Binóculo invertido

Há um elemento indispensável à compreensão exata de uma determinada situação, que nem todos compreendem e muitos o enxergam de forma parcial: a correlação de forças

Foto: Laker/Pexels

Enxergar a parte e não perceber o todo é um erro de visão muito frequente no cotidiano do cidadão comum.

Afinal, todos os seres viventes são bombardeados a todo instante por mecanismos de percepção parcial da realidade que levam a isso.

Militantes políticos, em diversos níveis, são igualmente vítimas desses processos distorcivos.

Mais ainda quando se deixam levar por interesses pessoais ou de grupo, colocando-os acima da causa maior.

Para completar, há um elemento indispensável à compreensão exata de uma determinada situação, que nem todos compreendem e muitos o enxergam de forma parcial: a correlação de forças.

Neste ano 2022, que esperamos venha a ser abençoado por uma grande vitória eleitoral do povo brasileiro, muitos atores relativamente destacados da cena política se deixam conduzir pelo fígado, em detrimento do exercício cerebral de análise da realidade.

Veem a parte e não enxergam o todo.

Cuidam do que imaginam ser o limite das nossas forças e subestimam as forças adversárias. Desconhecem segmentos que podem e devem ser atraidos para o nosso campo ou neutralizados.

Inebriados por dados de pesquisas eleitorais favoráveis (que por mais consistentes que sejam ainda dizem respeito a uma fase bem anterior à disputa propriamente dita) permitem-se o delírio de estabelecer critérios rígidos para aceitarem ou não apoios vindos de um campo político que é preciso pelo menos dividir para que não some com o adversário principal.

A prevalecer esse tipo de raciocínio e postura tática, o sonho de derrotar a extrema direita nas eleições presidenciais poderá ser postergado por mais quatro anos.

Nossos vizinhos argentinos foram muito mais consequentes e estabeleceram como lema, na construção das necessárias alianças, “ampliar até doer”.

Ampliaram ao máximo a frente oposicionista; aqui e acolá doeu muito, mas venceram.

Cá entre nós, entre grupos e correntes situados à esquerda, o lema parece outro: ampliar dentro do possível, desde que não constranja gente de muito falso escrúpulo e ridícula criancice política.

Desejam um parto sem dor. Mesmo que o anestésico seja uma espécie de percepção precária da realidade através das lentes de um binóculo invertido.

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