Os três componentes de toda grande história

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Recentemente, eu estava treinando um executivo do alto escalão de uma empresa multibilionária. Ele começou a me contar sobre seu passado e me disse que era de Mumbai. Como eu já passei um tempo em Mumbai, perguntei: “de onde em Mumbai?”

“Das favelas de Mumbai”, ele respondeu. “Minha mãe me teve quando ela tinha 16 anos. Ela me fez estudar. No meio do caos implacável, ela me fez estudar.”

Sua resposta chamou muito a minha atenção por duas razões. Primeiro, porque essa mãe fez toda a diferença na vida dele. Depois, porque em apenas algumas frases, ele conseguiu reunir todos os elementos de uma grande história.

Como palestrante (ou como ouvinte, membro de uma plateia), você provavelmente já experimentou o impacto que uma grande história pode causar. Certa vez, em uma entrevista de 2014, o cineasta, palestrante e apresentador de TV Jason Silva disse a Joe Berkowitz, da Fast Company: “Nossa humanidade foi toda construída sobre a capacidade de nos entendermos no contexto de uma história, então somos basicamente programados para ouvir histórias”. “Uma história boa de verdade atrai seus ouvintes e permite que eles embarquem com você na sua jornada, coisa que a mera descrição de fatos diretos e frios não consegue provocar.”

Contudo, para criar uma narrativa convincente, é preciso considerar três elementos. Da próxima vez que você for incorporar uma narrativa ao seu discurso ou à sua apresentação, certifique-se de que está cumprindo esses requisitos:

CONSTRUA ANTECIPAÇÃO

Se eu disser a você, “entre no meu carro”, você provavelmente me perguntará: “Mas para onde nós vamos?”

Pense no seu discurso como um destino. O público gosta de saber para onde vocês estão indo. Quanto mais os seus ouvintes conseguirem antecipar para onde você está dirigindo a narrativa, mais eles se sentirão envolvidos na história.  

No último natal, comprei um jogo infantil chamado Shark Attack. Com um gancho de plástico, você precisa arrancar o peixe da boca do tubarão. No entanto, a qualquer momento, a boca do tubarão pode se mexer e mastigar o peixe. Foi hilário, e a graça da brincadeira estava no fato de termos certeza de que o tubarão iria morder em algum momento, mas não sabermos exatamente quando.

Esse é um jogo de antecipação, algo que é crucial para uma ótima narrativa. Ao dizer ao seu público o que eles podem esperar antecipadamente (mas sem compartilhar com eles quando isso acontecerá), você cria antecipação sem revelar muito do seu discurso.

COMPARTILHE EXPERIÊNCIAS PESSOAIS

Uma vez perguntei a um cliente que havia sido almirante em tempos de guerra: “Qual foi o melhor momento da sua carreira na marinha?” Ele olhou para mim e, sem titubear, disse: “quando eu voltei para casa”.

Suas palavras me tocaram. Quantas vezes você viajou a trabalho, ou até mesmo desbravou o mundo por prazer, mas descobriu que a melhor sensação era a dos momentos em que você sabia que logo ia chegar em casa? O que torna essa história tão atraente é a conexão pessoal. Filmes e programas de televisão dependem de imagens visuais fortes para permitir que você experimente um mundo diferente, mas como um orador, você precisa confiar em sua autenticidade e em sua capacidade de se conectar com os ouvintes. E isso começa por contar histórias carregadas de sentimentos pessoais, com os quais seu público pode se identificar.

Você até pode sentir a tentação de repetir uma boa história que acabou de ouvir dos outros, mas terá muito mais poder como orador quando estiver narrando suas próprias histórias. Quando você conta a história de outra pessoa, você se concentra em acertar as palavras. Mas quando você fala sobre as suas histórias pessoais, você se concentra na experiência.

Por exemplo: eu estava muito animada porque tinha conseguido assentos na primeira fila para ver uma apresentação da cantora Bette Midler. Mal podia esperar para ouvi-la cantar. Só que ela subiu no palco e, em vez de cantar, começou a falar. Acontece que eu não tinha lido as letras miúdas do material de divulgação do evento, e ela estava lá para fazer um discurso sobre seu envolvimento no projeto de restauração dos parques da cidade de Nova York e não para fazer um show. Mas assim que me recuperei desse mal-entendido, fiquei impressionada com a forma vívida como ela sabe compartilhar suas experiências. Como a grande atriz que ela também é, demonstrou que uma grande narrativa consiste em revelar os sentimentos que estão no centro da experiência – e não apenas nos eventos.

NÃO SE ESTENDA DEMAIS

Uma boa história deve ter entre 1 minuto e 30 segundos e dois minutos e 30 segundos, no máximo. É como dirigir: se você fizer muitos desvios, é provável que se perca.

Da mesma forma, muitos oradores acrescentam detalhes excessivos sobre os personagens – suas roupas, suas origens, sua cultura, sua história e sua ascendência. Mas isso deixa o público mais confuso do que engajado, porque eles vão se perguntar: mas pra onde tudo isso está indo?

Digamos que eu tivesse dito a você que estava sentada com meu marido, que é psicólogo e também um grande fã de Bette Midler, que assistimos a Bette Midler se apresentar em Nova York, que pagamos mais de US $ 100 por cada ingresso, e que isso era muito dinheiro anos atrás. Você se importaria com todos esses detalhes? Na melhor das hipóteses, até gostaria de saber deles – na pior, não faria nenhuma questão. 

Pense sempre no que você gostaria de ouvir se estivesse ouvindo uma pessoa contar sua história. Provavelmente, você não ficaria muito emocionado se eles iniciassem um verdadeiro monólogo.


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