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Crítica

Pabllo Vittar

: "Batidão Tropical"

Ano: 2021

Selo: Sony Music

Gênero: Pop, Tecnobrega, Forró

Para quem gosta de: Gloria Groove, Lia Clark e Urias

Ouça: Ultra Som, Triste Com T e Apaixonada

7.5
7.5

Pabllo Vittar: “Batidão Tropical”

Ano: 2021

Selo: Sony Music

Gênero: Pop, Tecnobrega, Forró

Para quem gosta de: Gloria Groove, Lia Clark e Urias

Ouça: Ultra Som, Triste Com T e Apaixonada

/ Por: Cleber Facchi 28/06/2021

Limitar o trabalho de Pabllo Vittar a um gênero específico seria um erro enorme, porém, um dos grandes problemas quando voltamos os ouvidos para 111 (2020), último álbum de estúdio da cantora maranhense, está no excesso de informações e estilos muitas vezes incompatíveis. Se por um lado esse inusitado cruzamento de ritmos resultou na produção de músicas como a divertida Rajadão, por outro, revelou faixas como a esquecível Ponte Perra, com seus versos cantados em espanhol sofrido, e Flash Pose, bem-sucedido encontro com Charli XCX, mas que parece deslocada do restante da obra. Satisfatório percebe em Batidão Tropical (2021, Sony Music), quarto e mais recente disco da artista, uma obra de essência versátil, mas que calcula de forma inteligente seu campo de atuação.

Confessa homenagem de Pabllo à música produzida no Norte e Nordeste do Brasil, onde viveu parte da infância e adolescência, entre Santa Izabel do Pará e Caxias, no interior do Maranhão, Batidão Tropical costura passado e presente da música pop sem necessariamente sufocar pela nostalgia. Longe de mirar em estrangeirismos, a artista e seus principais parceiros de estúdio, Rodrigo Gorky, Arthur Marques, Maffalda, Pablo Bispo e Zebu, da Brabo Music, se concentram na produção de um repertório marcado pelo uso de ritmos locais. São canções que vão do forró ao tecnobrega em uma interpretação deliciosamente atualizada de tudo aquilo que Mastruz com Leite, Calcinha Preta e outros tantos nomes, essências para a formação da cantora, têm produzido desde a década de 1990.

Não por acaso, parte expressiva do repertório em Batidão Tropical se concentra em releituras de faixas produzidas por algumas das principais referências criativas da drag queen maranhense. É o caso da curtinha Ultra Som, música originalmente lançada pelo grupo paraense Ravelly, no final dos anos 2000, mas que cresce significativamente na nova abordagem dada à canção. São camadas de sintetizadores e batidas que vão do drum and bass ao pop anfetaminado da PC Music, lembrando nomes como A. G. Cook e Danny L Harle. Essa mesma atualização acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra, como em Apaixonada, regravação da Banda Batidão que ainda evoca Sailor Moon, e a trinca composta por Ânsia, Zap Zum e Bang Bang, do grupo Companhia do Calypso.

Vem justamente dessa proposta em revisitar o próprio passado o estímulo para a produção de um material livre de possíveis colaborações com outros artistas. “Não queria dividir esse sabor com ninguém”, contou em entrevista ao El País, reforçando a atmosfera particular que move disco. Se por um lado essa estratégia distancia Vittar de outros nomes recentes da música pop, por outro, garante ao público um registro homogêneo e que exige ser revisitado inúmeras vezes. Assim como em Não Para Não (2018), grande obra da cantora, Pabllo e seus parceiros de estúdio se concentram na produção de um repertório curto. São pouco mais de 20 minutos de duração que invariavelmente tendem ao regresso assim que as últimas notas de Bang Bang são apresentadas ao público.

E isso é potencializado pela sequência de abertura em Batidão Tropical, onde residem as composições inéditas do disco. Do romantismo agridoce que toma conta da introdutória Ama Sofre Chora (“Piranha também ama, piranha também chora / Piranha também sofre se você vai embora“), à dançante Triste com T, música feita parta dançar agarradinho (“Você me deixou triste, triste com tesão / Como é que foi capaz de me deixar na mão?“), tudo soa como uma extensão do material apresentado em Não Para Não, porém, imersa no mesmo regionalismo que embala o restante da obra. Claro que isso não interfere na produção de músicas ainda íntimas dos antigos trabalhos da cantora, como Ânsia, com suas batidas lentas, e o misto de forró e axé de A Lua, composta em parceria com Alice Caymmi.

Feito para grudar na cabeça do ouvinte, como tudo aquilo que a cantora tem produzido desde Vai Passar Mal (2017), o álbum que chega com números impressionantes em algumas das principais plataformas de streaming, alcança um ponto de equilíbrio entre a referência e a busca por uma sonoridade autoral. Embora imersa em um território há muito desbravado por diferentes nomes da música produzida no Norte e Nordeste do país, como Mylla Karvalho, ex-integrante do Companhia do Calypso e uma das principais referências da artista, Pabllo perverte qualquer traço de previsibilidade e garante ao público um registro que convence mesmo em seu excessivo conforto. Canções que confessam sentimentos e apontam para o passado sem necessariamente perder o frescor.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.