Comércio pode ter colapso em Minas

10 de março de 2021 às 0h30

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Crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil

Sem a volta dos programas de apoio ao emprego, linhas de crédito mais acessíveis e mais facilidades nos pagamentos de impostos, o comércio da Capital e de muitas regiões de Minas Gerais poderá entrar em colapso já no primeiro semestre de 2021. A afirmação vem de representantes do setor ouvidos pela reportagem, que pleiteiam junto ao Poder Público uma ajuda ainda maior neste ano.

O grande problema é que a maioria dos lojistas já começou 2021 com dívidas, tendo gasto todas as reservas no ano passado e, até o momento, sem opção de novos auxílios governamentais.

Tudo isso ocorre justamente em um cenário de agravamento dos números de casos e mortes por Covid-19 na região, o que impõe nova necessidade de fechamentos de lojas em Belo Horizonte e em várias cidades do interior de Minas.

Em 2020, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio-MG), 82% das empresas de comércio e serviços do Estado tiveram prejuízos financeiros, apesar do auxílio emergencial à população, do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e do Benefício Emergencial de Manutenção de Emprego e Renda (BEM).

“Neste ano, precisamos não apenas da volta desses programas de crédito e emprego, mas também de ajustes nos mesmos para um acesso mais fácil e simplificado, para que as ajudas cheguem a quem realmente precisa”, informou o conselheiro da Fecomércio-MG, Marco Polo Viriato Rolim, que também preside a Associação Comercial do Barro Preto.

Nessa terça-feira (9), o Ministério da Economia anunciou a prorrogação por mais três meses o início do pagamento das parcelas do Pronampe. Ao fazer o anúncio, o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do ministério, Carlos da Costa, sinalizou para a possibilidade de injetar mais crédito nas empresas este ano.

Segundo ele, o governo está articulando um projeto de lei que permitirá a liberação para linhas de crédito, neste ano, de recursos destinados ao Pronampe em 2020 e não usados (cerca de R$ 2 bilhões). Costa afirmou ainda que negocia com o Senado mais R$ 4,8 bilhões para ajudar a socorrer empresas.

“Esse adiamento do pagamento da primeira parcela do Pronampe anunciado hoje (ontem) é ainda insuficiente para amenizar a situação. E, caso os novos recursos sejam realmente liberados, é necessário que ocorram ajustes no programa para que os mesmos cheguem aos comerciantes que realmente precisam”, enfatizou o conselheiro da Fecomércio-MG.

Da mesma opinião compartilha o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel), Matheus Daniel. “Na primeira leva do Pronampe, por exemplo, muitos empresários que pegaram valores vultosos de crédito não eram necessariamente os que mais precisavam. É preciso melhorar os critérios. Um exemplo são vários comerciantes que precisam dos recursos, mas não conseguem obter, porque estão negativados por não pagarem a conta de energia elétrica. É preciso um esforço conjunto dos governos para ajudar esse pequeno comerciante”.

Matheus Daniel também lembrou dos impostos. Segundo ele, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) postergou o pagamento de tributos referentes ao ano passado. “Começamos a pagar em dezembro impostos de 2020. É preciso que a Prefeitura reveja algumas cobranças, pois, no caso de bares e restaurantes, muitos estabelecimentos ficaram cerca de sete meses fechados”, disse.

Ontem, a PBH informou que deve encaminhar, na próxima semana, um projeto de lei para a Câmara Municipal, no qual serão tratados vários temas que irão beneficiar os comerciantes e empreendedores da cidade. Mas que, neste momento, ainda não será abordada a questão dos impostos de 2021.

Segundo a Abrasel, desde o início da pandemia, foram fechados 3.500 bares e restaurantes em Belo Horizonte, que geraram a demissão de cerca de 30 mil pessoas. “Estamos otimistas com a vacinação, mas precisamos de muito apoio para manter os estabelecimentos em 2021”, finalizou.

Acordos

O presidente do Sindicato dos Lojistas de Belo Horizonte (Sindilojas-BH), Nadim Donato, avaliou que o Programa Emergencial de Manutenção de Emprego (BEM) foi muito importante para o setor.

“O governo federal estuda a volta do BEM, que prevê a suspensão temporária de contratos ou a redução de jornada dos trabalhadores, mas ainda não sinalizou quando isso vai acontecer. Da mesma forma, temos tratativas em Brasília que nos sinalizaram a volta de programas de crédito”, informou.

Donato se diz otimista quanto à volta desses auxílios, mas observou que enquanto isso não acontece, o sindicato tem buscado outras alternativas. “Estamos buscando acordos junto aos sindicatos dos funcionários para conseguir reduzir jornadas e obter suspensão de contratos sem precisar de demissões. Já conseguimos junto a eles parcelar salários, avisar férias em até 48 horas e a criação de banco de horas negativo”.

O lojista frisou que é necessário um engajamento maior do governo estadual no socorro aos comerciantes. “A liberação de crédito por meio do BDMG (Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais) foi burocrática e não chegou a quem precisava”. Ainda de acordo com o presidente do Sindlojas-BH, em 2020, foram fechadas na Capital 3.500 lojas, o que gerou a demissão de 20 mil trabalhadores do setor.

Perdas não devem ser compensadas em 2021

O ano de 2021 será de recuperação gradual da economia, mas não o suficiente para compensar as perdas para o comércio registradas no ano passado. A avaliação é do presidente do Conselho de Economia da Associação Comercial de Minas Gerais (ACMinas), Guilherme Leão.

Mas esse cenário poderá acontecer mediante a liberação de novos auxílios emergenciais à população e às empresas e um controle maior da pandemia.

“Estamos em um momento de volatilidade do comércio. Esse abre e fecha exige muito planejamento e gestão. É preciso que os governos se voltem agora para a necessidade de capital de giro das empresas, com a liberação de crédito, e a ACMinas tem se movimentado nesse sentido”, disse o economista.

Para Leão, tudo indica queda nas vendas no primeiro trimestre do ano. “Já o segundo trimestre vai depender do comportamento da doença e avanço da vacinação, que ditarão a possibilidade de reabertura das cidades”. De acordo com o economista, neste primeiro trimestre, o avanço da Covid-19, teve a ver com as festas fim de ano e Carnaval.

“No segundo trimestre, são menos feriados e espera-se mais controle da curva de internação para que a economia possa voltar aos poucos”. Portanto, para o economista, a recuperação gradual esperada para este ano só será sentida no segundo semestre. “Os efeitos de novas medidas de auxílio do governo, caso ocorram, só serão vistos mais pra frente”.

Mas segundo Leão, outros fatores podem intensificar ainda mais os efeitos da pandemia na economia este ano. “Enxergo um cenário em que o câmbio vai continuar pressionando os preços e a inflação impactando mais nas classes mais baixas. Provavelmente, teremos uma elevação nas taxas de juros, diminuindo o poder de compra. Além disso, vejo um governo federal mais populista, travando a pauta das reformas importantes para o País”.

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