A jiboia Malembe Malembe mora num estúdio com instrumentos musicais (Foto: Arquivo Pessoal/Bruno Rangel)
De vez em quando, o engenheiro Bruno Rangel, de 38 anos, gosta de passear na praia com seu bicho de estimação. Rotina normal, se não fosse por um detalhe: o animal é uma jiboia que, enrolada no pescoço, circula entre os amigos, já acostumados com a "esquisitice" de Bruno: a paixão por répteis é antiga.
“Tenho fascinação por réptil. Desde moleque sempre gostei. Sempre morei em casa e perto de mato, e sempre aparecia cobra lá em casa. Nunca tive medo. Se morasse num espaço com açude ia ter também um jacaré”, conta ele.
Bruno faz parte de um grupo que, apesar de curtir cães, gatos, periquitos e afins, prefere ter em casa uma espécie diferente, como porquinhos da índia, gambás, pavões e até emús, um “primo” da avestruz.
O carinho, dizem os donos, é o mesmo dispensado a gatos e cães. Eles não sabem ao certo como explicar o motivo da afeição, mas garantem que o amor começa ainda na infância.
Cobra veio de TAM, brinca o dono
A cobra Malembe Malembe é um macho e foi comprada pela internet num criadouro licenciado pelo Ibama, no Pará, e fez sua primeira viagem ainda bebê.
“Ela veio de TAM para o Rio. Foi colocada dentro de um pote de plástico porque ainda era muito pequena. Eles enviam como carga especial viva. Você escolhe no site, faz o depósito, quando o animal nasce, eles te enviam. E na compra você ganha um manual de instruções, onde aprende tudo, como criar, alimentar, o tipo e a temperatura ideal do viveiro”, disse Bruno.
Emu é parente próximo da avestruz (Foto: Arquivo Pessoal/Thiago Muniz)
A alimentação, controlada, é feita a cada 15 dias e, normalmente, o prato principal são os porquinhos da índia também criados pelo engenheiro. Mas não há interação com o dono. “A cobra é bastante social depois que se acostuma com o manuseio, mas não tem nenhum tipo de memória, não reconhece nada, e não atende pelo nome”.
Também apaixonado por bichos diferentes, o veterinário Thiago
Muniz, de 27 anos, convive 24h por dia com animais. Em casa,
além dos cachorros, ele divide a atenção com faisões, pavões,
uma cobra, lagartos e até um casal de emus, aves herbívoras que
são “primas” próximos da avestruz.
“A minha preferência são esses animais. Pra mim
cachorro e gato é que são exóticos”, brinca Thiago. Assim como
Bruno, ele prefere criar os animais soltos e diz que, por terem
sido criados juntos, não há briga de território.
“Eles estão acostumados uns com os outros, mas não costumam interagir. A exceção, segundo ele, são os emus. “Eles são mansos, veem a gente e vêm atrás. Gostam do contato humano”.
Um dos filhotes de gambá encontrado na lixeira (Foto: Arquivo Pessoal/Cleivison Carvalho)
Gambás tomam banho
Conhecidos por seu odor nada agradável, três filhotes de gambás
filhotes foram adotados pelo estudante de biologia Cleivison de
Jesus Carvalho, de 21 anos. Eles foram encontrados no lixo e,
segundo ele, ao contrário do que se pensa, não são fedorentos.
“Eles tomam banho e gostam. São cinzas, mas não
fedem”. Para o estudante, os animais “esquisitos” são fonte de
estudo. “Tenho porque gosto, porque posso conhecer mais sobre a
espécie. No futuro, quero me especializar na área de animais
exóticos”, diz o estudante que já teve em casa uma cobra,
batizada de Genoveva.
Os porquinhos da Índia Madona e Sakura no momento da refeição (Foto: Arquivo Pessoal/Wagner Cavalcanti)
Terapeuta diz que 'é de fases'
O terapeuta Wagner Cavalcanti diz que é "de fases". Tem
cinco gatos em casa, dois coelhos, três calopsitas, uma
tartaruga e dois porquinhos da índia, conhecidos como Madona e
Sakura.
“Sou de fases. Agora estou na fase dos gatos, mas
tive a fase dos porquinhos da índia. Comprei na pet shop e como
na época não separei, eles foram procriando. Cheguei a ter uns
oito ou nove. Eles foram morrendo e fiquei com esses dois
‘highlanders’”, brinca Wagner.
O que diz o Ibama
Segundo o Ibama, há diferença entre esquisitos e exóticos. Esses
últimos são todos aqueles que não fazem parte da fauna silvestre
nacional. No Brasil, a lei federal de crimes ambientais, que
proíbe a comercialização de animais, é a 9605/98.
São considerados crimes contra a fauna “matar,
perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna
silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida
permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou
em desacordo com a obtida”. A pena para esses casos é de 6 meses
a um ano de prisão e multa.
Para o superintendente do Ibama no estado do Rio, Adilson Gil, ter ou não um animal silvestre em casa, como uma cobra, é uma questão que deve ser muito bem avaliada.
"O ideal é avaliar se animal silvestre, mesmo os nascidos em
cativeiro, devem ser mantidos como animais domésticos. A
resolução 394/2007 do Conama (Conselho Nacional do Meio
Ambiente) trata exatamente disso. Animal não deve ser tratado
como modismo, ou seja, não é como comprar um ipod porque todo
mundo tem um", argumenta.
Leia mais notícias do Rio