pesquisa sendo feita em comunidadefoto de divulgação

Uma pesquisa desmistifica que a maioria dos moradores de favelas fazem gato de luz e, por isso, não estão preocupados em economizar energia. Os dados mostram que a tarifa pode representar mais de 10% da renda familiar mensal nessas localidades, quando o recomendável é que não ultrapasse 6.8%. Por sua vez, 69% responderam que caso a conta fosse reduzida, utilizariam esse dinheiro para comprar comida.
“Os dados evidenciam o ‘gato’, às vezes, como o único mecanismo que a pessoa tem para acessar energia. As famílias mais pobres, que têm até meio salário mínimo, apresentam a maior proporção de ‘gatos’. Conforme a renda vai aumentando, a maioria das famílias afirma não ter ‘gato’. Então, vemos como uma questão de acesso, de ter condição de pagar a conta de luz e não desonestidade.”, avalia Kayo Moura, cientista social e integrante do laboratório de narrativas e dados do Jacarezinho, LabJaca, que foi recém-citado como referência pelo The New York Times.
A consequência de depender da conexão irregular resulta na ineficiência do fornecimento com constantes interrupções e longa espera por reparos.  
“Quem relatou sofrer todo dia com falta de luz está presente nas faixas de renda de até meio salário mínimo… Conforme cresce a faixa de renda, aumenta os que declararam não ter sofrido com a interrupção por mais de 24 horas nos últimos três meses”.
Outro dado apontado na sondagem é que mesmo os que possuem ligações oficiais são prejudicados pela constante falta de luz. Por sua vez, esses moradores são os que menos interagem ou cobram das concessionárias. 

“A ineficiência no serviço penaliza novamente as pessoas mais pobres, que por uma série de motivos não conseguem entrar em contato com a concessionária para reivindicar questões que são seus direitos. 73% das famílias que ganham até meio salário mínimo afirmaram não fazer reclamações ou solicitar serviços... Houve até um caso de uma moça onde eles simplesmente chegaram e arrancaram o relógio dela sem dar nenhuma satisfação. E a conta continua chegando, mesmo sem ter um medidor”, explica Kaio.
Pobreza Energética
A qualidade do fornecimento influencia outros aspectos como insegurança alimentar e prejuízos sociais, entre eles: falta d’água - por não poder acionar bombas elétricas e aumento das desigualdades em ofertas de emprego, já que não possuem acesso adequado à informações e oportunidades através do celular. O relatório revela ainda que as famílias mais carentes são as que têm menos informações sobre o significado da etiqueta de eficiência energética, que obrigatoriamente deve estar colada nos aparelhos. Ou seja, acabam, muitas vezes comprando eletrodomésticos menos eficientes e que consomem mais. 
Ar condicionado: o eterno vilão
Os condicionadores de ar são os maiores inimigos do orçamento doméstico, ainda que seja uma benção em dias quentes. Esse eletrodoméstico é o que gera mais impacto. É responsável por 51,4% do consumo, mais do que o chuveiro e o ferro elétricos. 

Eficiência nas Favelas é o segundo relatório fruto do curso de pesquisa 'Monitorando a Justiça Hídrica e Energética' através do qual 45 jovens e lideranças de 15 comunidades de cinco municípios fluminenses coletaram os dados com dos demais moradores. A sondagem analisa o consumo de 1.156 famílias (4.164 pessoas) em cinco municípios do Grande Rio. O estudo da Rede Favela Sustentável (RFS) e do Painel Unificador das Favelas (PUF) evidencia a precariedade do serviço nessas comunidades e o alto custo em proporcionalidade ao poder aquisitivo desses moradores.