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ASANTEE,

rtigo de Reviso
/ Review A.C.R.P
Article
N.R.; TEMER,

A Lingustica de Roman Jakobson: Contribuies para o Estudo da Comunicao


Roman Jakobsons Linguistics: Contributions to Communication Studies

Nellie Rego Santeea*; Ana Carolina Rocha Pessoa Temera


Universidade Federal de Gois

*E-mail: nelliesantee@gmail.com

Resumo
Roman Jakobson uma presena constante nas ementas dos cursos de comunicao em todo o mundo. Seu modelo de comunicao foi
amplamente difundido e at os dias de hoje considerado por alguns como a reproduo fiel do processo de comunicao. Compreender as
escolas que influenciaram seu trabalho e a biografia deste autor de grande importncia para que se tenha em mente o contexto histricoacadmico que gerou uma das correntes tericas mais populares de nosso tempo.
Palavras-chave: Jakobson. Lingustica. Teoria Informacional da Comunicao. Shannon e Weaver. Teorias da Comunicao.

Abstract
Roman Jakobson is a very important author in the communication study. His communication model has been widely broadcasted and even
today it is used by some as the exact reproduction of the communication process. To understand Jakobsons biography and the schools he was
part of is very important to the major comprehension of the academical-historical context that created one of the most popular communication
theories of our time.
Keywords: Jakobson. Linguistics. Information Theory. Shannon e Weaver. Communication Theory

1 Introduo
Roman Jakobson o responsvel pelo modelo de
comunicao mais utilizado na histria das Teorias da
Comunicao. Neste trabalho, abordaremos de que forma as
escolas acadmicas influenciaram Jakobson em sua jornada
rumo Lingustica Matemtico-Estrutural, e quais eram suas
principais ideias a respeito destes campos do conhecimento.
2 Biografia
Roman Osipovich Jakobson ( )
nasceu em 1986, em Moscou. Estudou no Instituto Lazarev de
Lnguas Orientais da Universidade de Moscou de 1914 a 1918.
Sempre foi engajado no estudo da dialetologia, folclore russo
e na arte de vanguarda, principalmente cubismo e futurismo.
Seus laos estreitos com a poesia (foi amigo de Maiacvski e
Khlebnikov) o levaram a participar do Crculo Lingustico de
Moscou de 1915 a 1920 como fundador e presidente. Jakobson
tambm ajudou na fundao da OPOIAZ (bchestvo pro
izutchniu poettcheskovo iazyk - Sociedade para o Estudo
da Linguagem Potica) em 1916, da qual participavam
linguistas, crticos literrios e poetas. Eles propunham uma
redefinio dos estudos literrios, com a recusa de qualquer
interpretao extraliterria. Desses dois grupos nasceria o
formalismo russo, que ser tratado adiante. Em 1917 ocorreu a

Revoluo Socialista na Rssia, levando Jakobson a se exilar


na Tchecolosvquia em 1920, lecionando na Universidade
Masaryk e escrevendo uma srie de trabalhos importantes
sobre a poesia tcheca. Junto com Trubetzkoy fundou a ala
russa do Crculo Lingustico de Praga em 1928, por ocasio do
I Congresso Internacional de Linguistas em Haia, resultando
em uma Comunicao as Teses de 1929 assinada por
Jakobson, Kartzvsky e Trubetzkoy. Nas Teses foram traadas
as diretrizes fundamentais que nortearam toda a obra de
Jakobson. Em 1930, terminou o doutorado pela Universidade
de Praga. Fugindo da ocupao nazista na Tchecolosvquia,
passa dois anos na Escandinvia, lecionando em Copenhague,
Oslo e Upsala (CAMARA JUNIOR, 1970; DE CAMPOS,
1970; JAKOBSON, 2006; 2008; TOLEDO, 1971).
Em 1939 iniciou-se a Segunda Guerra Mundial, e em
1941 Jakobson publicou um de seus livros mais famosos,
Kindersprache, Aphasie und Allegemeine Lautgesetze (algo
como Linguagem infantil, Afasia e Fonolgicos Universais
no publicado no Brasil). Logo em seguida, transferiuse para os Estados Unidos. Lecionou nas universidades de
Columbia, Harvard e no MIT (Massachusetts Institute of
Technology). Participou das atividades do Crculo Lingustico
de Nova Iorque e da Sociedade Lingustica dos Estados
Unidos, tendo sido eleito presidente em 1956. Nos EUA teve
contato com Claude Lvi-Strauss, influenciando o nascimento

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da Antropologia Estrutural. Foi nos Estados Unidos tambm

Continuando suas viagens pelo mundo, em setembro de

que Jakobson escreveu seus ensaios de maior importncia,

1968 Jakobson realizou uma visita ao Brasil participando de

incluindo o aprofundamento na fonologia, rea de estudo

vrias conferncias, que influenciaram o trabalho de vrios

iniciada ainda na Rssia, refletindo sobre as relaes entre

acadmicos brasileiros, como J. Mattoso Cmara Junior,

som e sentido em literatura e poesia (JAKOBSON, 2008;

Boris Schnaiderman, Haroldo de Campos, Izidoro Blikstein,

PAVEAU; SARFATI, 2006). Durante o tempo em que esteve

entre muitos outros (JAKOBSON, 1970). Roman Jakobson

nos EUA, realizou um trabalho de misso diplomtica entre

faleceu em 1982 aos 85 anos, em Boston, pouco tempo aps

as academias ocidentais e orientais, sendo um pesquisador das

ter ganhado o Prmio Feltrinelli1 em 1980.

lnguas eslavas fora da Europa.


Kursell (2010) argumenta que esse tipo de troca entre

2.1 Influncias

os dois hemisfrios pode ser notado em seu trabalho, que o

No geral no existe uma s linha de trabalho que norteie

desenvolvimento de sua lingustica foi uma estratgia para

toda a produo de Jakobson, que elaborou uma lingustica

furar o bloqueio da cortina de ferro erguida conta o regime

que se aproximava de vrias disciplinas, como fonologia,

sovitico, agindo politicamente por meio da lingustica. Em

patologia da linguagem, antropologia, teoria da informao,

1956, a URSS convidou Jakobson a visitar o pas como um

estilstica e folclore. A maioria de seus trabalhos encontra-se

representante americano do Comit Internacional de Slavistas

disperso em revistas, anais e volumes de coletneas, alm de

(ICS), aps 35 anos ele retornava sua regio de origem

muitas vezes serem realizados em parceria.

para participar do Congresso Internacional de Slavistas.

Entre os vrios ramos de estudo que influenciaram

Depois desta viagem retornou quatro vezes mais, mesmo

Jakobson, alguns foram essenciais no desenvolvimento de

sendo um cidado dos EUA com pesquisas financiadas

seu trabalho acerca do processo de comunicao: Saussure,

pela Rockefeller-Foundation, e considerado um traidor

com a lingustica estrutural; os Formalistas Russos; a

pelo regime stalinista. Por outro lado, na era McCarthy,

psicologia comportamentalista; a Teoria Informacional da

Jakobson tambm foi acusado pelos Estados Unidos de

Comunicao, etc. Neste trabalho, o foco foi dado nas escolas

conspirao com o bloco comunista (KURSELL, 2010).

de pensamento que o levaram a formular o seu famoso modelo

Ao estabelecer uma lingustica formal e isenta, ele pde

de comunicao, que ser mostrado adiante. Para mostrar

alcanar pesquisadores de ambos os lados da cortina, que

como essas influncias esto sendo abordadas, foi elaborado

poderiam estudar a lngua sem influncia do regime poltico.

o esquema abaixo.

1906
Saussure

1910
Formalistas Russos

1929
Teses de Praga

1914
Bloomfield
1913
Watson

INFLUNCIAS
Lingustica
Psicologia
Communucation Research
Ciberntica

1960
Jacobson

?
Buhler
1948
Lasswell

1949
Shannon e Weaver

1948
Wiener
Figura 1: Influncias no Trabalho de Roman Jakobson

1 Prmio oferecido pela Accademia Nazionale dei Licei para reconhecer feitos na arte, msica, literatura, histria, filosofia, medicina e cincias fsicas
e biolgicas. Lista de vencedores: http://www.lincei.it/premi/assegnati

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Cada um desses autores ou escolas e as datas da publicao


de seus principais trabalhos sero explicados adiante.

O fuzilamento de Gumiliov (1886-1921); a longa agonia


espiritual e as insuportveis torturas fsicas que levaram Blok
(1880-1921) morte; as privaes cruis e a morte desumana de
Khlbnikov (1885-1992); os suicdios anunciados de Iessimin
(1985-1925) e Maiakvski (1893-1930). Assim, pereceram, no
curso dos anos 20 deste sculo, na idade de 30 e 40 anos de idade,
os inspiradores de toda uma gerao (JAKOBSON, 2006, p. 11).

3 Formalismo Russo
Nascido do Crculo Lingustico de Moscou e da OPOIAZ
nas dcadas de 1910 e 1920, o formalismo russo teve muitas
de suas bases idealizadas por Roman Jakobson. Em 1919,
Jakobson escreveu um texto que se tornaria famoso por
resumir o pensamento do movimento formalista russo: A
poesia linguagem em sua funo esttica. Deste modo, o
objeto do estudo literrio no a literatura, mas a literaridade,
isto , aquilo que torna determinada obra uma obra literria
(JAKOBSON, 1971, p. x).
Os dois grupos que iniciaram o formalismo russo
tambm deram incio ao pensamento de Jakobson acerca da
linguagem. Eles voltavam sua ateno para a substancialidade
da arte escrita, tanto poesia quanto literatura. Interessava
a eles investigar quais elementos formais tornavam um
texto artstico. Por se oporem completamente ao estudo
da literatura partindo da historicidade e biografia do autor,
foram depreciativamente apelidados de formalistas pelos que
apoiavam o sociologismo no campo dos estudos literrios.
Sua principal premissa era estudar a parte slida das obras
literrias: o palpvel, o analisvel. Teixeira (1998) cita Victor
Chklovski como o primeiro a sistematizar a ideia de que a
linguagem potica fosse um desvio da lngua cotidiana, dando
ateno sua forma. Assim, teria sido ele a desencadear
a abordagem lingustica da literatura utilizada por todo o
grupo de formalistas russos. A partir desse ponto surge nova
forma de abordagem da literatura, no mais como discurso
espiritual e ornado, mas como maneira especfica de organizar
e articular a linguagem. Levando em considerao a estrutura
verbal do texto e a percepo dela pelo leitor, se interessando
por problemas de ritmo, mtrica, estilo e composio
(JAKOBSON, 2006).
At ento, jamais se chegara a um conceito to relativo
do valor da obra de arte, que passou a ser definida como
uma estrutura sgnica contrria ou divergente do padro
dominante (TEIXEIRA, 1998, p.38).

Apesar da ateno para a forma, Blikstein (2008) diz que


eles no consideravam a dicotomia entre forma e contedo,
na verdade, viam na obra literria uma vinculao entre som
e sentido, pendendo para a fonologia, ao invs da fontica.
Em 1930 o formalismo foi praticamente extinto na Rssia
agora Unio das Repblicas Socialistas Soviticas por ser
tachado de burgus e ser considerado um desvio ideolgico.
Foi ento apagado da literatura russa e desconsiderado pela
academia por muitas dcadas. Seus membros foram exilados,
mudaram de abordagem ou at foram fuzilados (JAKOBSON,
2006; TOLEDO, 1971).
Em sua obra A gerao que esbanjou seus poetas (2006)
Jakobson fala sobre o destino de muitos de seus parceiros
formalistas:

Mais tarde, quando emigrou para os EUA, Jakobson


difundiu pelo ocidente as ideias nascidas no Formalismo Russo,
principalmente com seus estudos da Funo Potica da linguagem,
ambiguidade da mensagem potica e adensamento do significante.
Somente em 1962 que as ideias do Formalismo foram aceitas
novamente na Unio Sovitica com a publicao peridica
de importantes estudos sobre semitica e lingustica, com o
nome de Pesquisas Tipolgico-Estruturais (TOLEDO, 1971).
4 Teoria Hipodrmica da Comunicao
A Teoria Hipodrmica da Comunicao foi baseada
principalmente em uma teoria da ao elaborada pela psicologia
comportamentalista (tambm chamada de behaviorista). Os
pontos principais do comportamentalismo foram lanados por
J. B. Watson em 1913, em um manifesto na Psychological
Review: A psicologia como o comportamentalista a v. Diz
ele: A psicologia, tal como a v o comportamentalista, um
ramo puramente objetivo e experimental da cincia natural.
Seu objetivo terico prever e controlar o comportamento
(WATSON, 1913 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1992, p. 240).
Cada comportamento, seja humano ou animal, disparado
por um estmulo, de maneira direta. Assim: E R (Estmulo
Resposta). Segundo os pensamentos de Watson, o
objetivo final do comportamentalismo ser capaz de prever
uma resposta conhecendo o estmulo ou vice versa. O
comportamento humano, assim, pode ser eficazmente previsto
e controlado (SCHULTZ; SCHULTZ, 1992).
Este pensamento foi estendido para o estudo da
comunicao, no qual se acreditava que, mediante o estmulo
correto, qualquer audincia poderia ser levada a uma
resposta planejada. Assim foi formada a Teoria Hipodrmica
da Comunicao (ou Bullet Theory), segundo a qual a
comunicao poderia ser inoculada nas pessoas, como em
uma agulha hipodrmica.
5 O Incio da Communication Research
Um dos primeiros a pensar a pesquisa emprica em
comunicao nos anos 30, a Communication Research, foi
Harold Lasswell, durante o que foi considerado o perodo
ureo da Teoria Hipodrmica (WOLF, 2008, p. 12). Em 1948,
ele props que

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Uma maneira convincente para descrever um ato de


comunicao consiste em responder s seguintes perguntas:
Quem
Diz o qu
Em que canal
Para quem
Com que efeito?
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Assim o estudo cientfico em comunicao se interessa


em responder essas questes, estudando respectivamente o
comunicador (anlise de controle), contedo, meios/mdia,
audincia e efeitos. Wolf (2008) explica que o modelo de
Lasswell se tornou a teoria da comunicao mais difundida
da poca, organizando a communication research em torno
de dois temas: anlise dos efeitos e a anlise dos contedos.
Percebe-se a a influncia do comportamentalismo na teoria
de Lasswell, que acaba dando maior importncia em estudar
que tipo de contedo (estmulo) pode causar determinado
efeito (resposta). Ela tambm teve estreita relao com a
Teoria Informacional da Comunicao.
6 Teoria Informacional da Comunicao
A Teoria Informacional da Comunicao2 bastante
influenciada pelo comportamentalismo de Watson, com o estudo
da aferio dos comportamentos humanos (POLISTCHUCK;
TRINTA, 2003). Porm, os principais conceitos de seu
paradigma comearam a ser construdos por Norbert Wiener,
com a ciberntica. De modo geral, a ciberntica se propunha
a estudar, de maneira interdisciplinar, sistemas de qualquer

natureza capazes de receber, conservar e transformar informao.


Reunindo estas duas influncias, foram se formando as bases
para um estudo da comunicao que envolvesse o estudo do
controle comportamental pela previsibilidade, o clculo dos
sinais aparentes e a regulao automtica da ao humana
(POLISTCHUCK; TRINTA, 2003).
A partir dessa base terica, Claude Shannon e Warren
Weaver, ambos os engenheiros da Bell Telephone (filial da
American Telegraph & Telephone - AT&T), formularam o
modelo terico-matemtico da comunicao, que acabou se
tornando um dos mais influentes na communication research.
Era uma teoria de extrema simplicidade, aplicabilidade e fcil
compreenso, sendo esses uns dos motivos de seu sucesso.
Diz Gilbert (1966, p.320):
Em um trabalho publicado em 1948, Shannon no s definiu
uma medida razovel para a informao como tambm a
aplicou para provar teoremas incrveis, que fornecem critrios
para a avaliao e comparao de diferentes sistemas de
comunicao. [] A necessidade de bons modos de avaliao
de sistemas de comunicao era evidente, e o trabalho de
Shannon recebeu ateno imediata.

fonte de
informao

destinatrio

mensagem
transmissor

sinal
recebido

sinal

mensagem
receptor

fonte de
de rudo
Fonte: (WOLF, 2008, p.108)

Figura 2: Modelo terico de Shannon e Weaver

Neste modelo, uma fonte de informao envia uma


mensagem que codificada por um transmissor, transmitida
por um canal, descodificada por um receptor, recuperando a
mensagem original que recebida pelo destinatrio. No meio
do caminho o sinal pode ser afetado por uma fonte de rudo,
que distorce e atrapalha o entendimento correto da mensagem.
Por ser um modelo da engenharia da comunicao, ele
pressupe uma comunicao meramente transmissora, como
no modelo da Teoria Hipodrmica. Esse tipo de abordagem da
comunicao em linha reta ser absorvida por muitas teorias
subsequentes, entre elas a lingustica estrutural (MATTELART;
MATTELART, 2002). O objetivo principal deste modelo
assegurar uma transmisso de informao rpida e com pouca
ou nenhuma distoro, aumentando assim o rendimento total

do processo de transmisso de informao (WOLF, 2008). Esse


modelo, mesmo tendo sido desenvolvido para mquinas, pode
ser considerado para a comunicao entre duas mquinas; uma
mquina e um ser humano; e entre dois seres humanos (ECO,
1972 apud WOLF, 2008).
Shannon e Weaver, enquanto engenheiros de
telecomunicaes estavam preocupados apenas na forma da
transmisso da mensagem, para resolver problemas de ordem
tcnica (POLISTCHUCK; TRINTA, 2003). Portanto, para eles,
o contedo da mensagem era de pouca relevncia. Seu interesse
estava em conciliar baixo custo e alto rendimento da transmisso
de mensagens. Eles pressupem que a mensagem enviada possua
um sentido, ento bastar que se aperfeioe a codificao para
que se melhore a capacidade semntica da mensagem. O sentido

2 Ou Teoria da Informao, ou Teoria Matemtica da Comunicao.

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da mensagem depende de fatores culturais e psicolgicos no so


privilegiadas no modelo (POLISTCHUCK; TRINTA, 2003).
Uma das maiores inovaes conquistadas por este
modelo foi a incluso do rudo no processo de comunicao,
o reconhecimento de algo que possa atrapalhar a mensagem
chegar claramente ao destinatrio. [...] os sinais podem
ser perturbados por distores de sentido que, embora
no intencionais por parte da fonte emissora, afetaro o
entendimento do destinatrio (POLISTCHUCK; TRINTA,
2003). Sendo assim, o canal deve ser constantemente testado
e ajustado para que o sentido recebido da mensagem seja
equivalente ao sentido desejado pelo emissor.
Este modelo tambm trouxe um conceito que foi muito
adotado pelos conseguintes: o cdigo. Um dos cdigos
propostos para a transmisso das mensagens pelo canal o
cdigo binrio (GILBERT, 1966), em que pulsos positivos
(1) e negativos (0) eram combinados para corresponder s
letras do alfabeto. Porm, para o engenheiro da comunicao,
essa correspondncia no era objeto de estudo, mas sim a
transmisso eficaz do sinal. A teoria da informao representa
um mtodo de clculo das unidades de sinal transmissveis
e transmitidas, e no um mtodo de clculo das unidades de
significado (ECO, 1984 apud WOLF, 2008). Essa noo
de cdigo uma das limitaes da Teoria Informacional da
Comunicao, pois, no h comunicao a no ser que haja a
interao com o cdigo pelo emissor e receptor. A mensagem
no existe enquanto no existir cdigo. No modelo de Shannon
e Weaver, o significado do que transmitido pouco importa.
Aps o modelo de Shannon e Weaver, mais dois modelos
bastante populares foram elaborados usando como base o
anterior. Em 1960, David King Berlo apresentou o modelo
dos ingredientes da comunicao, que tentou adicionar uma
dimenso sociolgica ao modelo de inspirao. Ele reconhece
que o emissor aquele que possui algum conhecimento
enviado pela mensagem , mas o receptor necessita de fazer
algum reconhecimento, e tambm que o quadro scio-cultural
deve ser partilhado por ambos. Os significados, alm de
partilhados devem provocar sentidos em ambos, tarefa que cabe
aos receptores (POLISTCHUCK; TRINTA, 2003, p. 105-106).
Wilbur Schramm tambm retomou o modelo de Shannon
e Weaver com a inteno de aplic-lo comunicao humana
especificamente. Em seu modelo foram excludos o transmissor
e o receptor, considerando o emissor como a fonte de informao
+ transmissor e o destinatrio como o receptor + destinatrio.
Isso mostra que a tarefa de codificar cabe ao emissor e,
consequentemente, a de decodificar cabe ao receptor. Os rudos,
que antes eram somente fsicos, passam a ser entendidos como
semnticos tambm, como por exemplo, uma palavra inapropriada
ou desconhecida. Nesse modelo tambm adicionado o fator
retroalimentao (feedback), inspirado na ciberntica. Emissor e
receptor agora interagem e fazem alteraes na mensagem para
otimizar sua comunicao (POLISTCHUCK; TRINTA, 2003).
Conforme Toledo (1971), a Teoria da Informao
deu continuidade a alguns conceitos que j apareciam no

Formalismo Russo. Umberto Eco afirma que era espantoso


que o artigo de Vtor Chklovski, A arte como processo,
antecipasse todas as possveis aplicaes estticas de uma
teoria da informao que ainda existia.
De acordo com Arajo (2001, p. 120), a communication
research possui quatro caractersticas que une todas suas
influncias: a orientao empirista dos estudos, privilegiando
informaes quantitativas; a orientao poltica pragmtica,
que determinou a problemtica dos estudos, normalmente por
demanda do Estado, das Foras Armadas ou dos monoplios
de comunicao de massa, sempre com objetivo da otimizao
de resultados; a orientao para a comunicao miditica; e
esto sempre guiadas por um modelo de comunicao, o de
Shannon e Weaver.
7 Estruturalismo e o Legado de Saussure
Ferdinand de Saussure nunca chegou a publicar uma
obra com suas ideias a respeito da lingustica, mas, em 1916,
Bally e Schehaye publicaram o Curso de Lingustica Geral,
elaborado a partir das anotaes dos estudantes que fizeram
os cursos de Saussure entre 1906 e 1911 na Universidade
de Genebra. Saussure, cujo trabalho foi divulgado pelo
linguista russo S. I. Kartzevski, que estudara em Genebra
(DE CAMPOS, 1970), foi um dos inspiradores do grupo dos
Formalistas Russos, propondo uma ruptura com a lingustica
comparativa e propondo uma abordagem no-histrica,
descritiva e sistemtica (PAVEAU; SARFATI, 2006).
Os fundamentos apresentados na obra so reconhecidos
como a origem do Estruturalismo.
Para o lingista suo, a lngua uma instituio social,
enquanto a palavra um ato individual. Enquanto instituio
social, a lngua um sistema organizado de signos que
exprimem ideias; representa o aspecto codificado da
linguagem (MATTELART; MATTELART, 2002, p. 86).

Assim, a lingustica tem como tarefa principal estudar as


regras do sistema que organiza a lngua. Saussure volta sua
ateno principalmente aos aspectos pragmticos da lngua, e
seu uso enquanto atividade social (WEDWOOD, 2002).
Wedwood (2002) sugere que o estruturalismo de Saussure
pode ser resumido em duas dicotomias: (1) langue (lngua) em
oposio a parole (fala) e (2) forma em oposio substncia,
sendo que lngua e fala podem ser explicadas no seguinte
quadro:
Tabela 1: Lngua e Fala
LNGUA

FALA
Individual
Acessrio mais ou menos
Essencial
acidental
Registrada passivamente
Ato de vontade e de inteligncia
Psquica
Ato de vontade e de inteligncia
Soma de marcas em cada crebro Soma do que as pessoas dizem
Modelo coletivo
No coletivo
Social

Fonte: (PAVEAI; SARFATI, 2006)

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A Lingustica de Roman Jakobson: Contribuies para o Estudo da Comunicao

H ainda a corrente americana do estruturalismo,


inaugurada por Bloomfield em 1914. Seu livro, Language,
adotou uma abordagem comportamentalista do estudo da
lngua, eliminando toda referncia a categorias mentais ou
conceituais, e, consequentemente, a semntica (WEDWOOD,
2002). Jakobson se correspondia frequentemente com ele,
tanto por suas semelhanas na anlise do fonema, como
nas suas discordncias Bloomfield era extremamente
comportamentalista e separava a forma lingustica do contedo
semntico (CMARA JUNIOR, 1970). Para Jakobson, a
anlise estrutural o elemento que une todas as correntes
cientficas de sua poca, e distingue claramente a pesquisa
lingustica contempornea a ele do que era feito no comeo do
sculo vinte e fim do dezenove (JAKOBSON, 1970).
8 Crculo Lingustico de Praga e Estruturalismo Funcional
Em 1929, por ocasio do Primeiro Congresso Internacional
de Slavistas em Praga foram publicadas as Teses de Praga (ou
Teses de 29), escritas principalmente por Jakobson. Assim foi
oficializado o grupo do Crculo Lingustico de Praga (Prask
lingvistick krouek), que vinha realizando reunies dispersas
h anos (PRAGUE LINGUISTICS, 2010). Muitas ideias que
eram discutidas no Formalismo Russo foram aprimoradas e
desenvolvidas em Praga (TOLEDO, 1971).
Paveau e Sarfati (2006) e Wedwood (2002, p.138)
esclarecem que a principal caracterstica do Crculo de Praga
a combinao do estruturalismo com o funcionalismo, sendo
sua ideia geral a de que a estrutura das lnguas determinada
por suas funes, conceito muito trabalhado por Jakobson.
sobretudo Jakobson quem, com sua potica, assumir
de maneira mais rigorosa esse lao entre literatura e
lingstica e ver-se- que suas concepes fonolgicas esto
essencialmente ligadas sua preocupao com o uso potico
da linguagem (PAVEAU; SARFATI, 2006, p. 117).

As Teses de Praga so nove no total, sendo que as trs


primeiras tratam de lingustica geral, com ateno especial
para a terceira: Problemas das pesquisas sobre as lnguas
de diversas funes. Essa tese trata das funes lingusticas,
apresentando seu conceito pela primeira vez. Diz ela que o
estudo da lngua exige que se considere a variedade de funes
lingusticas e de seus modos de realizao; que a lngua possui
uma funo social seja ela intelectual ou emocional; e esboa
a Funo Potica ao distingui-la da funo de comunicao
(PAVEAU; SARFATI, 2006).
A dedicao dos novos linguistas da Escola de Praga
demonstra uma guinada em direo ao pragmatismo no
estudo da lngua e de seu uso, ao invs dos aspectos abstratos
tendncia j percebida em Saussure.
9 A Lingustica Jakobsoniana: Funes da Linguagem
Roman Jakobson tem uma vasta e extremamente diversa
rea de estudo. Este trabalho colocar o foco em sua pesquisa
relacionada com a rea da comunicao, e as ideias que
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influenciaram os estudiosos da comunicao que vieram aps


a publicao desses trabalhos.
Sobre o conceito de Comunicao, Roman Jakobson cita
Lvi-Strauss como o idealizador de uma teoria da comunicao
integrada antropologia social, economia e lingustica (que
ele considera como sendo um ramo da semitica). Ele se
utiliza da concepo tridica do antroplogo, segundo a qual a
comunicao em qualquer tipo de sociedade opera em trs
nveis diferentes: troca de mensagens, troca de utilidades (bens
e servios) e troca de companheiros. Por isso, a lingustica se
ocuparia de uma dessas formas de comunicao: a troca de
mensagens de mensagens verbais (JAKOBSON, 1970).
A linguagem um dos sistemas de signos, e a lingstica,
enquanto cincia dos signos verbais apenas parte da
semitica, a cincia geral dos signos, prevista, denominada
e delineada no Essay de John Locke: ou A
doutrina dos signos, dos quais os mais comuns so as
palavras (JAKOBSON, 1970, p. 14).

Utilizando tambm as ideias de Edward Sapir, Jakobson


admite que a linguagem o tipo mais bvio de comunicao,
porm outros meios e comportamentos podem ser sistemas
de comunicao, embora no tratados pela Lingustica
(JAKOBSON, 1970). Para Jakobson, a cincia da linguagem
investiga a fabricao de mensagens verbais e de seus cdigos
subjacentes. As caractersticas estruturais da linguagem
so interpretadas luz das funes que elas cumprem, nos
vrios processos de comunicao. Um dos problemas que
Jakobson identifica no estudo da lingustica, tanto na Teoria
da Comunicao quanto com Saussure, a eliminao de
elementos que ele considera inerentes linguagem. Com a
Teoria Informacional da Comunicao, foi a excluso do
significado, e com Saussure, foi dar ateno demais somente
ao cdigo (langue), se esquecendo da mensagem (parole)
(JAKOBSON, 1970).
A primeira vez que o termo funo aparece nas Teses de
Praga, que teve como um de seus autores Roman Jakobson.
Baseado neste texto, Paveau e Sarfati (2006, p. 124) definem a
funo como [...] a tarefa atribuda a um elemento lingustico
estrutural (classe, mecanismo) para atingir um objetivo no
quadro da comunicao humana. Ou seja, a mensagem
procura cumprir um objetivo, proporcionado pela organizao
da sua estrutura e sua orientao textual. A ideia das
funes na linguagem nas Teses recebeu muita influncia do
psiclogo alemo Karl Bhler, que distinguiu trs funes da
linguagem: Darstellungfunktion (Funo Cognitiva ou funo
de representao do mundo), Kundgabefunktion (Funo
Expressiva ou funo de exteriorizao) e Appelfunktion
(Funo Conativa ou Funo Apelativa). A cognitiva se refere
transmisso de mensagens informativas, a expressiva indica
a atitude do locutor; e a conativa a usada para influenciar
pessoas, provocar efeitos prticos (CHALHUB, 2002;
WEDWOOD, 2002).
Cada funo relacionada com fenmenos gramaticais:

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SANTEE, N.R.; TEMER, A.C.R.P

cognitiva indicativo e 3 pessoa; expressiva subjuntivo


e 1 pessoa; conativa imperativo e 2 pessoa; ou seja,
as estruturas da lngua podem ser explicadas pela funo
pretendida (PAVEAU; SARFATI, 2006).
Roman Jakobson vai retomar e aprofundar essa classificao
de Bhler, utilizando como base tambm o modelo de Shannon
e Weaver da Teoria Informacional da Comunicao. Em 1960
publicou seu trabalho mais difundido, um ensaio na revista
Style in Language (organizado por Thomas A. Sebeok, Nova
Iorque, MIT, 1960) intitulado Lingstica e Potica. Apesar
de muitos dos conceitos apresentados neste artigo j haverem
sido publicados anteriormente por ele mesmo, foi neste que
houve uma real sistematizao e clarificao das ideias,
tornando-o muito popular. Diz ele:
O REMETENTE envia uma MENSAGEM ao
DESTINATRIO. Para ser eficaz, a mensagem requer
um CONTEXTO a que se refere (ou referente, em outra
nomenclatura algo ambgua), apreensvel pelo destinatrio, e
que seja verbal ou suscetvel de verbalizao; um CDIGO
total ou parcialmente comum ao remetente e ao destinatrio
(ou, em palavras, ao codificador e ao decodificador da
mensagem); e, finalmente, um CONTACTO, um canal fsico
e uma conexo psicolgica entre o remetente e o destinatrio,
que os capacite a ambos a entrarem e permanecerem
em comunicao. Todos estes fatores inalienavelmente
envolvidos na comunicao verbal podem ser esquematizados
como segue (JAKOBSON, 2008, p. 122-123).

CONTEXTO
MENSAGEM
REMENTENTE --------------------------- DESTINATRIO
CONTATO
CDIGO
Fonte: Jakobson (2008, p.123)

Figura 3: Esquema da comunicao de Jakobson

Aos trs elementos da comunicao descritos por Bhler


e presentes na Teoria Hipodrmica (remetente/emissor,
mensagem e destinatrio/receptor), Jakobson acrescentou
mais trs: contexto, contato e cdigo. Assim, ele props uma
anlise da comunicao olhando para sua estrutura, seus
processos. Analisar as propriedades da mensagem em si; do
remetente; do destinatrio, se est recebendo a mensagem
realmente ou apenas virtual; o carter do contato entre estes
dois participantes no ato da fala; o cdigo comum entre os dois e
as semelhanas e diferenas entre as operaes de codificao e
decodificao; e por ltimo o contexto que rodeia a mensagem,
que pertence ao mesmo referencial dos dois, um passado
em comum ou um futuro antecipado (JAKOBSON, 1971).
Percebe-se claramente uma influncia do modelo de

Shannon e Weaver, inclusive no modo de organizar o esquema.


O modelo de comunicao formulado por Jakobson articulase sobre a teoria matemtica da informao (MATTELART;
MATTELART, 2002 p. 89).
Cmara Junior (1970) nota que era usual que Jakobson
se interessasse pelas cincias exatas, fazendo aproximaes
com a lingustica que nunca haviam sido feitas, como
quando relaciona os traos distintivos do fonema com a
desintegrao do tomo. Porm o modelo de Shannon e
Weaver no ficou intocado. Jakobson eliminou a noo de
codificador e decodificador, considerando que estes faziam
parte do remetente e destinatrio, e fundiu a mensagem com
o sinal. Ele adaptou o modelo da telecomunicao para uma
comunicao realizada estritamente entre dois humanos
(KURSELL, 2010). Seu primeiro contato com o trabalho de
Shannon e Weaver foi em 1949, quando entrou em Harvard
e a partir da se correspondeu com os dois autores sobre a
semelhana de suas ideias (KURSELL, 2010). At que no
encerramento de um congresso3 ele disse:
preciso reconhecer que, sob certos aspectos, os problemas
da troca de informao encontraram, por parte dos
engenheiros, uma formulao mais exata e menos ambgua,
um controle mais eficaz das tcnicas utilizadas, bem como
prometedoras possibilidades de quantificao. Por outro lado,
a imensa experincia acumulada pelos lingistas no tocante
linguagem e sua estrutura permite-lhes expor as fraquezas
dos engenheiros quando estes lidam com material Lingustico
(JAKOBSON, 2008, p. 18).

Sobre a relao entre a Lingustica e a Teoria Informacional


da Comunicao, Jakobson cunha a ideia de Lingustica
Matemtica, que deveria suprir as carncias de ambos os
lados, requerendo um controle de especialistas nas duas
cincias. Ela deveria cobrir a falta de importncia dada do
contexto pela Teoria da Comunicao e tambm acrescentar
critrios cientfico-matemticos Lingustica (JAKOBSON,
1970). Para ele, essencial a retomada do estudo do sentido
e semntica no somente como um rudo na mensagem
em ambas as cincias. A clarificao trazida pela Teoria da
Comunicao foi decisiva para a aproximao de uma real
teoria com significado (JAKOBSON, 2008).
Wolf (2008), porm, critica a colaborao de Jakobson
com a Teoria Informacional da Comunicao. Para ele,
a Teoria da Comunicao foi alargada por Jakobson e
seu modelo de comunicao, que alinhou a terminologia e
corrigiu os aspectos mais tcnicos da Teoria, eliminando-os.
Ele aponta que o modelo de Jakobson pouco caminha alm
da relao Estmulo-Resposta, tratando a recepo como
passiva, e o cdigo como comum e uniforme. Por atenuar e
tornar mais acessvel a linguagem da Teoria Informacional
da Comunicao, Jakobson acabou por torn-la mais popular
e praticamente uma unanimidade no crculo acadmico

3 Informe final apresentado Conferncia de antroplogos e linguistas, realizada na Universidade de Indiana, EUA de 21 a 30 de julho de 1952.
Publicado no Suplemento do Int. Journal of American Linguistics, XIX, n. 2, 1953.
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A Lingustica de Roman Jakobson: Contribuies para o Estudo da Comunicao

9.1.1 Funo Referencial

(WOLF, 2008).
Paveau e Sarfati (2006) tambm apontam crticas ao modelo
de Jakobson: ele trata a comunicao como homognea e
linear; coloca o cdigo como exterior mensagem, destinador
e destinatrio, quando na realidade ele constitudo pelo
saber de cada um; alm de no citar influncias culturais e
extralingusticas.
Seu conhecimento sobre o trabalho de Ferdinand de
Saussure, no grupo dos Formalistas Russos, tambm foi
decisivo para o desenvolvimento do estruturalismo lingustico
que o guiou por toda sua vida. A principal alterao sugerida
por Jakobson ao trabalho de Saussure, e incorporada em seu
trabalho, na dicotomia entre langue/lngua e parole/fala, que
ele substitui por cdigo e mensagem, herdados dos conceitos
da Teoria da Informao.

Quando a mensagem tiver seu Einstellung no contexto,


haver a Funo Referencial, ou denotativa, cognitiva. a
funo dominante nas mensagens e deve haver ateno para
a identificao de outras (JAKOBSON, 2008). A Funo
Referencial sugere uma transparncia entre mensagem
e contexto, uma equivalncia: a linguagem que reflete
o mundo com mensagens claras e sem ambiguidade.
Linguisticamente se caracteriza pela 3 pessoa do verbo,
de quem ou do que se fala (CHALHUB, 2002). Nos meios
de comunicao de massa, o citado anteriomente autor
identifica a Funo Referencial nos noticirios de rdio e
televiso, definindo a estrutura da mensagem como o mais
objetiva possvel.

9.1 As funes da linguagem

9.1.2 Funo Emotiva

O artigo Lingstica e Potica tem como objetivo explicar


sobre a Funo Potica, sobre o que torna um texto uma obra
de arte, ou seja, um dos principais pontos abordados pelos
Formalistas Russos. Diz ele:

Toda mensagem centrada no remetente possui uma Funo


Emotiva (ou expressiva). Ela visa a uma expresso direta de
quem fala, suscita certa emoo, verdadeira ou simulada
(JAKOBSON, 2008). Linguisticamente ela marcada pela
1 pessoa, por interjeies, adjetivos, advrbios e sinais de
pontuao. Chalhub (2002) identifica as novelas em sua
maioria melodramticas como um claro exemplo da Funo
Emotiva, com a expresso dramtica de sentimentos, afetos e
emoes, cuja finalidade comover o expectador.

A Potica trata dos problemas da estrutura verbal, assim como


a anlise de pintura se ocupa da estrutura pictorial. Como a
Lingstica a cincia global da estrutura verbal, a Potica
pode ser encarada como parte integrante da Lingstica
(JAKOBSON, 2008, p. 119).

9.1.3 Funo Conativa

Tabela 2: As funes da linguagem


Referencial
Emotiva

Potica

Conativa

Ftica
Metalingstica
Fonte: Jakobson (2008, p.129)

Depois Jakobson esclarece que para cada elemento da


comunicao existe uma funo da linguagem orientada
para ele, sendo elas: Assim, ele acrescenta ao esquema de
Bhler mais trs funes: referencial, ftica e metalingustica.
Jakobson foca no perfil da mensagem, conforme a meta ou
orientao (Einstellung) da mensagem em cada fator da
comunicao. A inteno e direo da mensagem que vai
levar deduo da interpretao da mensagem, determinando
sua funo (CHALHUB, 2002). Ele diz ainda que uma
mensagem nunca est centrada em somente uma funo,
mas possui vrias, sendo uma dominante. A estrutura
verbal de uma mensagem depende basicamente da funo
predominante (JAKOBSON, 2008, p. 123). Cada funo se
apia somente em seu Einstellung, sem critrios lingusticos
para diferenciar as funes com certeza absoluta (PAVEAU;
SARFATI, 2006).
80

Na mensagem orientada para o destinatrio existe a


Funo Conativa. Linguisticamente ela caracterizada por
frases no vocativo e imperativo, dando ordens ou conselhos ao
destinatrio, e pela 2 pessoa do verbo (JAKOBSON, 2008).
A palavra conativa tem sua origem no termo latino conatum,
que significa tentar influenciar algum atravs de um esforo
(CHALHUB, 2002).
Chalhub (2002) diz ainda que sempre que h a inteno
de convencer o destinatrio de algo, a mensagem carregar
argumentos para a persuaso, utilizados especialmente na
linguagem da propaganda, que tem algo da Funo Potica,
para sensibilizar o pblico pela beleza da argumentao.
A organizao [...] da mensagem da propaganda, seja qual for
o veculo que a estruture televiso, revista, outdoor, rdio
, impor um perfil conativo a essa linguagem (CHALHUB,
2002, p.7).

Jakobson (2008) reconhece que at aqui ele se utilizou do


modelo tradicional da linguagem, como foi criado por Bhler:
emotiva para o remetente; conativa para o destinatrio e
referencial para o que se fala (terceira pessoa); e acrescenta
que sua inovao fica com as funes que ele explicar a
seguir, principalmente a Potica.

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SANTEE, N.R.; TEMER, A.C.R.P

9.1.4 Funo Ftica

Para Jakobson (2008), o estudo da poesia inclui


reconhecer que Funo Potica a predominante na estrutura
de sua construo, sendo que todas as outras funes ficam
subordinadas a ela. Na Funo Potica, a mensagem est
voltada para si mesma, suas caractersticas fsicas, sonoras e
visuais no seu modo peculiar de mostrar-se como nas formas
de construo tpicas da poesia concreta (CHALHUB, 2002).

O engenheiro de comunicao utiliza o conceito de


um cdigo pr-determinado entre emissor e receptor, e a
lingustica de Saussure utiliza o conceito de langue (depois
substitudo por cdigo), que possibilita uma troca de parole
(mensagens) entre ambos. Para a Teoria da Comunicao esse
cdigo uma transformao convencionada, habitualmente
de termo a termo e reversvel; transformao essa pela qual
a mensagem passa o processo de codificao e decodificao.
O cdigo combina o signans (significante) com o signatum
(significado) e este com aquele (JAKOBSON, 2008).
O equilbrio entre a Teoria da Comunicao e a Lingustica,
como visto por Jakobson, operacionalizar o conceito de
langue de Saussure, mudar-lhe o nome para cdigo, e ampliar
o conceito dos engenheiros: o cdigo mais do que o contedo
puramente cognitivo o estilo dos smbolos lxicos, suas
variaes livres, suas elipses, seus subcdigos no um
cdigo esttico (JAKOBSON, 2008).
O cdigo extremamente importante para o processo de
comunicao, o que torna possvel ao receptor decodificar e
compreender e interpretar a mensagem que ele recebe. Decifrar
uma mensagem, porm, no o mesmo que decodificar. O
decodificador o destinador virtual da mensagem, se ela for
interceptada no meio por outrem, este ser um criptanalista
(JAKOBSON, 2008).
Ao construir uma mensagem, o remetente utiliza dois
modos de arranjo: a combinao e a seleo. Ele combina
signos diferentes, selecionando-os de um repertrio que seja
comum a ambos: o cdigo. O destinatrio, porm, precisa
acessar estes signos previamente selecionados pelo remetente
em seu repertrio para compreender a mensagem. Logo, a
seleo uma atividade que concerne somente ao cdigo, mas
no mensagem (JAKOBSON, 2008).

10 A Importncia do Cdigo

11 Concluso

Outra similaridade entre a Lingustica e a Teoria


Informacional da Comunicao o uso de um princpio
dicotmico como base dos traos distintivos da linguagem,
que Jakobson relaciona com o uso do cdigo binrio como
uma unidade de medida para uma quantidade de informaes,
ou seja, a base de tudo est no cdigo (JAKOBSON, 2008,
p. 74). A incluso da noo de cdigo foi uma das maiores
contribuies da Teoria da Comunicao para Jakobson, e
foi onde ele mais se apoiou para incrementar sua Lingustica
Estrutural.

Neste trabalho passamos por vrias escolas de pensamento


que influenciaram de modo direto a construo do modelo
terico do processo de comunicao elaborado por Jakobson.
Sua simplicidade e fcil adaptao tornaram esse modelo
amplamente utilizado pelos estudiosos de comunicao, tanto
tericos quanto prticos, por muitas dcadas. Ao utilizarse das ideias e nomenclaturas da Teoria Informacional da
Comunicao e alinh-las com as ideias preexistentes na
Lingustica, Jakobson unificou e sistematizou de maneira
muito eficaz um conhecimento que antes se encontrava
dividido. Tempos depois, com as contribuies da Escola
de Frankfurt e dos Cultural Studies as ideias de Jakobson
foram aos poucos sendo modificadas, mas muitas vezes
seu cerne ainda estava l. Jakobson inovou principalmente
no seu ecletismo, ao unir reas da cincia que antes no se
conversavam. Com este pontap inicial dado por ele, ficou
muito mais fcil as Cincias Humanas e Exatas encontrarem
seus pontos em comum e contriburem cada uma a seu modo
para o estudo dos fenmenos da comunicao.

As mensagens orientadas para o canal so


fundamentalmente utilizadas para prolongar o interromper
a comunicao, verificando se o canal funciona. Ela atrai
a ateno do interlocutor e procura confirmar sua ateno
continuamente. a Funo Ftica (JAKOBSON, 2008).
Nos meios de comunicao de massa, a Funo Ftica est
continuamente presente, principalmente na mdia televisiva,
pela rapidez dos cortes e curta durao das matrias, que busca
sempre manter a ateno do telespectador, mesmo durante os
intervalos comerciais.
9.1.5 Funo Metalingustica
A funo referente ao cdigo apresentado a Jakobson
pela Teoria da Comunicao a Funo Metalingustica,
que acontece sempre que o discurso tem necessidade de
verificar se o remetente e destinatrio esto usando o mesmo
cdigo, retornando a ele (JAKOBSON, 2008). Para Chalhub
(2002, p. 48), o cdigo [...] um sistema de smbolos com
significao fixada, convencional, para representar e transmitir
a organizao dos seus sinais na mensagem, circulando pelo
canal entre a emisso e a recepo.
9.1.6 Funo Potica

Quando li tudo o que escreverem os engenheiros de


comunicaes [...] sobre cdigo e mensagem, dei-me
conta, claro, de que desde h muito esses dois aspectos
complementares so familiares s teorias lingsticas e
lgicas da linguagem, tanto aqui como alhures; a mesma
dicotomia que encontramos sob denominaes diversas
tais como langue-parole (lngua-fala), Sistema Lingustico
Enunciado, Legisigns-Sinsigns, Type-Token (tipo-caso
particular), Sign-design, Sign-event etc. (modelo semiticoprocesso semitico.) [...] (JAKOBSON, 2008, p. 21-22)

UNOPAR Cient., Cinc. Human. Educ., Londrina, v. 12, n. 1, p. 73-82, Jun. 2011

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A Lingustica de Roman Jakobson: Contribuies para o Estudo da Comunicao

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