Estamos há quase quatro meses do início da pandemia, sem uma perspectiva clara de quando esta situação vai mudar efetivamente. Apesar dos planos de reabertura gradual da economia, o aumento de casos e de mortes causadas pela Covid-19, em municípios que reabriram o comércio cedo demais, mostra um cenário ainda incerto para a retomada das atividades.

No setor de publicidade, os protocolos com as normas de segurança e higienização irão nortear a volta da operação presencial. Mas este é apenas um entre os pontos vitais que as agências deverão definir sobre o modelo de trabalho dentro do novo normal. A questão central não é apenas avaliar como adequar o espaço físico às exigências sanitárias para o controle da pandemia, mas, em que medida, as agências vão incorporar ou não o modelo de trabalho remoto como parte da sua operação, e como isto será feito.

Sistema cuja adoção foi acelerada rapidamente pela pandemia, o home office parece ter vindo para ficar. Em maior ou menor grau, ele impôs mudanças e acelerou o processo de digitalização, além de afetar nosso lado profissional, as relações com os clientes, a vida pessoal e o convívio com a família, parentes e colegas de trabalho.

Os desafios do home office não são poucos. O lar agora concentra a vida doméstica, profissional e, em muitos casos, as escolas dos filhos. Isso tem exigido, de todas as partes, um grande esforço de adaptação, para conciliar as diversas rotinas, concentradas agora em um único lugar; para gerir as pessoas a distância e garantir uma boa dinâmica com os clientes – além da necessidade de se orientar as pessoas para que todos se mantenham saudáveis e seguros.

A questão que se coloca para as agências de publicidade – assim como para empresas de outros setores –, é: qual a melhor forma de gerenciar essa nova realidade com foco no médio ou mesmo no longo prazo?

A primeira preocupação, para o gestor e também para o profissional, é perceber como as pessoas e os clientes estão lidando com a nova realidade. Para as empresas, entender como o seu cliente está se adequando e como a pandemia afeta os hábitos das pessoas será vital. Identificar as mudanças passageiras e as permanentes para o negócio é a chave para ser mais assertivo e se mostrar necessário como parceiro.

Em contrapartida, preocupa a distância forçada entre cliente e empresa, já que o relacionamento presencial, o “olho no olho”, sempre foi a forma de aproximação. Pelo menos no momento, contudo, podemos esquecer os encontros de relacionamento. E o melhor a fazer é ser pontual nos compromissos, manter contato regularmente, pensar estratégias pertinentes e eficientes no contexto do novo normal e corrigir rumos, se necessário.      

Por outro lado, o mundo da publicidade também já havia avançado na digitalização e na forma colaborativa de trabalho, com comerciais sendo produzidos em conjunto, por exemplo, por meio de hubs globais. Agora, as fronteiras deverão ser superadas ainda com mais rapidez. A tecnologia exercerá seu papel central, oferecendo os recursos necessários para transformar boas ideias em criações digitais, ou para criar anúncios cujos atores poderão estar instalados em suas próprias residências, e que irão retratar esse novo modo de vida.

Mas será o pensamento estratégico e a criatividade que desempenharão o papel fundamental na construção das novas narrativas. Independente de onde estivermos, devemos seguir traduzindo o anseio dos consumidores na construção das estratégias das marcas, com a mesma sensibilidade, perspicácia e criatividade.  Sob o aspecto da gestão das pessoas, as agências de publicidade também deverão encontrar o melhor equilíbrio entre o virtual e o presencial, sempre buscando preservar as condições de segurança das atividades, a partir dos protocolos que estão sendo estabelecidos pelo setor. Cuidar das pessoas, para que saibam se manter seguras, é fundamental em todos os setores. Nas agências de publicidade, teremos ainda que encontrar uma boa equação para que os briefings continuem sendo uma dinâmica efervescente, e que novas ideias surjam mesmo em um contexto de menos encontros presenciais. 

Os desafios não são poucos, e envolvem engajar as equipes para manter em alta a qualidade do trabalho em home office, definir o novo modelo de operação– quanto será presencial e/ou virtual, como será a dinâmica do trabalho e, inclusive, onde se dará, ou seja, se a empresa manterá a atual sede, em sistema de rodízio, se optará por locais menores ou mesmo se atuará apenas no modelo de trabalho remoto.

De certo, “sei que nada será como está, amanhã ou depois de amanhã”, como já dizia a conhecida canção do Milton Nascimento, e que o novo normal ainda está sendo construído, a muitas mãos, mas agora, obrigatoriamente, com colaboração e, é claro, álcool em gel.

*Dudu Godoy é presidente do Sinapro-SP, VP da Fenapro e VP do Cenp.