Brasil de Fato PR - Edição 243

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Balança e cai

Divulgação | Corinthians

Esportes | p. 8

Com 3 jogos, Corinthians demite técnico

PARANÁ

Perfil Popular | p. 6

A educação das lutas Juliana Mildemberg busca valorização das professoras de educação infantil

Ano 5 Edição 243 4 a 9 de fevereiro de 2022 distribuição gratuita brasildefatopr.com.br

Giorgia Prates

Tragédia ou descaso?

Opinião | p. 2

Racismo estrutural Assassinato de Moïse desmascara mito da democracia racial no Brasil

Curitiba tem alagamentos todos os anos, atendimento a vítimas também é precário Cidades | p. 5

VIVENDO COM O VÍRUS

Reprodução Giorgia Prates

Divulgação | Morador

Médico diz que Covid deve se tornar endêmico, com casos graves entre não vacinados Entrevista | p.4

Reprodução


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 4 a 9 de fevereiro de 2022

Brasil 2022: entre a tensão e a esperança

editorial

E

ste é o primeiro editorial do Brasil de Fato Paraná deste ano. 2022 se inicia arrastando os sofridos 2020 e 2021. As primeiras semanas já nos mostram que não será um ano tranquilo. E muito menos fácil. Dois projetos contrários tomarão formas mais duras do confronto de caminhos para o Brasil. Nas urnas,

como indicam as pesquisas, Bolsonaro deve ser derrotado. Nas “armas”, desde a força do exército ao poder dos grandes empresários, o bolsonarismo ainda ruge. Portanto, enfrentaremos, além da batalha eleitoral, uma batalha pelo futuro, combatendo da covardia golpista que ameaça o resultado das urnas ao batalhão

miliciano que segue ativo dentro e fora do Estado brasileiro; da rapinagem liberal à autorização para matar; combatendo o racismo e o preconceito. É preciso derrotar o antiprojeto que transforma “o negociado sobre o legislado” em brutalidade contra o trabalhador. O caso de Moïse – negro e imigrante assassinado por

não mais que cobrar o seu devido salário – alerta o país. Não basta apenas prender o dono do quiosque, é preciso acabar com o sistema da milícia que o controla. Nossa tarefa é derrotar Bolsonaro e nossa responsabilidade histórica é enterrar o bolsonarismo. Lutar pela vida é nosso projeto de esperança.

SEMANA

opinião

Em memória de Lélia, justiça para Moïse!

Rodolfo de Souza Lima

Doutorando em Geografia Unesp Presidente Prudente, educador, militante da Consulta Popular

M

oïse Mugenyi Kabagambe, um trabalhador negro congolês refugiado, foi brutalmente assassinado num quiosque no Rio de Janeiro no dia 24 de janeiro. Ele foi espancado até a morte por cinco pessoas, por simplesmente ter cobrado seu salário atrasado por dois dias ao dono do estabelecimento.

A comunidade congolesa tem denunciado, com muita razão, que o problema é mais profundo, pois manifesta o racismo estrutural e a xenofobia presentes em nosso país. No Brasil, o racismo se mascara por meio de uma ideologia, que é o mito da democracia racial. Historicamente o movimento negro tem lutado contra este mito e um nome muito importante nesta luta foi a da militante e intelectual Lélia Gonzales, que faria

87 anos nesta semana. Para ela, “o efeito maior desse mito é que o racismo inexiste em nosso país, graças ao processo de miscigenação”. Quer dizer, predomina uma concepção romantizada da história que, devido à miscigenação, vivemos em país harmonioso, em que todos são iguais perante a lei. Lélia nos deixou lições valiosas para entender os casos cotidianos de discriminação racial e sua dimensão estrutural. Seja sobre como o capita-

lismo dependente formou-se uma massa de trabalhadores marginalizados, que é composta sobretudo por negros e negras, e de como a construção da identidade nacional está intimamente associada ao mito da democracia racial. Nesse sentido, devemos nos somar às reivindicações por justiça em conjunto ao movimento negro, no combate ao neofascismo, ao racismo estrutural e construir um projeto popular antirracista para o Brasil.

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 243 do Brasil de Fato Paraná, que circula, nesta semana, na sexta-feira. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas Gabriel Carriconde Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Rodolfo de Souza Lima ARTICULISTAS Fernanda Haag Cesar Caldas Marcio Mittelbach Douglas Gasparin Arruda Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach Fernando Marcelino Gustavo Erwin Kuss Luiz Fernando Rodrigues Naiara Bittencourt Roberto Baggio Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@ gmail.com REDES SOCIAIS /bdfpr @brasildefatopr Agora é sua vez! FALA Entre em contato POVO por e-mail ou pelas redes sociais, comente uma de nossas matérias e apareça aqui no BdF impresso


Brasil de Fato PR

Brasil de Fato PR Geral 3

Paraná, 4 a 9 de fevereiro de 2022

FRASE DA SEMANA

Certamente aparecerá algum inocente ou canalha (ou os dois) para dizer que ‘não foi racismo’

Moro terá menos tempo de TV antes das eleições Pré-candidato à presidência, o ex-juiz Sérgio Moro terá menos tempo de TV antes da eleição do que Lula, Bolsonaro e Ciro. O tempo foi apresentado pelo TSE e obedece à proporção de representatividade partidária dentro do Congresso Nacional conforme o resultado eleitoral de 2018. Filiado ao Podemos, o juiz tem 10 minutos de propaganda partidária obrigatória dentro de 20 inserções.

PT e PSB podem ampliar visibilidade de Lula

Líder nas pesquisas, o ex -presidente Lula poderá ter mais exposição de TV do que seus adversários antes das eleições presidenciais. O PT conta com 20 minutos, assim como o PDT de Ciro Gomes e o PL do presidente Jair Bolsonaro. Lula ainda pode aparecer nas propagandas do PSB, partido que costura a criação de uma federação.

Tempo sem candidatura

À direita, DEM e PSL que fizeram a fusão em torno do União Brasil, têm 20 minutos e 40 inserções cada. Presentes na base do governo, não possuem um nome para a disputa da presidência. A nova sigla pretende lançar candidatura própria.

Para vender o peixe

Segundo o TSE, “as legendas que terão acesso ao tempo de rádio e TV poderão exibir peças de propaganda que difundam os ideais partidários, transmitam mensagens aos filiados sobre a execução do programa e a realização de eventos da legenda”.

Disse em seu Twitter o advogado e professor de Direito Silvio Almeida. Ele analisou a morte por espancamento do congolês refugiado no Brasil Moïse Kabamgabe: “Um homem negro foi assassinado quando reivindicava direitos trabalhistas e ainda há quem negue que racismo seja relação de poder e que tenha profundos laços com a economia.” Divulgação

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Morte que não quer calar

Milhões no cartão

O assassinato do congolês Moïse Kabagambe, morto a pauladas por uma dívida trabalhista de R$ 200 num quiosque da praia na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, continua repercutindo em todo o país. No Paraná, o Levante Popular da Juventude de Londrina realizou protesto na madrugada da quinta (3) para pedir justiça. A ação ocorreu em frente a estabelecimentos que já receberam denúncias de racismo, como a Leroy Merlin da cidade. Para Curitiba está prevista manifestação no sábado, dia 5, às 17h, no Largo da Ordem, em frente à Igreja do Rosário.

A pedido do senador Fabiano Contarato (PT-ES), o TCU abriu investigação para apurar os gastos de Jair Bolsonaro com o cartão corporativo. Entre janeiro de 2019 e dezembro de 2021, o presidente gastou R$ 29,6 milhões, 18,8% mais que as despesas nos quatro anos dos governos de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).

Foi golpe Segundo a coluna de Mônica Bergamo, na “Folha de S.Paulo”, o ministro Luís Roberto Barroso do STF escreveu artigo para a revista do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, que ainda será lançada, em que diz que “o motivo real” para o impeachment da presiden-

te Dilma Rousseff (PT) foi a falta de apoio político, não as pedaladas.” O problema é que perda de apoio político não é motivo para a derrubada de um presidente no Brasil. E Barroso acaba confessando que o STF não cumpriu sua missão de salvaguardar a Constituição.

Até na Paraná Pesquisas Numa das únicas pesquisas em que aparecia com menos de 40% de intenções de voto, o ex-presidente Lula subiu mais de 5% na última edição da enquete da Paraná Pesquisas, chegando a 40,1% de preferência do eleitorado para presidente, contra 29,1% de Jair Bolsonaro (PL).

EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA A Cooperativa de Comercialização de Produtos da Reforma Agrária do Contestado – COOPERCONTESTADO, inscrita no CNPJ: 10.347.515/00116, com sede no Assentamento Etiene, Lote 011/a Bituruna - PR CEP: 84.640000, vem através de seu/ sua Diretor/a Presidente/a, Bronilde Rauvendal Vergopolan, no uso de suas atribuições que lhe são conferidas pelo Estatuto Social desta entidade e as leis vigentes, CONVOCAR os/as seus/suas cooperados/as para participar da ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA, a ser realizada no dia 31 de janeiro de 2022, na sede do Sindicato dos Trabalhadores/as na Agricultura Familiar de Bituruna, localizado na Av. Itália, 79 – Centro, Bituruna-PR, com a primeira convocação às 07:00 horas com a presença de no mínimo 2/3 (dois terços) dos Cooperados, em segunda convocação às 08:00 horas com a presença mínima de metade mais 01 dos cooperados, e se necessário a terceira convocação às 09:00 horas, com a presença de no mínimo 10 (dez) Cooperados, aptos a voto presentes respectivamente. Para deliberarem da seguinte ordem do dia: 1- Alteração e consolidação Estatutária. Todos os cooperados devem estar, obrigatoriamente, utilizando máscara facial. Sócios para fins de quórum 97. Bituruna-PR, 20 de janeiro de 2022. Bronilde Rauvendal Vergopolan Coordenadora Geral - Presidenta da COOPERCONTESTADO


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Brasil de Fato PR

Paraná, 4 a 9 de fevereiro de 2022

Vírus circulará por muito tempo, e casos graves ocorrerão entre não vacinados

Arquivo Pessoal

Para o médico Marcelo Ducroquet, governos devem investir em campanhas de vacinação Ana Carolina Caldas

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aneiro de 2022 trouxe más notícias para quem acreditava que o fim da pandemia estaria perto. Mas o avanço no Brasil da variante Ômicron, com maior transmissibilidade, aumentou drasticamente o número de pessoas com Covid 19. Para entender este momento, a redação do Brasil de Fato Paraná entrevistou o médico infectologista e professor da Universidade Positivo Marcelo Ducroquet. Para ele, com o avanço da vacinação, o vírus logo se tornará endêmico e os protocolos sanitários, como distanciamento social e uso de máscara, poderão chegar ao fim. Porém, faz um alerta: os casos graves permanecerão entre os não vacinados. Confira os principais trechos da entrevista: Brasil de Fato – Como o senhor tem acompanhado a alta de casos de contaminação pela Ômicron, nova variante do coronavírus? Marcelo Ducroquet – Inicialmente, os números mostram que a Ômicron tem sido dominante no Brasil no que chamamos de escape imunológico. Quer dizer, portanto, que ainda a vacina não tem sido eficaz para infecções e transmissões, mas tem sido importantíssima para impedir casos graves, como vistos antes, e mortes, tendo em vista o número baixo de óbitos neste momento. Dá uma ideia do que teria sido a pan-

Não vacinados, seja porque não quiseram vacinar ou por alguma contraindicação, vão continuar sofrendo com manifestações graves

demia lá atrás se não tivessem sido estabelecidas medidas rígidas de isolamento social. Teria sido muito mais grave do que foi. Alguns especialistas têm se arriscado a dizer que com este pico da pandemia e o avanço da vacinação chegaremos ao fim da pandemia. Qual sua análise sobre isso? É muito difícil falar no fim da pandemia. Dá para falar que estamos chegando perto do fim de medidas mais rígidas de isolamento e da situação de exceção nos hospitais. O que estamos vendo também é o fim de casos graves. Mas o coronavírus está a caminho de se tornar um vírus endêmico. Ou seja, estará com a gente por muito tempo. E os não vacinados, seja porque não quiseram vacinar ou por alguma contraindicação,

vão continuar sofrendo com manifestações graves. Neste momento, o que governos deveriam fazer para frear a alta disseminação? A vacinação é a medida mais eficaz. A gente não tem mais condições de voltar a medidas rígidas de isolamento social para proteger uma minoria, até por conta da economia, entre outros fatores. Acho injusto, neste momento, governos terem de decretar isolamento novamente porque temos 20% a 30% de não vacinados. Então, o que é preciso fazer é intensificar campanhas de conscientização sobre a vacina, é convencer essas pessoas a se vacinarem. A médio prazo, o que é preciso atingir é o contato de grande parte da população com o vírus e a forma mais segura é pelo antígeno da vacina.

NA PANDEMIA, AUMENTAM EM 56% INFECÇÕES POR SUPERBACTÉRIAS NO PR Estudo de pesquisadores da área médica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) revelou que as internações por Covid19 em unidades de terapia intensiva (UTI) no estado do Paraná favoreceram ao aumento de 56% na incidência de bactérias multirresistentes nos pacientes. A pesquisa indica que a tendência é que isso esteja ocorrendo em todo o Brasil. A maioria das infecções se dão pela bactéria Acinetobacter baumannii, considerada pela Organização Mundial da Saude (OMS) uma das mais perigosas. A pesquisa, que será publicada em fevereiro na versão impressa do “Journal of Hospital Infection”, conta com informações de 11.248 infecções bacterianas coletadas em 99 hospitais paranaenses em 2020. As infecções ocorreram principalmente por meio de equipamentos hospitalares, como sondas, cateteres e ventiladores mecânicos utilizados na fase mais aguda da pandemia.

SESA ESTÁ MONITORANDO A redação do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Secretaria do Estado da Saúde (Sesa) para entender como o estado está monitorando e que tipo de alerta deve ser dado aos paranaenses. Segundo a Sesa, “a Acinetobacter baumannii não é uma bactéria nova no ambiente hospitalar. Ele pode ser resistente a uma classe ou a vários antimicrobianos. É considerada uma bactéria oportunista.” A assessoria de comunicação informou ainda que o monitoramento vem ocorrendo, mas que não é motivo de alerta epidemiológico por ser considerada uma bactéria que de tempos em tempos encontra novas maneiras de evitar os efeitos dos antimicrobianos usados para tratar as infecções.


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Paraná, 4 a 9 de fevereiro de 2022

Giorgia Prates

Tragédia que se repete todo ano

Enchentes ocorrem em Curitiba sem ações para evitá-las ou atendimento adequado à população Frédi Vasconcelos

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uma rápida pesquisa no Google, é possível encontrar fotos de enchentes em Curitiba desde o começo dos anos 1.900. Que se repetem em todas as décadas do século 20. E em praticamente todos os anos deste século. E não foi diferente em 2022. Em janeiro já ocorreram, pelo menos, inundações no Parolin, na Água Verde e outros bairros.

No Parolin, um morador relatou ao BDF-PR, no começo de janeiro: “A água tomou conta de toda a casa em 5 minutos. Tudo alagado com duas crianças pequenas, o desespero foi horrível. Perdemos alimentos, colchão e móveis. Ainda tem cheiro de esgoto no quarto das crianças. Com a pandemia, nossa situação já estava difícil, e agora vamos perdendo tudo a cada chuva”, disse Rafael Vieira.

Além da chamada “tragédia” (ou descaso) já que se repete todos os anos, a redação do BDF recebeu relatos de moradores que, além dos estragos das chuvas, o atendimento da Prefeitura foi falho. A Defesa Civil não foi ao Parolin e no atendimento do Centro de Referência da Assistência Social, Cras, houve falta de informação e mesmo preconceito. Os moradores preferiGiorgia Prates

ram não falar com a reportagem neste momento, mas a assessoria da vereadora Carol Dartora (PT), que participou de reuniões com o órgão da Prefeitura, relata que o Cras se negou a dar um atendimento decente e representantes do órgão chegaram a dizer: “Vocês escolheram morar aqui, por que não se mudam? Se perdeu as coisas, agora tem de trabalhar para comprar outras...”

Para a vereadora, houve total falta de sensibilidade. “Na reunião no Parolin, minha assessoria acompanhou para fazer uma mediação, havia pedidos de roupas, de auxílio de emergência, que sequer é mencionado pelos funcionários, pedido para que a Prefeitura fizesse alguma coisa. E nada. Houve até casos de leptospirose, e o Cras não deu orientação de que teria de ir ao médico”, denuncia.

DENÚNCIAS AO MINISTÉRIO PÚBLICO A vereadora fez denúncias ao Ministério Público sobre a situação, pedindo acompanhamento do órgão às ações da Prefeitura. “A gente pediu para o MP intervir porque a Prefeitura, além de tudo, estava se negando a ter alguma medida emergencial, mesmo com os moradores chamando... A denúncia é bem completa, com diversas situações e especificidades locais. A gente pediu para o MP acompanhar, e ele fez uma Notícia de Fato e notificou a Prefeitura para que ela se movimente”, complementa. Carol Dartora ainda lembra que o período das fortes chuvas não se

esgotou e que até março podem ocorrer situações ainda piores. “Não dá para imaginar pessoas que já têm tão pouco e todo ano perderem o pouco que têm por obras mal-executadas, malpensadas, malplanejadas. Por falta até de orientação aos moradores. É um problema complexo, com lixo nos rios, falta de educação ambiental que a Prefeitura deveria fazer, falta de orientação contra a leptospirose, que está atacando na cidade inteira... São coisas que ficam invisíveis. É absurdo uma cidade rica como Curitiba ter moradores morrendo por leptospirose”, conclui.

Quero que eles limpem o rio Frédi Vasconcelos

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a terça-feira, 1º/2, Fabricio Rodrigues, presidente da Associação dos Moradores da Vila Maria e Uberlândia, teve reunião com representantes da Secretaria de Obras e do departamento de pontes e drenagem da Prefeitura para solicitar obras para evitar enchentes no Rio Formosa.

Como a que já ocorreu este ano, levando 28 famílias a perderem tudo. Segundo Fabrício, a resposta que obteve é que tem de solicitar as obras pelo programa Fala Curitiba, em que são votadas prioridades por regional da cidade a serem incluídas na lei orçamentária. “Disseram que obras assim, espontaneamente, a Prefeitura não faz. É uma

consulta pública, depois vai para votação na regional para daí ver se passou ou não. Eles alegam que têm feito obras paliativas para conter as enchentes, mas isso foi em 2019 e estamos em 2022”, afirma. Fabrício explica que as obras são urgentes porque os bairros estão no final de uma bacia que junta de 6 a 7 córregos, num afluente do

Rio Barigui, e com a impermeabilização e o assoreamento a cada dia aumenta o fluxo de água. “A Prefeitura diz que não tem como ficar aprofundando o rio todo ano. A gente até compreende, mas quer uma solução. Eles sabem do problema e precisam tomar uma atitude... Todo ano a gente tem problema de enchentes, são mais de 35 anos e a prefeitu-

ra não faz nada. Não quero obras faraônicas, quero que eles limpem o rio”, conclui. Outro lado O BDF Paraná mandou perguntas sobre os alagamentos à assessoria de comunicação da Prefeitura de Curitiba, que não enviou respostas até o fechamento desta edição. Se as respostas chegarem, serão acrescentadas no site do BDF-PR.


Brasil del Fato PR 6 Perfi Popular

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Paraná, 4 a 9 de fevereiro de 2022

Juliana: a educação em todas as lutas

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Nova coordenadora geral do Sismuc forjou-se nas lutas da educação, sindicais, antirracistas e de juventude Pedro Carrano

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uliana Mildemberg, 32, pedagoga e professora de educação infantil do Cmei Santa Rita, no bairro Tatuquara, hoje é a nova coordenadora geral do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba, o Sismuc. Conhecido pelo envolvimento em lutas pela qualidade do setor público, em especial na Saúde e Educação, o sindicato é segundo maior de funcionários municipais do Brasil. O envolvimento de Juliana com o “front” sindical iniciouse quase dez anos atrás, como ela recorda, ao final da greve de

dois dias de novembro de 2013, das então trabalhadoras dos Cmeis, em busca de valorização, de um plano de carreira e até de uma identidade própria, uma vez que o segmento era depreciado no senso comum como “cuidadoras”, e não como parte de um projeto de ensino.

Durante a greve, o grupo de Juliana esteve ativo e passou a se aproximar do sindicato. “A greve foi finalizada de maneira que não nos agradou, então fomos conversar na sede do sindicato, nos dividimos e formamos um grupo técnico que nos ajudou depois”, lembra. Giorgia Prates

A construção do plano de carreira Em março de 2014, nova greve de cinco dias, massiva e marcante das mesmas educadoras balançou a gestão de Gustavo Fruet (PDT) e permitiu o início da conquista do plano de carreira e de vários itens para 4 mil professores de educação infantil, que passaram a ser reconhecidos por essa nomenclatura. A gestão municipal foi obrigada a incorporar o grupo técnico nas negociações do plano, o que foi uma verdadeira aula

para toda a geração de Juliana. Afinal, nada veio sem combates. A própria formação de Juliana e outras servidoras foi resultado de parceria da Prefeitura com instituições de ensino em EAD. A chamada “onda amarela”, em referência à camiseta adotada pelas servidoras, configurouse como um movimento importante dentro da categoria. Mais tarde, impactado pelas políticas nacionais de teto dos gastos e cortes nas aposentadorias ini-

ciadas no governo de Michel Temer (2016), o movimento entrou em crise. “Sentimos o golpe de 2016, um refluxo na própria categoria. Nesse ano, Fruet não finaliza o enquadramento completo do plano de carreiras, houve congelamento, aliado ao refluxo político nacional”, pondera, o que acabou dividindo, tirando força e trazendo divisões para dentro do movimento, avalia.

Experiência sindical e luta antirracista Enquanto mulher negra, para a qual o Sismuc em específico tem o histórico de uma diretoria com representatividade, Juliana defende que envolver a juventude e as mulheres negras ainda é uma grave lacuna no sindicalismo de forma geral. “Há dificuldade de representação enquanto juventude e enquanto mulher negra, mas dada a nossa experiência de luta, a categoria queria algo novo, devido a nossa

Greca e o fechamento de canais de negociação construção. Isso sem deixar de valorizar as fundadoras do sindicato, que deram sua vida para o Sismuc”, afirma Juliana, reforçando também o seu caráter de coordenadora geral, num local de decisões coletivas. O sindicalismo gerou politização e experiências para Juliana, caso do curso feito em Turim, na Itália, em encontro da juventude sindical, por meio da Central Úni-

ca dos Trabalhadores (CUT), na Organização Internacional do Trabalho (OIT), em que conheceu jovens dirigentes de países como Chile, Colômbia e Bolívia. “Ter ido a Cuba também me trouxe uma mudança de pensamento, de que há um embargo econômico e que o povo resiste com suas próprias possibilidades, que é possível investir em educação”, complementa.

Logo depois, a gestão de Rafael Greca (DEM), em 2017 fecharia portas e canais com o sindicato, abriria a violência e o gás lacrimogêneo no lugar da negociação, e agora a nova gestão sindical tem um desafio para conseguir novas conquistas. “São três anos sem conquistas. E agora temos que trazer o plano nacional de educação para a educação infantil e revogar as mudanças na previdência”, elenca Juliana.


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Paraná, 4 a 9 de fevereiro de 2022

Cinema gratuito no CIC Brasil de Fato Filmes nacionais e internacionais serão exibidos no Teatro da Vila Para ficar por dentro Dia 4 Bob Cuspe Nós não gostamos de gente Animação que mistura documentário, comédia e “roadmovie.” O filme conta a história de Bob Cuspe, um velho punk tentando escapar de um deserto apocalíptico que na verdade é um purgatório dentro da mente do seu criador, Angeli, um cartunista passando por uma crise autoral. Classificação 16 anos.

Dia 5 A Vida Invisível Divulgação

Ana Carolina Caldas

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odas as sextas-feiras e sábados, às 19h, vai ter cinema gratuito no bairro CIC, em Curitiba. Os filmes serão exibidos no Teatro da Vila (Rua Davi Xavier da Silva, 451) e os ingressos devem ser retirados uma hora antes na bilheteria. A seleção dos filmes será feita pela mesma equipe do Cine Passeio. Produções nacionais e internacionais que ainda não passaram na TV aberta estarão em cartaz como o Bob Cuspe, Drunk: mais uma rodada, a Vida Invisível, Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar, entre outros títulos da Vitrine Filmes. (veja programação ao lado até o dia 12/2, e confira no site do BDF-PR na íntegra).

Divulgação

Eurídice, 18, e Guida, 20, são duas irmãs inseparáveis que moram com os pais. Ambas têm um sonho: Eurídice o de se tornar uma pianista profissional. Guida de viver uma grande história de amor. Elas acabam sendo separadas e forçadas a viver distantes uma da outra. Sozinhas, irão lutar para tomar as rédeas dos seus destinos, enquanto nunca desistem de se reencontrar. Classificação 16 anos.

Dia 11 Pacarrete Bailarina idosa, considerada louca, que vive em Russas, no Ceará, uma cidade do interior. Na véspera da festa de 200 anos da cidade, ela decide fazer uma apresentação de dança como presente para o povo. Classificação 12 anos.

Dia 12 Drunk: Mais uma Rodada Para alegrar um colega em crise, um grupo de professores de ensino médio decide testar uma ousada teoria de que serão mais felizes e bem-sucedidos vivendo com um pouco de álcool no sangue. Parece a solução perfeita para quebrar o marasmo de seus dias. E, assim, começa esta embriagante sátira social. Classificação 16 anos.

Paraná recebe prêmio por ser aliado de direitos de travestis e transexuais

Iniciativa é da Associação Nacional de Travestis e Transexuais e da Parada LGBTI de Apucarana Redação

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o sábado (29), o Brasil de Fato Paraná recebeu o Prêmio “Jacklenie Benites”, sendo reconhecido como “aliade dos direitos Travestis e Transexuais.” A menção honrosa foi uma iniciativa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e da Parada LGBTI de Apucarana. A entrega dos prêmios aconteceu em Apucarana no evento “Café Trans e Travesti”, organizado pela coordenação da Parada LGBTI da cidade. A atividade também teve o objetivo de repercutir o Relatório Nacional da Violência Trans, divulgado em Brasília, na sexta-feira (28). “É um gesto singelo, mas uma forma de agradecer

quem nós reconhecemos como aliados. Também pelo jornal sempre tratar a pauta com respeito e dignidade”, explica Renata Borges, coordenadora da Parada LGBTI e integrante da Antra. Para o coordenador do Brasil de Fato Paraná, o jornalista Pedro Carrano, a homenagem reforça o compromisso do jornal em defesa da diversidade e luta contra o preconceito. “Ficamos muito gratos pela confiança em nosso trabalho. A redação do Brasil de Fato Paraná se coloca na linha de frente da luta contra o preconceito, em defesa da diversidade de gênero, na conscientização da sociedade nesse momento em que um governo neofascista não respeita transexuais e travestis”, disse. Arquivo BdF


Brasil de Fato PR 8 Esportes

Paraná, 4 a 9 de fevereiro de 2022

O Observatório Januário Por Cesar Caldas

Muitos dos torcedores mais jovens talvez não conheçam o narrador esportivo Januário de Oliveira, falecido em 2021 e, certamente, o mais profícuo criador de bordões copiados por outros locutores de rádio e TV do Brasil. Seriam necessárias duas colunas para elencar só os 20 mais célebres, que se somam aos apelidos que nunca mais desgrudaram de jogadores famosos. É de seu prenome que, desde o santo mártir dos primórdios do cristianismo, se remete imediatamente em todo o mundo ao mês de janeiro. No Coritiba, o técnico Gustavo Morínigo fez dos primeiros dias do ano um observatório como a principal utilidade de treinos e jogos. O objetivo é formar o time-base para as fases finais do Estadual e o começo das competições nacionais, que já batem às portas. A chegada de Thonny Anderson nesta semana sinaliza que os experimentos e contratações estão longe de terminar.

Do tenso ao intenso Por Marcio Mittelbach

Menos de dez dias de campeonato e já vivemos clima de tensão na Vila Capanema. Mesmo levando em conta as novas restrições financeiras, o futebol demonstrado pelo Paraná, especialmente nas duas últimas partidas, preocupa. Fomos da euforia após a vitória sobre o Azuriz aos gritos de “time sem-vergonha” após o jogo em São José. E o calendário não oferece tempo para discutir a relação. No sábado jogamos com o Operário, em casa, na quartafeira pegamos o Cascavel, no interior, e no outro sábado o Londrina, em casa. Em ano com o calendário que parece um pesadelo, a vitória vale mais que três pontos, vale o alívio, vale a esperança. Por outro lado, a derrota é ainda mais amarga. Sábado é hora desse elenco mostrar a que veio. A torcida vai estar lá, vibrante como sempre, esperando uma faísca de bom futebol pra fazer aquela explosão na arquibancada.

Brasil de Fato PR

Quem sobreviverá até o fim de 2022? Após três partidas, Corinthians demite técnico. Em 2021, foram mais de 100 trocas em grandes times Frédi Vasconcelos

A

penas três partidas no Campeonato Paulista foram suficientes para que o Corinthians descobrisse que o técnico, que no ano passado era considerado confiável, não servia mais. Com a derrota para o Santos, de virada, por 2 a 1, a diretoria optou pelo mais fácil, cortar a cabeça do comandante. Contratado em maio de 2021, Sylvinho dirigiu o time em 43 jogos, com 16 vitórias, 14 empates, 13 derrotas, 42 gols marcados e 40 sofridos. Aproveitamento de 48%. Nada muito diferente do começo do Paulistão, em que ganhou uma, empatou outra e foi derrotado na terceira partida, com 44% de pontos ganhos. Mas a explicação pode estar muito mais na expectativa do que no que se viu em campo. A diretoria do time contratou muitos jogadores caros, famosos, a maior parte veteranos, como William, Renato Augusto, Paulinho, e os resultados não apareceram no ano passado. Para 2022, a expectativa era alta e, o início, decepcionante. Mas derrubar técnicos quando os re-

sultados não vêm é a fórmula (fácil) e predileta de 100 em cada 100 dirigentes brasileiros. No ano passado, segundo levantamento da página “Rotatividade dos Técnicos”, do site Globo Esporte, que acompanha 28 grandes times brasileiros, foram 125 trocas. A maior parte delas nos meses de fevereiro e agosto, com 16 mudanças em cada um dos meses. O que mostra que estaduais derrubam, sim, treinadores. E que do primeiro para o segundo turno do Brasileirão os técnicos têm de se segurar nos bancos. Pelo mesmo levantamento, um técnico num grande time no Brasil dura, em média, 6 meses. No Corinthians, a média é pouco maior, de um técnico a cada 8 meses, desde 2003. Coincidentemente, mais ou menos o que durou o ex-lateral esquerdo no comando do time do Parque São Jorge. A questão agora é para onde vai caminhar a diretoria. Irá seguir a moda de um técnico estrangeiro ou partirá para os nomes disponíveis no mercado, como Mano Menezes e Renato Gaúcho. Qualquer que seja o escolhido, o primeiro desafio será ficar mais de 8 meses na direção do time.

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Começo promissor Por Douglas Gasparin Arruda

Nunca um começo de ano foi tão empolgante como este para a torcida do Furacão. A política do clube até aqui foi sempre a de segurar os gastos e contratar apenas em margens apertadas, apostando mais em promessas jovens ou em bons atletas em baixa na carreira. Mas 2022 começou com uma cara diferente: de partida, a diretoria apostou na reformulação do departamento de futebol e apresentou os reforços de Alexandre Mattos (campeão no Palmeiras de 2018 e no Galo de 2021), Carlinhos Neves e Fernando Yamada. Para o time principal, chegaram os volantes Bryan García, Hugo Moura e Matheus Fernandes. Na terça-feira, apresentaram os grandes anúncios do ano: Vitor Bueno, Marlos e Pablo. Ainda existem chances de fechar com o atacante Tomás Cuello, mas a vontade do atleta é permanecer no Bragantino.

2022 começa intenso A primeira coluna de 2022 vem com várias notícias sobre o futebol de mulheres, mostrando que a temporada promete. Começamos com as mudanças na CBF. Em meados de janeiro, fomos surpreendidas com a demissão de Duda Luizelli do cargo de Coordenadora de Seleções Femininas. Nesta semana, a federação anunciou novos nomes para a gestão da modalidade. Amauri Nascimento assume o cargo de supervisor de competições femininas e Ana Lorena Marche o de supervisora de seleções femininas. Hierarquicamente ambos respondem a Aline Pellegrino, que assumiu a posição de coordenadora

de seleções. Vamos agora para a convocação. Pia Sundhage convocou 23 jogadoras para o Torneio Internacional da França, de 14 a 23 de fevereiro. Participam da competição ainda França, Holanda e Finlândia. A maior novidade foi o retorno de Luana, após se recuperar de lesão. Estreiam com a Amarelinha Jully, goleira do Palmeiras, Fê Palermo, lateral do São Paulo, e Thais Regina, zagueira são-paulina. Para finalizar, a Supercopa inicia neste fim de semana com oito times: Corinthians, Palmeiras, Internacional, Grêmio, Real Brasília, Cruzeiro, Flamengo e Esmac-PA prometendo muita emoção.


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