sábado, 25 de maio de 2019

Malu Mulher, primeiro seriado feminista da TV brasileira, completa 40 anos: Recomendação de Textos



Malu Mulher fez 40 anos ontem.  A série contava a história de Malu (Regina Duarte) e os obstáculos enfrentados por mulheres como ela (*brancas e de classe média*) que decidiam tomar suas vidas nas mãos e se separar de um marido abusivo.  "Bate, bate bastante. Mata. Mas é a última vez que você encosta em mim.", ela diz no primeiro e dramático capítulo, quando pede a separação e é agredida pelo marido (Dennis Carvalho).  A violência contra as mulheres ainda é constante em nossos dias e o número de feminicídios está aí para atestar, mas Malu tinha outros problemas que eram muito mais específicos da virada dos anos 1970 para os 1980.

Malu era formada em sociologia, tinha abandonado a carreira para ser esposa e mãe, mas descobre que seu marido a traía.  A lei de divórcio era recente, tinha sido aprovada em 28 de junho de 1977, e Malu teve que voltar a trabalhar e cuidar sozinha da filha,  Elisa (Narjara Turetta), que tinha 12 anos.  A série teve 44 episódios, falou de aborto, de sexo e sexualidade, de violência contra as mulheres, desigualdade de gênero, sofreu censura, afinal, ainda vivíamos no Regime Militar (1964-85).  Ruth Cardoso, esposa do presidente FHC, ela mesma feminista e socióloga, participou da construção da série e inspirou a escolha da profissão da protagonista.  O responsável pelo programa era de Daniel Filho.  E foi um marco em sua época.


Ontem, para marcar a data, a Folha de São Paulo trouxe uma matéria sobre a série intitulada "'Malu Mulher' não votaria em Bolsonaro, afirma Daniel Filho, criador da série, que completa 40 anos" e queria recomendá-la. O artigo fala da série, entrevista Daniel Filho e seu título retoma uma coluna do ano passado de um jornalista de TV que eu acompanho, o Nilson Xavier chamada "Malu Mulher votaria em Bolsonaro?", essa questão, claro, se remete ao fato de Regina Duarte, a protagonista de Malu Mulher, ter se tornado uma fervorosa apoiadora do "mito".


É isso, recomendo as duas matérias.  Assisti alguns episódios de Malu Mulher quando a globo comemorou seus 25 anos e reprisou partes de alguns de seus programas, séries e novelas.  Eu era muito pequena na época da exibição da série.  De qualquer forma, não acho interessante, como alguns estão propondo por aí, um remake.  Uma série nova sobre as questões vividas pelas mulheres, hoje, seria bem-vinda, deixem Malu Mulher no seu tempo e sendo icônica e importante como era e continua sendo, apesar de Regina Duarte (*escrevi um texto sobre ela no ano passado*). 

3 pessoas comentaram:

Desculpa se eu estiver errado e o meu comentário te ofender mas eu não concordo com esse acincalhamento da Regina Duarte. Eu detesto Bolsonaro desde a época da crise do governo Dilma que foi onde ele começou a ter alguma fama (se eu não estiver enganado) mas eu acho que essa comparação entre a personagem e a atriz é desnecessária. As pessoas tem que aprender diferenciar ator de personagem. Até algum tempo atrás muito se batia nessa tecla. Entao comparar a suposta ideologia política de uma personagem com a da sua atriz é no mínimo imaturidade. Foi Gaby Amarantos, foi o Nilson Xavier, enfim muitas pessoas. O tal seriado...bem eu nunca assisti mas pelo que comentam deve ter sido um grande evento na época pois tratou de temas espinhosos ainda hoje quanto mais naquela época em que tínhamos uma ditadura civil e militar de idéias conservaroras e o proppró pensamento da sociedade em geral era bastante conservador. Enfim, essa é a minha opinião somente.

Para pensar: O fato de uma atriz de direita conseguir interpretar tão bem uma personagem feminista não devia ser motivo de reconhecimento do talento dessa atriz ao invés de ser visto como algo contraditório?

Moisés, o que ambos os textos enfatizam é como uma pessoa pode mudar e muda. Não é infantilidade traçar um paralelo e certamente Regina Duarte dos anos 1970, que interpretou Nina e Malu Mulher, não era a mesma de nossos dias. Basta pegar entrevistas e coisas que um estudioso do gênero, como o Nilson Xavier, conhece muito melhor do que eu.

Criticar, não é achincalhar. Ninguém xingou a atriz em nenhum dos textos que recomendei, ou eu o fiz em qualquer um dos meus textos. Agora, a partir do momento que uma pessoa pública se coloca publicamente a favor de um candidato, ou sobre um tema, ela está sujeita a ser criticada. No mais, a atriz continua trabalhando e sendo prestigiada, ou Por Amor não estaria no Vale a Pena Ver de Novo nesse momento.

Ela não é vítima, é responsável pelo que fala e faz.

Bom, como disse a Valéria, ela ser uma figura pública e usar do espaço que tem para se colocar politicamente vai fatalmente levar a críticas. Se ela não estivesse preparada para isso, deveria se abster de se colocar.
No mais, é óbvio que haveria um mar de críticas, uma vez que ela optou lá atrás em interpretar uma personagem progressista e contestadora das normas, e hoje defende um político tão reacionário e conservador.

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