CAFFERY,
Jefferson
*diplomata norte-americano; emb. EUA no Brasil
1937-1945.
Jefferson Caffery nasceu
em Lafayette, no estado de Louisiana (EUA), em 1º de dezembro de 1886, filho de
Charles Duval Caffery e de Mary Catherine Parkerson Caffery.
Formou-se
em direito pela Universidade de Tulane em 1906, trabalhando a partir de 1909 na
Corte de Justiça de Louisiana. Em 1911, ingressou na carreira diplomática, no
posto de secretário da embaixada norte-americana na Venezuela. Serviu em
Estocolmo de 1913 a 1915, foi transferido para Teerã em 1916 e no ano seguinte,
com a queda do czarismo na Rússia, retornou a Washington para servir como adido
à Missão Especial Russa que visitou os EUA.
Ainda em 1917, após a entrada dos Estados Unidos na Primeira
Guerra Mundial, foi designado secretário da embaixada norte-americana em Paris
e passou a integrar o Comitê Interaliado de Tratamento e Instrução de Soldados
e Marinheiros Inválidos. Em 1918, chefiou a delegação dos EUA à Conferência
Internacional de Londres e, no ano seguinte, participou das conversações de paz
realizadas em Paris na qualidade de assessor do presidente Woodrow Wilson. No
final de 1919, foi nomeado conselheiro da embaixada na Espanha, e em 1922
deixou Madri, passando a servir em Atenas. Transferido para Tóquio no ano
seguinte, lá permaneceu até 1925, quando seguiu para Berlim.
Em 1926, foi nomeado embaixador dos EUA em San Salvador,
permanecendo nesse posto até 1928, quando foi transferido para a Colômbia. Em
1931, o presidente Franklin Delano Roosevelt enviou-o em missão especial para
San Salvador, e em 1934 foi nomeado embaixador em Cuba.
Em julho de 1937, Caffery assumiu a embaixada dos EUA no
Brasil, substituindo Hugh Gibson. Logo de início, travou conversação com o
Itamarati sobre o projeto de nacionalização das companhias de seguro
estrangeiras, obtendo do chanceler Mário de Pimentel Brandão a promessa de que
se empenharia em favor da revisão do projeto. A reforma da legislação se
efetivou em 1939, com a criação do Instituto de Resseguros do Brasil.
Em
novembro de 1937, após a instauração do Estado Novo, o subsecretário de Estado
norte-americano Sumner Welles manifestou ao embaixador brasileiro em
Washington, Osvaldo Aranha, a apreensão dos EUA em face dos novos rumos da
política brasileira. A suspensão do serviço da dívida externa pelo regime
recém-inaugurado provocara sérios protestos, e o Conselho de Proteção aos
Acionistas enviara ao Departamento de Estado um memorando pedindo-lhe que não
reconhecesse a nova situação política brasileira. Na ocasião, Caffery
telegrafou a Welles negando qualquer vinculação do novo regime com o Eixo e
afirmando que considerava contraproducente pressionar o governo de Vargas para
obter uma definição sobre o problema das dívidas externas.
Em sua opinião, mais grave que a suspensão do pagamento do
serviço das dívidas seria o não-cumprimento das promessas brasileiras de
restringir o comércio de compensação com a Alemanha. Em maio de 1938, alarmado
com o contínuo crescimento das trocas entre Alemanha e Brasil, Caffery chegou a
propor a adoção de “medidas de retaliação, tendo em vista uma clara pressão
econômica”. Seguiu-se um período de intensa troca de informações entre os dois
governos sobre os problemas cambiais e de comércio exterior até que, em
fevereiro de 1939, o chanceler Osvaldo Aranha viajou a Washington para amplas
conversações sobre as relações Brasil-EUA. Em termos imediatos, a Missão
Osvaldo Aranha acertou a retomada do pagamento das dívidas externas e as
visitas do general George Marshall ao Brasil e do general Pedro Aurélio de Góis
Monteiro aos EUA ainda em 1939.
A eclosão da Segunda Guerra Mundial em setembro desse mesmo
ano provocou uma queda acentuada do comércio entre o Brasil e a Alemanha, em
virtude do bloqueio marítimo inglês. Apesar disso, Vargas manteve a política de
eqüidistância entre Alemanha e EUA, principal trunfo de sua política externa,
procurando inclusive tomar partido da rivalidade entre as duas potências para
realizar alguns projetos importantes, principalmente a implantação da
siderurgia no Brasil.
Em 11 de junho de 1940, Vargas pronunciou a bordo do
couraçado Minas Gerais um discurso em que declarava a caducidade
dos regimes políticos liberais e defendia enfaticamente o papel do Estado no
fortalecimento econômico e militar do Brasil. O pronunciamento foi considerado
simpático ao Eixo, e teve grande repercussão.
Ainda
em junho, Vargas voltou à carga, condicionando a colaboração pan-americana à
ajuda efetiva dos EUA. Em carta ao Departamento de Estado norte-americano,
Caffery considerava que o momento era decisivo: “Se os alemães fornecerem as
armas e financiarem o projeto siderúrgico, será em vão esperarmos conservar
nossa atual posição no Brasil.” Logo em seguida, o governo norte-americano
revelou ao embaixador brasileiro em Washington, Carlos Martins, seu interesse
em apressar as negociações sobre o empréstimo para a indústria siderúrgica, e,
em 24 de setembro, o Eximbank concedeu ao Brasil crédito no valor de 20 milhões
de dólares para a construção da usina de Volta Redonda.
Em 1941, estreitou-se progressivamente a colaboração entre
Brasil e EUA no plano da defesa do hemisfério. Em 18 de abril, Caffery obteve
de Osvaldo Aranha a concordância para que a Marinha de Guerra dos EUA passasse
a utilizar os portos de Recife e Salvador. Em 14 de maio, os dois governos —
representados por Caffery e W. Lee Pierson e por Osvaldo Aranha e Artur de
Sousa Costa — trocaram notas para o estabelecimento de um programa de exportação
de materiais estratégicos brasileiros para os EUA e de armamentos
norte-americanos para o Brasil.
Entretanto, enquanto os planos norte-americanos previam a
utilização de bases militares no litoral do Nordeste, os chefes militares
brasileiros, tendo à frente Eurico Dutra e Góis Monteiro, relutavam em discutir
o problema, pois defendiam energicamente a neutralidade do Brasil na guerra.
Em junho, o general George Marshall sugeriu a participação de
tropas norte-americanas em manobras planejadas pelas forças armadas brasileiras
para o Nordeste. Na verdade, a proposta de Marshall encobria um plano para a
ocupação das bases da região, a fim de prevenir a invasão alemã que se
considerava iminente. Osvaldo Aranha e Caffery discutiram o assunto, e o
chanceler brasileiro mostrou-se profundamente alarmado com o plano do general
Marshall, afirmando ainda que considerava inoportuno pedir a Vargas permissão
para estacionar tropas norte-americanas no Nordeste. Atendendo às recomendações
de Caffery, o Departamento de Estado ordenou a suspensão do plano.
Logo, porém, os EUA tiveram garantida a utilização das bases
aéreas e navais brasileiras, através do acordo que, em 24 de julho de 1941,
criou a Comissão Mista Brasil-EUA de Oficiais de Estado-Maior. Ainda em 1941,
Caffery recebeu o título de doutor da Universidade Católica da América.
Após a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado
das nações aliadas em agosto de 1942, Caffery manteve relações ainda mais
estreitas com os governantes brasileiros, especialmente com Vargas, de quem se
tornara amigo. Em janeiro de 1943, participou do encontro em Natal entre Vargas
e o presidente dos EUA Franklin Roosevelt. Nesse mesmo ano, recebeu o título de
doutor honoris causa da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade
do Brasil e foi eleito membro honorário da Associação Brasileira de Advogados.
Em
março de 1944, às vésperas do envio do primeiro contingente de tropas
brasileiras à Itália, Caffery foi homenageado pelo Exército brasileiro,
representado pelo general Dutra, ministro da Guerra. Em agosto, por ocasião do
fechamento da Sociedade Amigos da América, centro de oposição ao regime,
Caffery escreveu a Vargas lamentando a decisão e manifestando a preocupação do
governo norte-americano ante a aproximação entre o Brasil e a Argentina, a qual
se vinha mantendo em renitente posição de neutralidade desde o início da
guerra.
Em
janeiro de 1945, Caffery encerrou sua missão no Brasil, sendo substituído por
Adolf Berle Jr. Nesse mesmo ano, assumiu a embaixada dos EUA em Paris, participando
ainda da Conferência de Potsdam, na zona de ocupação soviética na Alemanha, à
qual compareceram os chefes de governo dos EUA, Inglaterra e União Soviética.
Em fevereiro de 1947, assinou, em Paris, o tratado de paz com
Itália, Hungria, Romênia e Bulgária, como representante dos EUA. Em dezembro de
1948, foi designado delegado dos EUA no Conselho de Segurança da Organização
das Nações Unidas (ONU) e, no ano seguinte, embaixador no Egito, cargo que
exerceu até 1955.
Faleceu em Lafayette no dia 13 de abril de 1974.
Foi casado com Gertrude McCarthy.
Paulo
Brandi
FONTES: BANDEIRA,
L. Presença; CORRESP. EMB. EUA; ENTREV. ABREU, M.; International; SILVA,
H. 1939; Who’s who in America with; World.