Democracia no centrão

Severino democratizou o centrão na Câmara e depois caiu por R$ 10 mil

Ex-deputado, que morreu nesta quarta-feira (15), provocou uma ascensão do baixo clero no Congresso e garantiu força e voz para quem antes era só número. Permanência durou pouco, mas tem reflexos até hoje.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 15/07/2020 às 12:06 | Atualizado em 15/07/2020 às 12:14
Foto: Guga Maia/JC Imagem
O ex-deputado Severino Cavalcanti - FOTO: Foto: Guga Maia/JC Imagem

Severino Cavalcanti não chega a ser o "pai" do centrão, mas foi o responsável pela ascensão do baixo clero. Dentro desse grupo, a eleição dele à presidência da Câmara provocou uma democratização que mexeu com o equilíbrio do poder.

O centrão deu estabilidade à ditadura militar e a todos os governos posteriores. Foi também o responsável por derrubar dois deles, quando eles não serviam mais. Foi o centrão que proporcionou a ampliação do mandato de Sarney (MDB), a reeleição de Fernando Henrique (PSDB), a manutenção de Lula (PT) após o escândalo do mensalão e, agora, protege Bolsonaro (sem partido) de um impeachment.

São operadores de aluguel, mas são operadores poderosos da política brasileira. Não há como negar.

A questão é que o centrão sempre foi dividido entre os caciques partidários líderes de bancadas, e o baixo clero, dos que emprestavam seus votos para sobreviver.

Cavalcanti, que já tinha um cargo de secretário na mesa diretora, dentro desse esquema de se contentar com alguns espaços para dar votos que mantivessem os caciques, aproveitou uma confusão entre os grandes para se lançar candidato.

E venceu.

O mandato durou apenas sete meses. Acusado de, enquanto era secretário da mesa diretora, ter cobrado propina para liberar o funcionamento de um restaurante que funcionava na Casa, acabou tendo que renunciar à presidência e ao mandato.

Ele negava as acusações, mas o dono do restaurante admitiu que pagava R$ 10 mil por mês a ele para ter a autorização.

A acusação perseguiu Severino por todo o restante da vida. Voltou para João Alfredo e tornou-se prefeito da cidade em que nasceu, no interior de Pernambuco. Quando foi tentar a reeleição, para a qual era favorito, foi impedido pela Lei da Ficha Limpa, ainda por causa dos problemas que teve em Brasília.

Quando era questionado sobre o caso, dizia que foi vítima da "elite na Câmara que não aceitava a eleição dele, nem o protagonismo do chamado baixo clero.

É difícil dizer que Severino não estava realmente envolvido em problemas na época.

Mas, também é difícil dizer que ele não tinha razão quando dizia que foi perseguido pelos poderosos de lá.

Esse protagonismo do baixo clero incomoda a tal "elite" e tem reflexos políticos até hoje.

Bolsonaro que o diga... e comemore.

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