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Bolsonaro tenta “criar factoide” com Copa América no Brasil, afirma historiador

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A decisão do governo Bolsonaro de realizar a Copa América no Brasil continua gerando polêmica. O historiador Luiz Guilherme Burlamaqui, professor do Instituto Federal de Brasília, especialista em futebol, pensa que Bolsonaro tenta “criar um factoide” que não deve ter o efeito esperado: “futebol é ópio do poder e não do povo!”

O historiador Luiz Gulherme Burlamaqui, professor do Instituto Federal de Brasília
O historiador Luiz Gulherme Burlamaqui, professor do Instituto Federal de Brasília © Arquivo pessoal
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Apesar das críticas devido à grave situação pandêmica no país, Brasília confirmou o evento e anunciou nesta terça-feira (1°) os quatro estados que vão sediar os jogos: Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Rio de Janeiro. Luiz Guilherme Burlamaqui lembra que a decisão do governo brasileiro de sediar o torneio internacional “não era esperada, mas não surpreende tendo em vista a forma como ele tem lidado com a pandemia”.

O historiador acredita que o presidente brasileiro tenta criar uma espécie de factoide. “É uma situação muito comum que os governantes tenham esse tipo de atitude e tentem utilizar o esporte, e especialmente o futebol, para tentar criar um outro assunto”. O especialista questiona a eficácia dessa estratégia política.

“Muitas vezes se diz que o futebol é o ópio do povo, mas o pesquisador José Paulo Florenzano fala que é o ópio do poder (...) que acredita que vai conseguir desviar a atenção para outros assuntos”, ressalta Burlamaqui. Ele acredita que isso não vai acontecer e enumera várias razões.

Primeiro, a CPI da Covid, a crise sanitária e econômica vão continuar e impedir que “esse factoide tenha o efeito” esperado. Segundo, a Copa América não deve atrair muito interesse e deve ter pouca repercussão.

Copa comemorativa desnecessária

O torneio chega ao Brasil depois de ter sido cancelado na Colômbia e na Argentina devido à pandemia. O especialista lembra que essa Copa América é uma edição extra, comemorativa dos 100 anos da competição. Ela acontece apenas um ano após a última edição, vencida pela seleção brasileira, e poderia ter sido cancelada sem nenhum problema. Para o historiador, sua realização nesse momento de pandemia é um contrassenso.

“O Brasil assumir uma competição que ninguém quer, não sei o quanto ela vai atrair o interesse dos torcedores. O campeonato brasileiro e a Copa Brasil não vão parar. É uma coisa completamente descabida e péssima para nossa imagem.”

Burlamaqui acha que o melhor seria cancelar o evento e acredita que a hipótese da competição não acontecer ainda seja possível. “A primeira questão é a ação protocolada por alguns partidos da oposição (PT, PSB) no STF pedindo para cancelar. Outro elemento, é que vários jogadores importantes de seleções internacionais falaram que não querem jogar. O que é uma Copa América sem o Suárez, Agüero, Messi? Só o Neymar vai jogar? Não tem graça.”

O especialista salienta ainda que os patrocinadores também podem pressionar. “Quem vai querer patrocinar e colar sua imagem a esse evento que já ganhou nas redes sociais o mascote ‘Coronito’ e já virou ‘Cepa América’?”

CBF seria a única ganhadora

A imagem do futebol e das seleções nacionais também vão ficar arranhadas, acredita Burlamaqui. As Federações Brasileira (CBF) e Sul-Americana (Conmebol) têm interesses econômicos, mas também políticos para levar adiante a competição. Na opinião do professor do Instituto Federal de Brasília, o presidente da CBF, Rogério Caboblo, pode ser o único a levar vantagem com a organização da competição.

“O presidente da CBF está bem enfraquecido, chegou a ser ameaçado de destituição. Ele tenta ter apoio externo para consolidar sua posição internamente. Talvez funcione e se tiver um vencedor nisso tudo, talvez seja o Caboclo.”

Apesar de todas as críticas e oposição, o historiador avalia que a tendência é de realização da Copa América no Brasil. A abertura está prevista para o próximo 13 de junho.

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