Descrição de chapéu Eleições 2022

Doria enfrenta PSDB rachado após prévias, rejeição e dissidência pró-Tebet

Aliados do governador paulista preveem crescimento nas pesquisas no meio do ano

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Vencedor das prévias presidenciais do PSDB realizadas em novembro, o governador de São Paulo, João Doria, planeja o lançamento de sua campanha em meio a uma série de dificuldades, como a divisão no partido, alta taxa de rejeição, falta de alianças e até uma dissidência tucana a favor da candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS).

O pré-candidato tucano derrotado nas prévias, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, explicitou a insatisfação de ala do partido com Doria na semana passada. Em entrevista à rádio O Povo CBN, ele defendeu que o PSDB e Doria tivessem disposição de rever a candidatura caso o governador paulista se mantenha estacionado nas pesquisas.

O governador João Doria, pré-candidato à Presidência pelo PSDB - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

No levantamento Datafolha de dezembro, Doria alcança 4% das intenções de votos, enquanto outros nomes da chamada terceira via têm melhor desempenho –Ciro Gomes (PDT) tem 7% e Sergio Moro (Podemos), 9%.

Já no quesito rejeição, Doria chega a 34%, empatado com o ex-presidente Lula (PT), presidenciável que lidera a corrida eleitoral. O presidente Jair Bolsonaro (PL) é o mais rejeitado, com a marca de 60%.

O que apontam tucanos ligados a Leite é que Doria não demonstrou crescimento nas pesquisas nos últimos meses, mesmo assumindo suas pretensões eleitorais e adotando uma espécie de campanha permanente no Governo de São Paulo. E, sobretudo, apesar de ser o responsável pelo início da vacinação no país.

Integrantes da campanha de Doria afirmam não sentir pressão do partido por melhor desempenho e avaliam que o governador paulista ainda tem tempo para provar a viabilidade da sua candidatura –a expectativa é a de que ele decole no meio do ano.

As convenções partidárias devem ocorrer entre 20 de julho e 5 de agosto. Esse é o prazo para que os partidos tomem as decisões finais a respeito de candidaturas e alianças.

Na entrevista, Leite defendeu que o PSDB avalie as condições de seguir em frente com o nome de Doria entre fevereiro e março. "Infelizmente, desde que venceu as prévias, o governador de São Paulo ainda não conseguiu mostrar nas pesquisas algum tipo de movimento", disse.

Membros da direção do PSDB e de outros partidos da terceira via ouvidos pela Folha afirmam não fazer sentido uma cobrança por resultado até março. Mas, se não houver melhora até o meio do ano, haverá inquietação de aliados e não se descartaria uma composição em que Doria fosse obrigado a abrir mão da cabeça de chapa.

Embora durante as prévias Doria e Leite tenham se comprometido a trabalhar pela união do partido, e líderes tucanos tenham minimizado a disputa fratricida, na prática, a sigla segue dividida entre quem apoia o paulista e quem se recusa a embarcar em sua campanha.

A vitória nas prévias foi apertada –54% a 45%. Aliados de Leite dizem ser difícil se aliar a Doria, lembrando as acusações de pressões e fraude de filiações para vencer as prévias.

Por um lado, Doria convidou o presidente do PSDB, Bruno Araújo, para coordenar sua campanha, em um gesto ao partido na tentativa de unificação. Por outro lado, questões práticas pesam para o pé atrás com sua candidatura, como a resistência de candidatos a governador pelo PSDB de se associarem ao presidenciável paulista.

Procurado pela Folha para comentar as discórdias no PSDB, Araújo afirmou apenas que, até março, o partido está dedicado a estruturar a campanha nacional e definir as candidaturas estaduais. "A partir de 1º de abril, vamos ter clareza do cenário", declarou a respeito de alianças.

Nesse cenário, os tucanos da ala histórica que fizeram campanha para Leite sugerem que a melhor alternativa na chamada terceira via é Tebet, que tem 1% no Datafolha, mas, para eles, é a candidatura com mais chances de vingar.

Os senadores do PSDB José Aníbal (SP) e Tasso Jereissati (CE), por exemplo, que apoiaram Leite, veem qualidades na colega senadora.

"Tebet é excelente alternativa. Vai dar uma nova dinâmica na construção de uma terceira via. Ela tem muita garra, percepção e sensibilidade", afirma Aníbal.

No MDB, o crescente entusiasmo por Tebet entre tucanos é bem recebido. Emedebistas também esperam que senadora, ao se tornar conhecida, avance sobre os votos da terceira via –fincando a campanha em questões de diversidade por ser a única mulher e relembrando sua atuação na CPI da Covid.

A questão, porém, é delicada, já que o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), é próximo de Doria. O MDB em São Paulo deve apoiar Rodrigo Garcia (PSDB), que é o candidato escolhido por Doria para sucedê-lo.

No cenário nacional, contudo, o partido optou por lançar Tebet e tem caciques pró-Lula. Líderes do MDB pregam união da terceira via e não descartam uma chapa Tebet-Doria —haveria maturidade e diálogo para isso, mas a aliança dependeria dos resultados de pesquisas em junho.

Entusiastas de Doria também veem em Tebet um bom nome para a chapa, mas como vice dele. O governador paulista já se comprometeu a ter uma candidata a vice mulher.

Outra sigla que embarcou na candidatura de Garcia, mas não na de Doria, é o União Brasil (fusão de DEM e PSL). Para detratores de Doria no PSDB, também pesa contra a candidatura do governador a falta de perspectiva de aliança com outras legendas, o que indicaria seu isolamento.

O União Brasil, por exemplo, tem se aproximado da candidatura de Moro, que é o principal rival de Doria na terceira via.

O deputado federal Junior Bozzella (PSL-SP), que organiza a campanha de Moro em São Paulo, afirmou à coluna Mônica Bergamo que a união dessas candidaturas é um caminho natural ainda que exija "desprendimento, renúncias e sacrifícios".

A unificação da terceira via, segundo ele, depende de que o candidato atrás nas pesquisas aceite ser vice do que está na frente –o que, no momento, coloca a pressão do lado de Doria.

Entre aliados de Doria, porém, há dúvidas sobre a manutenção da candidatura de Moro, que também tem alta rejeição e impõe um custo ao fundo eleitoral do Podemos.

A questão da viabilidade eleitoral de Doria foi o cerne do argumento pró-Leite durante a campanha de prévias e, agora, é evocada para questionar a manutenção da candidatura do paulista.

Alguns aliados de Doria, de forma reservada, veem na falta de disposição e cooperação do entorno de Leite uma atitude de recalque e cobram a fidelidade que o gaúcho disse ter em relação ao partido. Também veem na opção por Tebet um balão de ensaio.

Não há dúvidas entre o time do governador de que ele subirá nas pesquisas na medida em que suas atitudes pró-isolamento na pandemia forem explicadas e que seus investimentos no estado forem inaugurados.

Doria planeja uma série de viagens pelo estado até abril, quando deve deixar o cargo para concorrer. A partir daí, viajará pelo país, começando por Minas Gerais e Nordeste.

O governador, que voltou a ficar em evidência depois de iniciar a vacinação de crianças no país na semana passada, deve inaugurar a sede de sua campanha, uma casa em área nobre de São Paulo, em março. O local vai abrigar uma produtora, com estúdios e auditório.

O presidente do PSDB de São Paulo, Marco Vinholi, afirma à Folha que Doria deve crescer ao longo do ano e minimiza a divisão entre os tucanos.

"Não há nenhuma possibilidade do PSDB voltar atrás na candidatura, pelo contrário. A imensa maioria embarcou e estamos fazendo esse trabalho de união. Pode ter uma questão ou outra isolada, que vamos trabalhando. É natural", disse.

"Estamos avançando bem. É um trabalho que vem sendo feito e vai dar resultado na hora certa. Doria tomou atitudes corretas, tem entregas importantes no estado, como a vacina, o crescimento do PIB. Trabalhamos para transformar isso em intenção de voto", completa.

Ainda nas prévias, a campanha de Doria o assumiu como "chato". A ideia é a de que a rejeição a um chato é possível de ser superada, ao contrário da rejeição cristalizada de Bolsonaro e Lula.

Estrategistas de Leite, no entanto, não veem a rejeição de Doria ligada apenas ao desgaste da pandemia, mas sobretudo ao seu estilo marqueteiro e sua indisposição com a direita bolsonarista e com a esquerda, o que tornaria difícil a reversão.

Quem conversa com Doria sobre a eleição, contudo, afirma que, depois de vencer três prévias e duas eleições, o governador está confiante de que terá mais um resultado positivo em outubro.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.