Escola Municipal de Florianópolis cria oficina de cinema para estudantes com autismo

As produções são feitas com a técnica stop motion; os estudantes com autismo trabalham com a imaginação e com o foco

Soltar a imaginação, expor ideias e colocar os pensamentos no papel pode ser um desafio, afinal, além das habilidades com o desenho, é preciso navegar em um novo mundo – às vezes, no desconhecido. A tarefa é o desafio dos estudantes com autismo da Escola Básica Municipal (EBM) Maria Tomázia Coelho, que integram o Núcleo de Cinema.

Os estudantes com autismo têm a chance de soltar a imaginação, criando as próprias históriasOs estudantes com autismo têm a chance de soltar a imaginação, criando as próprias histórias – Foto: Ana Caroline Arjonas

Isso porque a socialização, a atenção e o respeito às opiniões são essenciais – sem isso é quase impossível tirar as propostas do papel.

A alternativa também contribui com o desenvolvimento, seja no pensamento ou nos passos que devem ser seguidos para transformar as imagens em um filme.

Por lá, os estudantes com autismo são os donos do processo, desde a criação do roteiro até a animação em stop motion, dando vida aos personagens – provando que a folha, o lápis e a imagem são suficientes para colocar a mão na massa.

O projeto existe desde 2012, idealizado pelo professor de geografia Luiz de Vasconcelos Sobrinho. Atualmente, diversos educadores participam da proposta, acompanhando as etapas.

O último projeto nasceu a partir do livro “O Almoço”. A tarefa era criar um storyboard com as cenas, expondo a forma como cada um compreendeu a história. A etapa seguinte foi a avaliação das criações e o projeto coletivo, com recortes da produção de todos.

“Dividimos as funções e fizemos a técnica do stop motion seguindo o roteiro, registrando as fotos e ajustando”, conta o professor de história e participante do núcleo Eloísio Lopes Felipe. Os arquivos estão no programa de edição e a última etapa é a finalização com a trilha sonora.

Todos os enredos surgem a partir dos gostos e visões dos estudantes com autismo, que deixam o imaginário fluir.

“Eles são criativos. O mais difícil é controlar a criatividade e fazer com que as pessoas realmente entendam a mensagem deles, que consigam mostrar o que estão pensando”, comenta o professor, que gosta de mencionar que os estudantes não precisam de uma grande estrutura para criar um filme – basta a ideia e um celular.

Os ganhos vão além da aprovação do público, contribuindo com o aprimoramento de qualidades que podem ser usadas no futuro.

“A principal habilidade é o foco, o estar aqui. Como eles são ativos e o pensamento voa, precisamos trazer para o momento presente, e isso vai trazer benefícios para a vida deles”, declara a professora da sala multimeios Giani Jusara Winckler.

Como a elaboração é um processo singular, os momentos preferidos podem variar de estudante para estudante. Arthur Pagno Carvalho,14, por exemplo, gosta da execução.

“Quando você está fazendo o projeto, que se dedica, quando fica pronto, na prática, você fica feliz, você fica orgulhoso”, conta o jovem, que enxerga no cinema a chance de criar infinitas possibilidades e acredita que a criatividade pode ser usada como um instrumento de ensino, tanto que a paixão por criar resultou no desejo de seguir uma carreira no futuro: de design de games.

Por outro lado, há quem fique encantado com as etapas que antecedem o lançamento. “O meu momento preferido é quando estamos trabalhando no processo de criação”, declara Jean Gabriel Dalpra Ramos,12.

Todo mundo é igual

Os encontros são uma oportunidade para promover o convívio com os colegas, pensando em temas que podem ser de interesse geral.

Um dos filmes em fase de desenvolvimento tem como tema a inclusão. O nome ainda não está definido, mas a história já está na cabeça de Arthur Pagno Carvalho.

O foco é a trajetória de um cão cego que é abandonado pelo dono e vive muitas aventuras, incluindo a amizade com um boi e a conversa com Angra, a deusa do fogo.

 1, 2, 3, gravando!

O núcleo já conta com diversas produções, todas disponíveis no Youtube. Um dos sucessos é “A Jornada”, que conta a história de um homem que vive solitário no planeta, apenas com a companhia dos cogumelos. Até que um dia ele entra em um portal dimensional e descobre outro mundo, menos solitário e com amigos.

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