Falta de investimentos prejudica trabalho e potencialidade da Polícia Civil

Em entrevista ao RDtv, a delegada e presidente do Sindesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), Raquel Kobashi Gallinati, defendeu a necessidade de investimentos por parte do governo do Estado no setor de segurança pública e denunciou a falta de visibilidade e potencialidade para efetivos trabalhos da Polícia Civil.

No comando do Sindesp desde 2017, a delegada afirma que embora tenha se esforçado para denunciar os descasos no setor, a falta de investimentos e alertado sobre as necessidades reais da Polícia Civil, o balanço ainda é negativo, uma vez que no Estado há déficit de pelo menos 14 mil policiais civis e que o setor é esquecido pelo Estado. “Junto com a saúde e a educação, a segurança pública faz parte do pilar dos direitos sociais do cidadão, e sem investimentos, você desestrutura toda uma base. Estamos esquecidos e não é de agora, vem de gestões de pelo menos 20 anos”, garante. “A Segurança Pública não é uma opção, é uma obrigação, e está em falta”, afirma.

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Com função de prevenir, repreender e investigar, a Polícia Civil do Estado de São Paulo enfrenta muitas dificuldades, entre elas a falta de material e estrutura, o que impacta diretamente nas ocorrências. “Temos policiais bem preparados, mas falta estrutura em maquinários, viaturas e armamentos. Equipamentos básicos como colete balístico estão em falta pra mais da metade dos policiais que temos hoje”, afirma ao lembrar que a corporação exerce as atribuições mesmo com a vida em risco. “Não deixam de exercer o trabalho, mas sabemos do perigo”, completa.

Raquel cita ainda a morosidade dos concursos públicos para chamamento de novos homens para o efetivo e considera a necessidade de aceleração de aberturas periódicas nas contratações. De acordo com a especialista, há candidatos desde 2013 que foram aprovados no entanto não foram chamados para fazer parte do efetivo. “E o chamamento vai expirar agora em agosto”, lembra. Segundo ela, outros concursos estão em andamento, mas houve hiato na abertura de vagas. “Temos um atraso de pelo menos cinco anos para chamar os novos guardas”, explica.

Mesmo com o déficit de 14 mil profissionais no Estado e pelo menos 664 na região, Raquel conta que o baixo salário e os remanejamentos de profissionais interferem no trabalho desenvolvido em todo o Estado, até mesmo em serviços mais simples como registros de boletim de ocorrência. “As vezes criam delegacias ou bases para maquiar a falta de segurança e redirecionam o pouco de profissionais que temos, inclusive delegados e investigadores”, explica.

Embora a função primordial da Polícia Civil seja a investigação, sem investimentos na corporação e na Polícia Judicial, o crime é facilitado. “O criminoso se sente impune quando não entra no sistema de justiça criminal para responder seus crimes, e deste modo se facilita a criminalidade a partir do momento em que não dá a certeza do castigo para quem pratica o crime”, afirma.

Para mudar o cenário, a delegada pede maior atenção do governador e suspensão dos remanejamentos dos poucos profissionais que ainda restam nas corporações. “Temos orçamento para proporcionar serviço público da qualidade, mas precisamos de mais atenção e investimentos para que os delegados e policiais exerçam suas atribuições legais e constitucionais com qualidade”, pede ao lembrar que a falta de investimentos não deve refletir em outras forças policiais como na Polícia Militar. “Sabemos da importância do serviço da Polícia Militar e ficamos felizes com o anúncio de entrega das novas viaturas recentemente feito pelo governador João Doria, mas precisamos focar na base, na investigação”, acrescenta.

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