Associação de Mulheres de Itaguaí Guerreiras e Articuladoras Sociais (A.M.I.G.A.S.) Atende Mulheres do Engenho, Catadores e Vítimas de Enchentes por meio da Cozinha Afetiva, Educação, Geração de Renda

Anna Paula Sales, liderança do Engenho, Itaguaí, e fundadora da Associação de Mulheres de Itaguaí - Guerreiras e Articuladoras Sociais (A.M.I.G.A.S.) mostra uma travessa de batata-doce sendo servida na Cozinha Solidária de Itaguaí. Foto: Alexandre Cerqueira
Anna Paula Sales, liderança do Engenho, Itaguaí, e co-fundadora da Associação de Mulheres de Itaguaí – Guerreiras e Articuladoras Sociais (A.M.I.G.A.S.) mostra uma travessa de batata-doce sendo servida na Cozinha Afetiva Comunitária Sustentável. Foto: Alexandre Cerqueira

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Este artigo faz parte de uma série de perfis de iniciativas da Rede Favela Sustentável.

Iniciativa: Associação de Mulheres de Itaguaí — Guerreiras e Articuladoras Sociais (A.M.I.G.A.S.)
Contato: Facebook | Instagram | +55 (21) 98660-6686 (WhatsApp e ligações)
Ano de Fundação: 2015
Comunidade: Engenho, Itaguaí, Baixada Fluminense
Missão: Promover a inclusão social, transformando vidas e realidades por meio da educação, arte e cultura, para a comunidade em geral. Garantir os direitos humanos, com foco na geração de emprego e renda.
Eventos Públicos: Cozinha Afetiva Comunitária Sustentável, dentro da sede da Associação de Moradores do Engenho (A.M.E.), onde, às segundas e quartas, às 18h, o jantar é servido gratuitamente. Aos domingos, o café da manhã é gratuito para a comunidade entre 9h e 10h, enquanto o almoço é servido às 12h30.
Como Contribuir: As doações físicas podem ser feitas na Rua Manoel Soares da Costa, 13 – Engenho – Itaguaí. Transferências bancárias através do PIX cozinhaafetivacomunitaria@gmail.com ou conta: Banco: CORA SCD (Código 403) | Conta Corrente: 2053522-9 | Nome: Cozinha Afetiva Comunitária Sustentável

Anna Paula Sales mora em Itaguaí há mais de vinte anos. Originalmente de Pedra de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, ela se tornou uma moradora conhecida e respeitada da comunidade. Essa comunidade é o Engenho, uma favela com cerca de 20.000 moradores, em Itaguaí.

“Criei meus filhos aqui. Meus filhos estudaram aqui. Nossas raízes estão aqui.” — Anna Paula Sales

Mulher Guerreira Anna Paula Sales. Foto: Alexandre Cerqueira
Mulher guerreira Anna Paula Sales. Foto: Alexandre Cerqueira

O município de Itaguaí está localizado na Baixada Fluminense. Embora seja um subúrbio do Rio, é muito isolado do restante da região metropolitana. “[Itaguaí] não tem mobilidade urbana”, diz Anna, “não dá para chegar nem sair daqui, porque de qualquer jeito você vai passar três horas no transporte público”. Esse isolamento dos moradores de Itaguaí das localidades com oferta de empregos mais lucrativos, mais perto do centro do Rio, levou a bolsões com altos níveis de pobreza na cidade, como na comunidade de Anna Paula. De muitas maneiras, os moradores do Engenho vivem não apenas fisicamente na periferia do Rio, mas também social, política e economicamente.

Desde 2015, Anna Paula Sales é uma figura importante na liderança das mulheres de A.M.I.G.A.S., sigla para Associação de Mulheres de Itaguaí – Guerreiras e Articuladoras Sociais. Falando sobre as raízes da organização, Anna pontua que, agora, a instituição tem um escopo ainda mais abrangente do que antes.

Mulheres voluntárias da A.M.I.G.A.S. durante uma ação no Dia Internacional da Mulher. Foto: Instagram A.M.I.G.A.S.
Mulheres voluntárias da A.M.I.G.A.S. durante uma ação no Dia Internacional da Mulher. Foto: Instagram A.M.I.G.A.S.

“A.M.I.G.A.S. surgiu de uma demanda, de uma necessidade, de defender a vida de mulheres vítimas de violência doméstica e de agressão sexual… [porém, logo] percebemos que era necessário apoiar não apenas essas mulheres, mas também seus filhos.” — Anna Paula Sales

Sala principal da sede da A.M.I.G.A.S., localizada na Associação de Moradores do Engenho (A.M.E.). Foto: Ben Bildsten
Sala principal da sede da A.M.I.G.A.S., localizada na Associação de Moradores do Engenho (A.M.E.). Foto: Ben Bildsten

No entanto, devido ao aumento da pobreza e das tragédias socioambientais decorrentes da pandemia do coronavírus e das enchentes extremas, o apoio que A.M.I.G.A.S. oferece à comunidade foi ampliado para atender gestantes, idosos e doentes crônicos moradores do Engenho. Hoje, Anna diz que o público “ampliou [ainda mais]. Abrimos os nossos serviços para todos!”

Recentemente, A.M.I.G.A.S. lançou seu programa Jovens Amigos do Meio Ambiente (J.A.M.A.).

“O J.A.M.A. foi desenvolvido para promover a educação ambiental entre os jovens da comunidade. Nós temos um valão aqui com esgoto a céu aberto e quando você educa as pessoas a não jogar lixo, a vida fica melhor… Precisamos de muita ajuda para isso, então, estamos formando uma rede de jovens da comunidade para apoiar a preservação ambiental e [as práticas de] sustentabilidade.” — Anna Paula Sales

Outro projeto liderado pelas ativistas da A.M.I.G.A.S. é o de empoderamento dos catadores. Anna conta que, devido ao alto índice de desemprego causado pela pandemia, o número desses profissionais disparou em sua comunidade e na cidade.

Anna Paula Sales mostra alguns dos alimentos que são usados para fazer as refeições da comunidade. Foto: Ben Bildsten
Anna Paula Sales mostra alguns dos alimentos que são usados para fazer as refeições da comunidade. Foto: Ben Bildsten

“Basicamente, todo mundo virou catador… [Para capacitar esses trabalhadores] nós damos apoio, oferecemos alimentação. Incorporamos aspectos de educação ambiental também. Nós encaminhamos eles para o governo, para que sejam registrados e protegidos, trabalhando dentro da lei. Fornecemos muitos suprimentos e orientamos a conversa com as autoridades locais em nome deles.” — Anna Paula Sales

Ao fornecer apoio físico e mental aos catadores de Itaguaí, A.M.I.G.A.S. melhora as condições sanitárias da cidade como um todo, ao mesmo tempo em que aumenta a renda familiar e a proteção ambiental. Em muitas famílias, o dinheiro ganho pelos catadores é a única fonte de renda, servindo como a única barreira entre as famílias e a fome.

Todos os meses, A.M.I.G.A.S. oferece programas para a comunidade do Engenho, na sede da Associação de Moradores do Engenho (A.M.E.), uma aliada muito próxima, fundada em 2018, para defender e apoiar os moradores locais, como representante oficial da comunidade. Sales descreve alguns dos principais projetos para os próximos meses.

“Trabalhamos com o Fome Zero… [Nosso] julho é [focado na] prevenção da violência contra a mulher… [assim como] o Agosto Lilás e depois tem o Setembro Amarelo, campanha contra o suicídio. Por fim, chegamos ao Natal Sem Fome.” — Anna Paula Sales

Horta comunitária da A.M.I.G.A.S. Os produtos da horta são regularmente incluídos nas refeições da comunidade.
Horta comunitária da A.M.I.G.A.S. Os produtos da horta são regularmente incluídos nas refeições da comunidade.
As marcas da água da inundação nesta sala da sede da A.M.E. ainda podem ser vistas cerca de meio metro acima do chão. Foto: Ben Bildsten
As marcas da água da inundação nesta sala da sede da A.M.E. ainda podem ser vistas cerca de meio metro acima do chão. Foto: Ben Bildsten

Prevenir e eliminar a fome em Itaguaí é muito importante para Anna Paula e suas amigas guerreiras da A.M.I.G.A.S. A organização de mulheres fornece refeições gratuitas para a comunidade três vezes por semana, todas as semanas, como parte de sua Cozinha Afetiva Comunitária Sustentável de Itaguaí. Não é incomum ter 300 pessoas comparecendo para uma refeição quente em dias de chuva, quando é difícil para os catadores coletar matéria-prima para reciclagem e ganhar dinheiro suficiente para uma refeição adequada, ou quando a cidade, que fica numa baixada, inunda. Então, antes mesmo de o nível das águas subir e ficar perigoso, quando as pessoas percebem que vai começar a chover forte, vão até a A.M.I.G.A.S. para garantir que estejam alimentadas, seguras e não muito longe de casa em meio a eventos climáticos extremos, que costumam assolar as favelas do Rio. “Quando começa a chover, todo mundo fica preocupado”, comenta Anna Paula.

Um problema sério no Engenho são as frequentes enchentes, que ocorrem após fortes chuvas. Grandes trechos da Baixada Fluminense estão abaixo do nível do mar, o que torna o problema ainda maior. Isso juntamente com os sistemas de drenagem precários e a falta de saneamento básico levam não apenas a enchentes, mas também ao acúmulo de esgoto, incluindo de dejetos humanos, em bueiros. As inundações são recorrentes durante o verão. Na estação chuvosa, em fevereiro de 2022, a sede da A.M.E., onde a maioria das atividades da A.M.I.G.A.S. ocorre, experimentou níveis de água muito altos, danificando ou destruindo grande parte de sua propriedade. A marca da água da enchente ainda pode ser vista nas paredes. Agora, os itens mais importantes são mantidos elevados, para que não estraguem durante chuvas fortes.

Geladeiras elevadas sobre caixas de madeira e tijolos de cimento para protegê-las de futuras enchentes. Foto: Ben Bildsten
Geladeiras elevadas sobre caixas de madeira e tijolos de cimento para protegê-las de futuras enchentes. Foto: Ben Bildsten

Essas inundações também levaram as forças governamentais a entrarem na comunidade e a demolir casas agressivamente em 2021 e 2022, principalmente aquelas ao longo do valão. A remoção e o despejo de cidadãos estavam proibidos por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) na época, devido à pandemia. Mesmo assim, alguns moradores do Engenho foram removidos. É importante ter em mente que os mais vulneráveis às mudanças climáticas no Rio são os moradores das favelas e que a solução está na melhoria de sua infraestrutura, não relegando os moradores ainda mais às margens por meio de remoções.

“Muitas pessoas [aqui] têm tuberculose. Só têm uma cama em casa, não têm geladeira, não têm fogão, não têm dinheiro, não têm emprego. Além de tudo isso, elas estão doentes!” — Anna Paula Sales

Casas do Engenho que dão para o canal de esgoto a céu aberto da comunidade. Foto: Alexandre Cerqueira
Casas do Engenho que dão para o canal de esgoto a céu aberto da comunidade. Foto: Alexandre Cerqueira

Esses são os indivíduos específicos que A.M.I.G.A.S. apoia através de seus eventos e programas. Outros eventos regulares incluem treinamento profissional duas vezes por semana. Para estes cursos, A.M.I.G.A.S. faz parcerias com empresas locais ou outras organizações sem fins lucrativos para treinar os moradores em habilidades profissionais que possam ajudá-los a garantir um emprego estável e de maior renda. Além disso, A.M.I.G.A.S. armazena uma grande quantidade de roupas de boa qualidade, móveis e outras doações de itens pessoais que são gratuitos para os moradores, conforme sua necessidade. A.M.I.G.A.S. trabalha para eliminar a pobreza extrema e a desigualdade no Engenho.

Mulheres do Engenho, em Itaguaí, participam de atividade promovida pela A.M.I.G.A.S. na sede da A.M.E. para o Dia Internacional da Mulher. Foto: Instagram da A.M.I.G.A.S.
Mulheres do Engenho, em Itaguaí, participam de atividade promovida pela A.M.I.G.A.S. na sede da A.M.E. para o Dia Internacional da Mulher. Foto: Instagram da A.M.I.G.A.S.

“[O sofrimento humano] é o que mais me preocupa. Como ser humano, não consigo estar bem sabendo que há outros que não estão.” — Anna Paula Sales

A.M.I.G.A.S. pretende não apenas manter os serviços e recursos que oferece aos moradores do Engenho, mas ampliá-los, atingindo mais pessoas na cidade de Itaguaí.

“Até o final do ano, queremos implantar quatro novos projetos. Queremos ver se conseguimos dar mais empoderamento aos jovens conseguindo uma renda para eles, mas ainda nos preocupando com o meio ambiente… tem outros projetos também, como ampliar nossos cursos profissionalizantes e dar mais apoio alimentar da nossa cozinha.” — Anna Paula Sales


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