Artigo — Mensurar, entender e crescer: tripé para o aprimoramento

(crédito: Google/Reprodução)

LEO FRAIMAN - Escritor, psicoterapeuta, educador e autor da metodologia Opee

Neste Dia dos Professores, é imprescindível lembrar que a área de educação brasileira tem desafios enormes pela frente. Só vai haver, de fato, uma mudança de rota caso aprendamos a medir resultados e a não medir esforços para usar os dados a nosso favor.

Podemos considerar que o sucesso do educador pode ser calculado a partir do tripé entre mensurar, entender e crescer. Sem uma dessas pernas, não há equilíbrio. Recentemente, participei da concepção e da conclusão do Estudo Opee 2022 — Educadores Brasileiros, que contou com 1.505 respondentes da área pública e privada de todas as regiões do país.

Segundo o levantamento, apesar das adversidades do setor, otimismo e propósito foram as palavras associadas aos depoimentos de professores e gestores brasileiros. A pesquisa também identificou um horizonte promissor a partir do índice de motivação de 7,7 (em uma escala de 1 a 10) apontado pelos profissionais sobre atuarem na área. O projeto teve como objetivo diagnosticar o cenário pedagógico e escolar brasileiro nos últimos 12 meses.

Empiricamente, já sabíamos que o professor, até pelos obstáculos que enfrenta desde que se tem notícia, tem no propósito sua principal força propulsora. E essa é uma das belezas da profissão. Outra evidência disso é que 59,67% dos respondentes não consideram, no momento da pesquisa, mudar de área, contra 6,11% que pensam diariamente nessa alteração de rota — um contraponto expressivo de quase 10 vezes de avanço de um indicador sobre outro.

Consideramos que o propósito é extremamente relevante para os profissionais de todas as áreas, incluindo a educação. Por exemplo, um educador que tem um objetivo de fazer uma transformação social não fica se perguntando por que os alunos não aprendem melhor. Eles criam perguntas inteligentes, eficazes, focadas em soluções e caminhos para fazer a diferença e transformar esse contexto.

Há décadas, estudo profundamente o impacto da aliança entre a família e a escola enquanto seus efeitos no andamento e no rendimento escolar. O primeiro caso diz respeito ao engajamento, disciplina, envolvimento, atenção e presença em sala de aula, enquanto o segundo se refere às notas e àquilo que o aluno aprende de fato. Esse par de fatores está totalmente conectado ao encontro entre os familiares e a instituição de ensino, para que o educando receba boa dose de confiança, orientação, motivação e direção para o seu pleno desenvolvimento. Sabendo da importância dessa aliança, o estudo também ouviu sobre a relação dos educadores e familiares.

Coincidência ou não, os resultados estavam alinhados com minha percepção. Para os educadores, a aprendizagem socioemocional e a parceria com as famílias (presente em 61,2% e 57,48% das respostas respectivamente) lideram o ranking de atributos para uma escola ideal.

Para celebrar o Dia dos Professores, por mais que seja árduo e espinhoso o nosso caminho, admito um maior otimismo pelos anos que se aproximam. A educação no passado já foi o território da tia, da amiga, do ambiente que era uma segunda casa. Aos poucos, estamos vendo aflorar uma consciência de um ambiente que precisa ser cada vez mais profissionalizado, ter metas, evidências, dados empíricos que nos mostrem o caminho a seguir.

Não vejo nenhuma diferença entre uma empresa ou instituição e uma escola no sentido de que é preciso ter clareza de missão, visão, valores, apresentando dados objetivos. É crucial que haja uma distribuição inteligente de papéis, juntamente com uma delegação responsável e um acompanhamento sistemático dos resultados.

Para além disso, costumo dizer que seres humanos constroem e transformam a si mesmos lapidando a existência por meio do exercício das competências socioemocionais. Vale lembrar que essas qualidades são acionadas de maneira muito mais contundente, consistente e consequente quando nos conectamos com o propósito.

Concluo com um ensinamento de Viktor Frankl, criador da logoterapia, que constitui a base epistemológica da Metodologia Opee. O autor ressalta que a atitude é baseada em três dimensões: clareza do objetivo, ação honrosa e aprendizado constante. É exatamente isso que temos que fazer, inspirar projetos de vida. Uma iniciativa para além da vontade e da motivação nos liberta das circunstâncias, das contingências. E o aprendizado constante que é a base mais essencial para que possamos ter uma vida boa, feliz e saudável, como queremos e merecemos.

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