Notícias



 Onda de contaminações

Retomada de atividades provoca disparada de infecções virais em crianças no RS

Outras síndromes respiratórias além da covid e complicações gastrointestinais estão em elevação

07/11/2021 - 22h02min


Larissa Roso
Larissa Roso
Enviar E-mail
Marcelo Gonzatto
Marcelo Gonzatto
Enviar E-mail
André Ávila / Agencia RBS
Os dados também apontam para um aumento nas hospitalizações na área de gastroenterologia

A retomada de atividades sociais e das aulas presenciais após um longo período de quarentena provocou um crescimento na circulação de vírus causadores de infecções respiratórias e gastrointestinais entre as crianças gaúchas nos últimos meses em comparação com o ano passado.

LEIA MAIS
Volta obrigatória às aulas presenciais ocorre nesta segunda; saiba como as escolas vão funcionar
Mesmo com o retorno obrigatório, cerca de 25% das escolas da rede estadual do RS precisarão manter revezamento de alunos
Previsto para ser oferecido em metade das escolas até 2024, ensino de tempo integral ainda é escasso no RS

A quantidade de internações por outras Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAGs), excluído o coronavírus, disparou 164% entre janeiro e outubro em relação ao mesmo período de 2020. Os dados também apontam para um aumento nas hospitalizações na área de gastroenterologia.

Informações do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) mostram que o número de crianças entre zero e nove anos que precisaram de um leito por síndromes gripais sem comprovação para a covid saltou de 1.416 para 3.737 nos primeiros 10 meses de cada ano. As contaminações foram causadas Influenza (que causa gripe), outros vírus exceto o SARS-COV-2 ou tiveram causa indeterminada.

Além dos problemas respiratórios, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) já havia detectado surtos de doença diarreica aguda provocada por norovírus. Apenas entre agosto e o começo de outubro, foram detectados mais de 2 mil casos em 25 cidades gaúchas. Em Porto Alegre, a Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre registrou um avanço de 1.535 hospitalizações pediátricas por problemas de gastroenterologia entre janeiro e outubro do ano passado para 1.733 agora no mesmo período – um avanço de 13% até o momento.

O diretor de Regulação da SMS, Jorge Osório, lembra que essa estatística exclui atendimentos que não exigiram leito, e que podem ter registrado aumento ainda maior. Segundo o infectologista pediátrico Marcelo Comerlato Scotta, do Hospital Moinhos de Vento, esse fenômeno não chega a surpreender.

— Era esperado. A dinâmica entre os diferentes vírus varia muito, mas, como regra, era para ter um rebote. Todo mundo ficou artificialmente sem interagir (permanecendo mais tempo em casa), fizemos um bloqueio artificial da interação, e, de repente, voltou — diz Scotta.
Durante o período de maior adesão ao distanciamento, o vírus sincicial respiratório (VSR), causador da bronquiolite, praticamente desapareceu, conforme o médico. 

— Voltamos a ter os vírus respiratórios comuns. O VSR é sempre o principal. Quando se afrouxou o isolamento, ele voltou. Neste ano, já voltou com tudo no Brasil, praticamente o nível normal, com a exceção de acontecer em épocas não usuais. Era sempre mais no inverno, e agora tem acontecido em outras épocas — comenta o infectologista.
Em relação a certos vírus, a não exposição da criança até pode comprometer a imunidade, mas o principal fator de infecção é a maneira como interagimos. 

— Todas essas viroses gastrointestinais e respiratórias se disseminam por causa da maneira como o ser humano interage normalmente. Algumas medidas, como o uso de máscara, reduzem essa chance, mas estão focadas, principalmente, no coronavírus, e para alguns vírus é diferente — destaca Scotta. 

O contato com superfícies e alimentos contaminados é a causa de diversas doenças virais. Iniciativas como higienização frequente das mãos e de alimentos crus são essenciais. Por outro lado, aponta Scotta, é difícil barrar essas doenças. 

— Não tem como conciliar a socialização e as infecções. Se a pessoa fica muito neurótica, pega menos infecção, mas não vive — destaca o médico. — Aprendemos, na pandemia, como se bloqueia boa parte desses vírus. Não todos, mas a maioria. Podemos usar esse conhecimento para conter surtos — acrescenta o médico do Moinhos.

O pediatra José Paulo Ferreira, membro da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul acredita que o longo período em que os pequenos se mantiveram longe de outras crianças e vírus contribuiu para que tenham ficado mais suscetíveis a outras infecções neste momento, já que o sistema imunológico não entrou em contato com uma série de micro-organismos.

— Qualquer criança que teria sido exposta a sete, 10 vírus ao longo desse período de restrições devido à pandemia, agora pega qualquer um que passe na esquina. No ano passado, as crianças não pegaram nada. Agora, estão pegando mais do que a média, mas tudo dentro do que seria esperado — avalia Ferreira.

Como reduzir os riscos
Medidas que aumentam o nível de proteção contra doenças virais:
/// Uso de máscara  
/// Higienização frequente das mãos  
/// Lavagem adequada de alimentos consumidos in natura  
/// Evitar o convívio com outras pessoas quando estiver com sintomas. Muitas crianças voltam à escola quando desaparece a febre, mas o ideal é aguardar a melhora completa e a liberação do médico 

Sinais de alerta
Pais e mães devem procurar orientação do pediatra caso ocorram os seguintes sintomas: 
/// Febre acima de 37,8ºC
/// Dificuldade respiratória
/// Tosse
/// Diarreia
/// Vômitos

Leia mais notícias do Diário Gaúcho  

Últimas Notícias