Como As Redes Sociais Afetam Nossa Vida Espiritual 

O dia começa como de costume: você acorda e, entre uma atividade e outra, dá aquela checada nas redes sociais até que, por volta do horário do almoço, elas simplesmente param. O alvoroço começa tentando descobrir o que aconteceu: problema na conexão, fatura da internet atrasada, talvez reiniciar o celular resolva, nada de pronunciamento dos representantes das plataformas. Assim foi a tarde do dia 4 de outubro de 2021. Por cerca de 6 horas, Instagram, WhatsApp e Facebook ficaram fora do ar, afetando a vida de milhões de pessoas no Brasil e no mundo e gerando um prejuízo financeiro bilionário aos seus administradores.

Um aparente caos se instaurou para muitas pessoas que simplesmente não sabiam o que fazer. Algumas dependiam das redes para trabalhar, outras para solucionarem problemas, ainda houve aquelas que ficaram incomunicáveis por não se lembrarem da função primeira para a qual o aparelho celular foi criado e que está praticamente esquecida em nossos dias: fazer ligações. Houve quem dissesse que foi uma ação de marketing da equipe do Graça em Flor para o lançamento do tema deste mês (risos)!  

Brincadeiras à parte, o fato é que esse  acontecimento global levou a muitas reflexões sobre a influência que o aparelho celular e, em especial, as redes sociais, exercem sobre as diversas áreas de nossa vida. Neste texto falaremos sobre o impacto delas em nossa vida espiritual. O desafio é grande, pois, à medida que as linhas vão sendo escritas, tenho diante de mim um espelho que me faz refletir a respeito de mim mesma.

Distrações e a necessidade de olhar para o alvo

As distrações fazem parte da vida e não é possível fugir delas. Há aquelas que são saudáveis e necessárias. O peso das demandas do dia a dia pode ser aliviado ao fazermos algo oposto àquilo que nos esgota; a criatividade pode advir de momentos de relaxamento. Por exemplo: se fico muito tempo fechada em um escritório, minha distração pode estar em caminhar em um parque e observar a natureza, ou em ouvir uma boa música.

Por outro lado, as redes sociais nos oferecem uma gama de distrações e o fazem muito bem. Seja um jogo, uma conversa, fotos, um vídeo engraçado ou um anúncio entre uma postagem e outra, esses elementos atrativos têm o poder de nos desconectar da nossa realidade e nos ligar ao mundo de outras pessoas, onde ficamos imersos.

O que poderia ser algo saudável, na maioria das vezes desempenha a função oposta, gerando em nós apatia, perda da vontade de realizar nossas tarefas no mundo real e falta de foco. As redes sociais podem se tornar um escape, principalmente em situações que demandam muito de nós. Os acessos rápidos de alguns minutos resultam em horas acompanhando a vida de pessoas que, em sua maioria, não nos conhecem e com as quais não temos relação de proximidade. No fim do dia, simplesmente, percebemos que procrastinamos alguns afazeres e não fomos bons mordomos daquelas 24 horas.

Em que isso se relaciona com a vida espiritual? As distrações nos desviam do alvo. Enquanto o Senhor nos orienta em sua Palavra a desembaraçarmo-nos de tudo o que nos atrapalha e corrermos com perseverança a carreira que é posta diante de nós, com os olhos fixos em Cristo (cf. Hb 12.1-2), o uso não controlado das redes sociais nos torna lentos e cada vez mais presos ao que é desnecessário. O corredor na pista só tem em mente a linha de chegada, tudo o mais é secundário. Como forasteiros nesse mundo, nossos esforços e o nosso tempo devem ser direcionados às coisas concernentes à nossa pátria celestial, ao reino ao qual pertencemos.

Nossa vida espiritual só se desenvolve por meio da leitura da Palavra, da oração e da comunhão real com o Corpo de Cristo, a Igreja. Se você usa as redes sociais para ler bons textos e assistir pregações edificantes, glória a Deus por isso. Mas o  relacionamento com seu Pai não se resume somente a isso. A voz do Senhor é ouvida quando abrimos a Bíblia, e nós somos por Ele ouvidos quando nos dedicamos à prática da oração. Precisamos investir em momentos a sós, estarmos inteiramente ali, com nossos pensamentos cativos a Cristo e colocar o status offline para tudo o mais.

Imediatismo e a vida cristã como um processo

Um clique e cerca de um ou dois segundos. Esse é o tempo que leva para uma pesquisa ser carregada no Google. Informações de todas as partes do mundo chegam até você em um piscar de olhos, literalmente. Nas redes sociais, fotos e vídeos temporários são exibidos com duração máxima de 15 segundos e você ainda pode clicar e pular o que não te interessa. Rapidamente você pode encontrar perfis de pessoas conhecidas ou não, independente se moram no apartamento ao lado ou em outro continente. Há também as mensagens por voz que podem ser reproduzidas de forma acelerada.

Esses são apenas alguns exemplos de como a tecnologia é veloz em entregar aos usuários um volume cada vez maior de informações em questão de segundos. Isso é muito bom quando se trata de uma pesquisa que precisa ser feita, uma postagem de conteúdo necessário ou um assunto demorado que precisa ser compartilhado. Poupa nosso tempo, aumenta nossa produtividade e nos permite fazer mais.

O problema é quando levamos toda essa velocidade para a nossa vida de relacionamento com Deus. Orações rápidas e uma leitura superficial da Palavra muitas vezes se tornam rotina em nossos dias agitados. Desacostumamos de empregar o melhor do nosso tempo e das nossas forças à comunhão, fecharmos as portas de nossos quartos e passarmos um bom tempo de qualidade conversando com o Autor da nossa história.

Se de um lado, vamos ao Senhor de forma rápida, de outro, esperamos dEle a mesma eficiência em nos responder. Irritamos-nos quando o que pedimos demora ou quando as coisas aparentemente dão errado, assim como ficamos impacientes quando a conexão da internet cai ou quando a entrega do aplicativo de comida atrasa.

A vida espiritual do cristão não é ao estilo fast-food ou do tipo “clicou, chegou”, mas envolve tempo, paciência e descanso em Deus. Vemos isso ao longo da história da Bíblia: Abraão e Sara idosos esperaram anos pelo primeiro filho; José aguentou cerca de 13 anos até ver seu sonho se tornar realidade; o apóstolo Paulo se preparou por anos antes de começar a pregar; o próprio Jesus iniciou seu ministério aos 30 anos. Realmente, nosso Senhor não está preocupado em operar seus feitos de maneira rápida aos nossos olhos, mas conforme o tempo perfeito e determinado estabelecido por Ele. Nosso crescimento espiritual demanda tempo e acontece de forma contínua. Que desaceleremos nosso coração ao estarmos diante de Deus, cientes de que nem sempre veremos o resultado instantâneo.

Superficialidade e a necessidade de um conhecimento profundo

Momentos felizes em lugares paradisíacos, legendas que falam de felicidade e gratidão, família sorridente estilo comercial de margarina, ostentação e glamour. Salvo exceções, essas são as imagens que ocupam boa parte do feed nas redes sociais. Quando questionados sobre o porquê de mostrarem apenas o lado bom, aqueles que fazem postagens do tipo costumam argumentar que a vida já é difícil demais para que sejam exibidas as partes tristes e ruins.

Não vou entrar no mérito da questão a respeito do que cada um deve registrar em seu perfil pessoal. O fato é que muitas vezes, por mais que saibamos disso, nos esquecemos de que aquilo que vemos é um recorte e que talvez esteja bem distante da realidade. Temos acesso à superfície ou àquilo que nos permitem acompanhar. A vida de uma pessoa é profunda e complexa demais para ser fielmente retratada em uma rede social, embora muitos se esforcem para isso.

Além dos registros, por vezes desenvolvemos também relacionamentos rasos. Ser o seguidor ou “amigo” de alguém, não nos torna amigos de fato. Assim como nossa rede de contatos não é definida pela quantidade de pessoas que nos acompanham. Se não vigiarmos, a superficialidade do virtual nos dará a falsa impressão de que desfrutamos de profundidade na vida real. O resultado pode ser desastroso quando nos dermos conta de que a quantidade de pessoas com as quais podemos contar de fato é bem menor, uma vez que as relações não são tão fortes quanto aparentam ser.

O problema se torna ainda maior quando toda essa admiração pelo que é exterior afeta nosso relacionamento com Deus. Enquanto nas redes sociais mostramos as partes belas, o Senhor nos vê sem filtros. Ele sabe daquela intenção maliciosa que tivemos ao postar determinada foto; Ele conhece aquela fraqueza que omitimos para parecermos fortes diante de nossos “amigos” virtuais; Ele está lá quando vestimos nossa capa de santidade para postar textos espirituais que nem de longe refletem o que vivemos.

No Salmo 139 Davi diz que o Senhor está em todo lugar, não há como fugir dEle. Chega a ser espantoso que o próprio Deus nos conheça por completo – incluindo posts bonitos no Instagram e o que fazemos fora dele. O contraste entre esse fato e a superficialidade que nos envolve nas redes pode levar nosso coração pecaminoso a evitar construir um relacionamento sólido com o Eterno, diante de quem nossa vida está escancarada e somos totalmente vulneráveis.

Da mesma forma, o Senhor precisa ser conhecido por nós. Ele se revela nas coisas criadas e, de forma mais profunda e específica, por meio das Escrituras. Por vezes, admiramos tanto algumas pessoas famosas que lemos tudo a seu respeito e desejamos ser notadas por elas, todavia, que privilégio temos de que o Deus de toda a Terra tenha deixado registrado vários fatos a seu respeito. De forma acessível, Ele mesmo se dá a conhecer. Como diz o hino antigo:

“Preciosas são as horas na presença de Jesus

Comunhão deliciosa da minh’alma com a Luz”

O que é necessário para o cristão

Muitos outros exemplos podem ser dados sobre como as redes sociais influenciam nossa vida espiritual. O intuito aqui não é dizer que elas só trazem malefícios, ou dar a entender que somos contrárias a elas. Por meio delas temos acesso a pessoas e conteúdos que edificam, que contribuem realmente para o crescimento do povo de Deus. Através delas também temos a oportunidade de fazermos a diferença na vida dos outros.

Nosso alerta vai no sentido de que, como é característico de um mundo caído, em todo lugar encontramos situações que podem nos levar a pecar e nos distanciar de um relacionamento saudável com nosso Pai e que não estamos imunes a isso durante o uso das redes sociais. Ferramentas que podem ser usadas para o bem, muitas vezes se tornam em armadilhas para o cristão.

O apóstolo Paulo nos alerta que nossa luta não é contra carne ou sangue, mas contra forças espirituais do mal que tentam nos abater (cf. Ef 6.12), para tanto, precisamos estar preparados espiritualmente, firmados na Palavra e totalmente dependentes de Deus. Aprendamos com o exemplo de nosso Senhor Jesus Cristo que após um dia cansativo de curas, milagres, ensino e muita caminhada, ia dormir e se levantava de madrugada, antes dos demais, e ia buscar o Pai em oração (Mc 1.35). Além disso, Ele venceu este mundo firmado na Palavra e nas promessas de Deus.

Antes de ligarmos nossos celulares, devemos estabelecer conexão com o Senhor. Nossas Bíblias precisam ser consultadas em todo o tempo, de modo que direcionem nossas vidas e nos preparem para as situações que viermos a enfrentar. Uma vez firmadas na Rocha que é Cristo, nossas redes sociais servirão, assim como nós, para o louvor da Sua glória.

A relação do homem com seu Criador precisa ser preservada e valorizada. Uma ligação tão profunda que, para que durasse por toda a eternidade, foi preciso que Deus Filho se fizesse homem e desse a sua vida para nos salvar. Minha irmã, não sei se acontece o mesmo com você, mas tudo isso me faz tremer e desejar ter um relacionamento cada vez mais forte com o Deus que fez tudo isso por nós, mesmo sabendo que um dia trocaríamos momentos de intimidade com Ele por fotos e vídeos de pessoas sequer sabem da nossa existência.


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Outubro com o tema “Redes Sociais”. Para ler todos os posts clique AQUI.