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Apoio ao empreendedorismo ajuda a fixar talento no interior do país

Em Portalegre é possível comprar uma casa de quatro assoalhadas pelo preço de um simples quarto em Lisboa
Em Portalegre é possível comprar uma casa de quatro assoalhadas pelo preço de um simples quarto em Lisboa
Luís Barra

Custos de vida mais baixos e melhor qualidade de vida são argumentos que pesam a favor dos territórios de baixa densidade. Portalegre é um exemplo de como é possível contrariar a desertificação através da dinâmica entre a academia e o tecido empresarial. “Inovação e Sustentabilidade – Juntos por um Território com Futuro” é o tema da conferência do Expresso que acontece, dia 23, no Instituto Politécnico de Portalegre

Francisco de Almeida Fernandes

A tendência da desertificação dos territórios do interior é conhecida e o último relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre os resultados dos Censos 2021 veio atualizar os números desta realidade. Cerca de 20% da população portuguesa vive nos sete municípios mais populosos que abrange uma área de apenas 1,1% de todo o país, um sinal de “litoralização”, aponta o INE. Captar e fixar residentes para as regiões mais afastadas das grandes metrópoles é, por isso, um desafio que as pequenas cidades têm procurado enfrentar. Em Portalegre, o apoio ao empreendedorismo parece ser uma das respostas ao problema.

“Obviamente, confrontamo-nos com algumas dificuldades ao nível da captação e fixação de talento, mas são cada vez mais esbatidas porque alguns dos constrangimentos que existem são amplamente superados com a qualidade de vida que temos”, explica Luís Loures. O presidente do Instituto Politécnico de Portalegre recusa, por isso, o “fatalismo” associado às regiões periféricas e prefere olhar para o tema como uma oportunidade de desenvolvimento. A par do que considera ser “um ensino diferenciado” na instituição que lidera, em particular pela dinamização de projetos de investigação que envolvem os estudantes, o responsável não tem dúvidas de que é a ligação entre a academia e o tecido empresarial que marca a diferença.

“Serão poucas as instituições de ensino superior em Portugal em que o aluno tem possibilidade de, por um lado, participar em projetos de investigação reais e, por outro, desenvolver a sua empresa sem custos”, destaca. Luís Loures refere-se ao “ecossistema criativo e produtivo” criado por via da incubadora de negócios instalada no campus do politécnico. Ali, os alunos podem fundar e fazer crescer startups e spin-offs com apoio da instituição de ensino e das empresas parceiras, como a Delta Cafés, a Softinsa (do grupo IBM) ou a Kyntech Services. Estas duas últimas organizações escolheram a instituição de ensino como local para criar um polo especializado em projetos ligados ao desenvolvimento de tecnologia na área da Internet das Coisas (IoT), das cidades inteligentes e automação, entre outras.

“Hoje, num mundo altamente globalizado, as pessoas podem trabalhar a partir de qualquer lugar e podem fazê-lo num sítio onde não têm uma hora de trânsito para chegar ao trabalho”, afirma Luís Loures

Henrique Mourisca, diretor geral da Softinsa, vê a proximidade empresarial aos espaços de ensino superior como “estratégica”. “Achamos também que temos um papel social e de responsabilidade em apoiar o desenvolvimento do interior do nosso país”, acrescenta. Além da captação de talento recém-licenciado, escritórios em regiões como Portalegre são igualmente uma forma de “atrair talento com mais experiência que viva nas grandes cidades e que valoriza a qualidade de vida que este tipo de cidades proporciona”, explica. Atualmente com cerca de 30 trabalhadores em Portalegre, a empresa prevê poder vir a incorporar “15 a 20 pessoas por ano” no espaço que tem no campus do politécnico.

O sucesso da incubadora tem sido tanto que será inaugurada a segunda fase do projeto no próximo dia 8 de março, que prevê a duplicação do espaço físico. “Ainda não foi inaugurado e já temos mais de metade desse espaço comprometido”, aponta o presidente do Politécnico de Portalegre.

As vantagens são, para Luís Loures, claras: o dinamismo económico e a proximidade às empresas permite fixar talento, mas também acrescentar valor ao ensino e à formação do instituto. “Hoje, num mundo altamente globalizado, as pessoas podem trabalhar a partir de qualquer lugar e podem fazê-lo num sítio onde não têm uma hora de trânsito para chegar ao trabalho”, exemplifica.

O tema “Inovação e Sustentabilidade – Juntos por um Território com Futuro” estará no centro da conferência organizada pelo Expresso, à boleia da comemoração dos 50 anos do semanário, e que acontece, esta quinta-feira, 23, no auditório do Instituto Politécnico de Portalegre. O evento terá transmissão em direto através do Facebook do Expresso a partir das 15h30.

20%

da população portuguesa está concentrada em apenas 1,1% do território nacional, segundo os Censos 2021. É um “padrão de litoralização do país”, aponta o INE. A região do Alentejo perdeu 7% de população desde 2011

Conferência “Inovação e Sustentabilidade - Juntos por um Território com Futuro”

O que é

À boleia das comemorações do 50º aniversário do Expresso, o semanário quer sentir o pulso ao país e aos desafios sentidos nas suas diferentes regiões. Portalegre é um dos locais escolhidos para debater as dificuldades dos territórios de baixa densidade, mas sobretudo as oportunidades e as estratégias para o desenvolvimento.

Quando, onde e a que horas?

Quinta-feira, 23, a partir das 15h30, no Auditório do Instituto Politécnico de Portalegre.

Quem são os oradores da mesa-redonda?

  • João Vieira Pereira, diretor do Expresso;
  • Ricardo Campos, presidente do Fórum Energia e Clima;
  • Luís Loures, presidente do Instituto Politécnico de Portalegre;
  • Hugo Hilário, presidente Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo;
  • Henrique Mourisca, diretor-geral da Softinsa;
  • Miguel Ribeirinho, Corporate Affairs da Delta Cafés.

Porque é que este evento é importante?

Numa altura em que, segundo o relatório dos Censos 2021, Portugal está a assistir a uma intensificação do processo de litoralização do país, por via da concentração da população no litoral, é fundamental discutir uma estratégia de verdadeira coesão territorial. Por outro lado, os crescentes custos de vida nos grandes centros urbanos, como Lisboa ou Porto, reforçam cada vez mais as vantagens do interior - mais qualidade de vida e menores custos.

Como posso ver?

Através da página de Facebook do Expresso

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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