PASTOR COMO TEÓLOGO PÚBLICO – KEVIN VANHOOZER – TEXTO SOBRE AS PRINCIPAIS TESES

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VANHOOZER, Kevin J.; STRACHAN, Owen. O pastor como Teólogo Público: recuperando uma visão perdida. São Paulo: Vida Nova, 2016. 276 p.

SOBRE O LIVRO E SEUS AUTORES

O livro Pastor como teólogo público: recuperando uma visão perdida, foi escrito por Kevin Jon Vanhoozer (nascido em 10 de março de 1957) um americano teólogo e professor da pesquisa atual de Teologia Sistemática no Trinity Evangelical Divinity School (EDET) em Deerfield, Illinois . Muito do trabalho de Vanhoozer concentra-se em teologia sistemática , hermenêutica , e pós-modernismo. E também por Owen Strachan que é um graduado da Bowdoin College (AB em História), Seminário do Sul (M.Div. Na bíblica e Estudos Teológicos), e Trinity Evangelical Divinity School (Ph.D. em Estudos Teológicos). Ele também é um escritor contribuindo para The Gospel Coalition, um companheiro da Comissão de Ética e Liberdade Religiosa da SBC pesquisa, e um colega do Centro de pastor-Teólogos. No SBTS, Dr. Strachan foi diretor do Instituto FH Henry Carl para Evangélica de noivado e, Boyce College, ele serviu como presidente do Evangelho e Cultura. Antes de seu tempo em Louisville, Strachan foi o diretor de tempo integral Carl FH Henry Centro de compreensão teológica na Trinity Evangelical Divinity School e diretor associado do Centro de Edwards Jonathan na TEDS, que está em Deerfield, Illinois.

Como próprio titulo sugere, é uma tentativa de escreve a respeito da relação  do ministério pastoral com a vida teológica do pastor que, segundo os mesmos, já foi mais intensa, vívida e presente no passado.  Segundo o site da Edições Vida nova, este livro foi escrito para apressar o retorno da teologia. Seu propósito é recuperar a terra — o lugar em que Deus habita — vendo o povo de Deus como o principal instrumento com o qual o pastor trabalha. Nossa convicção fundamental é que mentes teológicas precisam retornar ao contexto a que pertencem: o corpo de Cristo.
Nesta obra, o autor Kevin Vanhoozer pretende recuperar a origem teológica da profissão mais ousada do mundo e despertar a igreja para a vocação imensamente desafiadora, emocionante e prazerosa de ser um pastor evangélico. De forma específica, a obra tem como objetivo ajudar três grupos de pessoas a recuperar uma visão perdida. Aos pastores (não apenas pastores-titulares!), porque precisam de ajuda para recuperar a essência teológica de sua vocação, não importa se ela é definida de forma específica como “ministério de jovens”, “educação cristã”, “vida congregacional”, “liderança de louvor” ou alguma outra função. Cada pastor é responsável por comunicar Cristo e ministrar a palavra de Deus em todos os momentos, de muitas maneiras e a todas as pessoas. Ministrar a palavra de Deus ao povo de Deus é vital ao trabalho do pastor.
Às igrejas, porque precisam ser incentivadas a repensar a natureza, a função e as credenciais dos pastores que escolhem para servi-las. Em particular, devem pensar seriamente sobre como criar as condições em que o pastor é capaz de servir e crescer como teólogo público. Aos seminários, porque existem para treinar pastores e servir a igreja e devem fazer todo o possível para minimizar o abismo repulsivo (e constrangedor) entre as disciplinas teológicas denominadas teóricas e as disciplinas que são chamadas de práticas. Dessa maneira, a teologia é o esforço de falar bem de Deus e viver para a sua glória, com base na história de Deus contada na Palavra escrita de Deus (Antigo e Novo Testamento).
Em algum sentido, realmente chega a este objetivo. O livro conta com a participação de outros autores com textos, sobretudo, ao final dos capítulos com assuntos relevantes dentro das temáticas dos mesmos capítulos.  O livro possui seis grandes partes incluindo uma longa introdução com definições do tema e passos a serem dados pelos pastores. A segunda trás referências bíblicas do papel teológico do pastor e da ponte entre os ofícios de Cristo, ou seja, como profeta, sacerdote e rei, e como isto deve influenciar o papel pastoral. A terceira parte nos conta, como é comum em escritores americanos, uma vasta e longa tradição histórica de pastores teólogos. A quarta parte traz definições e ideias sobre o que faz, quem é e para que sirva um teólogo na igreja. A quinta parte é uma descrição da labuta teológica em si, ou seja, como o papel teológico de fato se desenrola no dia a dia da igreja. A sexta e última parte funciona como um sumário das ideias principais do livro como um todo sendo chamada de 55 teses resumidas sobre o pastor como teólogo público. Abaixo faremos um dialogo com as ideias do livro a partir destas divisões apontando nossas conclusões, como concordâncias e divergências. Em um trabalho a parte, faremos nosso registro de adoção intencional da vida de pastor como teólogo público.
Devemos esclarecer, logo a principio que, tendo tido contato também com livros como O Drama da Doutrina e Encenando o Drama da Doutrina, ambos já traduzidos pela Editora Vida Nova, os autores, em especial Kevin J. Vanhoozer têm a preocupação de que a Teologia seja o mais orgânica possível, ou seja, feita no chão da igreja e no seu dia-a-dia, começando pelo pastor, mas atingindo também o ministério leigo da igreja. É a compreensão de que, quer o pastor queira ele não queira, está sempre fazendo teologia, cabendo dois questionamentos. O primeiro é sobre a qualidade desta teologia: é ruim ou é boa? Em segundo lugar: qual é este palco chamado de público?
A visão do papel do pastor, conforme vista pelo livro, é mais orgânica do que organizacional. Ou seja, ele enxerga o próprio papel do pastor como teólogo que constrói sua teologia, também, a partir do chão da igreja e do dia a dia da situação pastoral, o que, no nosso modo de compreender, evita que o pastor seja um mero papagaio teológico desconectado da realidade, ao mesmo tempo, envolve a igreja no saber e fazer teológico.
Segundo o livro, a visão teológica da vida pastoral e da igreja está perdida. Fatores históricos, como a secularização da religião, a perda de sua força decisória na vida pública, preocupações outras do ministério pastoral (como a administração e crescimento da igreja), são fatores que macularam e fizeram com que a teologia perdesse seu espaço e fosse relegada ao gabinete de profissionais intelectuais. Houve de fato, como tem havido, uma inclinação contra a razão na igreja e, ao mesmo tempo um distanciamento da academia do dia a dia da igreja. Um divórcio entre a teologia e a vida prática. Mas é um distanciamento falacioso, porque teologia inconsciente e de qualidade duvidosa ainda continua sendo feita. Não há escolhas a serem feitas, pelo entre fazer ou não fazer teologia. 
A partir de 1 Coríntios 2.2 e Filipenses 3.8, temos a tarefa básica e fundamental do pastor teólogo, desvendar o mistério de Cristo. Esta ponte é a tarefa básica. Todos concordarão que devemos conhecer mais a Cristo e que nosso relacionamento com Ele em muito depende da forma como cremos e como lidamos com as informações que recebemos dele, ou seja, de como nos posicionamos teologicamente diante de Cristo. Obviamente, uma declaração com esta, após longos séculos de distanciamento entre doutrina e pratica de fé, parece lançar nosso relacionamento com Cristo em um estado de profunda indiferença, mas é exatamente o contrario que a proposta quer mostrar, ou seja, aquilo que se fala, que se crê, que se sabe, que se experimenta, está em relação direta com aquilo que Ele é. Muitas vezes a expressão o que é/está em Cristo aparece no texto. Elas significam exatamente a compreensão de que Cristo está presente em sua Criação, como sustentador e participante de tudo. Não há igreja e não há realidade visível sem Cristo. A longa dicotomia entre cérebro e coração, razão e fé, conhecimento e sentimento, ajustam-se em profundo relacionamento a partir do fato de que Cristo está na igreja e é o seu cabeça e de que todas as expressões da igreja apontam para ele, o contemplam e afirmam.
A produção teológica é vista a partir de uma intensa dinâmica criativa e envolvente, relacional. Nunca é um ato frio, independente e isolado de um homem com seus livros, caneta, papel e computador, ainda que o gabinete de estudos, não o escritório, também seja considerado em alta conta pelos autores. A teologia é produzida por uma equipe que pode partilhar o conhecimento, já que o conhecimento é um patrimônio a ser compartilhado. Tal conhecimento deve ser transbordado para a igreja, porque a teologia é para a igreja. Sempre que pensamos em teologia, somos inclinados a pensar em sistematizações complexas, terminologias técnicas sem fim, nomes complicados e desconhecidos que não serão mais lembrados em poucos minutos, citações em hebraico, grego e latim, mas não é assim que o livro apresenta o assunto.
Teologia é a produção para a igreja do contato do teólogo com Deus e sua Palavra, no qual ele aprende o que Deus têm feito e quer fazer no mundo e em sua igreja. Por isto, ele deve gastar tempo com a Palavra e conhece-la tão bem a ponto de sentir-se seguro ao expô-la. O trabalho de tradução, por exemplo, é fundamental, ou seja, o contato com as línguas originais e o conhecimento histórico-gramatical do texto. A teologia está presente no ato de evangelizar também: que tipo de ¨Cristo¨ nós estamos apresentando? Qual o fundamento da salvação? Por que evangelizar?
O paralelo entre os três ofícios de Cristo e o papel pastoral nos parece forçado, ainda que a apresentação de como isto se dá no dia a dia parece razoável. O triplo ofício de Cristo é Profeta, Sacerdote e Rei[1]. O pastor é um profeta em um mundo em colapso[2]. Hoje vivemos em meio a uma grande crise moral (adultérios, pornografia, violência, corrupção, ou seja, pecado generalizado pessoal e sistêmico). Nada diferente do tempo de Cristo, talvez em volume e intensidade, e pouco diferente de diversas fases de Israel e da vida da Igreja. Conforme Jeremias 1.9-10, o profeta recebeu a Palavra de Deus e com ela poder e autoridade sobre as nações.
O pastor é um sacerdote enquanto é também um ministro da Graça de Deus. Cabe ao pastor, guardada as proporções, a intermediação das ações do povo diante de Deus. O Deus de amor está aberto ao seu povo. O pastor intermedia esta verdade. O aspecto real do ministério pastoral se dá pela ministração da sabedoria divina. Nada tem a ver com o papel de governo ou de liderança despótica. Talvez aqui possa caber uma interpolação com uma ideia de que o pastor deva ter o papel de aprender a causar o impacto em usa congregação com a maneira que vive, prega e usa as palavras para causar espanto e admiração em sua congregação pela, de fato, grandiosa sabedoria divina e toda sua criatividade. Teologia não é apenas para o cérebro, mas também para o coração – esta ideia já foi apresentada anteriormente.
Apresentar a longa historia da tradição cristã e da vida e obra dos pastores é fundamental. Isto ele faz citando apenas alguns poucos nomes e historias especificas. O que não poderia ser diferente, dada a vasta historiografia que dispomos assim como variadas interpretações. Da igreja antiga ele apresenta Irineu de Leão, João Crisóstomo e Agostinho. Destes temos a ampla obra escrita, a fama de bons pregadores e a ideia de que pastores são professores. No Escolasticismo temos Anselmo e Tomás de Aquino (importante, sobretudo, para os católicos) e que apresentaram a versão mais acadêmica dos teólogos e pastores da igreja.
Do monasticismo ele apresenta os nomes de Gregório I, Bernardo de Claraval e Francisco de Assis, homens práticos e muito preocupados com a santidade da igreja e o papel missionário do cristão. Dos puritanos ele apresenta a ênfase de uma teologia que seja adequada para a vida diária[3]. Edwards como um dos seus representantes nos EUA, que também apresenta uma volumosa obra para a igreja, com grande destaque para seus sermões e ativismo intenso pela santidade da igreja. A virada do mundo com o Iluminismo, que para nós neste texto interessa o elemento que distinguiu a igreja do Estado e veio pouco a pouco transformando a religião em questão de foro íntimo, ver as ideias de que o ministério pastoral passou, e passa, por uma fase populista e profissionalista que subjugou o ministério pastoral e tapou a boca dos pastores e relegou a Teologia aos acadêmicos e teólogos.
É o momento em que cada vez mais se passa a crer que o treinamento formal tira a vitalidade do ministério e a teologia, como já dissemos, passa a ser matéria apenas para especialistas e sem relação nenhuma com a igreja. Como neste momento estamos lendo o livro Ética Ministerial: um guia para a formação moral de lideres cristãos, escrito por J. Trull e J. Carther, somos forçados a discordar desta afirmação. O ministério pastoral deve ser profissional. A questão é como interpretamos a palavra profissão. Segundo Trull e Carther, profissão ter a ver com alguns fatores como: relevância do que se faz, capacidade para desenvolver tal trabalho, autoridade e autorização para exercer tal tarefa, reciclagem das capacidades, caráter reconhecido para tal tarefa, entre outras. Ora, o pastor deve cumprir tais exigências. Mais claramente eles afirmam.
Realiza um serviço social singular e essencial; exige um longo período de treinamento geral e especializado; normalmente associado e uma universidade; pressupõe aptidões sujeitas à analise racional; serviço à comunidade, no qual a motivação principal não é o beneficio econômico, tem padrões de competência definidos por uma organização autogovernante e que abrange e que abrange os profissionais da área; tem auto grau de autonomia (…); possui algum tipo de código de ética.[4] 
Tenho certeza de que Vanhoozer e Strachan não discordariam desta afirmação. Portanto, nosso problema talvez não esteja no fundamento da profissão, mas na forma como ela é exercida. E, de fato, é esta nossa tese: pastores são profissionais que não se reconhecem com tais e perdem muito com isto, levando suas congregações a também perder muito. Esta profissão não implica em profissionalismo, que seria a versão deturpada disto, visando o dinheiro e o ganho como um fim último, a falta de caráter do pastor, o desvio de finalidade de sua função que seria cuidar do povo. Naturalmente, este desvio de finalidade implica em desapego teológico e falta de aprimoramento e reciclagem do ministério pastoral.
Os autores ainda associam esta profissionalização do ministério pastoral, vista como negativa, a perda da igreja de sua condição de oficial e mãe do Estado[5]. Por fim, eles elegem Harold Ockenga como o pregador de uma grande ousadia evangélica e como aquele que começa a recuperar a pregação, o ensino e o papel da liderança como devendo ser claramente alicerçados na Teologia[6], mas é um clara ¨puxação de sardinha para a própria brasa¨ porque se trata de um americano da década de 1930 onde havia muitos outros pastores europeus fazendo um trabalho muito importante pré Segunda Guerra Mundial.
Quando eles trabalham a questão do por que da necessidade do pastor como teólogo, sobressai uma veia existencialista, o que não nos parece de todo mal: como cultivar a vida e como lidar com a morte. O combate entre a ansiedade, pelo excesso de preocupação, e a acídia, um preguiça tão intensa que leva ao desleixo e a negligência. Os demais elementos que seguem, salva a ideia do homem como ser autônomo e da necessidade da teologia apenas como matéria que dê um sentido à vida, ainda que isto seja primordial hoje em dia, mas não encontrada no homem que olhe apenas para si mesmo. Teologia no modo indicativo e imperativo são proposições importantes. A Teologia não é uma descrição de uma realidade de um mundo paralelo e intangível. É indicativa no sentido de mostrar o que é/está em Cristo: Ele ressuscitou, Ele está aqui, somos família de Deus, Deus está aqui entre nós, temos uma tarefa definida, fomos criados com propósito, temos um tempo determinado aqui. Indica, mostra, esclarece[7].
O propósito do pastor teólogo não difere da constante exigência de todos os tempos de que o discurso seja coerente com a prática. Aqui temos uma questão não meramente teológica, mas também ética e moral. Ainda assim, devemos sempre estar resguardados dos exageros puritanistas e moralizadores que reduzem a vida cristã ao simples exercício correto de praticas de manuais. Tal tendência pode se esconder por trás do debate (desequilibrado) entre a teoria e a prática. Como herdamos, como brasileiros, de uma ética calvinista puritana americana, temos tendências moralizadoras, donde advém nossos comentários.
Os autores repetem a máxima de Karl Barth: Bíblia em uma mão e Jornal do dia na outra, mas especificam mais detalhadamente. Levando em conta também C.S. Lewis, a ficção e outras formas de cultura ajudam na compreensão pastoral a partir de uma leitura da realidade sob outras e novas perspectivas, temáticas universais (busca da felicidade, sentido da vida, como lidar com perdas trágicas[8]), perceber a grandeza e as oportunidades ímpares do ministério e conhecer a própria cultura por meio de outros olhares. Com isto concordamos, não vivemos alheios a mundo e, já é hora de não mais demonizarmos as expressões humanas. Além de úteis, são belas e dão razão e sentido a vida. Pastores sem esta visão tem tornado a vidas de suas igrejas e ovelhas muito mais cinza. 
Se já dissemos que o Evangelho está no indicativo, a Teologia está no imperativo: Vá! Siga! E, antes de apontar para um despotismo teológico, nos lembramos de uma referencia feita pelos próprios autores em Provérbios 4.5: ¨ Procure obter sabedoria e entendimento; não se esqueça das minhas palavras nem delas se afaste.¨ A busca pela sabedoria. Aqui temos uma linha que considero tênue: o papel do conhecimento doutrinário e conceitual e a busca por aprender a viver como um cristão. Assistimos igrejas e pastores vivendo sempre nos dois extremos: uns no excesso do saber doutrinal desconectado da vida enquanto outros excessivamente envolvidos em uma grande e cósmica batalha espiritual de consequências inadiáveis. Como responder a isto? Primeiramente o que está em Cristo é amor (Cl 3.14), o amor, ainda que uma característica inadequadamente sobressaltada no nosso tempo levando a condescendência com o pecado e praticas inadequadas, é a dimensão fundamental de todas as ações cristãs incluindo,  obviamente,  a teologia. Em segundo lugar, levando a prática de imitação de Cristo (Rm 13.14).
A Teologia pastoral não tem como objetivo primeiro formal intelectuais, mas pessoas mais parecidas com Cristo. Vale comentar aqui algo que não encontramos em livros desta natureza: Cristo com teólogo! Seria um crime uma afirmação desta? De forma alguma, todas as suas ações estavam pautadas em seu conhecimento bíblico e em suas interpretações do mesmo. Seus opositores também conheciam a Bíblia, mas a interpretavam de modo particular, mas errôneo e distorcido. 
Em terceiro lugar, revisando o papel dos seminários, segundo os autores, com as funções de promover conhecimento que leva a vivência, transcender os conhecimentos compartimentados dos seminaristas e não apenas reforçando os conteúdos que já tem ao chegar ao seminário[9], criar generalistas, promover conhecimento que leve a competência e excelência. De todos estes pontos anteriores apenas a formação de generalistas merece uma observação de nossa parte. Que tipo de generalista um seminário pode formar? Se se é um generalista dentro da própria teologia este não é, de fato, um generalista, porque o termo exigiria conhecimento em diversas áreas que um seminário não teria em sua grade curricular: biologia, mecânica, etc. Se é um generalista dentro da própria teologia, não é um profundo em nada porque conhece apenas por alto aquilo no que deveria se aprofundar, pelo menos em conhecimento bíblico. Em nossa opinião, focamos em uma área de nosso interesse e, por consequência e forca do oficio, ampliamos os nossos conhecimentos em outras áreas que tragam apoiam, se insurjam contra nosso ponto de vista ou o corroborem. Os seminários devem formar especialistas com mente aberta ao generalismo.
A morte é uma mestra? Sim, e uma boa mestra[10]. Obviamente, podemos nos apoiar na ideia de ideias de morte possa nos conduzir ao desespero e desesperança, mas não quando feito à luz da Bíblia e do Eclesiastes, que nos levam a busca do sentido da vida não nas coisas da aparência, mas naquilo que é eterno. Uma redundância é necessária: que se leia muito!
Este capítulo no leva a um questionamento que é necessário: se o pastor é de fato um sujeito tão oniabrangente, onde fica o ministério leigo e o sacerdócio universal?  É claro que se fizermos esta pergunta aos autores, eles se esquivarão, mas não é muito fácil fugir à ideai de que um sujeito tão bem preparado e com tantas responsabilidades diante da igreja, não seja um centralizador de todas as virtudes cristãs. O pastor é apresentando como evangelista, catequista (termo que pode não soar muito bem para nós), liturgista e apologista. Um super-homem.
Como evangelista ele proclama o que está em Cristo: as verdades escatológicas e nossa prestação de contas ao Altíssimo, anunciar que em Cristo somos novas criaturas, apontar e viver o amor, coerência de palavras e ações (de novo!), pronto a aconselhar, visitador, pregador.
Como catequista ele ensina o que está em Cristo porque doutrina, é mestre, pode ser um doutor da igreja e que cuida do corpo de Cristo. Como liturgista ele leva a igreja a celebrar o que está em Cristo liderando a congregação no culto seja formalmente ou informalmente, orando e celebrando a comunhão por meio da Ceia do Senhor. Como apologista ele mostra que o Evangelho é a verdade, não apenas prova a existência de Deus, mas a sabedoria da Cruz, o senhorio de Cristo e a perseverança jubilosa dos crentes por meio de uma comunhão.
Tenho o ministério pastoral como uma função de elevada nobreza e necessidade. Apesar de todos os ataques das mais variadas frentes, a grandeza do ministério pastoral é singular, mas há algo de uma quase onipotência em todas estas descrições.
Por exemplo, como que pastores mais simples, mas que são pastores de verdade, são capazes de dialogar com os tempos modernos que são tão complexos ate mesmo para os mais cultos? Não são. Isto impediria seu ministério de alguma forma? Não, nem mesmo limitaria. Só nos é possível aceitar todas as propostas dos autores no limite da razoabilidade no sentido que o pastor seja capaz de, por meio da Palavra, apontar à sua congregação, toda a força, poder e virtude de Cristo, nada mais que isto. Caso contrário, seriamos uma versão super-intelectualizada e super-preparada para nos opor aos super-pastores midiáticos, mas sofrendo da mesma megalomania. 
CONCLUSÃO
Os pastores são responsáveis por reconhecer e levar ao conhecimento de sua congregação, a longa tradição da qual fazemos parte como cristãos, independentemente de nossa denominação, porque somos herdeiros de Cristo e do ministério dos apóstolos.
Esta longa tradição se manifesta na longa e complexa história da igreja, na longa e complexa linha de intepretação das Escrituras e na longa tradição de missão e evangelização. Chegamos a esta conhecimento pelos estudos e pela teologia. Ao mesmo tempo, somos produto de nosso tempo e confrontados dia a após dia pelos desafios de nosso tempo. Todos estes componentes se somam nos desafios pastorais. Isto nos é bem apresentado.
O pastor deve conhecer história e doutrina. Deve conhecer bem o seu tempo. Deve conhecer bem a sua congregação. Não pode tirar os pés do chão e nem negar sua realidade. Deve, no entanto, reconhecer que estamos em uma historia que está sendo escrita por Deus e que terá um ponto culminante. De modo dinâmico e criativo, deve levar tudo isto ao conhecimento de sua congregação. Deve treinar pessoas leigas, mas também treinar novos líderes e novos pastores.
A verdadeira teologia não pertence aos pastores, mas pertence à igreja. A verdadeira teologia não brota da mente de homens isolados em seus gabinetes, mas de servos envolvidos no dia a dia de suas igrejas.
Referências bibliográficas:
TRULL,J. & CARTER, J.  “Ética Ministerial: um guia para a formação moral de líderes cristãos. São Paulo: Vida Nova, 2010. 318 p.
VANHOOZER, Kevin J.; STRACHAN, Owen. O pastor como Teólogo Público: recuperando uma visão perdida. São Paulo: Vida Nova, 2016. 276 p.
Notas:
[1]Conforme página 63.
[2] Ibid, página 62.
[3]Ibid, página 113.
[4] TRULL,J. & CARTER, J.  “Ética Ministerial: um guia para a formação moral de líderes cristãos. ed. Vida Nova. São Paulo, 2010. Página 34 citando ¨Social Import of the Profissions¨, página 156.
[5] Ibid, página 121.
[6]Ibid, página 127.
[7]Ibid, página 147-148.
[8]No momento que escrevo este texto, acabamos de lidar com a morte de todo o Time da Chapecoense com seus dirigentes, de jornalistas (alguns que eu mesmo acompanhava pela Tv, Internet e Rádio), além da tripulação do avião. O mundo reagiu a isto: toda a cidade de Chapecó, a imprensa mundial e times de futebol de todo mundo prestam suas homenagens. Por alguns instantes temos renovada a esperança na humanidade, mas logo vem as noticias de nosso cenário politico e social brasileiro: um caso de aborto é descriminalizado, a medidas contra a corrupção estão sendo alteradas pelos próprios políticos em favor próprio, Caixa 2 pode ser anistiado, etc.
[9]Ibid, página 167.
[10]Ibid, página 172.
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