Brasil de Fato PR - Edição 105

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Última rodada do Brasileirão O drama da luta contra o rebaixamento e por uma vaga na Libertadores

Bruno Cantini | Atlético Mineiro

Esportes | p. 8

Brasil | p. 6

Marinete, uma lutadora Mãe de Marielle Franco luta pela justiça e memória da filha

Anistia Internacional

PARANÁ

Ano 3

Edição 104

29 de novembro a 6 de dezembro

distribuição gratuita

‘PROJETO DO DESEMPREGO’ TEM SEMANA DECISIVA

www.brasildefato.com.br/parana

Editorial | p. 2

Pouca presença de mulheres Ministérios de Bolsonaro refletem o machismo presente na política

Brasil | p. 6

Medicina preventiva História de médico cubano que criou programa de prevenção no Paraná Joka Madruga

Proposta de Rafael Greca de eliminar cobradores dos ônibus pode ser votada no começo de dezembro Cidades | p. 5 Giorgia Prates

ENTREVISTA Em conversa exclusiva com o Brasil de Fato Paraná, Fernando Haddad defende articulação de Frente Progressista Internacional para barrar avanço da direita conservadora na América e Europa Brasil | pág. 4


Paraná, 29 de novembro a 5 de dezembro de 2018

2 | Opinião

A pouca presença de mulheres nos ministérios de Bolsonaro

EDITORIAL

Brasil de Fato PR

SEMANA

B

Ministério da Defesa (General Ferolsonaro já tem definidos 13 nando Azevedo e Silva), e o Minisdos possíveis 15 a 19 ministétério de Ciência e Tecnologia, (Terios. Até agora, o perfil dos escolhinente-Coronel Marcos dos é masculino, branPontes). co, militar e de caráter Já a única mulher privatista. Os militaOs ministros indicada é represenres têm a maior inserjá definidos tante da bancada rução no poder executipor Bolsonaro ralista e conhecida por vo desde o período da defender o aumento ditadura. Um exemplo anunciam a do uso de agrotóxicos é a secretaria de govercrônica de no país. Ainda que seja no, responsável pela mulher, Tereza Crisarticulação entre miuma tragédia tina está longe de denistérios, parlamento anunciada fender pautas que proe coordenação de gomovam a igualdade de verno, destinada ao gênero. Por tudo isso, general Carlos Cruz. os ministérios de Bolsonaro anunOutros três militares ocuparão ciam a crônica de uma tragédia o Gabinete de Segurança Instituanunciada. cional (General Augusto Heleno), o

ERRAMOS No editorial da edição 103, nos referimos a Tereza Cristina como “musa do veneno”. O termo cunhado por seus colegas de Câmara representa uma posição machista ao se referir à futura ministra. Reconhecemos nosso equívoco ao reproduzir o termo. Devemos questionar as posições da ministra indicada, mas de forma alguma trazer expressões que rebaixem ou desqualifiquem seu gênero.

OPINIÃO

Dos navios negreiros aos “navios prisões”: a escravidão é aqui Mariana Pitasse,

jornalista, editora do Brasil de Fato RJ e doutoranda em Antropologia na Universidade Federal Fluminense (UFF)

E

m um porão escuro e úmido, centenas de homens e mulheres se espremem para caber em um espaço limitado demais para todos. Eles estão muito próximos e aprisionados em correntes de ferro. O mau cheiro, a sujeira, os trapos que cobrem seus corpos denunciam que eles não têm condições mínimas de higiene e sobrevivência. A descrição acima poderia ser de um passado muitas vezes esquecido nas narrativas que tratam sobre os transportes de negros escravizados, do continente africano ao Brasil, nos navios negreiros até o século 19. Porém, está mais atualizada do que nunca. Pouco antes do segundo turno das eleições, o governador eleito pelo Rio de Janeiro, Wilson

Witzel (PSC), declarou que um de seus planos para área da segurança pública no estado é fazer “navios presídios em alto mar” para abrigar o contingente de presos que não cabem em terra. Não é gratuito que a proposta de “navios presídios” lembre os navios negreiros. Vale ressaltar que o número de pessoas encarceradas no Brasil chegou a 726.712 em junho de 2016 - o terceiro maior do mundo. Mais da metade dessa popula-

Vale ressaltar que o número de pessoas encarceradas no Brasil chegou a 726.712 em junho de 2016

ção é formada por jovens de 18 a 29 anos e 64% são negros, segundo dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen). Ainda segundo levantamento, o sistema prisional brasileiro tem 368.049 vagas, o que faz com que 89% da população prisional esteja em unidades superlotadas. Também é preciso lembrar que as condições impostas à população carcerária têm mais pontos em comum com o período da escravidão. A tortura ainda é parte integrante do sistema carcerário brasileiro, segundo aponta o relatório “Tortura em Tempos de Encarceramento em Massa”, da Pastoral Carcerária. Fora a agressão física, o mero ato de privar uma pessoa de sua liberdade e colocá-la em uma cela superlotada, sem ventilação, higiene e outras condições minimamente aceitáveis, o que constitui uma forma de tortura.

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 105 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Franciele Petry Schramm, Laís Melo e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Mariana Pitasse, Bárbara Lia ARTICULISTAS Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Gibran Mendes, Giorgia Prates e Joka Madruga DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook. com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail. com IMPRESSÃO Grafinorte | 41 99926-1113


Brasil de Fato PR

Geral | 3

Paraná, 29 de novembro a 5 de dezembro de 2018

FRASE DA SEMANA

Pedágio não sobe?

Divulgação

A tarifa de pedágio deveria subir no começo de dezembro. Mas uma decisão da Justiça Federal do Paraná desinstalou a Praça de Jacarezinho, administrada pela Econorte, e mandou reduzir preços. Agora, o MP quer que isso se estenda para todo o estado, além de obrigar as concessionárias a apresentarem as planilhas para a Agência Reguladora do Paraná (Agepar). O deputado estadual Requião Filho (MDB) comemorou a decisão: “o pedágio no Paraná é um grande trambique”.

disse a deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), ao ter a palavra cassada por Marcos Rogério (DEM-RO), deputado que preside a comissão que analisa o projeto do Escola Sem Partido. E complementa: “aos homens que estavam inscritos ele concedeu a palavra.” Divulgação

Os proprietários de veículos emplacados no Paraná tem até sexta-feira (30) para transferir os créditos acumulados do Nota Paraná para quitar ou diminuir o valor de IPVA de 2019. A transferência de créditos pode ser feita pelo portal www.notaparana.pr.gov.br ou pelo aplicativo do programa Nota Paraná. Para utilização, os créditos deverão estar na conta do Nota Paraná cadastrada com o mesmo CPF do proprietário do veículo (Fazenda/PR).

Mulheres negras na luta

Número de pessoas em situação de rua cresce 61% em Maringá Ana Carolina Caldas A população em situação de rua em Maringá cresceu 61% de 2017 a 2018, segundo dados da pesquisa “A População em Situação de Rua em Maringá: Descontruindo a Invisibilidade”. Em 2017 havia 222 e, em 2018, 357. O estudo é realizada pelo Observatório das Metrópoles da Universidade Estadual de Maringá (UEM) desde 2015. Segundo a coordenadora do observatório e da pesquisa, a socióloga Ana Lúcia Rodrigues, “o desemprego tem sido crescente nesses quatro anos, quando a pergunta se refere à causa para a pessoa estar em situação de rua. Pois o desempregado pode romper com a família, ir para as drogas...” No ano passado, revela, de todos os entrevistados, 92,9% afirmaram que gostariam de sair das ruas. Para isso, dizem necessi-

tar de emprego e moradia. A maioria dos pesquisados é da própria cidade (24,4%). De São Paulo vêm 5,6% e, de Londrina, 2,8%. O principal motivo que trouxe as pessoas para as ruas de Maringá foi a busca de trabalho, e a segunda, os desentendimentos familiares. Sobre a responsabilidade do poder público diante desses dados, Ana Lucia diz que infelizmente há a terceirização da solução dos problemas. “No lugar de usar os recursos públicos da assistência social, há repasse para entidades privadas, muitas vinculadas a denominações religiosas. Isso se afasta cada vez mais das políticas públicas que possam emancipar e reinserir essas pessoas na sociedade.” Audiência pública para a apresentação desses resultados aconteceu em 21 de novembro. A prefeitura ainda não se pronunciou a respeito.

Joka Ma druga

Pague o IPVA com Nota Paraná

“Eu me senti aviltada. Além de uma agressão a um parlamentar, é uma agressão à mulher”,

A reunião pública “Mulheres negras, trabalho e resistência no Município de Curitiba”, convocada pelo mandato da Professora Josete (PT), em razão do mês da Consciência Negra, debateu mercado de trabalho e a intersecção de diferentes formas de opressão, como explicou Juliana Mittelbach, ativista da Rede de Mulheres Negras. “Não dá para falar de classe sem falar de raça; não dá para falar de feminismo sem falar do racismo com a mulher negra”, ponderou Juliana (com informações de Fetec).

Campanha de área de ocupação no litoral do Paraná A ocupação Figueira, em Pontal do Paraná, litoral paranaense, abriga cerca de 150 famílias. No fi nal de 2018, a associação de moradores lança uma campanha para arrecadação de doações para mais de 100 crianças da comunidade. Além disso, a associação segue exigindo da prefeitura local a regularização do terreno ocupado. Hoje, há uma liminar de reintegração de posse, suspensa até dezembro. Até o fechamento da edição, não tivemos retorno da secretaria de habitação de Pontal do Paraná sobre o assunto.


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4 | Brasil

Ricardo Stuckert

Haddad busca articulação internacional contra o conservadorismo Em visita a Lula, ex-ministro critica Steve Bannon e a política externa dos EUA: “Próximo alvo deles é a União Europeia” Lia Bianchini e Pedro Carrano

O

ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), está com a agenda lotada. Dedicado às articulações da Frente Progressista Internacional, que visa se contrapor ao avanço da extrema direita no mundo, ele encontrou tempo para conversar com exclusividade com o Brasil de Fato no dia 22 (quinta), em Curitiba (PR). Passadas as eleições 2018, o assunto é a necessidade de enfrentar o movimento autoritário que ameaça promover retrocessos em vários continentes. PUBLICIDADE

Brasil de Fato Paraná | O que se está desenhando no momento é uma articulação internacional progressista. Mas é possível organizar um campo progressista a nível mundial? Fernando Haddad | O que está caracterizado hoje é que este não é um movimento local. A extrema direita está ganhando peso no mundo, para cortar direitos e fazer o ajuste neoliberal em cima dos trabalhadores. E eles estão juntando isso a uma pauta regressiva, do ponto de vista da cultura, para legitimar o desmonte do Estado de bem-estar social (Estado voltado a políticas sociais) disso que se trata. Então, nós temos que nos

contrapor a isso, e existem forças no mundo dispostas a se organizar. Inclusive, porque eles usam métodos baixos para fazer valer os seus interesses. Essa manipulação de informações via redes sociais, patrocinada por grandes empresários, sobretudo os barões americanos do petróleo, está saltando aos olhos. O Steve Bannon [assessor político estadunidense que atuou como estrategista-chefe da Casa Branca no governo Donald Trump] é um cara financiado por pessoas ligadas à indústria do petróleo. Como você vai se contrapor a isso, ao poder econômico das pessoas que impulsionam informações – ainda se fossem verdadeiras! – que são falsas sobre as pessoas? Então, a democracia não vai subsistir. E querem destruir a União Europeia para fazer valer os interesses estadunidenses. Isso abre espaço para se atualizar a crítica ao papel dos Estados Unidos na geopolítica mundial? Quando falamos de Estados Unidos estamos falando do go-

verno Trump, porque a cada quatro anos tem uma eleição lá. De repente, em 2020, você pode ter uma mudança do quadro, buscando uma governança mais equilibrada no mundo. O Trump joga com o desequilíbrio mundial em proveito dos Estados Unidos, como se o país líder não tivesse responsabilidades com o equilíbrio mundial – inclusive do ponto de vista social. Isso só está trazendo

Trump joga com o desequilíbrio mundial em proveito dos EUA, como se o país líder não tivesse responsabilidades com o equilíbrio mundial

sofrimento para as pessoas. Você sempre defendeu a necessidade de um modelo de desenvolvimento para o país. Como vê, agora, o futuro governo ameaçando vender nossas ferramentas de indução da economia? A diferença do governo Bolsonaro [para o atual] – anunciada, né? – é que ele é mais radical na economia, neoliberal na economia e regressivo na cultura, coisas em que o [Michel] Temer não se meteu muito. Temer não se meteu muito no debate sobre direitos civis… mexeu muito levemente, mas não chegou a ameaçar os direitos civis. O Bolsonaro, sim, é uma ameaça aos direitos civis, e essa é a diferença para o governo Temer. O governo Temer lutou contra os direitos sociais, e o Bolsonaro vai aprofundar essa agenda, de corte e de alienação do patrimônio.

PROTESTOS CONTRA A CÚPULA DO G20 EM BUENOS AIRES Às vésperas da Cúpula do G20 – encontro entre os presidentes das principais economias do mundo –, realizada no Centro Costa Salguero, em Buenos Aires, movimentos populares argentinos preparam uma grande marcha contra sua realização, na sexta-feira (30), pri-

meiro dos dois dias da reunião. A marcha dos movimentos populares, sindicais, partidos e organizações de direitos humanos é contrária à realização do G20 em Buenos Aires e também aos acordos do presidente Mauricio Macri com o Fundo Monetário Internacional (FMI).


Brasil de Fato PR

Cidades | 5

Paraná, 29 de novembro a 5 de dezembro de 2018

Lei do desemprego pode ser votada na próxima semana Proposta do prefeito Rafael Greca é eliminar cobradores nos ônibus na capital e região metropolitana. Segundo sindicato, medida pode desempregar 6 mil pessoas Giorgia Prates

Frédi Vasconcelos

O

projeto da prefeitura de Curitiba de acabar com os cobradores no sistema de ônibus terá uma semana decisiva no começo de dezembro. O Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana, Sindimoc, acredita ter maioria na Câmara dos Vereadores contra o projeto e quer pautar votação de regime de urgência na próxima segunda-feira, dia 3, e tentar derrotar o prefeito Rafael Greca. Para Gláucio Dias, chefe da comunicação do Sindmoc, o momento é favorável. “Porque há um clamor popular, a opinião pública está do nosso lado, temos apoio dos usuários, é uma

luta em que está todo mundo junto”, afirma. E garante que o sindicato tem o compromisso de 22 vereadores para enterrar o projeto. Já para Jarbas Maranhão, da oposição do sin-

dicato, é muito arriscado e não há necessidade de fazer isso agora. “O projeto está tramitando, mas não em regime de urgência, normalmente seria votado em fevereiro ou março, depois do

Sem cobrador, preço da passagem não cai Giorgia Prates

Em entrevista ao jornal Gazeta do Povo, o presidente da URBS, Ogeny Maia Neto, afirmou que mesmo que o projeto que elimina os cobradores em Curitiba passe na Câmara dos Vereadores, o preço das tarifas de ônibus não cairá para a população. Diz que hoje há subsídio de R$ 0,80 na passagem, com a diferença sendo coberta pela URBS com recursos do governo estadual por causa da integração com as linhas da Região Metropolitana. E que com a eliminação dos cobradores, apenas novos reajustes poderiam demorar mais.

recesso no final do ano. Teria um tempo melhor para discutir isso e trazer a sociedade para o debate”, diz, afirmando que se for para votação agora, o projeto pode passar porque o prefeito, “Queira ou não tem maioria na Câmara.” O que diz o projeto O projeto de Greca prevê a implantação da bilhetagem eletrônica em todo sistema de ônibus de Curitiba, afetando também a Região Metropolitana. Para o Sindmoc, seis mil pessoas perderiam seu empregos. Gláucio Dias argumenta que há mais de 12 milhões de desempregados no Brasil e 500 mil no Paraná, sendo 200 mil na região Metropolitana. “Não podemos admitir mais pessoas na fila do desemprego. Há famílias aqui em que o pai e a mãe são cobradores, como é que vão ficar?” E argumenta que em cidades em que acabaram com os cobradores houve grande desemprego. Procurada, A URBS,

SINDICATO

Eleição é nesta quinta, 29 Nesta quinta, dia 29, acontece nova eleição para a direção do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana, Sindimoc. Por decisão do desembargador Cássio Colombo Filho, da Justiça do Trabalho, a primeira votação, vencida pela atual diretoria, teve de ser refeita por irregularidades como prazo exíguo na convocação e inobservância das regras estabelecidas no estatuto e ausência de listas dos locais de votação completas. A nova eleição terá fiscalização do Ministério Público do Trabalho. que controla o sistema de transporte público da cidade de Curitiba, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que apenas seu presidente pode tratar desse tema e que não estaria disponível para entrevista.

Projeto de Greca prevê bilhetagem eletrônica nos ônibus de Curitiba. Para sindicato, 6 mil cobradores perderiam seu empregos Mas enviou nota em que diz que “a bilhetagem eletrônica é prevista para ser feita de forma gradativa, ao longo de quatro anos, sem demissões, aproveitando as saídas naturais dos cobradores do sistema, seja por aposentadoria ou por pedidos de demissão.”


6 | Brasil

Paraná, 29 de novembro a 5 de dezembro de 2018

Médico cubano cria programa de prevenção

Brasil de Fato PR Tomaz Silva | Agência Brasil

Arquivo Pessoal

Com trabalho no interior do Paraná, viu número de consultas por doenças cair. Agora vai embora do Brasil

Ana Carolina Caldas

C

amilo Francisco Ramos Perez, nascido em Santiago de Cuba, é especialista em Saúde da Família e tem 21 anos na profissão. Chegou ao Brasil em 2014 com o Programa Mais Médicos e foi para o pequeno município de Santa Mariana (PR), trabalhando como único médico de cerca de 4 mil pessoas. Tratou de conhecer as pessoas, a cidade, pois a medicina em que acredita é a da pre-

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venção. Em entrevista para o Brasil de Fato-PR, Camilo afirma que o sistema centrado na figura do médico é obsoleto. Para ele, é necessário conhecer a comunidade. “O paciente precisa de trabalho focado em trocar seu estilo de vida, em vez de ouvir o mesmo discurso repetitivo de cada consulta.” E foi justamente o que tratou de fazer: mudar o estilo de vida dos pacientes dos distritos de Panema e Quinzópolis, onde atendia, com um prograPUBLICIDADE

ma de intervenção comunitária que criou. Com o nome “Caminhada pela vida”, o objetivo era desenvolver competências pessoais para a saúde, reforçar a ação comunitária e promover políticas públicas saudáveis. “Tínhamos caminhadas coletivas, ginastica, cursos e lanches de alimentação saudável e palestras”, conta. O resultado foi ver que muitos pacientes começaram a procurar a unidade de saúde para participar das atividades de prevenção, não mais para tratar doenças. “No início, a média de atendimento semanal era de 57 pessoas. Esse número foi diminuindo para 30, 40. Hoje as consultas são, em sua maioria, de prevenção.” Camilo diz que sua estadia no Brasil se resume em “respeito pelo povo, acolhimento e novas experiências de trabalho.” Agora, sente-se triste por deixar as comunidades que aprendeu a amar com o fim do acordo do Brasil com Cuba.

Defender o legado da filha é um dever. “Queremos que as pessoas saibam que a Marielle tinha uma família”, diz Marinete

“O crime contra Marielle foi político, mas também racista” Flora Castro | Rio de Janeiro (RJ) Mãe, esposa, avó. Mulher, negra, nordestina. Essas são algumas das muitas características que, à primeira vista, definem Marinete da Silva, mãe da vereadora Marielle Franco (Psol), assassinada no dia 14 de março deste ano junto com seu motorista, Anderson Gomes. Depois da tragédia, Marinete foi jogada aos holofotes e se tornou uma das maiores defensoras da justiça e memória de sua filha. “Nós fomos jogados no mundo da mídia. A gente tendo que trabalhar, tivemos de nos reorganizar. Eu acabei ganhando uma filha de 19 anos [a neta]. Tudo muda a partir daquilo. Além do vazio que fica, como se fosse um pedaço que tiram da gente”, conta. Para Marinete, defender o legado de Marielle é um dever. “Queremos que as pessoas saibam que a Marielle tinha uma família. Que além da figura pública, que as pessoas falam ‘Marielle, presente’, mas presente de que forma? Através da família dela. A gente tem levado isso, e vamos levar, de uma família unida, que está sofrendo, e muitas vezes é deixada de lado. Hoje quem cuida da gente é Deus”, complementa. É fácil ver de onde veio o jeito firme e forte de Marielle em Marinete. Mas a mãe garante que nos últimos anos ela quem aprendeu bastante com a filha. “Aprendi que a desigualdade vem de muito tempo. Aprendi que o negro é cada vez mais discriminado. Esse crime [contra Marielle] foi político, mas também foi um crime de racismo. Diretamente ou indiretamente, Marielle foi discriminada. Aqueles homens acham que o espaço em que a Marielle chegou não é pra todo mundo, Marielle incomodou. É uma lição pra gente”, afirma.


Brasil de Fato PR

LUZES DA

CIDADE

Bárbara Lia*

Meu Basquiat Fui ao Mercado das Flores. Corredores com perfume do quintal da infância. Ao lado da estátua “Maria Lata D’Água”, alguns jovens liam poesia. Ouvir poesia, comprar a rosa cor fúcsia, ganhar um beijo do artista só por me ouvir dizer: amo homens jovens. Desisti do Amor, não das raras belezas – poesia, rosas para adornar a primavera triste, doce beijo de um Basquiat zen. Leve, ele é leve. Foram os últimos dias leves. Brasil – terra arrasada. Vou pedir ao meu Basquiat para tatuar aquele quintal em minha pele: borboletas, grama, pássaros, nuvens. Encerrar-me neste corpo disfarçado pela arte enquanto desmorona tudo. Voltar ao quintal, meu refúgio aos seis anos. A mãe estocando alimentos. O rádio sempre ligado - Baía dos Porcos, a crise dos mísseis. A voz grave dela ecoa agora, o tempo todo, dentro de mim: iminência de guerra. Nunca estivemos tão perto de uma guerra - contra a Liberdade, contra a Poesia, contra tudo que nos torna humanos. Inútil guerra perpetrada pelos tristes. Gibran Mendes

117 | Cultura

Paraná, 29 de novembro a 5 de dezembro de 2018

Frente Única de Cultura faz encontro de formação Atividade em Curitiba reúne trabalhadores da cultura e movimentos sociais para trocar experiências e organizar luta por direitos Divulgação

Frédi Vasconcelos No próximo sábado, dia 1º, a Frente Única de Cultura do Paraná fará seu primeiro encontro de formação, reunindo trabalhadores da cultura e representantes de outros movimentos para a troca de experiências. Está prevista a participação de movimentos sociais como Movimento sem Terra, MST, Movimento dos Atingidos por Barragens, MAB, e Movimento Popular por Moradia, MPM. A ideia, segundo a jornalista e fotógrafa Isa Lanave, é reunir um grupo que consiga enfrentar retrocessos previstos para o próximo ano. “Ampliando o conceito de que

cultura não é só arte. A cultura não pode ficar longe de outros setores da classe trabalhadora”, afirma. E questiona, “quais são esses direitos que a gente quer preservar, pelo que a gente luta, por editais de financiamento à cultura, por espaços públicos para apresentações artísticas? Se-

AGENDA CULTURAL

organizar uma atuação conjunta. “A gente pensa muito no golpe militar de 1964, na ditadura, e que precisamos nos organizar para enfrentar uma realidade que pode até ser pior que aquela”, diz.

parados não vamos conseguir. A gente faz parte de um todo na sociedade.” Giorgia Prates, fotojornalista que também faz parte da organização, explica que num primeiro momento a proposta é unir as diferentes frentes da cultura, dialogar para um conhecer o outro e

DICAS MASTIGADAS Divulgação

Circo, DOIS OU UM O quê: O espetáculo Dois ou Um envolve o espectador em um universo que mistura truques de magia, humor e números musicais. As músicas executadas vão desde trilhas de desenhos animados até músicas clássicas, com instrumentos construídos pelos próprios artistas Quando: sábado, 1/12, 15h Onde: Circo da Cidade, Lona Zé Preguiça, Rua Benedicto Siqueira Branco, s/n. Alto Boqueirão Quanto: Gratuito

Pedrinho da Viola, 80 anos O quê: O projeto musical do Teatro do Paiol vai abordar os principais trabalhos da trajetória desse mestre do cavaquinho - destacando seus choros, sambas, valsas e toadas, músicas apresentadas por um quinteto paranaense. O conjunto ainda dará um caráter inédito aos espetáculos, com novos arranjos de recentes e antigos sucessos de Pedrinho Quando: 1/12, 20h Onde: Teatro do Paiol, Praca Guido Viaro, s/nº Quanto: R$ 10 | R$ 5

Salada grega

Ingredientes 4 tomates maduros, 1 cebola roxa, 1 pepino, 100 g de queijo feta (ricota ou outro queijo a gosto), azeitonas pretas a gosto, azeite a gosto, sal e pimenta-do-reino moída a gosto Modo de Preparo Lave os tomates, seque-os e corte-os em gomos. Misture uma colher (chá) de sal nos tomates, coloque-os numa peneira e deixe descansando em cima de uma tigela, para que a água deles escorra (30 minutos). Corte as cebolas em cubos ou fatias finas e coloque-as numa tigela com água e gelo, para que elas fiquem menos ardidas. Lave o pepino e corte em rodelas. Corte o queijo feta em cubos.Numa tigela, coloque o tomate, o pepino, a azeitona e o queijo. Tempere com azeite e pimentado-reino.

Reprodução


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Paraná, 29 de novembro a 5 de dezembro de 2018

8 | Esportes

A última esperança

BAGUNÇA ATÉ NA ÚLTIMA RODADA

Frédi Vasconcelos Depois do título do Brasileirão decidido, com a conquista do Palmeiras, as emoções da última rodada do campeonato voltam-se para a disputa por vagas na Copa Libertadores e, principalmente, para a última chance de escapar do rebaixamento. Com a queda já consolidada de Paraná e Vitória, cinco times entram em campo com a corda no pescoço. Sport e América iniciam a rodada nas posições que ninguém quer ficar. Vasco e Fluminense escapam com um simples empate contra Ceará (em Fortaleza) e América (no Rio), respectivamente. Se perderem, podem se complicar. Para o América, a conta é simples. Tem de vencer o Fluminense no Rio ou empatar e esperar uma derro-

ta da Chapecoense para o São Paulo, em Santa Catarina, e que o Sport não ganhe do Santos, em Recife. Para os pernambucanos, só a vitória interessa. Mesmo assim dependem dos resultados dos adversários diretos. Para a Chape, é vencer seu jogo ou esperar que quem está abaixo não faça mais pontos.

Único paranaense na disputa, para o Atlético só interessa a vitória contra o Flamengo no Rio de Janeiro e que o Galo não vença

Vagas na Libertadores No outro lado da tabela, as disputas são entre São Paulo e Grêmio para ver quem vai direto para a fase de grupos. E a disputa entre Atléticos (MG e PR) pela sexta vaga. São Paulo e Grêmio estão empatados em pontos, mas os gaúchos têm uma vitória a mais e se classificam com dois resultados iguais. O São Paulo teria de vencer a Chapecoense e esperar que o Grêmio, no máximo, empate com o Corinthians em Porto Alegre. Na disputa dos atléticos, os mineiros levam vantagem por estarem com dois pontos a mais, dependendo de uma vitória contra o Botafogo em casa. Para os paranaenses, só interessa a vitória contra o Flamengo no Rio de Janeiro e que o Galo não vença.

Um dos princípios do campeonato Brasileiro é que todos os jogos da última rodada ocorram no mesmo dia e horário para evitar que algum time leve vantagem entrando em campo já sabendo o resultado dos adversários. E isso estava na tabela publicada no início do ano. Mas, no começo desta semana, a CBF mudou a tabela, já que Flamengo e Fluminense queriam jogar no Maracanã (foto). Puxou Flamengo e Atlético-PR e Atlético-MG e Botafogo para sábado, às 19h. Resolveu o problema dos cariocas prejudicando os outros times. O Atlético-PR joga na quarta à noite pela SulAmericana e o Galo já tinha vendido 18 mil ingressos e terá de devolver os valores para quem não conseguir ir.

Paz e humildade

Fim do pesadelo

Saldo positivo

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Roger Pereira

O conselho do Coritiba rejeitou, por 81 votos contra 66, requerimento de uma assembleia geral de sócios para destituir, ou não, o presidente Samir Namur. O pedido, fi rmado por significativo número de conselheiros, reflete a insatisfação de sócios e torcedores coritibanos com o desempenho da atual administração. A iniciativa, liderada pelo conselheiro Julio Jacob Jr., teve muitos méritos, que se igualam em importância. O primeiro: um choque de humildade no G-5 atual, que caiu em si para a gravidade da crise criada em doze meses de uma gestão de futebol catastrófica desde a origem e reduziu a receita à metade. Segundo: trouxe à mesa um mediador do elevado naipe de Vilson Ribeiro de Andrade, que chamou todos à razão. Por último, que fique de exemplo a elegância de Jacob Jr. em respeitar a decisão majoritária e prosseguir na oposição fiscalizadora e propositiva que exerce.

“Tenha até pesadelos, mas nunca deixe de sonhar”. A frase da escritora brasileira Patrícia Galvão, que viveu na primeira metade do século 20, representa bem o ano do Paraná em 2018. Após dez anos vivendo no submundo do futebol brasileiro, chegamos à Série A. Um ano depois, a sensação que fica para muitos é a de que ainda não era a hora. Até aqui são 37 jogos, apenas quatro vitórias, dez empates, 23 derrotas, 56 gols sofridos e apenas 17 gols feitos. Tem como ver algo positivo nisso? Tem sim. Tão importante quanto fazer a crítica sobre o que deu errado é valorizar a força que nos fez chegar até aqui. Chegamos sem estrutura para tal, mas chegamos. O momento é de lamber as feridas, mas também de esperança. Nossa torcida nunca deixou de sonhar e não será agora que vai ser diferente. Que venha o Internacional. Que venha 2019!

Divulgação

Vaga na Libertadores e fuga do rebaixamento esquentam última rodada do campeonato Brasileiro

O Atlético termina o Brasileirão em alta. O Furacão chega à última rodada como a terceira melhor equipe do returno, depois de ter amargado a zona de rebaixamento e até a lanterna do campeonato. A campanha atleticana sob o comando de Thiago Nunes só não é melhor que a do campeão Palmeiras e a do vice Flamengo, os dois elencos mais caros do futebol brasileiro. O Furacão chega à última rodada disputando uma vaga na Libertadores. E a sensação é de que se não tivesse insistido tanto na teimosia de Fernando Diniz essa vaga já poderia estar assegurada. A contribuição da filosofia de jogo de Diniz do início da temporada no time atual é inegável. A diferença é que Thiago Nunes abriu mão dos radicalismos e aplicou tais conceitos de forma a deixar o time competitivo. No saldo geral o Atlético fez um bom campeonato brasileiro.


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