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Pirataria Ching-ling
Folha visita reduto de fábricas clandestinas na China que exportam Havaianas e Melissas falsas para todo o mundo
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL À PROVÍNCIA DE
FUJIAN (CHINA)
As sandálias não se deformam, não soltam tiras e não
têm cheiro. Mas essas Havaianas não são as legítimas.
São as da empresa chinesa
Bright Coast, que mantém
um site "oficial" da marca em
inglês e chinês, pode produzir até 500 mil pares mensais
e exporta um dos produtos-símbolo do Brasil para a África e o Oriente Médio.
"Só não conseguimos ainda reproduzir a lista lateral
reta", admite o funcionário
da Bright Coast, no amplo escritório da empresa em Xiamen, sul da China, ao mostrar vários modelos de Havaianas falsas.
A Bright Coast é só uma
das dezenas -provavelmente centenas- de fábricas no
sul da China que, nos últimos
anos, diversificaram de nomes mais famosos, como Nike, e agora produzem também imitações das brasileiras Melissa, Ipanema e Mormaii, além das Havaianas.
A reportagem da Folha se
apresentou como compradora de marcas brasileiras piratas em quatro cidades da Província de Fujian.
Encontrou uma ampla cadeia produtiva, que envolve
de grandes empresas legalizadas a pequenas fábricas familiares, dezenas de milhares de funcionários e um sistema sofisticado de venda
para praticamente qualquer
parte do mundo. Tudo com
certa conivência oficial.
Entre as brasileiras, a mais
copiada são as Havaianas.
Na Bright Coast, as sandálias
vêm em embalagem e, numa
etiqueta com holograma, se
lê: "Apenas as legítimas Havaianas têm este selo de autenticidade. Não seja enganado por cópias".
O preço por unidade é de 8
yuans, o equivalente a R$ 2,
incluindo a tramitação pelo
porto de Guangzhou, o mais
fácil para passar pirataria. O
valor é um décimo do cobrado no site oficial das Havaianas verdadeiras pelo mesmo
modelo.
O negócio é feito de forma
aberta. No site, há uma breve
explicação da história das
Havaianas e até fotografias
da fábrica. O dono, Liao Gui
Long, controla uma firma de
eventos e é o vice-presidente
da associação de empresas
de propaganda de Xiamen.
A Bright Coast tem rivais.
Cópias mais baratas e menos
sofisticadas são facilmente
encontradas nas dezenas de
lojas de fábrica em Jinjiang
-vizinha a Xiamen. Em apenas uma hora, a reportagem
encontrou cópias de Havaianas e Ipanema em seis lojas.
Em uma delas, a vendedora oferece cópia em PVC das
Havaianas, no atacado, por
6 yuans (R$ 1,50). Seu mercado, diz, são as Filipinas, para
onde exporta alguns milhares todos os meses. "É um
país quente, e essas sandálias duram três meses." Qual
é capacidade de produção
mensal? "Milhões", e sorri.
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