São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 2005

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RELIGIÃO

Pesquisa da FGV mostra que proporção de evangélicos é maior entre desempregados, moradores de favelas e migrantes

Igrejas evangélicas atraem fiéis excluídos

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

As igrejas evangélicas brasileiras arrebanharam mais fiéis nos últimos anos nos grupos mais desprotegidos da população. É o que mostra o estudo "Retrato das Religiões do Brasil", divulgado ontem pela FGV. Dados do Censo 2000 revelam que a presença evangélica é maior do que a média (16,22%) em favelas (20,61%), periferias de regiões metropolitanas (20,72%), entre pessoas com até um ano de estudo (15,07%), desempregados (16,52%) e migrantes recentes (19,17%).
Por outro lado, os católicos são mais numerosos entre os empregadores -76,38%- e os mais escolarizados -74%, contra 10,3% dos evangélicos. No Brasil, os católicos representam 73,89% da população -eram 91,78% em 1970 e 83,36% em 1991.
Para Marcelo Neri, coordenador do Centro de Políticas Sociais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a estagnação econômica da chamada "década perdida" (anos 80) possibilitou a expansão dos evangélicos. "[A igreja] é vista como uma forma de ascensão social. As igrejas emergentes cumprem um papel fundamental como rede de proteção social, num momento de desconforto econômico. Elas substituíram em parte o Estado, pois oferecem serviços sociais e cobram impostos, os dízimos."
Em média, os evangélicos correspondiam a 16,22% da população (dados do Censo de 2000) -eram 9,59% em 1991 e 6,55% em 1980. No período, avançou também o percentual de pessoas que se declararam sem religião -para 7,34% em 2000.
Diferentemente do retrato traçado pelo sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) em seu clássico "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", as religiões ditas hoje como evangélicas não se desenvolveram no Brasil entre os mais ricos e mais estudados, diz Neri. "A tesa da "Ética Protestante" não se confirma no Brasil."
Weber sustentava que o capitalismo pôde avançar graças à evolução das religiões protestantes, que não culpavam seus seguidores por acumular capital.
Comparando populações com exatamente as mesmas características socioeconômicas e raciais, a renda dos católicos é 7% maior do que a dos evangélicos e 10% mais alta do que a dos sem-religião.
Para Neri, o declínio relativo da religião católica no Brasil se explica por "uma certa inércia" na mudança de seus costumes e regras, ao mesmo tempo em que "o contexto econômico e social no Brasil mudou muito". "A Igreja Católica não acompanhou a necessidade de mulheres e desempregados, por exemplo, que foram buscar abrigo em religiões alternativas."
A pesquisa traçou ainda um perfil regional das religiões: há mais católicos no meio rural e pequenas cidades, enquanto os evangélicos se concentram nas periferias das grandes cidades.
Neri disse que tal fenômeno ocorre porque a crise social e econômica foi muito mais grave nas grandes metrópoles. "O crescimento dos evangélicos é um fenômeno de periferia", afirmou.
Em áreas rurais, os católicos eram 84,26%. Nas periferias das regiões metropolitanas, 65,18%. Os evangélicos representavam 20,72% dos moradores de periferias metropolitanas.
Os dados também mostram que o Rio é o Estado com o maior contingente de pessoas sem religião (15,76%). Também é o com menos católicos proporcionalmente (56,19%). Em São Paulo, os católicos eram 70,53% -os evangélicos eram 17,04%.


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