Pesquisadora alerta para discurso preconceituoso contra "pobre de direita"
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Pesquisadora alerta para discurso preconceituoso contra "pobre de direita"

O discurso de que "pobre de direita é burro" é preconceituoso e revela falta de empatia com a situação que grande parte da população passa, diz
 

Revista Imagem - Publicado em 17/08/2020 16:36

"Quando você está à beira da fome, sua vida está pautada por coisas muito mais concretas e mais de subsistência do que de estratos ideológicos", diz a cientista social Esther Solano, professora da USP (Universidade de São Paulo) que estuda conservadorismo no Brasil, sobre o aumento de popularidade do presidente Jair Bolsonaro detectado por pesquisa do Instituto Datafolha.


Segundo o Datafolha, 37% dos brasileiros consideram o governo Bolsonaro ótimo ou bom, o maior índice desde o início do mandato.


Solano diz que a renda emergencial distribuída pelo governo diante da crise gerada pela epidemia de covid-19 é um fator central no aumento de popularidade do presidente Jair Bolsonaro, já que a maioria dos entrevistados não sabe que a medida tem autoria da oposição.


Ela acredita também que a esquerda institucional está perdendo o contato com a base.


"Nas entrevistas a gente ouve muito isso, que as pessoas acham que a esquerda não está mais nos territórios, não está mais preocupada com os pobres e os trabalhadores, é um sentimento de abandono."


Solano acrescenta que essa falta de contato acaba por abrir um espaço que é naturalmente ocupado pelo governo. "A autoria na cabeça das pessoas passa para quem outorga, quem faz a logística na entrega, então é o governo quem leva a legitimidade", diz ela em entrevista à BBC News Brasil.


Em parceria com a pesquisadora Camila Rocha, Solano faz uma série de pesquisas qualitativas que buscam entender mais a fundo os direcionamentos políticos da população.


Solano afirma que os entrevistados das classes D e E estão em situações muito dramáticas em que os R$ 600 do auxílio emergencial são a diferença entre comer e não comer. Isso, diz, explica o aumento de popularidade de Bolsonaro no Nordeste, tradicionalmente reduto do PT, um partido de esquerda.


"Para quem tem fome, a ideologia está muito longe", diz Solano.


A pesquisadora critica o discurso de algumas pessoas da esquerda de que "pobre de direita é burro".


"É claramente arrogante, preconceituoso, e uma falta de entendimento e de empatia com uma situação dramática que grande parte da população passa", afirma.


Diz também que essas são as mesmas pessoas que até pouco tempo atrás se declaravam lulistas.


"Muito pouco mudou neste estrato, o que mudou foi a estratégia do Bolsonaro. Ele entendeu que num momento como o atual um subsídio emergencial é extremamente importante para as pessoas e pode fazer com que sua popularidade aumente", afirma.

 

Por Leticia Mori (BBC)



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