdiçados, descobrimos que estava errado."
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