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"Economia voltou em V", diz Guedes

O ministro da Economia, Paulo Guedes, mostrou insatisfação com aliados do governo por não apoiarem a implementação da sua agenda liberal. Bandeiras do ministro durante seus três anos de governo, as privatizações e as reformas administrativa e tributária pouco avançaram e frustram o ministro. 

"Não tive o apoio que tinha de ter", disse em entrevista ao Estadão. "Nós entramos com uma plataforma que é o resultado de uma aliança de conservadores e liberais, que funcionou politicamente para a eleição, mas a engrenagem não girou. Essa aliança não conseguiu nem implementar as propostas dos conservadores, porque os liberais têm valores um pouco diferentes, nem as reformas liberais, porque às vezes têm fogo amigo dos conservadores", completou. 

O ministro culpa a pandemia quando é chamado de "ministro da semana que vem", por sempre adiar os compromissos feitos na campanha eleitoral. Ele alega que há "muita militância" e "falsas narrativas" de críticos que ignoram o impacto da pandemia nas contas públicas.

"Todas as narrativas reconhecem que a pandemia foi algo terrível, que efetivamente foi, uma tragédia de dimensões planetárias. Mas, quando se fala do seu impacto na economia, as cobranças são como se não houvesse uma guerra e como se, nos três anos em que estamos aqui, dois não tivessem sido voltados à pandemia. Na verdade, só tivemos um ano de tranquilidade, que foi o primeiro ano de governo, tomado pela reforma da Previdência."

As reformas administrativa e tributária não avançaram na velocidade em que Guedes gostaria e correm o risco de serem enterradas antes mesmo das eleições deste ano. 

As privatizações foram ressaltadas por Guedes, que, apesar da pandemia, conseguiu R$ 230 bilhões com as vendas de subsidiárias de estatais, que não demandavam mudanças constitucionais. Segundo as contas do ministro, em quatro anos, no mesmo compasso, daria quase meio trilhão em privatizações.

Guedes também ressaltou a abertura da economia por meio da diminuição da tarifa do Mercosul, em 10%, para 94% dos produtos e pela sequência ao processo de ingresso do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

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Fogo amigo

Aliados de dentro do governo também foram alvo de críticas do ministro da Economia. Segundo ele, boa parte das críticas que recebeu se deram por "fogo amigo" que descredenciava "projetos ambiciosos" da sua pasta. 

"Eu cometi um erro. Sabem qual foi? Dividi com vocês essas metas todas que eu tinha e a oposição a essas mudanças importantes, dentro e fora do governo, rapidamente descredenciava os projetos mais ambiciosos. Os oposicionistas, que sempre foram contra as reformas, ganhavam uma força adicional de gente de dentro. Sempre houve fogo amigo, sempre há e sempre haverá."

"Se você não tem uma coalizão parlamentar, e nós não tínhamos quando chegamos, como vai transmitir alguma coisa para a equipe? Você tem de dizer “queremos privatizar estatais”, “queremos fazer uma reforma da Previdência”, “queremos fazer uma reforma administrativa”. Aí, eu percebi que você consegue mais se não compartilhar tanto as metas, porque as narrativas nem sempre são construtivas. São parte de uma cultura de quem não quer reconhecer que perdeu a eleição. Por isso, tenho falado menos", adicionou Guedes.

Zerar o déficit

Em campanha, o ministro prometeu privatizar R$ 1 trilhão e zerar o déficit público. Hoje, três anos de gestão e uma pandemia depois, o ministro reavalia e volta atrás. 

Guedes disse que nunca falou “eu vou vender essas seis estatais”, sempre falou “quero vender todas as estatais”. Nunca falou “eu vou zerar o déficit o ano que vem”, sempre disse “queremos zerar o déficit”.

"É uma falsa narrativa. O que você prefere: dizer que a sua meta é reduzir o déficit primário de 1,4% do PIB (Produto Interno Bruto) para 1% do PIB e cumpri-la ou colocar uma grande meta, de reduzir de 10,5% para 0,4% do PIB, que foi o que aconteceu em 2021, sem a definição de uma meta explícita? Neste ano, a meta vai ser bem fácil de cumprir. A meta que nós mandamos no orçamento é de R$ 170 bilhões de déficit. Ela será cumprida. Vocês vão ficar felizes. Eu já sei que não vou ficar feliz. Mas vou cumprir a meta."

Falta de apoio

Além da falta de apoio no governo, Guedes criticou a "inapetência da elite brasileira pelo avanço das reformas liberais" e disse que o Brasil não está pronto para uma agenda como a dele após 30 anos de social-desenvolvimentismo. 

A aliança com o Centrão intensificada nos dois últimos de governo "deu sustentação ao governo" na visão de Guedes após o racha com o PSL, partido pelo qual o presidente Jair Bolsonaro venceu as eleições. 

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"Você vê como as reformas andaram em 2021, mesmo num ano de pandemia, com a aprovação da autonomia do Banco Central, dos novos marcos regulatórios do gás, do saneamento, das ferrovias e da cabotagem, além da Lei de startups, da Lei de Falências e da BR do Mar. Quando tem apoio parlamentar, a coisa anda", comentou Guedes. 

Apesar dos escândalos revelados pela  CPI da Covid  e ligados ao esquema do Orçamento Secreto , Guedes disse que houve redução da corrupção no atual mandato por "uma questão moral", mas só será exterminada caso haja aceleração no calendário das privatizações.

"Nós achávamos que, depois dos escândalos do mensalão e do petrolão e dos problemas na Caixa, haveria vontade política de reduzir a corrupção sistêmica – e ela só será reduzida quando avançarmos com as privatizações", disse. 

"Agora, olha a dificuldade para fazer a privatização dos Correios, com a qual o presidente se comprometeu, que já foi aprovada pela Câmara, mas parou no Senado, que agora precisa dar esse passo. Com a Eletrobras, aconteceu algo parecido. A privatização já foi aprovada na Câmara e no Senado, mas teve uma travazinha no TCU (Tribunal de Contas da União). Eu acredito que vá destravar. Se 60 milhões de pessoas votaram num programa liberal, se o presidente se comprometeu com um programa liberal, se a Câmara e o Senado aprovaram a privatização da Eletrobras, quero crer que o TCU está apenas dando uma ajuda para que a coisa corra de uma forma mais suave. Acho muito importante dizer o seguinte: o diagnóstico inicial é o mesmo, a direção é a mesma, nós temos o mesmo ímpeto, ma houve a covid, deficiências em sustentação parlamentar e falsas narrativas que atrapalham o tempo inteiro. O importante é o Brasil não dar passos para trás", completou. 

Eleições

Guedes reforçou ter uma relação de respeito e confiança com Bolsonaro, e defendeu a manutenção de uma aliança dos liberais com os conservadores, em defesa de programa liberal democrata na economia, mas ressaltou que esse laço pode atrasar ainda mais a economia. 

"Há conservadores em torno do presidente que o aconselham a não empreender as reformas administrativa e tributária por receio de que percam votos, enquanto os liberais insistem que, para manter os seus votos, os votos do centro, é importante que as reformas estruturantes prossigam, pois elas reformas é que garantem o caminho da prosperidade."

Guedes se prontificou a ajudar na reeleição do presidente e disse estar satisfeito com o Congresso Nacional, que promete seguir votando pautas importantes em meio a confusão política. 

"Nós temos de prosseguir com as reformas. Que a gente tenha menos tempo, ok. Mas o tempo que temos deve ser dedicado a seguir com as reformas. O presidente da Câmara falou que já fez a reforma tributária e está esperando o Senado avançar com a parte dele e que está disposto a retomar a reforma administrativa. O presidente do Senado também falou que vamos seguir com as reformas que são importantes para o Brasil. Então, acho que tem chance de sair a mudança no Imposto de Renda."

Recuperação em V

Sobre as previsões de recessão para 2022, Guedes descartou qualquer expectativa "pessimista" de economistas do mercado. 

"Em 2021, quando eu dizia que a recuperação da economia viria em “v”, eles afirmavam que o “v” era de virtual, porque só o ministro estava vendo isso. No fim, a economia cresceu 4,5% e poderia ter crescido 5,5% ou 6%, se deixássemos os estímulos fiscais e monetários, como outros países estão deixando."

Em 60 dias Guedes espera ter um quadro mais claro da pandemia, o que abriria espaço para a volta do trabalho e consequente retomada do ritmo da economia. 





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