DISTRITO FEDERAL

Caso naja: 'Estou sendo perseguida', diz servidora afastada do Ibama

Publicado em: 07/08/2020 17:09 | Atualizado em: 07/08/2020 17:20

 (Foto:  IVAN MATTOS/ZOOLÓGICO DE BRASÍLIA)
Foto: IVAN MATTOS/ZOOLÓGICO DE BRASÍLIA
Afastada há mais de 15 dias do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por suspeita de envolvimento no caso da naja, a servidora Adriana Mascarenhas afirmou, em entrevista ao Correio, que há pessoas dentro do órgão que a estão “usando, perseguindo e assediando”.

A decisão do afastamento partiu da Justiça Federal da 1ª Região, após documentos comprovarem que ela teria expedido, ilegalmente, licenças do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas) para a “coleta, captura e transporte” de serpentes que não pertencem à fauna brasileira. Uma dessas cobras, uma jiboia-arco-íris, foi entregue a Gabriel Ribeiro de Moura, de 24 anos, amigo de Pedro Henrique dos Santos Krambeck Lehmukl, 22. Gabriel é o mesmo que soltou a naja que picou o estudante de medicina veterinária próximo ao shopping Pier 21. Ele chegou a ficar preso na Divisão de Controle e Custódia de Presos (DCCP) por ocultar provas e atrapalhar as diligências.

Em entrevista ao Correio, Adriana se diz inocente e acredita que alguns funcionários de dentro do Ibama querem prejudicá-la. “Isso fica notório. Estão tentando me tornar irregular e todos que estiveram à frente, fizeram. A única coisa que posso dizer é que tem pessoas lá dentro que estão me perseguindo, assediando e me usando”, finalizou.

Segundo o advogado da servidora, Rodrigo Videres, antes de serem concedidas, as licenças passam pelas mãos de outros funcionários. “Não é só uma pessoa que emite essas certidões. Provavelmente, outros servidores emitem esses documentos”, enfatizou. Ele disse, ainda, que os animais considerados ilegais sequer passaram pelo Cetas e questiona a atitude do órgão. “O juiz determinou que ela entregasse o crachá e o token. No entanto, um servidor do Ibama chegou na casa dela, recolheu esse material e ela não tem ciência de onde estão os itens”, questionou.

A reportagem entrou em contato com o Ibama para esclarecimentos, mas até a última atualização desta reportagem, o órgão não havia respondido.

Entenda o caso
A polícia chegou à servidora após fortes indícios de que ela estaria envolvida com os fatos da investigação  relacionada à organização de tráfico internacional de animais silvestres. Com base na decisão da Justiça, ela é acusada de conceder uma licença irregular a Gabriel Ribeiro, em 12 de fevereiro de 2019. O termo, assinado pela funcionária, autoriza a entrega de uma cobra jiboia-arco-íris, nativa do Brasil, ao jovem. Porém, ele não tinha autorização para criá-la.

O modelo de licença do Cetas segue as recomendações das Divisões Técnico-ambientais (Ditec). É comum, por exemplo, expedições de licenças para o transporte de animais silvestres que necessitam de atendimento veterinário externo, deslocamento entre unidades do Ibama e para a destinação, seja ela a soltura no ambiente natural ou um cativeiro legalmente admitido. Entre os locais aptos a receberem esses animais estão o Zoológico de Brasília e hospitais veterinários.

Fora isso, é vedada a autorização de licença para outros meios. No caso da servidora, o Ibama considerou que, além de violar gravemente a legislação de regência, ela demonstrou a intenção em conceder o documento infringindo a norma legal, uma vez que, na época dos fatos, era a responsável pelo Cetas, possuindo larga experiência da função.

A servidora, no entanto, nega as acusações. Em uma entrevista ao Correio em 28 de julho, Adriana disse: “Por eu ter concedido a licença, isso não significa que eu esteja envolvida em um esquema de tráfico internacional de animais exóticos. O que eu fiz não é irregular, pois não foi uma destinação final, mas, sim, temporária”, destacou.
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