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  • Foto do escritorO Caleidoscópio

#07 [Introdução] Um livro cheio de paralelos (Parte 2)

Atualizado: 30 de ago. de 2020


O livro de Apocalipse não foi escrito no vácuo. João, quando o escreveu, foi profundamente influenciado por sua mente hebraica e pelos escritos do Antigo Testamento. Pela quantidade de relações com os autores do AT, podemos dizer que o Apocalipse é o livro mais hebreu que qualquer outro livro que temos no Novo Testamento. De acordo com Jacques Doukhan, “Ele contém mais de 1000 alusões ao Antigo Testamento, incluindo 400 referências explícitas e 90 citações literais do Pentateuco e dos Profetas”. [1]


A linguagem do Apocalipse é pensada inteiramente através da mentalidade hebraica do Antigo Testamento. Essa característica especial do livro nos leva a lê-lo à luz do seu próprio contexto. O livro reflete o mundo hebreu com sua cultura, tradições e costumes.


Ao longo do nosso estudo, você vai perceber que iremos usar este princípio de interpretação durante toda a nossa análise, portanto, ao estudarmos, mantenha em sua mente: Para entender o Apocalipse, devemos lê-lo com base no Antigo Testamento.


Além disso, é curioso que um livro específico do AT tenha uma relação especial com o último livro da Bíblia: o livro de Daniel. Desde o início até a parte final dos escritos de João, podemos perceber como que os dois livros estão intimamente conectados. O Apocalipse alude mais ao livro de Daniel do que qualquer outra porção da Bíblia.


Algumas relações literárias do livro de Daniel e Apocalipse



Conexão 1: Na primeira palavra do livro de Apocalipse (ἀποκάλυψις [apokalypsis], que significa “revelação”) percebe-se já a primeira conexão com Daniel. Essa palavra vem do grego (ἀποκαλύπτω [apokalýptō], que significa “revelar um segredo”], o autor aqui nos diz que algo (um segredo) está para ser revelado. O interessante é que este verbo [revelar] é também uma das palavras chave do livro de Daniel (גלה [ḡālēhʹ]) na qual ocorre sete vezes no livro (Dn 2:19, 22, 28, 29, 30, 47 [2x]) .



Conexão 2: Percebemos que estes dois livros introduzem visões proféticas que precisam ser “reveladas”, e que estão associados com algo que está em “segredo” (רָזָ֥ה [rāzāhʹ]) no livro de Daniel (Dn 2:18, 19, 27, 28, 29, 30, 47; 4:9). Essas alusões proféticas em comum de Daniel e Apocalipse nos mostra que a “revelação (apocalipse) de João” nos leva de volta aos “segredos de Daniel”.



Conexão 3: Até a expressão técnica “Eu, João” que o profeta usa para introduzir sua visão, faz eco ao “Eu, Daniel” do livro do Antigo Testamento. “Eu, Daniel” - O livro de Daniel emprega a expressão sete vezes para introduzir a visão apocalíptica.

“Eu, João” - Ap 1:4, 1:9; 22:8.

“Eu, Daniel” - Dn 7:15, 28; 8:15, 27; 9:2; 10:2, 7



Conexão 4: Desde o início, o autor do Apocalipse coloca-se na mesma perspectiva da profecia de Daniel como é sugerida pelo título “Revelação” e a primeira bem-aventurança que introduz o livro e orienta sua leitura.




Conexão 5: A primeira profecia apresentada no livro de Apocalipse é a da vinda de Jesus Cristo. João descreve o Messias (Ap 1:7) como é descrito no livro de Daniel (Dn 7:13): “Eis que vem com as nuvens”.





Apocalipse começa com uma bem-aventurança que faz alusão à última bem-aventurança do livro de Daniel: “Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo.” (Ap 1:3). Daniel declarou: “Bem-aventurado o que espera e chega até mil trezentos e trinta e cinco dias. Tu, porém, segue o teu caminho até ao fim; pois descansarás e, ao fim dos dias, te levantarás para receber a tua herança” (Dn 12:12-13).


Nos seus versos iniciais, o livro de Apocalipse primeiramente nos chama para ler. “Bem-aventurado é aquele que lê”. As bênçãos emergem da revelação, “um segredo revelado”, um Apocalipse. A bem-aventurança sugere que a felicidade implica na necessidade de uma revelação. De outra forma, poderemos perder o foco.


Os paralelos entre os livros de Daniel e Apocalipse fornecem as primeiras pistas de como devemos ler o último livro da Bíblia. Ambos os livros tem fraseologia similar, possuem as mesmas visões, os mesmos temas e as mesmas alusões. Portanto, as referências ao livro de Daniel precisam guiar nosso estudo quando tentamos interpretar o Apocalipse.


Portanto, você perceberá que ao longo de nossa jornada de estudo do Apocalipse iremos nos referir bastante ao Antigo Testamento - especialmente ao livro de Daniel -, para encontrar pistas de como entender o que João escreveu em sua carta.

Referências:


DOUKHAN, Jacques. Secrets of Revelation: The Apocalypse Through Hebrew Eyes. Hagerstown: Review and Herald Publishing Association, 2002.





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