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177 EDUCAÇãO AMBIENTAL à LUz DO REFERENCIAL CURRICULAR DO PARANÁ: LIMITES E AUSêNCIAS ENVIRONMENTAL EDUCATION IN THE LIG
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EDUCAÇãO AMBIENTAL à LUz DO REFERENCIAL
CURRICULAR DO PARANÁ: LIMITES E AUSêNCIAS
ENVIRONMENTAL EDUCATION IN THE LIGHT OF
REFERENCIAL CURRICULAR DO PARANÁ”: LIMITS AND
ABSENTS
Aline Sirlene de Souza1
Magali de Fátima Monteiro2
Jorge Sobral da Silva Maia3
RESUMO
A Educação Ambiental, ao longo dos últimos anos, tem sido silenciada nos
documentos oficiais, principalmente na Base Nacional Comum Curricular
(BRASIL, 2017) que a secundarizou como um tema contemporâneo
transversal, estando à mercê do engajamento dos Sistemas Educacionais
para a implementação de um currículo que inclua essa temática como
prática social. Levando em conta essas considerações, o presente artigo
teve por objetivo analisar a inserção da Educação Ambiental no Referencial
Curricular do Paraná (PARANÁ, 2018), o modo como ela se apresenta,
bem como identificar nesse documento termos que se referem à Educação
Ambiental e suas relações com a tendência Crítica. Optamos por utilizar
a pesquisa documental e análise de conteúdo e identificamos a falta de
clareza e compromisso significativo centrados em uma perspectiva crítica,
emancipatória e transformadora dos educandos. Neste sentido, evidenciamos
a articulação da Educação Ambiental mais explícita na Educação Infantil
e à medida que o nível de escolaridade aumenta, esta especificidade da
educação formal abordada como um dos temas contemporâneos vai se
descaracterizando e limitando-se, somente a algumas disciplinas. Também
constatamos que o Referencial poderia abordar a Educação Ambiental de
forma mais ampla, explícita, integrada, na perspectiva da totalidade em
1 Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Campus Jacarezinho, Paraná, Brasil.
Mestranda em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação (PPEd/UENP).
e-mail: alinesirlene@gmail.com / https://orcid.org/0000-0003-0885-6631
2 Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Campus Jacarezinho, Paraná, Brasil.
Mestranda em Educação pelo Pós-Graduação em Educação (PPEd - UENP). e-mail: magali.
famont@gmail.com https://orcid.org/0000-0001-6085-8058
3 Professor Associado na Universidade Estadual do Norte do Paraná, Campus Jacarezinho,
Paraná, Brasil. Pós-doutor pelo Instituto de Biociências da UNESP campus Botucatu/SP.
e-mail: sobralmaia@uenp.edu.br / https://orcid.org/0000-0003-4066-738X
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toda Educação Básica, uma vez que esse documento se constitui num fio
condutor para ancorar o processo ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Educação Básica. Currículo Escolar.
Política Pública.
ABSTRACT
Environmental Education, over the last few years, has been silenced in official
documents, mainly in the Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017),
which made it secondary as a contemporary transversal theme, being at the
mercy of the engagement of Educational Systems for the implementation
of a curriculum that includes this theme as a social practice. Taking these
considerations into account, this article aimed to analyze the inclusion of
Environmental Education in the Referencial Curricular do Paraná” (PARANÁ,
2018), the way it presents itself, as well as to identify in this document terms
that refer to Environmental Education and its relations with the critical trend.
We chose to use documentary research and content analysis and identified
the lack of clarity and significant commitment centered on a critical,
emancipatory and transforming perspective of the subjects. In this sense,
we highlight the articulation of Environmental Education more explicitly in
Childhood Education and as the level of education of the subjects increases,
this specificity of formal education approached as one of the contemporary
themes is becoming mischaracterized and limited to only a few subjects.
We also found that the Reference could approach Environmental Education
in a broader, explicit, integrated way, from the perspective of totality in all
Basic Education, since this document constitutes a guiding thread to based
the teaching-learning process.
Keywords: Environmental Education. Basic Education. Curriculum. Public
Policy.
INTRODUÇãO
O presente artigo apresenta uma compreensão da Educação
Ambiental (EA) abordada como um dos eixos contemporâneos
contidos no Referencial Curricular do Paraná (RCPR): princípios,
direitos e objetivos. Este documento segue a mesma estrutura da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017) homologada pelo
Ministério da Educação (MEC), na qual estabelece aprendizagens
essenciais para a Educação Infantil (EI) e Anos Iniciais do Ensino
Fundamental (EF), porém contemplando a realidade paranaense.

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No estado do Paraná, a elaboração do RCPR iniciou-se com a
composição do Comitê Executivo Estadual, formado pelas instituições:
Secretaria de Estado da Educação - SEED/PR, Conselho Estadual de
Educação - CEE/PR, União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação - Undime e União Nacional dos Conselhos Municipais da
Educação – Uncme e Assessoria Técnica, por meio da Portaria nº
66/2018 - GS/SEED, alterada pela Portaria nº 278/2018 - GS/SEED
(PARANÁ, 2018, p. 6).
Em meados de 2018, o RCPR “foi disponibilizado para consulta
pública, durante o período de trinta dias,” que após a aprovação do
Conselho Estadual de Educação do Paraná, coube aos Sistemas de
Ensino, no ano seguinte, orientar as instituições escolares para a
(re)elaboração tanto das propostas curriculares quanto dos Projetos
Político-Pedagógicos (PPP), em “todas as etapas e modalidades da
Educação Básica”. Nesse sentido, as redes que formam o Sistema
Estadual de Ensino do Paraná promoveram encontros de “orientação
às escolas e formação continuada aos” docentes para que, em 2020,
o RCPR seja efetivado nos currículos, incorporando também os
quinze temas contemporâneos transversais (TCTs) (PARANÁ, 2018,
p. 7), que em consonância com a BNCC os temas são: Ciência e
Tecnologia, Diversidade Cultural, Educação para a Valorização do
Multiculturalismo nas Matrizes Históricas e Culturais Brasileiras,
Vida familiar e social, Educação para o Trânsito, Educação em
Direitos Humanos, Direitos da Criança e do Adolescente, Processo de
Envelhecimento, Respeito e Valorização do Idoso, Saúde, Educação
Alimentar e Nutricional, Trabalho, Educação Financeira, Educação
Fiscal, Educação para o Consumo e Educação Ambiental.
Diante do exposto, o presente estudo emerge a partir do
seguinte questionamento: Como está inserida a Educação Ambiental
no Referencial Curricular do Paraná? Visto que, de acordo com a
BNCC, assim como os demais “temas contemporâneos transversais”,
ela deveria ser incorporada nos currículos e propostas pedagógicas
pelos sistemas, redes de ensino e escolas, preferencialmente, de
forma transversal e integradora. (BRASIL, 2017, p.19). Assim, os
objetivos deste artigo são: analisar a inserção da Educação Ambiental
no RCPR, o modo como ela se apresenta, bem como identificar nesse
documento termos que se referem à Educação Ambiental e suas
relações com a tendência Crítica.

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Por conseguinte, justifica-se a relevância desse estudo como
uma proposição para o debate, uma vez que o RCPR poderá
subsidiar possíveis mudanças no modo de organização curricular e,
possivelmente, na práxis docente possibilitando ultrapassar os limites
normativos. Para o desenvolvimento deste trabalho foram utilizados
autores como Layrargues e Lima (2014), Autor (2015; 2017), Loureiro
(2003; 2012), Tozoni-Reis (2009), Gil (2002).
A EDUCAÇãO AMBIENTAL NO REFERENCIAL CURRICULAR DO PARANÁ
A EA é um processo educativo que tem como tema o ambiente
e por ser considerada educação está institucionalizada em nosso
país em documentos nacionais, estaduais e municipais.
Neste sentido, o RCPR baseia-se em documentos como a
Constituição Federal de 1988, as Diretrizes Curriculares Nacionais
da Educação Básica de 2013, Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil de 2009, coaduna com o Caderno de
Educação em Direitos Humanos elaborado pelo MEC em 2013
e com documentos estaduais específicos mais recentes sobre
Educação Ambiental como: Política Estadual da Educação
Ambiental de 2013 (PEEA), Deliberação nº 04/2013, Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental de 2012
(DCNEA) (PARANÁ, 2018).
Com vista a reforçar esse tema contemporâneo a Secretaria
do Estado de Educação - SEED, lançou os cadernos temáticos em
2008, 2010 e 2018, disponíveis no Portal Dia a Dia educação, e
nos anos de 2014 e 2017 ofertou formação continuada - Formação
em Ação aos docentes, com o intuito de salientar a importância
da EA como eixo integrador do currículo em todas as disciplinas.
No que se refere à BNCC, Silva e Loureiro (2020, p. 13)
afirmam que nesse documento há uma instrumentalização da
questão ambiental, assim como uma dissociação com as questões
sociais, além disso, existe uma ausência de abordagens críticas, “o
que reforça o argumento de que o documento legitima e fortalece
uma formação que negligencia os problemas socioambientais e
desqualifica a formação de pessoas atuantes em prol de justiça
e igualdade socioambientais.”
No Referencial Curricular o que se propõe é o desenvolvimento
integral do estudante, para que ele seja capaz de repensar seus

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“valores, hábitos e atitudes individuais e coletivas” para que possa
promover “mudanças necessárias que conduzam à melhoria das
condições e qualidade de vida, ambiental, local e global” (PARANÁ,
2018, p. 13).
Entretanto, é preciso ter cuidado com essa proposição de
mudanças de valores, hábitos e atitudes, pois ela pode levar a
pelo menos um risco central de “imposição de conduta”, como nos
alerta Loureiro, pois:
A Educação Ambiental não tem a finalidade de
reproduzir e dar sentido universal a valores de
grupos dominantes, impondo condutas, mas de
estabelecer processos práticos e reflexivos que levem
à consolidação de valores que possam ser entendidos
e aceitos como favoráveis à sustentabilidade global,
à justiça social e à preservação da vida (LOUREIRO,
2003, p.46)
Diante dessa afirmação, emerge a importância de analisarmos
como a Educação Ambiental se apresenta no Referencial Curricular
do Paraná. Para tanto, primeiramente, buscamos conhecer o
documento e suas partes constituintes por meio da leitura. No
segundo momento, escolhemos palavras-chave, que em nosso
entendimento e em consonância com o referencial teórico
expressam algumas formas de como a EA pode ser abordada na
Educação Básica e realizamos uma busca na íntegra do documento.
Posteriormente, analisamos os termos no contexto no qual se
apresentavam e relacionamos à perspectiva crítica.
Optamos por utilizar a pesquisa documental, que de acordo
com Gil (2002, pp. 45-46), assemelha-se a pesquisa bibliográfica
apresentando algumas vantagens como ser “fonte rica e estável
de dados”, não implicar altos custos, não exigir contato com os
sujeitos da pesquisa, além de possibilitar uma leitura aprofundada
das fontes, exigindo assim, disponibilidade de tempo.
Como técnica de pesquisa, utilizamos a análise de conteúdo
que segundo Tozoni-Reis (2009) permite desvendar os sentidos
“ocultos ou aparentes em um texto” levando-se em consideração
que todo documento possui um grande volume de informações que
nem sempre interessam ao tema em estudo.

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DIFERENTES MACROTENDêNCIAS EM EDUCAÇãO AMBIENTAL
A Educação Ambiental pode se apresentar em diferentes
abordagens, caracterizadas por uma diversidade epistemológica,
política e pedagógica que, por sua vez, definem suas concepções e
práticas. Layrargues e Lima (2014), ao analisar o campo ambiental
identificaram três macrotendências em EA, definindo-as segundo suas
principais individualidades e classificando-as em: conservacionista,
pragmática e crítica.
A macrotendência conservacionista considera o ambiente
como apenas natureza, desconsiderando qualquer aspecto social;
apoia-se na dimensão afetiva e estimula mudanças comportamentais
individuais, como cuidado e preservação. Uma prática educativa,
nesse sentido, busca desenvolver “a lógica do “conhecer para amar,
amar para preservar”, orientada pela conscientização “ecológica”
e tendo por base a ciência ecológica.” (LAYRARGUES; LIMA, 2014,
p. 27)
A macrotendência pragmática relaciona-se à conservacionista,
porém com um viés mais mercadológico, considerando o ambiente
apenas como recursos. Nessa perspectiva é preciso cuidar para não
se esgotarem os recursos. Dessa forma, adotam-se medidas paliativas
a fim de minimizar os impactos e problemas ambientais.
Essa perspectiva percebe o meio ambiente destituído
de componentes humanos, como uma mera coleção
de recursos naturais em processo de esgotamento,
aludindo-se então ao combate, ao desperdício e à
revisão do paradigma do lixo que passa a ser concebido
como resíduo, ou seja, que pode ser reinserido no
metabolismo industrial. Deixa à margem a questão
da distribuição desigual dos custos e benefícios dos
processos de desenvolvimento, e resulta na promoção
de reformas setoriais na sociedade sem questionar seus
fundamentos, inclusive aqueles responsáveis pela própria
crise ambiental. (LAYRARGUES; LIMA, 2014, p. 31)
Por outro lado, a macrotendência crítica compreende que
não há respostas para os problemas ambientais apenas em
soluções reducionistas e comportamentais, sendo assim, ela

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compreende a complexidade envolvida nestes problemas como
o modelo de desenvolvimento econômico e social. Além disso,
busca “o enfrentamento político das desigualdades e da injustiça
socioambiental.” (LAYRARGUES; LIMA, 2014, p. 33)
Assim, a Educação Ambiental Crítica, ao considerar todos estes
aspectos, “tem condições de enfrentar e instrumentalizar os sujeitos
para agirem de forma significativa e desempenharem seu papel de
cidadão.” (AUTOR, 2015, p. xxx). Esta abordagem implica ainda
em ter em mente
Que é importante aproximar o campo da pesquisa em
educação ambiental da escola pública estabelecendo
diálogos constantes e intensos com a comunidade
desta instituição, possibilitando seu resgate da lógica
destrutiva do imperialismo monopolista, da economia
verde e das corporações que se apropriam da escola,
inviabilizando a transformação social e a emancipação
de estudantes e professores (AUTOR, 2017, p. xxx).
Esta articulação entre a produção acadêmica em educação
ambiental crítica e a instituição escolar permite tomar por base as
macrotendências apontadas por Layrargues e Lima (2014) para
a análise da questão ambiental presente no RCPR. Desta forma,
buscamos os termos “educação ambiental” e “meio ambiente”,
na sequência foram selecionadas as palavras “prática social”,
“transformação social”, “emancipação” e “justiça social (ética)”
termos esses que se relacionam a macrotendência crítica, que
segundo Layrargues e Lima (2014, p. 33) nela “há um forte viés
sociológico e político”, sendo assim introduziu no debate “conceitos-
chave como Cidadania, Democracia, Participação, Emancipação,
Conflito, Justiça Ambiental e Transformação Social”.
Na sequência, buscamos pelos termos “conservação”,
“preservação”, “recursos naturais” e “sustentabilidade”, que se
relacionam às macrotendências conservacionista e pragmáticas que,
de acordo com Layrargues e Lima (2014, p. 32), são “de uma mesma
linhagem de pensamento”, sendo ambas “comportamentalistas e
individualistas”.
No quadro podemos observar a frequência que cada termo
aparece no documento, bem como sua localização.

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Quadro 1- Termos que estão explícitos no documento
Termos
pesquisados/
Frequência que
aparece no
documento
Localização no documento
Educação
ambiental/
7 vezes
O processo de elaboração do RCPR: Princípios, direitos e
orientações;
Princípios orientadores:
Educação como direito inalienável de todos os cidadãos (nota
de rodapé);
Valorização da diversidade:
Texto Introdutório: Ciências (nota de rodapé)
Meio ambiente/
43 vezes
Texto Introdutório RCPR: Princípios, direitos e orientações;
A Estrutura do RCPR: Princípios, direitos e orientações;
Princípios orientadores
A Educação como direito inalienável de todos os cidadãos
Texto Introdutório Educação Infantil
-Organizador Curricular - Crianças bem pequenas (1, 2, 3
anos) e pequenas (4, 5 anos)
Texto Introdutório - Educação Física; Educação Física 3º, 4º,
5º, 6º, 7º ano - EF
Texto Introdutório - Ensino Religioso
Geografia 5º, 7º ano – EF; História 4º ano – EF
Prática social/
6 vezes
Texto Introdutório Ensino Fundamental
Texto Introdutório - Ciências (nota de rodapé)
Texto Introdutório - Educação Física
Texto Introdutório - Língua Inglesa; Língua Inglesa - 8º
ano – EF
Transformação
social/
12 vezes
Texto Introdutório RCPR: Princípios, direitos e orientações;
Princípios orientadores:
Educação como direito inalienável de todos os cidadãos
Arte 1º, 2º, 3º, 4º, 5º, 8º, 9º ano - EF
Texto Introdutório - Educação Física
Texto Introdutório – Geografia
Emancipação/4
vezes
Texto Introdutório - Educação Infantil
História - 3º ano/EF; História - 8º ano/EF.
Justiça social
(ética)
/2 vezes
(72 vezes)
Texto Introdutório RCPR: princípios, direitos e orientações
Igualdade e equidade
Educação inclusiva
Conservação/24
vezes
(3 vezes não
se aplica ao
ambiente)
Organizador curricular - crianças pequenas (4, 5 anos)
Ciências - 1º, 5º, 8º, 9º ano - EF
Texto Introdutório - Geografia, Geografia 1º, 2º, 4º, 7º
ano - EF
História 3º ano – EF

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Preservação/47
vezes
Texto Introdutório RCPR: princípios, direitos e orientações
Educação como direito inalienável de todos os cidadãos
Texto Introdutório - Educação Infantil
As interações e a brincadeira na proposta curricular
Organizador curricular - bebês (0 -1 ano); crianças bem
pequenas (1, 2, 3 anos); crianças pequenas (4, 5 anos);
Ciências 4º, 5º, 7º, 9º ano - EF
Texto Introdutório - Educação Física;
Educação Física 3º, 4º, 5º, 9º ano - EF
Geografia 2º, 7º, 9º ano – EF
Recursos
naturais/
20 vezes
Texto Introdutório - Educação Infantil
Organizador curricular - bebês (0 -1 ano); crianças bem
pequenas (1, 2, 3 anos) e crianças pequenas (4, 5 anos);
Arte 6º ano – EF; Ciências 3º - EF
Texto Introdutório – Geografia; Geografia 2º, 3º, 7º, 8º 9º
ano – EF
Sustentabilidade/
14 vezes
Texto Introdutório - Educação Infantil
Organizador curricular - bebês (0 -1 ano); crianças bem
pequenas (1, 2, 3 anos) e crianças pequenas (4, 5 anos);
Ciências 1º, 5º, 8º e 9º ano – EF; Geografia - 7º ano – EF;
História - 2º ano – EF; Matemática - 6º ano – EF
Fonte: Elaborado pelos autores (2019)
COMPREENDENDO A EDUCAÇãO AMBIENTAL NO REFERENCIAL
CURRICULAR DO PARANÁ
De acordo com os termos contidos no quadro, percebe-se que
em todo o documento o termo “educação ambiental” aparece apenas
sete vezes, referindo-se à legislação de EA e somente uma vez no
corpo do texto, no componente de Ciências. Dessa forma, o que se
constata é quase a inexistência da Educação Ambiental explícita
nos componentes curriculares, bem como nas unidades temáticas,
objetos de conhecimento e objetivos de aprendizagem e quando é
encontrada, aparece de maneira limitada.
Já o termo “meio ambiente” aparece quarenta e três vezes,
na maioria delas, associado aos termos preservação e cuidado,
perceptível em alguns objetivos de aprendizagem e desenvolvimento
da Educação Infantil como:
“Perceber os elementos da natureza explorando os
espaços externos da instituição e incentivando a
preservação do meio ambiente” (PARANÁ, 2018, p. 95).
“Participar de situações de cuidado com o meio ambiente,
preservação de plantas, cuidado com animais, separação de lixo,
economia de água, reciclagem e outros” (PARANÁ, 2018, p. 141).

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Por outro lado, encontra-se também na Educação Infantil, como
um dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento:
“Perceber-se enquanto parte integrante do meio
ambiente” (PARANÁ, 2018, p. 95).
Essa abordagem, que vai além das ações de cuidado e
preservação, é relevante para que os estudantes compreendam
que são parte do ambiente, com vistas a promover mudanças
realmente radicais, individual e coletivamente, em busca de uma
educação ambiental transformadora e não apenas de mudanças de
comportamento.
Os termos “prática social”, “transformação social”,
“emancipação” e “justiça social (ética)”, que apesar de no
documento curricular não estarem relacionados, especificamente,
a perspectiva crítica da Educação Ambiental, poderiam avançar no
sentido de considerar a educação como “uma das possibilidades de
transformação social e a escola, um espaço de diálogo, mudanças
e contradições, sendo esses os elementos necessários para a
construção de uma sociedade democrática” (PARANÁ, 2018, p.13),
como propõe o documento, entretanto ao não esclarecer qual o
sentido pedagógico dos termos, acaba por esvaziá-los de sentido.
Desta forma, a vertente crítica da EA como trabalhamos aqui,
implica em considerar a prática social distinta de cotidiano, pois
nessa vertente a prática social pode ser considerada como um vasto
processo de produção e reprodução das condições materiais e ideais
no contexto das relações sociais que realizamos para nos mantermos
vivos e ativos no mundo. (SAVIANI, 2012).
Ao afirmarmos que a prática social é distinta de cotidiano,
o que se quer apontar é que a escolar necessita trazer o não-
cotidiano, isto é, aquilo que não está presente nas relações sociais
e nas experiências concretas dos indivíduos. A prática social busca
evidenciar esta relação entre o cotidiano e o não cotidiano. Este
último é a ciência, a filosofia e arte em seu mais elevado nível de
expressão e que, portanto, qualifica não somente a compreensão
de mundo, mas amplia a condição para o enfrentamento crítico dos
fatores opressivos que estão sujeitos, na sociedade, as filhas e os
filhos das trabalhadoras e trabalhadores.

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As mesmas considerações valem para os termos “transformação
social”, “emancipação” e “justiça social (ética) que não podem ser
considerados corriqueiros, mas como expressões para uma nova
forma de se produzir a vida em sociedade. Por exemplo, o conceito de
emancipação pressupõe “a autonomia e a liberdade dos sujeitos pela
intervenção transformadora das relações de dominação, opressão
e expropriação material, enquanto pressupostos para instituirmos
novas formas de viver e ser na natureza.” (LOUREIRO; VIEGAS,
2013, p. 12).
Ainda verificam-se terminologias como “conservação”,
“preservação”, “recursos naturais” e “sustentabilidade”, que
aparecem muitas vezes, remetendo a responsabilidade individual
com o meio ambiente, além do estímulo a ações a fim de minimizar
os problemas ambientais, como se percebe nos seguintes exemplos:
- “Assistir a vídeos, escutar histórias, relatos e reportagens que
abordam os problemas ambientais para se conscientizar do papel
do homem frente a preservação do meio ambiente.” (PARANÁ,
2018, p. 174)
- “Identificar ações que contribuam para a conservação do ambiente,
percebendo a importância da separação dos resíduos sólidos,
coleta seletiva e redução da geração de resíduos.” (PARANÁ,
2018, p. 311)
- “Investigar os usos dos recursos naturais, com destaque para os usos
da água em atividades cotidianas (alimentação, higiene, cultivo
de plantas etc.), e discutir os problemas ambientais provocados
por esses usos.” (PARANÁ, 2018, p. 430)
Além destes, observa-se como um dos objetivos de aprendizagem:
Reconhecer ações que possibilitem atender às
necessidades atuais da sociedade, sem comprometer o
futuro das próximas gerações (por exemplo: consumo
consciente, redução do desperdício, preservação do
patrimônio natural e cultural da cidade onde vive,
destinação adequada dos resíduos, entre outros).
(PARANÁ, 2018, p. 321)

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Essas ações e objetivos de aprendizagem propostos, apesar de
importantes, não contemplam a complexidade necessária para que a
educação seja emancipatória e transformadora, pois desconsideram
seus determinantes causais e possibilidades de enfrentamento
coletivo da problemática socioambiental.
O termo sustentabilidade foi encontrado no Texto Introdutório
da Educação Infantil e nos Organizadores curriculares: bebês (0 -1
ano); crianças bem pequenas (1, 2, 3 anos) e crianças pequenas
(4, 5 anos), perpassando toda a Educação Infantil. Já no Ensino
Fundamental foi possível encontrar esse termo nos componentes
curriculares de Ciências, Geografia, História, Matemática, como
demonstra o quadro 1. Também se estimula ao uso de materiais
“sustentáveis” no componente curricular de Arte.
Contudo, há de se ter cuidado com o termo sustentabilidade,
pois ele pode comportar diversos conceitos, e alguns ligados a
questões pragmáticas e instrumentais, voltada ao desenvolvimento
de habilidades e competências. (LOUREIRO, 2012). E, nesse sentido:
É como se a educação servisse para criar competências,
capacidades, habilidades e comportamentos sem que
estes estivessem vinculados a formação do ser, ao pensar
o mundo, ao refletir sobre a existência, ao atuar na
construção da historia e ao se posicionar politicamente.
(LOUREIRO, 2012, p. 76).
Uma ausência notória está em não considerar que
Os conceitos científicos se relacionam com a experiência
pessoal de maneira diferente de como o fazem os
conceitos espontâneos. Os últimos surgem e se formam
durante o processo de experiência pessoal da criança.
Diferentemente, os motivos internos que impulsionam a
formação dos conceitos científicos são completamente
diferentes daqueles que orientam seu pensamento a
formar conceitos espontâneos. As tarefas mobilizadas
pelo pensamento da criança são distintas quando
assimila conceitos na escola e quando esse pensamento
está entregue a si mesmo. Resumindo, poderíamos
dizer que os conceitos científicos que se formam no
processo de ensino se diferenciam dos espontâneos por

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uma relação distinta com seu objeto e pelos diferentes
caminhos que percorrem desde o momento que nascem
até que se formem definitivamente. (VIGOTSKI, 2001,
p. 196).
Considerar o elemento da formação de conceitos complexos
para além dos espontâneos na criança pequena necessitaria ser o
fator norteador para a elaboração de proposições legais que orientem
práticas pedagógicas no contexto escolar. Tal afirmação aponta
para a ideia de que a base orgânica da atividade de memória é a
plasticidade de nossa substância nervosa, aqui compreendida como
a propriedade de uma substância que permite alterar e conservar as
marcas dessa alteração. (VIGOTSKI, 2018).
Percebe-se também, por não haver destaque sobre a apropriação
dos conceitos associados a temática socioambiental, certa promoção
de ações e mudanças sem considerar o modo predatório a sociedade
contemporânea vem adotando sistematicamente, e negligenciar os
inúmeros alertas sobre a crise socioambiental brasileira e mundial.
Diante dessa análise dos termos encontrados, foi possível
verificar que na Educação Infantil a questão ambiental aparece com
certa frequência em relação ao Ensino Fundamental, no entanto, para
que formação possibilite uma formação crítica ela necessita ocorrer
em todas as etapas de ensino, voltada para a formação humana,
tendo por objetivo a emancipação e a transformação dos modos de
se produzir à vida em sociedade, bem como uma articulação com
os fundamentos psicológicos e pedagógicos que mostram como as
crianças aprendem.
Ressalta-se que no Ensino Fundamental encontramos termos
relacionados à Educação Ambiental em maior quantidade no
componente curricular de Geografia. Entretanto, nos documentos
normativos, assim como o próprio Referencial Curricular do Paraná
sugerem que os temas contemporâneos sejam trabalhados de forma
interdisciplinar, transversal e integrador, perpassando todos os
componentes curriculares.
Compreende-se a relevância de que a Educação Ambiental
esteja inserida na escola de forma interdisciplinar e transversal. No
entanto, apesar dessa sugestão, o Referencial Curricular menciona
apenas uma vez a interdisciplinaridade, afirmando que “cabe à escola
repensar democraticamente e propor alternativas metodológicas,

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valorizando as experiências de professores e estudantes, que
promovam a contextualização e a interdisciplinaridade” (PARANÁ,
2018, p. 27).
A interdisciplinaridade é entendida por Autor (2017) “como um
processo que visa enfrentar um determinado problema, valendo-se
de conhecimentos e métodos de várias disciplinas, sem que elas
percam sua identidade, conceitos e metodologias.” Considera-se
que um trabalho interdisciplinar nessa perspectiva é importante,
entretanto, em uma educação ambiental crítica, transformadora e
emancipatória, pode-se considerar que ela pode ser superada pela
totalidade:
Dessa forma, poderíamos ir mais longe e superar a
própria interdisciplinaridade pela totalidade, categoria
gnosiológica do método materialista histórico dialético,
que permite tratar o objeto de investigação em suas
relações com os elementos históricos e sociais e não
em seu aparente isolamento, explicitando sua gênese,
seu desenvolvimento, contradições e relações. (AUTOR,
2017, p. xxx)
Assim, diferentemente da concepção de educação que “visa
interpretar, informar e conhecer a realidade”, a Educação Ambiental
Transformadora “busca compreender e teorizar na atividade humana,
ampliar a consciência e revolucionar a totalidade que constituímos e
pela qual somos constituídos.” (LOUREIRO, 2003, p. 44)
Diante da análise, percebe-se que essa intencionalidade
e objetivos da Educação Ambiental Crítica, Transformadora e
Emancipatória, se dilui, podendo levar a ausência de práticas
educativas transformadoras quando se detém apenas a leitura do
Referencial Curricular do Paraná, sem considerar os conhecimentos
produzidos no campo teórico e prático da educação ambiental.
Ainda, é importante considerar que esses documentos, tanto a Base
Comum Curricular Nacional quanto o Referencial, serão tomados
como referência para a construção dos Projetos Políticos Pedagógicos
e elaboração dos currículos escolares, no entanto:
Um documento oficial, que parte de uma política
pública educacional no âmbito curricular, que silencia
problemas socioambientais marcados por jogos de

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interesses, pela desigualdade social, por conflitos
territoriais, má distribuição de renda e terras..., que
geram injustiças a ponto de afetar direitos humanos
e destruir o ambiente como um todo, tem a ideologia
de aprofundar a desigualdade socioambiental para
o favorecimento de grupos hegemônicos que estão
no topo da pirâmide social a oprimir a maior parte
da sociedade brasileira, que é o povo que sustenta a
base de tal pirâmide. Fica evidenciado, portanto, que
em um documento oficial, voltado para os interesses
neoliberais do sistema capitalista, não se tem interesse
em abordar a EA com mais concretude e com elementos
que garantam a sua compreensão como um campo
de conhecimento consolidado. (SILVA e LOUREIRO,
2020, p. 13)
Por conta do anterior exposto, é importante considerar que
a Educação Ambiental é uma especificidade da educação, é um
processo de recuperação de valores perdidos que levam a superação
da dicotomia sociedade e natureza e para acontecer essa superação
é necessário um debate com rigor teórico que leve à reflexão das
ações humanas, rompendo com o discurso exclusivamente ecologista,
que prega mudanças superficiais. (AUTOR, 2015).
Essa superficialidade em articular a EA na educação básica
formal pode ser entendida como uma dificuldade de percebê-la como
processo educativo, “reflexo de um movimento histórico, que produziu
uma prática descontextualizada, voltada para a solução de problemas
de ordem física do ambiente, incapaz de discutir questões sociais e
princípios teóricos básicos da educação” (LOUREIRO, 2003, p. 46).
Nesse sentido, faz-se necessário trazer à tona as discussões
atuais sobre Educação Ambiental, de forma a contribuir para um
novo olhar para as práticas pedagógicas derivadas dos referenciais
curriculares, comprometendo-se com a garantia de apropriação dos
conhecimentos produzidos historicamente, considerando o objeto
da educação:
Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado,
à identificação dos elementos culturais que precisam
ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana
para que eles se tornem humanos e, de outro lado e

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concomitantemente, à descoberta das formas mais
adequadas para atingir esse objetivo. (SAVIANI, 2011,
p.13).
Ainda é fundamental o processo formativo de professores, tanto
inicial, quanto continuado em EA para que essas fragilidades possam
ser enfrentadas e superadas no âmbito da práxis docente. Neste
sentido, o aprofundamento teórico – metodológico relacionado às
produções em educação ambiental precisa ser apropriado de forma a
potencializar as ações das professoras e dos professores no ambiente
escolar, identificando a prática social de seus estudantes como ponto
de partida e ponto de chegada para o ato educativo (AUTOR, 2017).
Este processo formativo precisa considerar que
O trabalho pedagógico é complexo e envolve o domínio
de inúmeros conhecimentos de caráter teóricos e
práticos para a sua realização com qualidade. Isso
porque as professoras e os professores lidam com as
mais diversas situações em seu cotidiano, tanto no
tocante aos conhecimentos próprios de sua formação,
quanto às teorias de ensino e aprendizagem e sua
relação com a práxis escolar e a educação em nosso
país. Essa complexidade necessita ser considerada
nos processos de formação docente em cursos de
licenciatura das diversas áreas de conhecimento e é
preciso conhecer a realidade da escola pública brasileira
que atende estudantes por todo o país. (XXXX; XXXXX;
AUTOR, 2020, p. XX)
Diante desta afirmação é importante retomar a concepção de
prática social para esclarecer o entendimento da mesma no contexto
da atividade docente na escola pública:
Neste primeiro momento, o professor tem uma “síntese
precária”, pois há conhecimento e experiências em
relação à prática social, mas seu conhecimento
é limitado, pois ele ainda não tem claro o nível
de compreensão dos seus alunos. Por sua vez, a
compreensão dos alunos é sincrética, fragmentada,
sem a visão das relações que formam a totalidade. O
primeiro momento do método articula-se como o nível

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de desenvolvimento efetivo do aluno, tendo em vista
adequação do ensino aos conhecimentos já apropriados
e ao desenvolvimento iminente, no qual o ensino deve
atuar. Com isso se quer dizer que esse momento deve,
com base nas demandas da prática social (o que não
é sinônimo de demandas do cotidiano), selecionar
conhecimentos historicamente construídos que devam
ser transmitidos, traduzidos em saber escolar. O
ponto de partida da prática educativa é a busca pela
apropriação, por parte dos alunos, das objetivações
humanas (MARSIGLIA, 2011, pp. 23-24. Parênteses
da autora).
Em posse desta concepção o professor e a professora poderão
viabilizar criticamente o ato pedagógico que dê condições para que
os estudantes adquiram os elementos culturais que lhes permitirão a
busca da emancipação humana e a identificação com uma qualidade
socioambiental que, em grande medida, não está presente nos
objetivos dos documentos oficiais.
Desta forma poderão as professoras e os professores, em
grande medida, garantir o sintetísmo conceitual que permitirá a
compreensão da realidade social por meio dos fundamentos mais
aprimorados pela expressão humana na sua interação com as
produções científicas, artísticas e filosóficas identificando, por meio
deste aprendizado, os fatores relacionados à produção e a reprodução
da vida, visualizando as tendências para sua transformação e, ainda
no processo de conversão do saber objetivo em saber escolar e
permitir aos estudantes essa apropriação na escola pública.
CONSIDERAÇõES FINAIS
Considerando a análise do Referencial Curricular do Paraná no
que se refere ao tema contemporâneo Educação Ambiental torna-se
evidente a falta de clareza e compromisso significativo centrada em
uma perspectiva crítica, emancipatória e transformadora dos sujeitos.
Neste sentido, evidenciamos a articulação da EA mais explícita
na Educação Infantil e à medida que o nível de escolaridade dos
sujeitos aumenta, esta especificidade da educação formal abordada

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como um dos temas contemporâneos vai se descaracterizando
e limitando-se, somente às disciplinas de Ciências (em algumas
séries) e Geografia (com maior frequência) a partir de conteúdos
organizados nas unidades temáticas.
Assim, percebemos que o Estado do Paraná traz a Educação
Ambiental mais explícita no primeiro nível da Educação Básica e
concordamos, pois, se constitui num universo fecundo para um
trabalho em EA, fundamental para a construção de valores desde
a mais tenra idade, pautada na justiça social e que poderá auxiliar
as crianças a tornarem-se mais sensíveis e responsáveis na relação
socioambiental e que contribua para o seu pleno desenvolvimento
cognitivo, afetivo, psicomotor e social. Porém, é preciso ir além dessa
perspectiva e permear ao longo de todo processo educativo para que
alcance uma educação ambiental crítica e transformadora que no
processo formativo vá alem da simples sensibilização e contribua para
que as crianças tornem-se analíticas e críticas ao consideramos as
relações socioambientais na sociedade contemporânea.
Cabe ressaltar que o Referencial Curricular do Paraná aborda
a EA como uma das possibilidades de “temas contemporâneos”
estando à mercê do engajamento dos Sistemas Educacionais, cuja
implementação de um currículo, inclua essa temática como prática
social. Para isto, torna-se relevante um estudo pormenorizado e
intrínseco do RCPR, dos demais documentos que o fundamentam e
de pesquisas mais recentes sobre essa temática, para que se amplie
o entendimento e consolidação de práticas educativas efetivas no que
se refere, especialmente, à EA, ultrapassando o que é proposto. Para
isso, nos parece necessário um forte componente teórico e prático
que se mostra ausente no documento em questão.
Além disso, é importante que a Educação Ambiental esteja
inserida nas propostas tanto de formação inicial quanto continuada
a fim de que professores e professoras apropriem-se dessa temática,
fornecendo-lhes uma base concreta que subsidie a práxis docente,
bem como o entendimento da prática social dos estudantes para
que possam proporcionar uma educação com vistas à criticidade,
emancipação e transformação. Esta informação nos impõe a
necessidade de considerar no processo formativo docente a relação
entre a forma, o conteúdo e o destinatário garantindo a apropriação
e as objetivações para si dos indivíduos aprendentes.
Outro aspecto importante a ser considerado é a intencionalidade

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docente em EA, que a partir de práticas pedagógicas planejadas
e diversificadas possam contemplar, de modo transversal e
interdisciplinar, todas as disciplinas do currículo num processo
histórico, permanente e em constante movimento.
Por conseguinte, o que constatamos é que o Referencial
Curricular do Paraná poderia abordar a Educação Ambiental de
forma mais ampla, explícita, integrada, na perspectiva da totalidade
em toda Educação Básica, uma vez que esse documento se constitui
num fio condutor para ancorar o processo ensino-aprendizagem e
para a construção dos currículos escolares.
Entretanto, não se esgota o debate acerca do Referencial
Curricular do Paraná e de que há a necessidade de um engajamento
mais consistente das escolas, universidades, secretarias e todos,
que de forma direta ou indiretamente, possam contribuir para uma
educação transformadora.
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Submetido em 21 de setembro de 2020
Aceito em 11 de novembro de 2020
Publicado em 01 de dezembro de 2020