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RELIGIÃO
Pesquisa da FGV mostra que proporção de evangélicos é maior entre desempregados, moradores de favelas e migrantes
Igrejas evangélicas atraem fiéis excluídos
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
As igrejas evangélicas brasileiras
arrebanharam mais fiéis nos últimos anos nos grupos mais desprotegidos da população. É o que
mostra o estudo "Retrato das Religiões do Brasil", divulgado ontem pela FGV. Dados do Censo
2000 revelam que a presença
evangélica é maior do que a média (16,22%) em favelas (20,61%),
periferias de regiões metropolitanas (20,72%), entre pessoas com
até um ano de estudo (15,07%),
desempregados (16,52%) e migrantes recentes (19,17%).
Por outro lado, os católicos são
mais numerosos entre os empregadores -76,38%- e os mais escolarizados -74%, contra 10,3%
dos evangélicos. No Brasil, os católicos representam 73,89% da
população -eram 91,78% em
1970 e 83,36% em 1991.
Para Marcelo Neri, coordenador do Centro de Políticas Sociais
da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a estagnação econômica da
chamada "década perdida" (anos
80) possibilitou a expansão dos
evangélicos. "[A igreja] é vista como uma forma de ascensão social.
As igrejas emergentes cumprem
um papel fundamental como rede
de proteção social, num momento de desconforto econômico.
Elas substituíram em parte o Estado, pois oferecem serviços sociais
e cobram impostos, os dízimos."
Em média, os evangélicos correspondiam a 16,22% da população (dados do Censo de 2000)
-eram 9,59% em 1991 e 6,55%
em 1980. No período, avançou
também o percentual de pessoas
que se declararam sem religião
-para 7,34% em 2000.
Diferentemente do retrato traçado pelo sociólogo alemão Max
Weber (1864-1920) em seu clássico "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", as religiões
ditas hoje como evangélicas não
se desenvolveram no Brasil entre
os mais ricos e mais estudados,
diz Neri. "A tesa da "Ética Protestante" não se confirma no Brasil."
Weber sustentava que o capitalismo pôde avançar graças à evolução das religiões protestantes,
que não culpavam seus seguidores por acumular capital.
Comparando populações com
exatamente as mesmas características socioeconômicas e raciais, a
renda dos católicos é 7% maior do
que a dos evangélicos e 10% mais
alta do que a dos sem-religião.
Para Neri, o declínio relativo da
religião católica no Brasil se explica por "uma certa inércia" na mudança de seus costumes e regras,
ao mesmo tempo em que "o contexto econômico e social no Brasil
mudou muito". "A Igreja Católica
não acompanhou a necessidade
de mulheres e desempregados,
por exemplo, que foram buscar
abrigo em religiões alternativas."
A pesquisa traçou ainda um
perfil regional das religiões: há
mais católicos no meio rural e pequenas cidades, enquanto os
evangélicos se concentram nas
periferias das grandes cidades.
Neri disse que tal fenômeno
ocorre porque a crise social e econômica foi muito mais grave nas
grandes metrópoles. "O crescimento dos evangélicos é um fenômeno de periferia", afirmou.
Em áreas rurais, os católicos
eram 84,26%. Nas periferias das
regiões metropolitanas, 65,18%.
Os evangélicos representavam
20,72% dos moradores de periferias metropolitanas.
Os dados também mostram que
o Rio é o Estado com o maior contingente de pessoas sem religião
(15,76%). Também é o com menos católicos proporcionalmente
(56,19%). Em São Paulo, os católicos eram 70,53% -os evangélicos eram 17,04%.
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