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Por Jennifer Ann Thomas, para o Um Só Planeta


O desmatamento ocorre por razões econômicas, seja por grupos estruturados que veem vantagem na devastação, ou por pequenos produtores que têm poucas opções de trabalho — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O desmatamento ocorre por razões econômicas, seja por grupos estruturados que veem vantagem na devastação, ou por pequenos produtores que têm poucas opções de trabalho — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

No Brasil, um dos principais desafios na área ambiental é zerar o desmatamento na Amazônia. A derrubada de árvores na floresta mais biodiversa do planeta contribui com a emissão de gases de efeito estufa e faz com que o país fique cada vez mais distante da sua meta estabelecida no Acordo de Paris.

O problema é mais complexo do que aparenta ser na superfície: o desmatamento ocorre por razões econômicas, seja por grupos estruturados que veem vantagem na devastação, ou por pequenos produtores que têm poucas opções de trabalho. Uma atividade ilegal que faz parte do ciclo do desmatamento é a grilagem, quando alguém com um interesse particular invade uma área pública e ocupa o território para depois solicitar o título da terra.

Ao fazer essa ocupação indevida, a primeira ação do invasor é desmatar a floresta. As madeiras com valor comercial são vendidas e, depois, usa-se o fogo para limpar o que sobrou de material orgânico. Na sequência, o invasor ocupa o terreno com gado e planta capim, para mostrar que ele seria o suposto proprietário daquela área.

Para o diretor executivo do Instituto Escolhas, Sérgio Leitão, a relação entre grilagem e desmatamento é intrínseca. “O desmatamento é a primeira coisa que uma pessoa que está invadindo uma área faz. O invasor quer mostrar que aquele território, ao não ser floresta, só podia ser dele. A ordem é desmatar, colocar bois, plantar capim, colocar cerca e mostrar que está ocupado”, afirma.

Apesar de essa ser a lógica inicial da ocupação da terra, Leitão afirma que a real intenção é tomar o terreno para vendê-lo depois e transformar a invasão em uma atividade extremamente lucrativa com os ganhos após a venda. “O desmatamento é a maneira pela qual esses invasores procuram mostrar para o governo que eles estavam ali de forma legalizada. Porém, ele deveria ser visto como crime, não como prova para beneficiar alguém por uma ilegalidade”, diz.

De acordo com dados divulgados pelo sistema Deter, do Inpe, o acumulado de alertas de desmatamento em 2021, até 30 de julho, foi de 8.712 quilômetros quadrados, o que representa a segunda maior cifra da série que teve início em 2016.

Para o diretor de Justiça Socioambiental da WWF-Brasil, Raul do Valle, a consequência mais direta da grilagem é a expansão do desmatamento. “Um terço do desmatamento é derivado da grilagem. Não há real intenção de produzir naquela terra, além de já existir área disponível suficiente no Brasil. Os grileiros querem, basicamente, ganhar o título de propriedade”, afirma.

Para a pesquisadora associada do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Brenda Brito, outra consequência da grilagem é o conflito por terras. De acordo com ela, isso ocorre quando há expulsão de habitantes que estavam nos locais invadidos, como comunidades tradicionais, cujas áreas não haviam sido tituladas. A derrubada da floresta também é um ponto levantado pela pesquisadora: “o desmatamento é a principal forma de sinalizar que uma determinada área está sendo ocupada para depois pleitear um título de terra. Se não há desmatamento na área, o órgão fundiário pode entender que a área não foi ocupada”, afirma.

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