GDT: preços internacionais dos lácteos sofrem correções e importações seguem competitivas

O Global Dairy Trade (GDT) alcançou seu trecentésimo décimo evento hoje (21/06) e, após passar por aumentos, os preços médios sofreram uma correção de mercado e apresentaram um leve recuo.

Na última semana, o mercado veio ganhando força frente a indícios de volta a normalidade na China. Como a dinâmica geopolítica vem sendo extremamente volátil, este cenário já não prevaleceu nesta quinzena, e o leilão 310º da plataforma GDT apresentou recuo de 1,2% na média de seus preços, que fecharam em US$ 4.600 /tonelada.

Gráfico 1. Preço médio leilão GDT x GDT Price Index.

Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.

Nesta quinzena, ocorreu uma diminuição no volume negociado. Foram negociadas 20.760 toneladas de lácteos, volume 3,15% menor em relação ao último leilão. Este é o menor volume negociado para a segunda quinzena de junho desde 2011.

Gráfico 2. Volumes negociados nos eventos do leilão GDT.

Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.

Dentre as variações dos preços dos derivados, tivemos os seguintes movimentos nos preços praticados:

• Leite em pó desnatado (+0,85%, fechando em US$ 4.276 /tonelada),
• Queijos (-9,13%, fechando em US$ 4.875 /tonelada),
• Manteiga (+2,39%, fechando em US$ 6.213 /tonelada).

Os preços médios do leite em pó integral apresentaram um ligeiro recuo, variando aproximadamente -0,79%, passando de US$ 4.158 /ton para US$ 4.125 /ton. Apesar da variação negativa, os preços se mantiveram acima dos US$ 4.000 /tonelada.

Confira na Tabela 1 o preço médio dos derivados após a finalização do evento e a variação em relação ao evento anterior.

Tabela 1. Preço e variação do índice dos produtos negociados no leilão GDT em 21/06/2022.

Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2022.

Um dos pontos que contribuíram para este cenário de estagnação e correções de mercado nos preços dos derivados lácteos internacionais foi a divulgação de dados da economia norte-americana. A inflação nos Estados Unidos segue em ascendência, e atingiu o maior valor dos últimos 40 anos.

Esta dinâmica ascendeu um alerta no mercado para uma possível recessão no país, o que afetaria o mercado global como um todo. Em recente decisão do Federal Reserve, os juros básicos foram elevados, a fim de sanar (ou pelo menos amenizar) esta situação. 

Outro ponto que afetou e alterou o cenário que vinha se formando foi a política de tolerância zero da covid-19 na China. O país asiático vinha sinalizando volta a normalidade, o que trouxe esperanças de retomada da demanda dos chineses, porém ao longo dos últimos dias novos lockdowns foram impostos.

Ao longo do mês de junho, a administração de Xangai voltou a fechar distritos, após o surgimento de novos casos de covid-19. Apenas um destes distritos reunia 2,5 milhões de moradores. Além de Xangai, Pequim também passa pela mesma situação. Na província de Jilin, em Changchoung, com apenas um caso da doença, foi declarado lockdown parcial, com fechamento de transporte público.

Estes são indicativos de que novos lockdowns mais severos podem retornar ao país e, consequentemente, afetar a demanda de alimentos, dentre eles, os lácteos. Ambos fatores causaram impactos negativos para o mercado, freando as altas observadas no último leilão.

Em relação aos contratos futuros de leite em pó integral no GDT e na Bolsa de Futuros da Nova Zelândia (NZX Futures), os preços apresentaram recuos comparando-se com a última análise.

Em meio as incertezas geradas pelo mercado extremamente volátil, as projeções do GDT estimam uma ligeira queda para julho, seguido de leves aumentos, girando em torno de US$ 4.000 /tonelada e US$ 4.200 /tonelada. Para a NZX Futures, os preços se mantém ao redor de US$ 4.200, pelo menos em curto prazo.

Gráfico 4. Contratos futuros de leite em pó integral.

Fonte: GDT X NZX Futures, elaborado pelo MilkPoint Mercado, 2022.

Como os resultados do leilão GDT afetam o mercado brasileiro?

Para entendermos o impacto das negociações do evento GDT no mercado nacional, podemos considerar o câmbio desta segunda-feira (20/06/2022) — R$ 5,16 — e o valor do leite em pó integral internacional (US$ 4.125 /tonelada), para chegarmos ao preço equivalente de um leite importado colocado no Brasil, que seria de R$ 2,59 /litro.

Este valor está bem próximo, se comparado com o leite pago ao produtor no mês de maio – fechado na média de R$ 2,54/litro (CEPEA/ESALQ) –  mas, é um valor bem abaixo se comparado ao preço do leite spot da segunda quinzena de junho (R$ 4,16/litro – média Brasil).

Conforme observado, os preços no mercado interno seguem passando por aumentos, devido a baixa disponibilidade de leite. Os preços do leite spot atingiram máximas históricas nesta última quinzena, sendo um indicativo para um comportamento de alta dos preços pagos aos produtores nos próximos pagamentos.

Ao longo dos últimos dias, o dólar voltou a ganhar força. O cenário de alta foi impulsionado pela recente decisão do Federal Reserve de aumentar os juros nos Estados Unidos, após o país apresentar a maior inflação dos últimos 40 anos. Na tentativa de elevar os juros para controlar a inflação, a moeda norte-americana torna-se mais atrativa globalmente. Esta dinâmica contribui para desfavorecer a competitividade das importações.

Bom reforçar que os preços internacionais praticados no GDT são parâmetros e indicadores para os demais preços internacionais. Grande parte das importações provenientes ao Brasil são do Mercosul (aproximadamente 87% em 2021). Seguindo nesta linha, um ponto de atenção é a disponibilidade de leite por parte dos nossos principais parceiros comerciais, que segue baixa para os próximos meses.

Mesmo com fatores impactando negativamente na competitividade das importações, como por exemplo, a elevação do dólar, e a disponibilidade do Mercosul, a competitividade dos produtos internacionais segue ganhando força, frente ao recuo nos preços internacionais, e principalmente, aos preços no mercado interno, que vem passando por sucessivos aumentos, atingindo recordes históricos.

Dessa forma,  a tendência é uma elevação nas importações, por conta do ganho de competitividade dos produtos internacionais, e uma janela de exportações ainda fechada.