E tem gente que se acha… (Texto de Mario Sergio Cortella)
27/01/2010 at 10:36 AM 17 comentários
Física Quântica: indicada para casos crônicos de falta de humildade.
Quando se pensa e se faz o trabalho como obra poética em vez de sofrimento costumaz, sempre vem à mente a questão do “trabalho digno”, isto é, aqueles ou aquelas que se consideram superiores como seres humanos apenas porque têm um emprego socialmente mais valorizado.
Aliás, é sempre nesses casos que entra em cena o famoso “sabe com quem você está falando?”
Um dia procurei representar uma possível resposta científica a essa arrogante pergunta, e, de forma sintética, registrei essa representação em um livro meu chamado A escola e o conhecimento (Cortez); agora, de forma mais extensa e coloquial, aqui vai este relato, partindo do nosso lugar maior, o universo, até chegar a nós.
Hoje, em física quântica, não se fala mais um universo, mas em multiverso. A suposição de que exista um único universo não tem mais lugar na Física. A ciência fala em multiverso e que estamos em um dos universos possíveis. Este tem provavelmente o formato cilíndrico, em função da curvatura do espaço, portanto, ele é finito e tem porta de saída, que são os buracos negros, por onde ele vai minando e se esvaziando. Até 2002, era quase certo que o nosso universo fosse cilíndrico, hoje já há alguma suspeita de que talvez não. Mas a teoria ainda não foi derrubada em sua totalidade. Supõe-se que este universo possível em que estamos apareceu há 15 bilhões de anos. Alguns falam em 13 bilhões, outros em 18, mas a hipótese menos implausível no momento é que estamos num universo que apareceu há 15 bilhões de anos, resultante de uma grande explosão, que o cientista inglês Fred Hoyle apelidou de gozação de big-bang, e esse nome pegou.
Qual é a lógica? Há 15 bilhões de anos, é como se se pegasse uma mola e fosse apertando, apertando, apertando até o limite, e se amarrasse com uma cordinha. Imagine o que tem ali de matéria concentrada e energia retida! Supostamente, nesse período, todo o universo estava num único ponto adensado, como uma mola apertada e, então, alguém, alguma força – Deus, não sei, aqui a discussão é de outra natureza – cortou a cordinha. E aí, essa mola, o nosso universo está em expansão até hoje. E haverá um momento em que ele chegará ao máximo de elasticidade e irá encolher outra vez. A ciência já calculou que o encolhimento acontecerá em 12 bilhões de anos. Fique tranqüilo, até lá você já estará aposentado pelas novas regras.
Você pode cogitar algo que a Física tem como teoria: ele vai encolher e se expandir outra vez. Talvez haja uma lei do universo em que o movimento da vida é expansão e encolhimento. Como é o nosso pulmão, como bate o nosso coração, com sístole e diástole. Como é o movimento do nosso sexo, que expande e encolhe, seja o masculino, seja o feminino. Parece que existe uma lógica nisso, que os orientais, especialmente os chineses e indianos, capturaram em suas religiões, aquela coisa do inspirar e expirar. Parece haver uma lógica nisso, a ciência tem isso como hipótese.
Assim, há 15 bilhões de anos, houve uma grande explosão atômica, que gerou uma aceleração inacreditável de matéria e liberação de energia. Essa matéria se agregou formando o que nós, humanos, chamamos de estrelas e elas se juntaram, formando o que chamamos de galáxias (do grego galaktos, leite). A ciência calcula que existam em nosso universo aproximadamente 200 bilhões de galáxias. Uma delas é a nossa, a Via Láctea, que é “leite”, em latim. Aliás, nem é uma galáxia tão grande; calcula-se que ela tenha cerca de 100 bilhões de estrelas. Portanto, estamos em uma galáxia, que é uma entre 200 bilhões de galáxias, num dos universos possíveis e que vai desaparecer.
Nessa nossa galáxia, repleta de estrelas, uma delas é o que agora chamam de estrela-anã, o Sol. Em volta dessa estrelinha giram algumas massas planetárias sem luz própria, nove ao todo, talvez oito (pela polêmica classificação em debate). A terceira delas, a partir do Sol, é a Terra. O que é a Terra?
A Terra é um planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer. Veja como nós somos importantes….
Aliás, veja como nós temos razão de nos termos considerado na história o centro do universo. Tem gente que é tão humilde que acha que Deus fez tudo isso só para nós existirmos aqui. Isso é que é um Deus que entende da relação custo-benefício. Tem indivíduo que acha coisa pior, que Deus fez tudo isso só para esta pessoa existir. Com o dinheiro que carrega, com a cor da pele que tem, com a escola que freqüentou, com o sotaque que usa, com a religião que pratica.
Nesse lugarzinho tem uma coisa chamada vida. A ciência calcula que em nosso planeta haja mais de trinta milhões de espécies de vida, mas até agora só classificou por volta de três milhões de espécies. Uma delas é a nossa: homo sapiens. Que é uma entre três milhões de espécies já classificadas, que vive num planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer.
Essa espécie tem, em 2007, aproximadamente 6,4 bilhões de indivíduos. Um deles é você.
Você é um entre 6,4 bilhões de indivíduos, pertencente a uma única espécie, entre outras três milhões de espécies classificadas, que vive num planetinha, que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer.
É por isso que todas as vezes na vida que alguém me pergunta: “Você sabe com quem está falando?”, eu respondo: “Você tem tempo?”
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1. » Blog Archive » E tem gente que se acha | 13/04/2011 às 10:02 PM
[…] por Mário Sérgio Cortella (Wikipédia)- Vi aqui […]
2. Roselaine | 24/04/2011 às 9:09 PM
Muito bom! Muito bom mesmo!
3. osvaldo | 21/05/2011 às 3:03 PM
quem falou que o mumdo surgiu de uma explsao, com certeza, e conversa de cientista. mais deus nao falou para nimguem. agora, e melhor houvir abobrinha, do que ser surdo. por que todas especie de explosao , que conhecemos, so distroi. agora, baseada na primeira explosao,nao poderia alguem pegar o formato da bomba para criarem outros universos? ja que o homem gosta de se aparecer?
4. Gerson. | 27/09/2011 às 10:43 AM
Caro Osvaldo. Antes de criticar os outros, sugiro que você volte aos bancos escolares para estudar um pouco mais e, pelo menos, aprender a escrever corretamente. Criticar os outros é muito fácil, estudar e ter conhecimento suficiente para discutir de igual para igual é que é o difícil.
5. Sil | 02/03/2012 às 6:29 PM
Pelo jeito voçê não entendeu nada da mensagem.
Pra ficar mais fácil veja a palestra no Yotube, quem sabe assim você enrtende a mensagem.
6. Sayonara | 12/05/2013 às 12:09 PM
O mundo pode não ter surgido de uma explosão, mas o português de muita gente já explodiu há tempos!!!!
7. Sa Schrank | 12/08/2011 às 2:08 PM
MUITO BOM!! ADOREI….
8. Carlos Lemes | 06/11/2011 às 7:06 AM
Esse Osvaldo deve ser mais um cara que deve falar a tal frase:
– Você sabe com quem está falando?
9. Manoel Maurício Lemos de Sá Cruz | 27/12/2011 às 11:11 PM
Olá,Gostaria de parabenizar o teólogo e Educador Mario Segio Cortella,com uma dinâmica perfeita o mestre aborda um dos temas mais intrincados da ciência moderna,a fisíca quântica,a exposição dos fatos é perfeita,digna de um grande mestre e sábio.
10. Gerson | 26/01/2012 às 4:58 AM
O meu chará, Gerson, mandou muito bem no texto acima, quando se referiu ao tal de Osvaldo, que parece não saber nada sobre Mário Sergio Cortella e muito menos de língua portuguesa… rsrs !!! Eu posso até imaginar o tipo de “livro” que esse anti-cientista lê…
11. Rogerio | 18/02/2012 às 6:08 PM
Excelente apresentação do tema por Cortella. Como sempre, uma mente brillhante para termos sempre do nosso lado.
12. Sil | 02/03/2012 às 6:32 PM
Vi o video da palestra pelo yotube, muito bom. Aprendemos que na realidade não somos realmente o “Vice-teco do Sub-troço”, kkkkkk.
13. Antonio Prado | 11/05/2012 às 11:36 AM
Sem dúvida uma interessante reflexão, principalmente quando achamos que estamos com enormes problemas. Muito bom mesmo! E a resposta? “Voce tem tempo?” rsrs perfeita!
14. José JM | 18/01/2013 às 1:15 PM
“SABE COM QUEM VOCÊ ESTÁ FALANDO ?”
Ouvi várias vezes esta frase. Como me diminuía, depois só incomodava, hoje eu lamento.
Se fosse possível, em uma lista, classifica-lo em grau de importância, você estaria no topo, em primeiro lugar, logo acima do nada, e mais nada.
Obrigado mestre. Quando aqui estiver, irei assisti-lo.
15. Marcia Rios Brandão | 20/10/2013 às 9:57 PM
Somente uma pessoa com um grau de lucidez como do Prof. poderia fazer com tanta precisão , uma definição tão bem sucedida referente ao grau de importância do ser humano.
Obrigada por eu poder ser privilegiada de poder ler um texto com tamanha grandeza e beleza.
Márcia
16. Jessica Anne | 19/04/2014 às 4:30 PM
Excelente conclusão, a qual o professor chegou. Isso só mostra, mais uma vez, que a espécie humana não tem tanta importância, como muitos acreditam… Dentro do universo somos apenas mais um, entre uma infinidade de seres…
17. mr | 16/10/2015 às 8:46 PM
genial!!