Entrevista

Comando Vermelho: Secretário é repreendido por Dino e admite culpa

Secretário de Assuntos Legislativos do MJ, Elias Vaz disse ao Correio que não entregou o cargo. Dino ficou "muito contrariado" com toda situação

Secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, o ex-deputado Elias Vaz admitiu que o erro foi dele.  -  (crédito: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)
Secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, o ex-deputado Elias Vaz admitiu que o erro foi dele. - (crédito: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)
postado em 13/11/2023 18:47 / atualizado em 13/11/2023 19:06

Secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, o ex-deputado Elias Vaz assumiu toda a responsabilidade pelo fato de a advogada Luciane Barbosa, com supostos vínculos com o Comando Vermelho e condenada por lavagem de dinheiro e associação para o tráfico, ter sido recebido em audiência pública nas dependências do Palácio da Justiça, sede da pasta.

Ao Correio, Vaz admitiu que o erro foi dele, que não fez nenhuma prévia checagem - e que nunca faz em audiências que recebe pessoas de fora - e contou que foi repreendido pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, chefe superior.

"O ministro está muito contrariado com tudo isso. Lógico que me chamou a atenção", disse Elias Vaz, que, na Câmara, foi um deputado do PSB de Goiás que se notabilizou por fazer denúncias de compras pelo Exército de produtos que vão de picanha a Viagra.

O secretário afirmou que na conversa com Dino não colocou o cargo à disposição, que agiu de boa fé e que "acredita" que o ministro o compreendeu. Vaz afirmou que irá mudar o comportamento de agora em diante e que irá fazer um "filtro" quando for receber convidados para audiência na sua sala.

A advogada é casada com Clemilson Faria, líder da facção no Amazonas, conhecido por Tio Patinhas e que cumpre pena no estado. Confira entrevista com o secretário Elias Vaz:

Secretário, como se deu essa história da advogada ligada ao Comando Vermelho ser recebida no ministério?

No dia 14 de março recebi uma mensagem da advogada Janira Rocha, ela estava em Brasília e precisava falar comigo. Fui fundador do PSol com ela e a conheço há vinte anos. Pediu para conversar comigo, retornei. Sempre tenho demandas de gente aqui pedindo coisas. Ela me pediu para receber esse pessoal. Não especificou quem era. Marquei a conversa para o dia 16 e ela chegou com mais cinco pessoas. Ela passou a palavra para algumas pessoas, uma senhora que a filha tinha sido assassinada e para outra mãe de um rapaz que em tese tinha se suicidado, mas que tinha sido assassinado.

E depois?

Depois passou para essa senhora (a advogada Luciane Barbosa). Ela falou do sistema penitenciário. A própria Janira falou desse problema em outros estados. Aí, falei para ela que não era assunto para nossa secretaria e pedi para o secretário de Políticas Penais (Rafael Brandani) recebê-la, em outro prédio. Eram reclamações de comida, de violações, questão de receber visitas.

A advogada Luciane Barbosa comentou algo sobre a relação dela com um condenado, sobre ela mesmo ser condenada, ou relações com uma facção criminosa?

Não falou nada. Se apresentou como presidente de uma entidade (Associação Instituto Liberdade do Amazonas) e que representava familiares de população carcerária. Já recebi pessoas de outros estados, é normal que venham trazer demandas. Não sabia dessa relação. Só fiquei sabendo agora. Não tinha conhecimento de Tio Patinhas nenhum. Só conheço o da história em quadrinho. Foi isso o que aconteceu.

O senhor assume a responsabilidade de tê-la recebido?

Reconheço que temos autonomia para fazer nossas agendas. Se teve erro, foi meu. Devia ter verificado. Não foi culpa de ninguém do ministério. Confesso que não faço isso em nenhuma reunião. Não faço verificação. Vou passar a fazer agora.

Como o senhor está avaliando a repercussão, em especial na oposição?

A oposição está se apropriando dessa história para cometer leviandades. De alguém que recebeu sem saber gente que tinha relação de parentesco com alguém facção criminosa. Estão fazendo ilações de relações com o crime organizado. Ao contrário, estamos investindo recursos nessa ação, já foram R$ 3 bilhões. Fundamental é o dinheiro para enfraquecer as facções criminosas. E esse pessoal vem com essa insinuação, com essa sociedade polarizada de grupos de ultra-direita que não mede o que faz. A reunião foi pública, com fotos publicadas nas redes sociais.

O senhor conversou com o ministro Flávio Dino (Justiça) sobre o assunto?

Falei com o ministro hoje de manhã. Ele está muito contrariado com tudo isso. Me chamou a atenção, para que verifique melhor quem eu recebo. Relatei o que ocorreu e acredito que ele compreendeu. Óbvio que me chamou a atenção.

O senhor chegou a colocar o cargo à disposição?

Não coloquei o cargo à disposição. Agi de boa fé. Não fiz nada de errado, seja do ponto de vista criminal e de qualquer questão ética. Meu erro, minha falha foi não ter verificado quem vou receber.

Que medidas estão sendo tomadas?

Agora, será sempre feita uma verificação prévia, uma portaria da Secretaria-executiva. Não vou passar por isso de novo. E vou manter o mesmo ritmo. Enquanto estiver aqui vou manter meu trabalho e tomar mais cuidado. Vou continuar atendendo, só que agora com determinado filtro.

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